Mt 2: Difference between revisions

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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<span style="color:red">Visita dos magos – </span> <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia<ref name="ftn11">A narrativa de Mt deseja transmitir o conflito entre as duas realezas, a de Herodes e a de Jesus. Os judeus, a começar pelo seu rei e pela capital, Jerusalém, deviam aceitar o seu Messias, mas foram os magos, em busca da verdade, que o aceitaram.</ref>, nos dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos<ref name="ftn12">O episódio dos magos é exclusivo de Mt. Este episódio acontece sob o reinado de Herodes, o Grande (um rei aliado, ''rex socius'', de Roma), filho de Antípatro, que viveu entre 73 a.C – 4 a.C. O ''mágos'' era um membro da casta sacerdotal persa.</ref> do oriente a Jerusalém, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo: «Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Ao ouvir isto, o rei Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Reunindo, então, todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei do povo<ref name="ftn13">Os ''arkhiereîs'' (que traduzimos sempre por ''os chefes dos sacerdotes'') e os ''grammateîs'' (sempre traduzido por ''os doutores da lei'', ou seja, os entendidos na Torá, a Lei judaica) faziam parte do sinédrio, a autoridade máxima para os judeus, com sede em Jerusalém. Era presidida por um sumo-sacerdote e constituída por mais setenta membros.</ref>, procurava saber junto deles onde nasceria o Cristo. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>E eles disseram-lhe: «Em Belém da Judeia, pois assim está escrito por meio do profeta:
2 Visita dos magos – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia<ref name="ftn11">A narrativa de Mt deseja transmitir o conflito entre as duas realezas, a de Herodes e a de Jesus. Os judeus, a começar pelo seu rei e pela capital, Jerusalém, deviam aceitar o seu Messias, mas foram os magos, em busca da verdade, que o aceitaram.</ref>, nos dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos<ref name="ftn12">O episódio dos magos é exclusivo de Mt. Este episódio acontece sob o reinado de Herodes, o Grande (um rei aliado, ''rex socius'', de Roma), filho de Antípatro, que viveu entre 73 a.C – 4 a.C. O ''mágos'' era um membro da casta sacerdotal persa.</ref> do oriente a Jerusalém, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo: «Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Ao ouvir isto, o rei Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Reunindo, então, todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei do povo<ref name="ftn13">Os ''arkhiereîs'' (que traduzimos sempre por ''os chefes dos sacerdotes'') e os ''grammateîs'' (sempre traduzido por ''os doutores da lei'', ou seja, os entendidos na Torá, a Lei judaica) faziam parte do sinédrio, a autoridade máxima para os judeus, com sede em Jerusalém. Era presidida por um sumo-sacerdote e constituída por mais setenta membros.</ref>, procurava saber junto deles onde nasceria o Cristo. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>E eles disseram-lhe: «Em Belém da Judeia, pois assim está escrito por meio do profeta:


<span style="color:red"><sup>6</sup></span>''E tu, Belém, terra de Judá, ''
<span style="color:red"><sup>6</sup></span>''E tu, Belém, terra de Judá, ''
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Fuga para o Egito –'' ''<span style="color:red"><sup>13</sup></span>Depois de eles se retirarem, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José, dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, foge para o Egito<ref name="ftn18">Para o Egito peregrinaram Abraão (Gn 12,10-20), Lot (Gn 19,15) e Jacob (Gn 46,2-4).</ref> e fica por lá até que eu te diga, pois Herodes está prestes a procurar o menino para o matar».
<span style="color:red">Fuga para o Egito – </span>'' ''<span style="color:red"><sup>13</sup></span>Depois de eles se retirarem, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José, dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, foge para o Egito<ref name="ftn18">Para o Egito peregrinaram Abraão (Gn 12,10-20), Lot (Gn 19,15) e Jacob (Gn 46,2-4).</ref> e fica por lá até que eu te diga, pois Herodes está prestes a procurar o menino para o matar».


<span style="color:red"><sup>14</sup></span>Então ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe durante a noite e retirou-se para o Egito. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ali permaneceu até à morte de Herodes, para que assim se cumprisse<ref name="ftn19">O cumprimento de que fala Mt não corresponde ao ''pēcher'' judaico ou qumrânico (comentário versículo a versículo do texto hebraico), pois o primeiro parte de um acontecimento histórico lido como o culminar de vaticínios, enquanto o segundo tem como ponto de partida um texto bíblico e tenta compreendê-lo.</ref> o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta que diz:  
<span style="color:red"><sup>14</sup></span>Então ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe durante a noite e retirou-se para o Egito. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ali permaneceu até à morte de Herodes, para que assim se cumprisse<ref name="ftn19">O cumprimento de que fala Mt não corresponde ao ''pēcher'' judaico ou qumrânico (comentário versículo a versículo do texto hebraico), pois o primeiro parte de um acontecimento histórico lido como o culminar de vaticínios, enquanto o segundo tem como ponto de partida um texto bíblico e tenta compreendê-lo.</ref> o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta que diz:  
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Martírio dos meninos em Belém –'' ''<span style="color:red"><sup>16</sup></span>Herodes, ao ver que tinha sido escarnecido pelos magos, ficou muito irado e mandou executar, em Belém e em todas as suas regiões, todos os meninos que tivessem dois anos ou menos<ref name="ftn21">Herodes repete a violência do faraó em Ex 1,16.</ref>, de acordo com o tempo que tinha inquirido cuidadosamente junto dos magos. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Cumpriu-se, então, o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz:
<span style="color:red">Martírio dos meninos em Belém – </span>'' ''<span style="color:red"><sup>16</sup></span>Herodes, ao ver que tinha sido escarnecido pelos magos, ficou muito irado e mandou executar, em Belém e em todas as suas regiões, todos os meninos que tivessem dois anos ou menos<ref name="ftn21">Herodes repete a violência do faraó em Ex 1,16.</ref>, de acordo com o tempo que tinha inquirido cuidadosamente junto dos magos. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Cumpriu-se, então, o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz:


<span style="color:red"><sup>18</sup></span>''Uma voz em Ramá foi ouvida,''
<span style="color:red"><sup>18</sup></span>''Uma voz em Ramá foi ouvida,''
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Regresso do Egito – <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Quando morreu Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egito, <span style="color:red"><sup>20</sup></span>dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe e vai para a terra de Israel, pois morreram os que procuravam tirar a vida do menino<ref name="ftn23">Lit.: ''procuravam a vida do menino''.</ref>». <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe, e foi para a terra de Israel. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Ao ouvir, porém, que Arquelau<ref name="ftn24">Arquelau era filho de Herodes, o Grande, e era tão violento quanto o pai. Governou os territórios da Judeia, Idumeia e Samaria de 4 a.C. – 6 d.C. Foi destituído por Roma e substituído por um procurador romano.</ref> reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Avisado num sonho, retirou-se para a região da Galileia <span style="color:red"><sup>23</sup></span>e veio morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que foi dito por meio dos profetas: «Será chamado nazareno<ref name="ftn25">O nazareno evoca o ''nētser'' (''o rebento'' de Is 11,1) e o ''nāzîr'' (''o consagrado''), na linha de Sansão e de Samuel (cf. Nm 6,1-21; Jz 13-16; 1Sm 1,22).</ref>».
<span style="color:red">Regresso do Egito – </span> <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Quando morreu Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egito, <span style="color:red"><sup>20</sup></span>dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe e vai para a terra de Israel, pois morreram os que procuravam tirar a vida do menino<ref name="ftn23">Lit.: ''procuravam a vida do menino''.</ref>». <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe, e foi para a terra de Israel. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Ao ouvir, porém, que Arquelau<ref name="ftn24">Arquelau era filho de Herodes, o Grande, e era tão violento quanto o pai. Governou os territórios da Judeia, Idumeia e Samaria de 4 a.C. – 6 d.C. Foi destituído por Roma e substituído por um procurador romano.</ref> reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Avisado num sonho, retirou-se para a região da Galileia <span style="color:red"><sup>23</sup></span>e veio morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que foi dito por meio dos profetas: «Será chamado nazareno<ref name="ftn25">O nazareno evoca o ''nētser'' (''o rebento'' de Is 11,1) e o ''nāzîr'' (''o consagrado''), na linha de Sansão e de Samuel (cf. Nm 6,1-21; Jz 13-16; 1Sm 1,22).</ref>».




<center>II</center>
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<center>MANIFESTAÇÃO PÚBLICA DE JESUS (3,1-4,25)</center>
 
 
3 João, o Batista (Mc 1,2-8; Lc 3,3-6.15-17) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naqueles dias, veio João Batista pregar no deserto da Judeia, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus<ref name="ftn26">A expressão ''reino dos céus'' substitui ''reino de Deus'', porque Mt evita usar o santo Nome de Deus, à boa maneira da tradição judaica. Além disso, ''reino dos céus ''era uma locução sinagogal que já encontramos em Yohanan ben-Zakkai (''mQidd'' 1,59d).</ref>».
 
