Sl 29

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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29(28) Hino ao Senhor da natureza

 

1 Salmo. De David.


Prestai ao Senhor[1], filhos de Deus[2],

prestai ao Senhor glória e poder.

2 Prestai ao Senhor a glória do seu nome,

adorai o Senhor no átrio sagrado[3].

3 A voz do Senhor ecoa sobre as águas[4],

o Deus glorioso fez ressoar o trovão[5];
o Senhor está sobre as águas caudalosas[6].

4 A voz do Senhor é poderosa,

a voz do Senhor tem majestade.

5 A voz do Senhor derruba os cedros,

o Senhor derruba os cedros do Líbano.

6 Ele faz saltar o Líbano como um bezerro

e o Sírion[7] como um novilho.

7 A voz do Senhor projeta

labaredas de fogo.

8 A voz do Senhor faz tremer o deserto,

o Senhor faz tremer o deserto de Cadés[8].

9 A voz do Senhor dobra os carvalhos[9]

e desnuda as florestas.

E por todo o seu templo

ressoa um grito de glória.

10 O Senhor está no trono, acima do dilúvio[10],

o Senhor está no trono como rei para sempre.

11 O Senhor dá força ao seu povo,

o Senhor abençoa o seu povo na paz[11].



  1. Este salmo é um hino em que o louvor endereçado a Deus se fundamenta principalmente na maneira como ele personifica a glória e a força, a reverência e o medo que os fenómenos celestes e meteorológicos incutem nos humanos. É um sistema metafórico que marca a experiência das populações de Canaã, onde as trovoadas atemorizam, mas também são elas que anunciam a chegada da chuva e com ela a promessa de fertilidade. Além do nome do Senhor, o fio condutor do salmo é a palavra voz. Esta justifica-se pela importância do trovão neste contexto e pela associação que sugere para significar a voz divina, que governa o universo de forma eficaz até às profundezas da terra. A presença de Deus balança, de forma continuada, entre os domínios da totalidade cósmica e as realidades do quotidiano político.
  2. A expressão filhos de Deus nas culturas cananaicas poderia significar deuses, e há quem continue a traduzi-la desta maneira. A intensa tonalidade cananaica que este salmo apresenta pode dar alguma probabilidade a esta hipótese. Traduzida literalmente como filhos de Deus pode aplicar-se a seres superiores entendidos como situados acima do humano, por vezes algo semelhante a anjos (Gn 6,2.4; Jb 1,6; 2,1; 38,7; Sl 89,7). A expressão é também usada para significar personagens a exercer funções com algum destaque na comunidade como são os levitas, cujas funções justificam que se apresentem revestidos de ornamentos sagrados (1Cr 16,29; 2Cr 20,21). O contexto do salmo parece aludir a funções litúrgicas solenes dos levitas (v. 2).
  3. Lit.: no esplendor de santidade. Poderia entender-se como o espaço do santuário, como entende a tradução dos LXX; poderia também entender-se como descrevendo o momento de uma manifestação esplendorosa de Deus.
  4. Ou: contra as águas. O teor geral do salmo sugere um confronto de Deus com algumas realidades transcendentes da natureza; este contexto poderia justificar a tradução contra. Com esta tradução mais se explicitariam as referências à literatura cananaica anterior à Bíblia sobre a vitória de Baal contra o mar.
  5. A voz de Deus, que é a metáfora mais usada neste salmo para identificar Deus, está representada pelo trovão. Por entre a variedade de realidades da natureza, é ele que mais diretamente marca a presença e a intervenção de Deus.
  6. As águas caudalosas podem ser uma alusão ao tema do dilúvio, que na linguagem bíblica assume a ressonância das águas do caos dominado por Deus com o seu poder.
  7. Sírion era o nome que os cananeus e fenícios davam ao monte Hermon (Dt 3,9). Este v. apresenta em paralelismo os montes do Líbano e do Anti-Líbano.
  8. O discurso cultural cananaico e seguidamente o bíblico tendem a sublinhar algum paralelismo entre as águas do oceano e o deserto, para representar as forças de caos que oferecem resistência à intervenção dominadora de Deus.
  9. O paralelismo do v. sugere esta tradução. Segundo a vocalização massorética, poderia ser: faz abortar as gazelas.
  10. Para além do pressuposto no relato do dilúvio (Gn 6,9), pode haver aqui restos de uma conceção sobre a existência de um oceano nos céus, acima do qual estaria assente o trono de Deus.
  11. Ou: com a paz.



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