<span style="color:red"><sup>3</sup></span>De facto, sobre ele foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
 
''Uma voz clama no deserto:''
 
''"Preparai o caminho do Senhor,''
 
''endireitai as suas veredas"''<ref name="ftn27">Is 40,3.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>4</sup></span>Ele, João, tinha a sua roupa feita a partir de pelos de camelo e uma correia de couro à volta dos rins; o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre<ref name="ftn28">João vestia-se à maneira de alguns profetas, como Elias (cf. 17,10-13; Ex 9,17; 2Rs 1,8; Zc 13,4). A forma como se alimenta sublinha o seu ascetismo.</ref>. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Então acorriam a ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região do Jordão, <span style="color:red"><sup>6</sup></span>e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
 
<span style="color:red"><sup>7</sup></span>Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus<ref name="ftn29">Este é considerado por vários autores como o começo do hipotético documento Q (do alemão ''Quelle'', a ''fonte'' dos ditos de Jesus comuns a Mt e Lc, e não presentes em Mc). Os fariseus (''perûchim, os separados'') eram um grupo de zelosos observantes da Torá (a Lei), surgido no séc. II a.C., que por isso se consideravam separados para a salvação face aos demais (cf. Flávio Josefo,'' Bell. Jud.'' II,8.2). Os saduceus (grupo aristocrata da classe sacerdotal) tinham assento no sinédrio, tal como os fariseus, mas, ao contrário destes, não acreditavam na ressurreição (por não ser referida no Pentateuco), nem nos anjos, nem na tradição oral, nem na providência divina.</ref> vinham ao batismo dele, disse-lhes: «Geração de víboras, quem vos mostrou como fugir da ira que está prestes a chegar? <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Produzi um fruto digno da conversão; <span style="color:red"><sup>9</sup></span>e não penseis dizer entre vós: "Temos por pai Abraão", pois digo-vos que Deus é capaz de fazer erguer destas pedras filhos de Abraão. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>O machado já está à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Eu batizo-vos na água para a conversão; porém, aquele que vem atrás de mim é mais forte<ref name="ftn30">''Forte'' é um dos adjetivos usados no AT para qualificar Deus (cf. Jr 32,18; Dn 9,4). Na tradição rabínica o discípulo era suposto calçar o seu mestre (cf. ''bKet'' 96).</ref> do que eu, e eu não sou digno de levar-lhe as sandálias; Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Tem a pá na sua mão, limpará a sua eira e recolherá o seu trigo no celeiro; mas queimará a palha num fogo que não se apaga».
 
 
Batismo de Jesus (Mc 1,9-11; Lc 3,21s) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Veio então Jesus da Galileia para o Jordão ter com João para ser batizado por ele. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Mas João opunha-se, dizendo-lhe: «Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por ti, e és Tu que vens ter comigo?».<span style="color:red"><sup>15</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhe: «Deixa por agora. É conveniente que assim cumpramos toda a justiça<ref name="ftn31">A justiça aqui é vista por Mt, tal como na literatura de Qumran (conjunto dos escritos – 200 a.C./68 d.C – da comunidade dos essénios encontrados em Qumran, nas margens do Mar Morto) e dos Tanaîm (sábios judeus compiladores da ''Torah che be-'alpê'', a tradição oral), como uma imposição humana ético-religiosa ou uma exigência jurídica que é preciso cumprir. Pode considerar-se aqui uma ''justiça inferior'', equivalente à ''tsédeq'' hebraica (justiça forense). Mas em Mt 5,20 e 6,2 tratar-se-á de uma ''justiça superior'' (mais perto da ''tsedāqāh'', a justiça em si), a qual sintomaticamente Mt traduzirá por ''compaixão'' / ''misericórdia'' (''eleēmosýnē''), mais próximo do correspondente aramaico de ''tsidqā''' (cf. ''mAvot'' 1,13).</ref>». Então João deixou que assim fosse. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Tendo Jesus sido batizado, imediatamente saiu da água, e eis que os céus se abriram para Ele, e viu o Espírito de Deus a descer como uma pomba e vir sobre Ele. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>E eis que veio uma voz dos céus, dizendo: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo».
 
 
4 Tentações de Jesus (Mc 1,12s; Lc 4,1-13) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Então, Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo Diabo. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Tendo jejuado durante quarenta dias e quarenta noites<ref name="ftn32">O número quarenta evoca os quarenta anos de Israel no deserto antes de chegar à terra prometida (Ex 16,35; Nm 14,33s; 32,13; Dt 1,3), mas também os dias e as noites que Moisés passou na montanha do Horeb antes de receber as tábuas da Lei (cf. Ex 19s; 24,18; 34,28; Nm 14,34; Dt 9,9), ou a caminhada de Elias até ao mesmo monte (cf. 1 Rs 19,8).</ref>, por fim sentiu fome. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Aproximando-se o tentador, disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz que estas pedras se tornem pães». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Ele, em resposta, disse-lhe: «Está escrito:
 
''Nem só de pão viverá o homem, ''
 
''mas de toda a palavra que sai da boca de Deus''»<ref name="ftn33">Dt 8,3.</ref>''. ''
 
<span style="color:red"><sup>5</sup></span>Então o Diabo levou-o consigo à cidade santa e colocou-o no pináculo do templo. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>E disse-lhe: «Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito:
 
''Aos seus anjos dará ordens a teu respeito''
 
''e nas mãos te levarão,''
 
''não aconteça que tropece numa pedra o teu pé''»<ref name="ftn34">Sl 91,11s.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>7</sup></span>Disse-lhe Jesus:'' ''«Também está escrito:'' Não tentarás o Senhor teu Deus''»<ref name="ftn35">Dt 6,16.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>8</sup></span>De novo o Diabo o levou consigo a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>E disse-lhe: «Tudo isto te darei se, caindo por terra<ref name="ftn36">''Por terra'' é acrescento da tradução.</ref>, me adorares». <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Então disse-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito:
 
''O Senhor, teu Deus, adorarás''
 
''e ''só'' a Ele prestarás culto''»<ref name="ftn37">Dt 5,9; 6,13. As tentações de Jesus, de acordo com os textos citados do AT, condizem com as tentações do povo eleito do AT na sua caminhada de quarenta anos pelo deserto.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Então o Diabo deixou-o; e eis que os anjos vieram ter com Ele e serviam-no.
 
 
Jesus começa a ensinar (Mc 1,14s; Lc 4,14s) – <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Quando Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se para a Galileia. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Deixando Nazaré, foi morar para Cafarnaum, à beira-mar, nos territórios de Zabulão e Neftali, <span style="color:red"><sup>14</sup></span>para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
 
<span style="color:red"><sup>15</sup></span>''Terra de Zabulão e terra de ''
 
''Neftali,''
 
''caminho do mar, além Jordão,''
 
''Galileia dos pagãos''<ref name="ftn38">A Galileia, depois da morte do rei Salomão, entrou em cisma político-religioso com a Judeia e era, por isso, apelidada ''Galileia dos pagãos'', sobretudo a seguir à destruição da Samaria em 722 a.C., devido à forte presença de população pagã e à influência de idêntica cultura.</ref>'':''
 
<span style="color:red"><sup>16</sup></span>''o povo que habitava nas trevas''
 
'' viu uma grande luz,''
 
''e aos que habitavam na terra e na sombra da morte''
 
''para eles uma luz nasceu''<ref name="ftn39">Is 8,23; 9,1.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>17</sup></span>Desde então Jesus começou a proclamar e a dizer: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus».
 
 
Chamamento dos primeiros discípulos (Mc 1,16-20; Lc 5,1-11; Jo 1,35-51) –'' ''<span style="color:red"><sup>18</sup></span>Ao caminhar junto ao mar da Galileia viu dois irmãos, Simão, o chamado Pedro, e André, seu irmão, lançando uma rede ao mar, pois eram pescadores. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>E disse-lhes: «Vinde atrás de mim, e farei de vós pescadores de homens». <span style="color:red"><sup>20</sup></span>E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram-no. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Avançando<ref name="ftn40">Lit.: ''avançando desde ali''.</ref>, viu dois outros irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco com Zebedeu, seu pai, a consertar as suas redes, e chamou-os. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>E eles, deixando imediatamente o barco e o pai, seguiram-no.
 
 
As multidões acorrem (Mc 3,7-12; Lc 6,17-19) –'' ''<span style="color:red"><sup>23</sup></span>Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, proclamando o evangelho do reino<ref name="ftn41">''O evangelho do reino'' é uma expressão típica de Mt (9,35; 24,14).</ref> e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Assim se espalhou a sua fama por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que tinham algum mal, oprimidos por várias doenças e tormentos, endemoniados, dementes<ref name="ftn42">Lit.: ''lunáticos''.</ref> e paralíticos, e curava-os. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>E seguiam-no numerosas multidões vindas da Galileia, da Decápole<ref name="ftn43">A Decápole era um conjunto de dez cidades a leste e a nordeste da Galileia, sob a jurisdição de Filipe, o filho de Herodes. A lista não é rigorosa em Plínio (''Nat.'' 5,16), mas parece que era composta por: Damasco, Filadélfia (Amman), Rafana, Sitópolis (Betchean), Gádara, Hipo-Susita, Dion, Péla, Gérasa e Canata.</ref>, de Jerusalém, da Judeia e de além Jordão.
 
<center>'''III'''</center>
 
<center>O ANÚNCIO DO REINO''' '''</center>
 
<center>'''(5,1-25,46)'''</center>
 
 
<center>Discurso da montanha: </center>
 
<center>5,1-7,29<ref name="ftn44">As bem-aventuranças são anúncio e proposta de felicidade, central em toda a Bíblia. O grego ''makários'' (''feliz'') aparece 50 vezes no NT, das quais 28 nos Sinópticos. Na origem aplicava-se às divindades. Jesus declara ''felizes'' os que participam no reino de Deus por Ele iniciado, por duas razões, correspondentes às duas partes em que se dividem: 1º, porque, na sua indigência, se confiam a Deus (vv. 3-6); 2º, porque, com a energia dele recebida, se entregam aos outros (vv. 7-9). É uma felicidade já presente (vv. 3 e 9: ''deles ''é'' o reino dos céus'') e a consumar no futuro (vv. 4-8, com o tempo verbal futuro). Das nove de Mt (a 9ª concretiza a 8ª), quatro são, na temática, comuns a Lc e, por isso, provenientes da fonte (''Quelle'') comum.</ref></center>
 
 
5 As bem-aventuranças (Lc 6,20-26) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Ao ver as multidões, subiu ao monte e, tendo-se sentado, vieram ter com Ele os seus discípulos<ref name="ftn45">Inicia-se aqui o primeiro de cinco grandes discursos de Jesus. Este prolonga-se até ao fim do cap.7 e aborda as temáticas da justiça e do reino de Deus. Por se iniciar num monte, ficou conhecido como o ''sermão da montanha''. É também chamado a ''magna carta do reino''. Depois do ''exordium'' (introdução) que são as bem-aventuranças (5,1-12), seguem-se três partes: uma sobre a justiça (5,13-48), outra sobre as boas obras&nbsp;(6,1-18) e outra com várias advertências (cap.7).</ref><nowiki>; </nowiki><span style="color:red"><sup>2</sup></span>e, tomando a palavra<ref name="ftn46">Lit.: ''abrindo a sua boca''.</ref>, ensinava-os, dizendo:
 
<span style="color:red"><sup>3</sup></span>«Felizes os pobres<ref name="ftn47">Os pobres aqui são os'' 'anāwîm'', os pobres de Javé também referidos em ''1QM'' 4,17; ''1QH'' 14,3 e ''2Hen'' 42,6-14, aqueles cujo espírito está livre e disponível para acolher o Senhor: cf. Pr 15,13; 16,19; 29,23; Hab 4,4.10; Sl 34,19; Is 29,24.</ref> no espírito, porque deles é o reino dos céus.
 
<span style="color:red"><sup>4</sup></span>Felizes os que se lamentam<ref name="ftn48">Mt usa um verbo derivado de ''pénthos'', que em grego designa ''uma pena muito intensa, uma aflição provocada por calamidades ou tragédias, um grande desgosto''.</ref>, porque eles serão consolados.
 
<span style="color:red"><sup>5</sup></span>Felizes os mansos, porque eles herdarão a terra.
 
<span style="color:red"><sup>6</sup></span>Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados.
 
<span style="color:red"><sup>7</sup></span>Felizes os misericordiosos, porque para eles haverá misericórdia<ref name="ftn49">Lit.: ''serão ''«''misericordiados''». Da misericórdia fazem parte as atitudes e obras referidas nos vv. 8-10.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>8</sup></span>Felizes os puros de coração, porque eles verão Deus.
 
<span style="color:red"><sup>9</sup></span>Felizes os que fazem a paz, porque eles serão chamados filhos de Deus.
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
 
<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Felizes sois quando vos insultarem, vos perseguirem e mentindo disserem todo o mal contra vós por causa de mim. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Alegrai-vos e exultai, porque a vossa recompensa é grande nos céus, pois do mesmo modo perseguiram os profetas antes de vós».
 
 
O sal da terra e a luz do mundo (Mc 9,50; Lc 14,34s) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>«Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se tornar insípido, com que se salgará? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.
 
<span style="color:red"><sup>14</sup></span>Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no cimo de um monte; <span style="color:red"><sup>15</sup></span>nem se acende uma candeia e se a coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, pois assim brilha para todos os que estão na casa. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Deste modo brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus».
 
 
Jesus e a Lei – <span style="color:red"><sup>17</sup></span>«Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir, mas cumprir<ref name="ftn50">Começa aqui uma secção diatríbica contra os fariseus. Mt recorre aqui às diatribes rabínicas e respetivas fórmulas de confronto nos escritos judaicos sapienciais: ''TestLev'' 16,4; ''TestRub'' 1,7; ''TestBenj'' 9,1.</ref>. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Amen vos digo: até que passe o céu e a terra, não passará uma só letra<ref name="ftn51">Lit: ''um só iota''.</ref> ou um só traço da Lei, até que tudo aconteça. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Aquele, pois, que quebrar um destes mandamentos, por mais pequeno que seja, e assim ensinar os homens, será chamado o mais pequeno no reino dos céus; mas aquele que os praticar e os ensinar será chamado grande no reino dos céus<ref name="ftn52">Mt segue aqui a sensibilidade judaica (''mAvot'' 2,1; 3,18) e considera que os pormenores da Lei continuam importantes e válidos.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>20</sup></span>Digo-vos pois: se a vossa justiça não superar a dos doutores da lei e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus».
 
 
Não matarás. Juízo e reconciliação (Lc 12,58s) – <span style="color:red"><sup>21</sup></span>«Ouvistes que foi dito aos antigos: ''Não'' ''matarás'', e aquele que matar será réu no juízo<ref name="ftn53">Citação das leis apodíticas (máximas incontestáveis) de Ex 20,13 e Dt 5,17.</ref>. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Mas Eu digo-vos: todo aquele que se irar contra o seu irmão será réu no juízo; e aquele que disser a seu irmão "Imbecil!" será réu no sinédrio<ref name="ftn54">Para o sinédrio, cf. 2,4 nota. O insulto ''raqa'' parece ser uma transliteração do aramaico ''reyqa''': cf. Sir 34,21.</ref><nowiki>; e aquele que lhe disser "Louco!" será sujeito</nowiki><ref name="ftn55">Lit.: ''será réu para a Geena do fogo''.</ref> à Geena'' ''do fogo<ref name="ftn56">A expressão hebraica ''Gē-ben-hinnom'' (''Vale do Filho de Hinom'') ou o aramaico ''gey-hinnam'' darão origem à palavra ''Geena'', um vale situado a oeste e sudoeste da colina de Jerusalém. Era o lugar onde uma fogueira ardia de modo permanente, a fim de queimar os lixos da cidade de Jerusalém. Era o oposto do lugar paradisíaco do jardim das delícias na literatura intertestamentária (cf. ''4Esd'' 7,36; ''1Hen'' 90,26).</ref>. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Portanto, se, ao apresentares a tua oferta sobre o altar, aí te lembrares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, <span style="color:red"><sup>24</sup></span>deixa aí a tua oferta diante do altar e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão, e então virás apresentar a tua oferta. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Sê benévolo com o teu adversário, sem demora, enquanto estás com ele no caminho, não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas lançado na prisão. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Amen te digo: não sairás de lá até que restituas o último cêntimo».
 
Sobre o adultério – <span style="color:red"><sup>27</sup></span>«Ouvistes que foi dito: ''Não cometerás adultério''. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Mas Eu digo-vos: todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar já cometeu adultério com ela no seu coração<ref name="ftn57">Ex 20,17. Esta radicalidade encontra eco no judaísmo palestinense e na própria literatura sapiencial: Sir 26,9.11; ''TestIss'' 7,2; ''SlSal'' 4,4; ''TestBenj'' 8,2; ''mKel'' 1; ''LevR'' 23,122; ''Jub'' 20,4; 1''QS'' 1,6; ''bYoma ''29; mas também existe uma exegese rigorista do sexto mandamento na literatura peritestamentária.</ref>. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Se o teu olho direito é para ti motivo de escândalo, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois é melhor para ti que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado na Geena<ref name="ftn58">Jesus usa aqui Dt 25,11-12 para alertar para as consequências do pecado. Esta forma hiperbólica de expressar uma ideia era uma técnica muito usada na antiguidade para a gravar na memória dos ouvintes.</ref>''. ''<span style="color:red"><sup>30</sup></span>Se a tua mão direita é para ti motivo de escândalo, corta-a e atira-a para longe de ti, pois é melhor para ti que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo vá para a Geena».'' ''
 
 
Sobre o divórcio (Lc 16,18) – <span style="color:red"><sup>31</sup></span>«Também foi dito: ''Quem repudiar a sua mulher, dê-lhe um documento de divórcio''<ref name="ftn59">No tratado sobre o divórcio na ''Michná'' (recolha escrita da tradição oral judaica, no final do séc. II d.C.), estão atestadas as posições mais ou menos livres da tradição judaica representada nas escolas de Chamai e de Hillel (cf. ''mGitt'' 9,10), para as quais o mais pequeno motivo era razão suficiente para repudiar a mulher. Jesus não só se opõe radicalmente à banalização do ''get'' (o libelo de divórcio), como ao divórcio ''per se''.</ref>. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Mas Eu digo-vos: todo aquele que repudia a sua mulher – a não ser em caso de promiscuidade – faz com que ela incorra em adultério, e aquele que se casar com uma repudiada, comete adultério»<ref name="ftn60">Jesus coloca em causa aqui o princípio da Torá oral mais tarde incorporada no Pentateuco (Dt 24,1-4), de que os fariseus tantas vezes se serviam para justificar a sua prática da expulsão da mulher e sobrepor este texto a Lv 18,6-18.20. Este tema será retomado em 19,1-9.</ref>.
 
 
Sobre o juramento – <span style="color:red"><sup>33</sup></span>«Também ouvistes que foi dito aos antigos: ''Não jurarás em falso, ''mas'' cumprirás com os teus juramentos ao Senhor''. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Mas Eu digo-vos: não jureis de todo, nem pelo ''céu'', porque é o trono de Deus; <span style="color:red"><sup>35</sup></span>nem pela ''terra'', porque é o estrado dos seus pés; nem por Jerusalém, porque é ''a'' ''cidade'' ''do grande Rei''. <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto um só dos teus cabelos. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Mas seja a vossa palavra: "Sim, sim", "Não, não"; o que for além disto vem do Maligno».
 
 
Sobre a retribuição (Lc 6,29s) – <span style="color:red"><sup>38</sup></span>«Ouvistes que foi dito: ''Olho por olho ''e'' dente por dente''<ref name="ftn61">Jesus desafia a ir além da ''lei de talião'', expressão de uma justiça meramente retributiva (cf. Gn 9,1-17; Ex 21,23-25; Lv 24,17-21; Dt 19,21; 2Sm 14,7; Sb 11,16-24; Ez 35,6s).</ref>. <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Mas Eu digo-vos: não resistais ao que vos fizer mal<ref name="ftn62">Lit.: ''ao malfeitor/ao malvado''.</ref><nowiki>; pelo contrário, àquele que te bate na face direita apresenta-lhe</nowiki><ref name="ftn63">Lit.: ''volta-lhe também a outra''.</ref> também a outra<ref name="ftn64">Dar a outra face era considerado desonroso e vergonhoso no judaísmo rabínico (cf.''mBabQam'' 8,6).</ref>. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>E àquele que te quer levar a tribunal para te tirar a túnica, deixa-lhe também a capa. <span style="color:red"><sup>41</sup></span>E aquele que te forçar a caminhar uma milha, vai com ele duas. <span style="color:red"><sup>42</sup></span>Dá a quem te pede, e a quem te quiser pedir emprestado, não voltes as costas».
 
 
Amor aos inimigos (Lc 6,27s.32-36) – <span style="color:red"><sup>43</sup></span>«Ouvistes que foi dito: ''Amarás o teu próximo'' e odiarás o teu inimigo<ref name="ftn65">O tratamento dos inimigos é abordado favoravelmente, entre inúmeras passagens e contextos, em Ex 23,4s; Jb 31,29 e Pr 25,21s; ''odiarás os teus inimigos ''não se encontra em todo o AT, apesar de Lv 19,18 e Dt 23,3-6 se aproximarem bastante deste dito. Além disso, em Qumran, na ''1QS'' 1,3-10 parece subsistir essa condenação de ódio para os filhos das trevas e de Belial – inimigos dos filhos da luz; por outro lado, a posterior tradição midráchica vai em sentido contrário (cf. ''mAvot'' I.6), e a tradição talmúdica relê este tipo de afirmação à maneira semita, na qual ''odiarás'' tem o sentido de menosprezar (cf. ''mYeb'' 23; ''AvotRN'' 23; ''mBer'' 4,7).</ref>. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Mas Eu digo-vos: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem, <span style="color:red"><sup>45</sup></span>para vos tornardes filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz despontar o seu sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos. <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Pois, se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? <span style="color:red"><sup>47</sup></span>E se saudardes apenas os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Não fazem os pagãos também o mesmo<ref name="ftn66">No mundo oriental, uma saudação significa o desejo de bênção a alguém (cf. ''mAvot'' 4,15).</ref>? <span style="color:red"><sup>48</sup></span>Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito».
 
 
6 Sobre a esmola – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>«Tende cuidado em não praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles! De contrário, não tereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Quando, pois, deres esmola, não faças soar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas<ref name="ftn67">Também os discípulos do rabi Chamai condenavam a prática de prometer esmolas em público (cf. ''tShab'' 16,22), mesmo sendo considerada uma das boas ações fundamentais para um judeu (cf. ''mAvot'' 1,2; 2,7; ''mPe'ah'' 1,1).</ref>, para serem glorificados pelos homens. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>para que a tua esmola fique no segredo, e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará».
 
 
A oração (Lc 11,2-4; Mc 11,25s) – <span style="color:red"><sup>5</sup></span>«Quando rezardes, não sejais como os hipócritas: gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos homens. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, reza ao teu Pai, que está no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.
 
<span style="color:red"><sup>7</sup></span>Quando rezardes, não useis vãs repetições, como fazem os pagãos<ref name="ftn68">Também os pagãos, os não judeus, julgavam poder pressionar a divindade (1Rs 18,27-28) apenas pela repetição de fórmulas oracionais. Disto também não se livrou o judaísmo (Sir 7,14; Is 1,15).</ref>, pois pensam que, pelo seu muito falar, serão escutados. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Portanto, não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de vós lho pedirdes.
 
 
Pai Nosso –''' '''<span style="color:red"><sup>9</sup></span>Vós, pois, rezai assim:
 
Pai nosso, que estás nos céus,
 
santificado seja o teu nome,
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>venha o teu reino,
 
seja feita a tua vontade,
 
como no céu, assim também na terra.
 
<span style="color:red"><sup>11</sup></span>O pão nosso de cada dia dá-nos hoje<ref name="ftn69">A palavra grega ''epioúsion'', traduzido por ''de cada dia'', tem um sentido incerto. Foi traduzida de várias maneiras: ''necessário, de cada dia, para o dia seguinte, substancial.'' Nos primeiros tempos, os cristãos também o associavam ao pão eucarístico. Cf. Ex 16,14.31; Sb 16,20-21.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>12</sup></span>Perdoa-nos as nossas ofensas,
 
como também nós perdoamos a quem nos tem ofendido,
 
<span style="color:red"><sup>13</sup></span>e não nos leves até à provação,
 
mas livra-nos do Maligno<ref name="ftn70">Alguns mss. acrescentam uma fórmula litúrgica antiga: ''Porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre''.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>14</sup></span>Pois, se perdoardes aos homens as suas transgressões, também o vosso Pai celeste vos perdoará; <span style="color:red"><sup>15</sup></span>mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas transgressões».
 
 
Sobre o jejum –'' ''<span style="color:red"><sup>16</sup></span>«Quando jejuardes<ref name="ftn71">O jejum era uma prática comum no judaísmo na preparação das grandes festas (cf. Ex 34,28; At 13,2s; 27,9-44) e frequente entre os fariseus.</ref>, não façais um ar pesaroso como os hipócritas que desfiguram os seus rostos para mostrarem aos homens que jejuam. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Tu, porém, quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto, <span style="color:red"><sup>18</sup></span>para não mostrares aos homens que jejuas, mas apenas ao teu Pai, que está no escondido; e o teu Pai, que vê no escondido, te recompensará».
 
 
O tesouro do céu (Lc 12,33s) – <span style="color:red"><sup>19</sup></span>«Não acumuleis<ref name="ftn72">Lit.: ''entesoureis''.</ref> para vós tesouros na terra, onde a traça e a corrosão os fazem desaparecer e onde os ladrões os pilham e roubam. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Mas acumulai para vós tesouros no céu, onde não há traça nem corrosão para os fazer desaparecer e onde os ladrões não os pilham nem roubam. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Pois onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração».
 
 
A vista, candeia do corpo (Lc 11,34-36) – <span style="color:red"><sup>22</sup></span>«A candeia do corpo é o olho. Por isso, se o teu olho for límpido, todo o teu corpo será luminoso<ref name="ftn73">cf. ''TestBenj'' 4; ''mAvot'' 2,8-9</ref><nowiki>; </nowiki><span style="color:red"><sup>23</sup></span>mas se o teu olho for mau, todo o teu corpo será trevas. Portanto, se a luz que há em ti é trevas, quão grandes serão essas trevas!».
 
 
Servir a Deus ou ao dinheiro (Lc 16,13) – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>«Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou odiará um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas<ref name="ftn74">''Lit.: e a mamona''. Era, na origem, a divindade fenícia e síria das riquezas; depois, a sua personificação.</ref>».
 
 
Desprendimento e confiança em Deus (Lc 12,22-31) – <span style="color:red"><sup>25</sup></span>«Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer ou que haveis de beber, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa? <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Fixai o olhar nas aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros, e o vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós mais do que elas? <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Quem de vós, por se preocupar, é capaz de acrescentar um cúbito ao tempo da sua vida? <span style="color:red"><sup>28</sup></span>E porque vos preocupais com a roupa? Observai como crescem os lírios do campo; não se afadigam nem fiam. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Digo-vos que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um deles. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós, gente de pouca fé<ref name="ftn75">''Gente de pouca fé'' constitui uma expressão cara a Mt (8,26; 14,31; 16,8; 17,20-21).</ref>? <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Por isso não vos preocupeis, dizendo: "o que havemos de comer?", ou "o que havemos de beber?", ou "o que havemos de vestir?", <span style="color:red"><sup>32</sup></span>pois os pagãos é que procuram tudo isso. O vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Procurai, primeiro, o reino de Deus e a sua justiça; e tudo isso vos será dado por acréscimo. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>34</sup></span>Portanto, não vos preocupeis com o amanhã, porque o amanhã preocupar-se-á consigo próprio. A cada dia bastam os seus males».
 
 
7 Não julgueis (Mc 4,24s; Lc 6,37s.41s) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>«Não julgueis, para não serdes julgados. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Pois com o juízo com que julgardes sereis julgados e com a medida com que medirdes sereis medidos<ref name="ftn76">cf. ''mSota'' 1,7-9.</ref>. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Porque vês o cisco que está no olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho? <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Ou como dirás ao teu irmão: "Deixa que tire o cisco do teu olho", se tens uma trave no teu olho? <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão».
 
 
Pérolas a porcos –'' ''<span style="color:red"><sup>6</sup></span>«Não deis o que é santo aos cães<ref name="ftn77">O que é santo é para estar próximo do Deus Santo: da mesma maneira as oferendas consagradas a Deus (cf. Ex 29,33s; Lv 2,3). A Escritura considera os cães animais repugnantes e impuros (cf. Sl 22,17.21; Pr 26,11).</ref>, nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, não aconteça que eles as espezinhem com as suas patas e, voltando-se, vos destrocem».
 
 
Confiança na oração (Lc 11,9-13) – <span style="color:red"><sup>7</sup></span>«Pedi e ser-vos-á dado, procurai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á; <span style="color:red"><sup>8</sup></span>pois todo o que pede recebe, o que procura encontra, e ao que bate abrir-se-á. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Ou haverá um homem entre vós a quem o seu filho peça um pão, e lhe dê uma pedra? <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Ou que lhe peça um peixe, e lhe dê uma serpente? <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ora se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas àqueles que lhe pedem!».
 
 
A regra de ouro (Lc 6,31) – <span style="color:red"><sup>12</sup></span>«Portanto, tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, assim fazei também vós a eles; pois esta é a Lei e os Profetas»<ref name="ftn78">Esta é a chamada ''regra de ouro'': cf. Dt 15,13; Tb 4,16; Sir 31,15; ''bShab'' 31. Nela se resume toda a interpretação bíblica (''Lei e Profetas''), iniciada por Jesus em Mt 5,21. É, de resto, semelhante ao mandamento do amor – ''Amarás o teu próximo como a ti mesmo ''(Lv 19,18)'' – ''visto por Ele também como parte da síntese da Lei (Mt 22,39par).</ref>.
 
 
A porta estreita (Lc 13,24) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>«Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela<ref name="ftn79">A oferta dos dois caminhos, como desafio feito à liberdade, retoma Dt 28; 30,10-18; cf. ''Barn'' 18,1; ''1QS'' 3,18-25.</ref>. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Como é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que a encontram!».
 
 
A árvore boa (Lc 6,43s.46.13,25-27) – <span style="color:red"><sup>15</sup></span>«Tende cuidado com os falsos profetas<ref name="ftn80">Os falsos profetas recordam os do AT (cf. Jr 14,1-15,4; Lm 2,14; Ez 13,2s; Zc 13,2.4-6). Dos critérios de discernimento entre verdadeiros e falsos profetas fala-se já em Dt 13,2-6; Jr 23,9-13; Mq 3,5.</ref>, que vêm ter convosco com pele de ovelha<ref name="ftn81">Lit.: ''com vestes de ovelhas''.</ref>, mas, por dentro, são lobos vorazes! <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Pelos seus frutos os reconhecereis. Porventura apanham-se uvas dos espinhos ou figos dos cardos? <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Assim, toda a árvore boa dá bons frutos, enquanto a árvore que não presta dá frutos maus. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore que não presta dar bons frutos. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Toda a árvore que não der bons frutos corta-se e deita-se ao fogo. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Portanto, pelos seus frutos os reconhecereis. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Nem todo aquele que me diz: "Senhor, Senhor", entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Muitos me dirão naquele dia: "Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos? Não foi em teu nome que expulsámos demónios? Não foi em teu nome que fizemos numerosas ações poderosas?". <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Confessar-lhes-ei então: "Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade!"».
 
 
A casa sobre a rocha (Lc 6,46-49) – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>«Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será semelhante a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e abateram-se sobre aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, será semelhante a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e lançaram-se contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua queda».
 
Reação ao discurso de Jesus – <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Aconteceu então que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras<ref name="ftn82">Esta é uma fórmula estereotipada com a qual Mt marca uma nova secção na sua narrativa evangélica, repetida em 11.1; 13,53; 19,1; 26,1.</ref>, as multidões estavam perplexas com o seu ensinamento, <span style="color:red"><sup>29</sup></span>pois ensinava-os como quem tem autoridade e não como os seus doutores da lei.
 
 
<center>Os primeiros sinais do reino (8,1-9,38)</center>
 
 
8 Purificação e cura de um leproso (Mc 1,40-45; Lc 5,12-16) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Quando Ele desceu do monte, seguiram-no numerosas multidões<ref name="ftn83">Começa aqui a segunda grande secção do núcleo central do evangelho, pontuada por vários encontros, depois de Jesus deixar o monte do discurso anterior. Mt retoma aqui a narrativa de Mc (cf. Mc 1,40-2,22), expondo dez intervenções miraculosas de Jesus (sobretudo curas).</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>E eis que um leproso<ref name="ftn84">A lepra era vista como um castigo divino que tornava um judeu impuro. Um leproso era, por isso, colocado à margem da sociedade e ostracizado (cf. Dt 28,27.35), pois transportava uma doença considerada como um sinal de pecado que excluía da comunidade (cf. Ex 4,6s; Lv 13,1-59; Nm 5,2).</ref>, aproximando-se, ajoelhou-se diante dele, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Estendendo a mão, Ele tocou-lhe, dizendo: «Quero: fica purificado!». E imediatamente ficou purificado da sua lepra. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Disse-lhe então Jesus: «Toma atenção, não digas a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés prescreveu, como testemunho para eles».
 
 
Cura do servo do centurião (Lc 7,1-10; 13,28s; Jo 4,46b-53) – <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Quando entrou em Cafarnaum, foi ter com Ele um centurião<ref name="ftn85">Centurião, oficial comandante de c. cem homens.</ref> que lhe suplicou, <span style="color:red"><sup>6</sup></span>dizendo: «Senhor, o meu servo está em casa deitado e paralítico, terrivelmente atormentado». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Ele disse-lhe: «Eu vou curá-lo». <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Em resposta, o centurião afirmou: «Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu teto; diz apenas uma palavra, e o meu servo será curado. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>É que também eu sou um homem sujeito à autoridade, tendo soldados às minhas ordens<ref name="ftn86">Lit.: ''tendo debaixo de mim próprio soldados''.</ref><nowiki>; e digo a um: "Vai", e ele vai; e a outro: "Vem", e ele vem; e ao meu servo: "Faz isto", e ele faz». </nowiki>
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Ao ouvi-lo, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: «Amen vos digo: não encontrei em Israel ninguém com tamanha fé.<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Digo-vos que muitos virão do oriente e do ocidente e reclinar-se-ão à mesa com Abraão, Isaac e Jacob no reino dos céus, <span style="color:red"><sup>12</sup></span>enquanto os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes». <span style="color:red"><sup>13</sup></span>E disse Jesus ao centurião: «Vai, seja feito como acreditaste». E o servo dele ficou curado naquela hora.
 
 
Cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31; Lc 4,38s) – <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Tendo ido Jesus para a casa de Pedro, viu a sogra dele prostrada com febre. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a; ela levantou-se e começou a servi-lo.
 
 
Curas e exorcismos (Mc 1,32-34; Lc 4,40s) – <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Ao cair da tarde, levaram-lhe muitos endemoniados; expulsou os espíritos pela palavra e curou todos os que tinham algum mal, <span style="color:red"><sup>17</sup></span>para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
 
''Ele tomou as nossas fraquezas''
 
''e carregou as nossas doenças''<ref name="ftn87">Is 53,4.</ref>''.''
 
 
Seguir Jesus (Lc 9,57-60) – <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Ao ver uma multidão à sua volta, Jesus ordenou que partissem para a outra margem. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Aproximou-se então um doutor da lei que lhe disse: «Mestre, seguir-te-ei para onde quer que vás». <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Disse-lhe Jesus: «As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem<ref name="ftn88">A expressão ''Filho do Homem'' é o título com que Jesus normalmente se refere a si mesmo; evoca a simples figura humana e, de modo particular, a figura misteriosa de Dn 7,13 que, vindo do céu, tem a missão de julgar o mundo e de estabelecer um reino universal e eterno.</ref> não tem onde reclinar a cabeça».
 
<span style="color:red"><sup>21</sup></span>Outro dos seus discípulos disse-lhe: «Senhor, permite-me que vá primeiro sepultar o meu pai». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Jesus disse-lhe: «Segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos»<ref name="ftn89">Ao relativizar a importância dada aos mortos, Jesus colide com a tradição judaica de ''mBer'' 3,1.</ref>.
 
 
A tempestade acalmada (Mc 4,35-41; Lc 8,22-25) – <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ao subir para o barco, os seus discípulos seguiram-no. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>E eis que surgiu uma grande agitação no mar, de tal modo que as ondas encobriam o barco<ref name="ftn90">Estes elementos de agitação e de tremor integram os relatos apocalípticos e teofânicos (27,51-53; Ex 19,16-18; 1Sm 7,10; 1Rs 8,10; 2Cr 7,1; Jb 38,1; Sb 5,2-33; Is 6,4; Hab 3,3; Mc 1,10s; At 2,3).</ref>. Ele, porém, dormia. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>E, aproximando-se, acordaram-no dizendo: «Senhor, salva-nos, estamos a morrer!». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Disse-lhes: «Porque estais assustados, homens de pouca fé?». Erguendo-se, então, repreendeu severamente os ventos e o mar<ref name="ftn91">O mar era visto como o lugar das forças do mal (cf. Is 51,9s). Sobre esse lugar só Deus tem poder (cf. Jn 2,3-11), exercido agora por Jesus, o que manifesta a sua natureza divina.</ref>, e fez-se grande bonança. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Os homens admiraram-se, dizendo: «Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?».
 
 
Cura dos endemoniados de Gádara (Mc 5,1-17; Lc 8,26-37) – <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Quando Ele foi para a outra margem, para a região dos gadarenos<ref name="ftn92">Gádara era uma cidade helenista da Decápole, na Transjordânia, a 10 quilómetros ao sul do lago de Genesaré.</ref>, vieram ao seu encontro, saindo dos sepulcros, dois endemoniados. Eram tão perigosos que ninguém era capaz de passar por aquele caminho. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>E eis que se puseram a gritar, dizendo: «Que há entre nós e ti<ref name="ftn93">''Que há entre nós e ti?'' é uma expressão típica e literalmente semita. Na tradição judaica perdurava a convicção de que os demónios infernizariam a vida e a história até ao ''fim dos tempos'' (cf. ''1Hen'' 15-16; ''Jub'' 10,8-9; ''TestLev'' 18,12).</ref>, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?».
 
<span style="color:red"><sup>30</sup></span>Ora, longe deles, estava uma vara de muitos porcos a pastar. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>E os endemoniados suplicaram-lhe, dizendo: «Se nos expulsas, envia-nos para a vara dos porcos». <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Ele disse-lhes: «Ide!». Então eles, ao saírem, foram para os porcos, e eis que toda a vara se lançou pelo precipício para o mar e morreram nas águas. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>33</sup></span>Os que apascentavam fugiram e foram para a cidade anunciar tudo isto, incluindo o que acontecera aos endemoniados<ref name="ftn94">Lit.: ''e'' ''também as coisas dos endemoniados''.</ref>. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Eis então que toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, ao vê-lo, suplicaram-lhe que partisse do seu território.
 
 
9 Perdão e cura de um paralítico (Mc 2,1-12; Lc 5,17-26) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Subindo para um barco, Ele atravessou para a outra margem e veio para a sua própria cidade<ref name="ftn95">A sua cidade era Cafarnaum (''Kēpher Nahûm''), nas margens do Lago de Tiberíades.</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>E eis que lhe trouxeram um paralítico, deitado num catre. Jesus, ao ver a fé deles, disse ao paralítico: «Tem coragem, filho! Os teus pecados estão perdoados». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>E eis que alguns dos doutores da lei disseram entre si: «Este está a blasfemar!». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Jesus, ao ver os seus pensamentos, disse: «Porque tendes tão maus pensamentos nos vossos corações? <span style="color:red"><sup>5</sup></span>O que é pois mais fácil, dizer: "Os teus pecados estão perdoados", ou dizer: "Levanta-te e anda"? <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Mas para que saibais que o Filho do Homem tem, sobre a terra, autoridade para perdoar pecados:» – disse, então, ao paralítico – «Levanta-te, toma o teu catre e vai para a tua casa». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>E ele, levantando-se, foi para a sua casa. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Ao verem isto, as multidões ficaram com medo e glorificaram Deus que dá aos homens uma tal autoridade.
 
Chamamento de Mateus. Os publicanos e pecadores (Mc 2,13-17; Lc 5,27-32) – <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Ao prosseguir dali, Jesus viu um homem, chamado Mateus<ref name="ftn96">Mc e Lc chamam-lhe ''Levi, filho de Alfeu''. O seu nome aparece nas listas dos apóstolos (10,3).</ref>, sentado no posto de cobrança de impostos, e disse-lhe: «Segue-me». E ele, levantando-se, seguiu-o<ref name="ftn97">Os publicanos eram funcionários do império romano para a cobrança dos impostos de mercadorias transportadas de uma província para outra. Na Palestina de então, havia dois postos fronteiriços: o de Cafarnaum, ao Norte, na passagem da Palestina para a Síria, e o de Jericó, ao Sul, na passagem para a Transjordânia. Os publicanos eram vistos pelos judeus ortodoxos como pecadores e gente impura pelo colaboracionismo com os romanos, por causa de alguns produtos transacionáveis e pelos abusos e injustiças nas cobranças dos impostos.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>E aconteceu que, estando Ele reclinado à mesa, em casa, muitos publicanos e pecadores foram reclinar-se à mesa com Jesus e com os seus discípulos. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ao verem isto, os fariseus diziam aos discípulos dele: «Por que razão come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?». <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Mas Ele, ouvindo, disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que têm algum mal. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Ide aprender o que significa: ''Quero misericórdia e não sacrifício''<ref name="ftn98">Os 6,6.</ref>''<nowiki>;</nowiki>'' pois'' ''não vim chamar os justos, mas os pecadores».
 
 
O jejum (Mc 2,18-20; Lc 5,33-35) – <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Vieram, então, ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Por que razão nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?». <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Disse-lhes Jesus: «Poderão os convidados da boda<ref name="ftn99">Lit.: ''os filhos do quarto nupcial'' ou ''os filhos da sala nupcial''. Pode indicar quer os amigos do noivo, quer os convidados para as núpcias em sentido geral.</ref> lamentar-se, enquanto o noivo está com eles? Mas dias virão em que o noivo lhes será tirado, e então hão de jejuar.
 
 
O velho e o novo (Mc 2,21s; Lc 5,36-38) – <span style="color:red"><sup>16</sup></span>«Ninguém põe um remendo de tecido cru em veste velha, pois o acrescento novo repuxa a veste e o rasgão torna-se pior. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Nem se deita vinho novo em odres velhos, senão os odres rompem-se, o vinho derrama-se no chão e os odres perdem-se; pelo contrário, põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam».
 
 
Cura da mulher que sofria de hemorragias e ressurreição de uma menina (Mc 5,21-43; Lc 8,40-56) – <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Enquanto Ele lhes falava, eis que um chefe<ref name="ftn100">Em Mt trata-se da cura da filha ''de um chefe''. Em Mc 5,22, o pai da criança é apresentado como ''um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo'' (cf. Lc 8,41). Sobre a mulher com o fluxo de sangue, cf. Lv 15,19-31. Jesus elimina o sistema estrutural da impureza legal, sobretudo quando ligado ao sangue.</ref> veio ajoelhar-se diante dele, dizendo: «A minha filha acaba de morrer, mas vem impor sobre ela a tua mão, e viverá». <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Jesus, levantando-se, seguiu-o, bem como os seus discípulos.
 
<span style="color:red"><sup>20</sup></span>Entretanto, eis que uma mulher, que há doze anos sofria de hemorragias, se aproximou por trás e tocou na franja da sua veste<ref name="ftn101">O fluxo de sangue menstrual, segundo Lv 25, tornava a mulher impura e também os que a tocassem.</ref>, <span style="color:red"><sup>21</sup></span>pois dizia para consigo: «Se ao menos tocar a sua veste, ficarei salva». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: «Tem coragem, filha, a tua fé te salvou». E a mulher ficou salva a partir daquela hora.
 
<span style="color:red"><sup>23</sup></span>Jesus, tendo chegado à casa do chefe, ao ver os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, <span style="color:red"><sup>24</sup></span>dizia: «Retirai-vos, pois a menina não morreu, mas está a dormir». E riam-se dele. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Depois de a multidão ter sido expulsa, Ele entrou, agarrou-lhe a mão, e a menina ergueu-se. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>E por toda aquela terra se divulgou esta notícia.
 
Cura de dois cegos – <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Ao prosseguir Jesus dali, seguiram-no dois cegos, que gritavam e diziam: «Tem misericórdia de nós, filho de David!»<ref name="ftn102">É a primeira vez que este título do Messias é aplicado a Jesus (15,22; 20,30s; 21,9.15).</ref>. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Ao chegar a casa, os cegos foram ter com Ele; e disse-lhes Jesus: «Acreditais que o posso fazer?». Disseram-lhe: «Sim, Senhor!». <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Tocou-lhes, então, nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé». <span style="color:red"><sup>30</sup></span>E os olhos abriram-se-lhes. Jesus, porém, ordenou-lhes severamente, dizendo: «Vede bem: que ninguém o saiba!». <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Mas eles, ao sair, espalharam a fama de Jesus por toda aquela terra.
 
 
Cura de um endemoniado (Lc 11,14s) – <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Estavam eles a sair, e eis que lhe trouxeram um homem mudo endemoniado. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>E, expulso o demónio, o mudo falou. As multidões admiravam-se, dizendo: «Nunca se viu em Israel uma coisa assim!». <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Mas os fariseus diziam: «É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios!».
 
Os trabalhadores da seara (Mc 6,6.34; Lc 8,1; 10,2) – <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Jesus percorria todas as cidades e povoações, ensinando nas suas sinagogas, proclamando o evangelho do reino e curando toda a doença e toda a enfermidade<ref name="ftn103">Trata-se de um sumário de Mt (cf. 4,23-25), que faz a transição entre a missão de Jesus e a dos apóstolos (cap.10).</ref>. <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Ao ver as multidões, compadeceu-se profundamente delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Então disse aos seus discípulos: «A seara<ref name="ftn104">O grego ''therismós'' diz respeito ao ato de colher no tempo próprio e, por extensão de sentido, à própria seara.</ref> é grande, mas os trabalhadores são poucos. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Pedi, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara».
 
 
<center>Discurso missionário </center>
 
<center>(10,1-42)</center>
 
 
10 Eleição dos Doze'' ''(Mc 3,13-19; 6,7; Lc 6,12-16; 9,1) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Chamando, então, a si os seus doze<ref name="ftn105">O número ''doze'' simboliza as doze tribos de Israel (19,28), i.e., o novo Israel a partir de Jesus e dos seus discípulos.</ref> discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros, para que os expulsassem e curassem toda a doença e toda a enfermidade<ref name="ftn106">Neste segundo grande discurso, Jesus escolhe os Doze e envia-os, pedindo-lhes&nbsp;coragem e desprendimento.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>2</sup></span>São estes os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, o chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes<ref name="ftn107">''Iscariotes'' pode significar oriundo de Keriot (povoação da Palestina meridional: cf. Js 15,25; Am 2,2), mentiroso (raiz aramaica), ou sicário (transcrição semítica) que, no latim, é equivalente a zelote.</ref>, que o entregou<ref name="ftn108">Ou ''que o traiu'' (''ho paradoús autón'').</ref>.
 
 
Missão dos Doze (Mc 6,8-11; Lc 9,2-5) – <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Foram estes os Doze que Jesus enviou, depois de lhes ordenar, dizendo: «Não tomeis o caminho dos pagãos<ref name="ftn109">Lit.: ''não partais para caminho de pagãos''.</ref>, nem entreis em cidade de samaritanos<ref name="ftn110">Os samaritanos tinham templo próprio no monte Garizim e, desde a queda da Samaria em 721 a.C. e do exílio assírio, eram vistos como judeus renegados, não totalmente fiéis à Torá (cf. 2Rs 17,24-41; Esd 4,2), embora aceitassem os seus cinco livros. Estas divergências agudizaram-se no período pós-exílico da Babilónia, pois a partir daí a clivagem atingiu o nível canónico, quando o Pentateuco samaritano se revestiu de algumas diferenças. No séc.II a.C. os judeus destruíram-lhes o templo.</ref><nowiki>; </nowiki><span style="color:red"><sup>6</sup></span>ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Ao ir, proclamai, dizendo que está próximo o reino dos céus. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Curai os que estão doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes como dom, dai como dom. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Não procureis ouro, prata ou cobre para guardar nos vossos cintos<ref name="ftn111">Lit.: ''para as vossas cinturas''.</ref>, <span style="color:red"><sup>10</sup></span>nem bolsa para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bastão; pois o trabalhador é digno do seu sustento.
 
<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Na cidade ou povoação em que entrardes, indagai se há nela alguém digno, e permanecei lá até sairdes. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Ao entrardes numa casa, saudai-a<ref name="ftn112">Alguns mss. acrescentam: ''Paz a esta casa'' (Lc 10,5).</ref>. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Se a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz, mas se não for digna, volte para vós a vossa paz. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>E se alguém não vos acolher nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Amen vos digo: no dia do juízo, haverá mais tolerância para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para essa cidade».
 
 
Perseguições futuras (Mt 24,9-14; Mc 13,9-13; Lc 10,3; 12,11s; 21,12-19) – <span style="color:red"><sup>16</sup></span>«Eis que Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas<ref name="ftn113">Trata-se, muito provavelmente, de um provérbio, pois também é partilhado no ''ChirR'' 2,14.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Tende cuidado com os homens, porque vos hão de entregar aos sinédrios e nas suas sinagogas vos hão de chicotear! <span style="color:red"><sup>18</sup></span>À presença de governadores e reis sereis levados por causa de mim, para lhes dar testemunho, a eles e aos pagãos<ref name="ftn114">Lit.: ''para testemunho a eles e aos pagãos''.</ref>. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Quando vos entregarem, não vos preocupeis como ou com o que dizer: ser-vos-á dado, naquela hora, o que dizer, <span style="color:red"><sup>20</sup></span>pois não sereis vós a falar, mas o Espírito do vosso Pai a falar em vós.
 
<span style="color:red"><sup>21</sup></span>O irmão entregará o irmão à morte, e o pai o filho; os filhos hão de levantar-se contra os pais e causar-lhes a morte. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas o que perseverar até ao fim, esse será salvo. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Pois amen vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do Homem».
 
Confiança e recompensa dos apóstolos (Mc 9,41; Lc 12,2-9.51-53; 14,26s) – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>«Um discípulo não está acima do mestre, nem um servo acima do seu senhor. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Basta ao discípulo ser como o seu mestre e ao servo como o seu senhor. Se ao senhor da casa chamaram Belzebu<ref name="ftn115">O nome ''Beelzebú, ''do hebraico ''Baal-Zebul'', significa ''Senhor-príncipe'', divindade síria que em 2Rs 1,1s é deformado em ''Baal-Zebub'': ''Senhor das moscas''. Popularmente era o príncipe dos espíritos maus (cf. 9,34; 12,24; 2Rs 1,2; Mc 3,22; Lc 11,15).</ref>, quanto mais aos da sua casa!
 
<span style="color:red"><sup>26</sup></span>Portanto, não tenhais medo deles, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem escondido que não venha a conhecer-se. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>O que eu vos digo às escuras, dizei-o às claras, e o que ouvis com os ouvidos, proclamai-o sobre os telhados. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tende, antes, medo de quem pode destruir a alma e o corpo na Geena. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Não se vendem dois pardais por uma moeda<ref name="ftn116">Lit.: ''um asse'', antiga moeda romana de cobre.</ref>? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai<ref name="ftn117">Lit.: ''sem o vosso Pai''.</ref>. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Ora, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Por isso, não tenhais medo: vós valeis mais do que muitos pardais. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Todo aquele que me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Porém, aquele que me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.
 
<span style="color:red"><sup>34</sup></span>Não penseis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada<ref name="ftn118">As afirmações de Jesus têm um sentido metafórico, a partir de decisões existenciais que podem conduzir a ruturas familiares.</ref>. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Vim, de facto, separar:
 
''um homem do seu pai, ''
 
''uma filha da sua mãe, ''
 
''uma nora da sua sogra; ''
 
<span style="color:red"><sup>36</sup></span>''os inimigos do homem serão os da sua casa''<ref name="ftn119">Mq 7,6.</ref>''. ''
 
<span style="color:red"><sup>37</sup></span>Quem gosta<ref name="ftn120">O verbo grego ''philéō'' é traduzido por ''gostar de'' ou ''ser amigo de'', para o distinguir do verbo ''agapáō'', ''amar''. Este último é bastante mais frequente no NT e exprime um amor que se dá sem esperar nada em troca, de tal forma que o substantivo ''agáp''ē é usado para exprimir a natureza de Deus (cf. 1Jo 4,8.16).</ref> do pai ou da mãe, mais do que de mim, não é digno de mim, e quem gosta do filho ou da filha, mais do que de mim, não é digno de mim. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>E aquele que não toma a sua cruz e segue atrás de mim, não é digno de mim.
 
<span style="color:red"><sup>39</sup></span>Quem encontra a sua vida há de perdê-la, e quem perde a sua vida por causa de mim há de encontrá-la. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Quem vos acolhe, a mim acolhe, e quem me acolhe, acolhe aquele que me enviou<ref name="ftn121">Esta ideia faz parte da cultura judaica (cf. ''mBer'' 5,5: ''O enviado de um homem é como se fosse ele mesmo'').</ref>. <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Quem acolhe um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta, e quem acolhe um justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. <span style="color:red"><sup>42</sup></span>Aquele que der a beber a um destes pequenos, nem que seja um copo de água fresca, por ser discípulo, amen vos digo: jamais perderá a sua recompensa».
 
 
<center>Ensinamentos sobre o reino (11,1-12,50)</center>
 
 
11<span style="color:red"><sup>1</sup></span>E aconteceu que, quando Jesus acabou de dar estas ordens aos seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar nas suas cidades<ref name="ftn122">Trata-se de uma fórmula de transição que indica o início de uma nova secção. Este v. explicita uma mudança face ao território literário anterior. Até 13,52 Jesus apresenta um conjunto de parábolas e de sinais para falar do reino. A perícope de 11,1-19 recolhe material da fonte Q (cf. Lc 7,18-35; 10,12-15).</ref>.
 
Embaixada de João Batista a Jesus (Lc 7,18-23) – <span style="color:red"><sup>2</sup></span>João, ao ouvir falar no cárcere das obras de Cristo, mandou, por intermédio dos seus discípulos, <span style="color:red"><sup>3</sup></span>dizer-lhe: «És tu o que está para vir<ref name="ftn123">Lit.: ''és tu o que vem''.</ref> ou havemos de esperar outro?». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Jesus, respondendo, disse-lhes: «Ide anunciar a João o que ouvis e vedes: <span style="color:red"><sup>5</sup></span>''os cegos voltam a ver'' e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é ''anunciada a boa nova.'' <span style="color:red"><sup>6</sup></span>E feliz é aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo».
 
 
Juízo de Jesus sobre João Batista (Lc 7,24-28) – <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Quando eles partiram, Jesus começou a falar às multidões acerca de João: «Que fostes observar no deserto? Uma cana agitada pelo vento? <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Mas que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Eis que aqueles que trajam roupas finas estão nas casas dos reis. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais que profeta. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>É acerca dele que está escrito:
 
''Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente,''
 
''que há de preparar o teu caminho diante de ti''<ref name="ftn124">Ex 23,20; Ml 3,1.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Amen vos digo: não se ergueu, entre os nascidos de mulher, ninguém maior que João Batista; mas o mais pequeno no reino dos céus é maior que ele. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre de violência, e os violentos apoderam-se dele<ref name="ftn125">Texto enigmático: de que violência se trata? Da violência dos zelotes contra os romanos? Das violências de grupos judaicos contra os cristãos? Da violência interior cristã para entrar no reino?</ref>. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>E, se quereis aceitar, ele é o Elias que está prestes a vir. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Quem tem ouvidos, ouça.
 
<span style="color:red"><sup>16</sup></span>A quem hei de comparar esta geração? É semelhante às crianças sentadas nas praças públicas que, interpelando as outras, <span style="color:red"><sup>17</sup></span>dizem:
 
"Tocámos flauta para vós e não dançastes,
 
entoámos lamentações e não batestes no peito".
 
<span style="color:red"><sup>18</sup></span>Veio João, que não come nem bebe, e dizem: "Tem um demónio!". <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: "Eis um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores". Mas a sabedoria foi justificada pelas suas obras».
 
 
Imprecações contra as cidades incrédulas (Lc 10,12-15) – <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Começou, então, a censurar as cidades em que tinha realizado a maior parte das suas ações poderosas, porque não se tinham convertido: <span style="color:red"><sup>21</sup></span>«Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sídon se tivessem realizado as ações poderosas que entre vós se realizaram, há muito se teriam convertido, cobrindo-se de pano rude e de cinza<ref name="ftn126">''S''á''kkos ''é um tipo de pano rude, normalmente feito de pele de animais, que se usava em cima do corpo como se fosse um saco (daí o seu nome) e era normalmente usado como sinal de luto, penitência ou súplica. Na cultura judaica, era também costume atirar cinza à cabeça como sinal de luto (Jb 1,21; 2,12; Jr 6,26). Corazim, Betsaida e Cafarnaum constituíam o chamado «triângulo evangélico» onde Jesus realizou muitos prodígios e sinais, aos quais estas cidades reagiram com incredulidade. Daí terem sido comparadas às grandes cidades pecadoras de Sodoma e de Gomorra, de Tiro e de Sídon (cf. Gn 19,28s; Is 1,9; Ez 27,1.4.30-32; Am 1,9; Mc 7,24; Lc 10,12-14), estas duas últimas alvo da crítica severa dos profetas (cf. Is 23,1; Ez 26-28).</ref>. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Por isso vos digo: haverá mais tolerância para Tiro e Sídon, no dia do juízo, do que para vós. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>E tu, Cafarnaum, ''serás'' ''elevada'' ''até ao céu? Até ao inferno''<ref name="ftn127">Lit.: ''Hades'', o inferno da mitologia grega.</ref>'' descerás''<ref name="ftn128">Is 14,13.15.</ref>''!'' Porque, se em Sodoma se tivessem realizado as ações poderosas que se realizaram em ti, teria durado até aos dias de hoje. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Por isso vos digo: haverá mais tolerância para Sodoma, no dia do juízo, do que para ti».
 
 
Revelação aos humildes (Lc 10,21s) – <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Naquele tempo, em resposta<ref name="ftn129">A expressão ''em resposta'' (''apokritheís'') assinala a contrastante transição entre aqueles que rejeitam Jesus (antes e depois desta oração) e os que o acolhem. A ''resposta'' consta de uma oração de louvor ao Pai (vv. 25s), da revelação da sua exclusiva relação filial com Ele (v. 26) e do reforçado convite aos que mais dele carecem (vv. 28-30). No centro está o reconhecimento de amor entre o Filho e o Pai: nele se insere o louvor e dele participam os ''simples'' e os ''fatigados e oprimidos'', carentes de um amor, cujo ''jugo'' é ''suave''. </ref>, Jesus disse: «Louvo-te, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Tudo me foi entregue por meu Pai; ninguém reconhece o Filho senão o Pai, e ninguém reconhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
 
O suave jugo de Jesus – <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Vinde a mim, todos os que estais fatigados e oprimidos, e eu vos darei descanso. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas vidas, <span style="color:red"><sup>30</sup></span>pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».
 
 
12 Espigas arrancadas ao sábado (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naquele tempo, caminhava Jesus num sábado pelas searas. Os seus discípulos sentiram fome e começaram a arrancar espigas e a comê-las<ref name="ftn130">Mt regressa aqui à narrativa de Mc, a qual tinha abandonado em 9,18.</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Os fariseus, ao ver isto, disseram a Jesus: «Eis que os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer ao sábado». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Ele disse-lhes: «Não lestes o que fez David, quando ele e os que estavam com ele sentiram fome<ref name="ftn131">cf. 1Sm 21,2-7, em contraste com a lei sabática de Lv 24,4-9. Jesus serve-se da hermenêutica rabínica que defende uma doutrina mais recente com uma passagem bíblica contraposta a outra. Para Jesus o que está em questão é a defesa da pessoa, mesmo contra a norma legal de Lv 24,4-9. Não destrói ou sequer desconsidera o mandamento de sábado, que vem de Deus (cf. Ex 20,8), mas apenas o relativiza em favor de bens maiores, como no episódio seguinte (12,9-13).</ref>? <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Como entrou na casa de Deus e comeram os pães da oferenda<ref name="ftn132">São também chamados os ''pães da proposição'', os doze pães doces de farinha que eram colocados no templo, como sinal de aliança perpétua com as doze tribos de Israel. Eram trocados durante o sacrifício do sábado (cf. Lv 24,5-9).</ref>, que nem a ele nem aos que estavam com ele era permitido comer, senão aos sacerdotes? <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam isentos de culpa? <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Digo-vos: está aqui algo maior que o templo. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Se tivésseis compreendido o que significa: ''Quero misericórdia e não sacrifício''<ref name="ftn133">Os 6,6.</ref>, não teríeis condenado os isentos de culpa<ref name="ftn134">Jesus, como mestre da ''halakáh'' (conjunto de comentários da tradição moral e jurídica), dá o verdadeiro sentido ao mandamento do sábado, usando para isso a técnica rabínica do ''qal-wahômer'' (contrapondo um argumento débil face a um argumento forte) a partir de um caso concreto (cf. ''bShab'' 128b; ''bBabMes ''32b).</ref>. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Pois o Filho do Homem é senhor do sábado».
 
 
Cura ao sábado. Decisão de matar Jesus (Mc 3,1-6; Lc 6,6-11) – <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Partindo dali, entrou na sinagoga deles. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Eis que estava lá um homem que tinha uma mão paralisada<ref name="ftn135">Lit.: ''ressequida''.</ref>. E, para poderem acusá-lo, interrogaram Jesus, dizendo: «É permitido curar ao sábado?».<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ele disse-lhes: «Qual será o homem entre vós que terá uma ovelha, e se ela cair numa cova, num sábado, não a irá agarrar e levantar daí? <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Pois bem: um homem vale muito mais do que uma ovelha! Logo, é permitido fazer o bem ao sábado». <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Disse, então, ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e ela ficou recuperada, tão saudável como a outra. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Os fariseus, ao sair dali, reuniram-se em conselho contra Ele, a fim de o matar.
 
 
Jesus, o servo do Senhor (Mc 3,7-12; Lc 6,17-19) – <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Jesus, ao saber disso, retirou-se dali. Seguiram-no numerosas multidões, e curou-os a todos; <span style="color:red"><sup>16</sup></span>mas repreendeu-os severamente para que não o dessem a conhecer<ref name="ftn136">Lit.: ''para que não o fizessem visível''.</ref>, <span style="color:red"><sup>17</sup></span>para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
 
<span style="color:red"><sup>18</sup></span>''Eis o meu servo, o que escolhi, ''
 
''o meu amado em quem se ''
 
''compraz a minha alma.''
 
''Porei sobre ele o meu Espírito,''
 
''e anunciará a justiça aos povos.''
 
<span style="color:red"><sup>19</sup></span>''Não criará conflitos ''
 
''nem gritará,''
 
''ninguém ouvirá nas praças ''
 
''a sua voz.''
 
<span style="color:red"><sup>20</sup></span>''Não quebrará a cana rachada''<ref name="ftn137">Segundo algumas interpretações, a ''cana rachada'' é uma metáfora do homem pecador, e, como tal, frágil (cf. Mt 11,7), tal como ''a mecha que fumega''.</ref>'',''
 
''nem apagará a mecha ''
 
''que fumega,''
 
''até que leve a justiça à vitória.''
 
<span style="color:red"><sup>21</sup></span>''E no seu nome os povos terão ''
 
''esperança''<ref name="ftn138">Is 42,1-4. Trata-se do primeiro cântico do Servo de Javé. O Servo vem trazer a salvação messiânica com uma vida sem violência, aberta a judeus e não-judeus.</ref>''.''
 
 
Exorcismos e sinais do reino (Mc 3,22-27; Lc 6,43-45;11,14-23; 12,10) – <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Trouxeram-lhe, então, um endemoniado cego e mudo, e Ele curou-o, de modo que o mudo começou a falar e a ver. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>E todas as multidões se espantavam e diziam: «Não será este o filho de David?». <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Mas os fariseus, ao ouvir, disseram: «É somente por Belzebu, o chefe dos demónios, que este expulsa os demónios!».
 
<span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ele, conhecendo os pensamentos deles, disse-lhes: «Todo o reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda a cidade ou casa dividida contra si mesma não há de subsistir. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Se Satanás<ref name="ftn139">Satanás é a transliteração do hebraico ''sātān'' (''adversário''), figura que aparece personalizada em Jb 1.</ref> expulsa Satanás, divide-se contra si mesmo; como há de subsistir o seu reino? <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, os vossos filhos por quem os expulsam? Por isso, eles serão os vossos juízes. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Mas, se Eu expulso os demónios pelo Espírito de Deus, então chegou a vós o reino de Deus. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ou como pode alguém entrar na casa daquele que é forte<ref name="ftn140">Lit.: ''na casa do forte... amarrar o forte''.</ref> e roubar-lhe os seus bens, se primeiro não amarrar aquele que é forte? Então roubar-lhe-á a casa. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Quem não está comigo está contra mim, e quem não recolhe comigo dispersa.
 
<span style="color:red"><sup>31</sup></span>Por isso vos digo: todo o pecado e blasfémia serão perdoados aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito não será perdoada. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>E aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoado, mas aquele que falar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado, nem neste tempo nem no que está prestes a vir.
 
<span style="color:red"><sup>33</sup></span>Ou considerais<ref name="ftn141">Lit.: ''fazeis''.</ref> a árvore boa, e o seu fruto bom, ou considerais que a árvore não presta e o seu fruto não presta. É pelo fruto que se conhece a árvore. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Geração de víboras, como podeis dizer coisas boas, sendo maus? É da abundância do coração que a boca fala. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>O homem bom do bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Mas digo-vos: no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda a palavra inútil que tiverem pronunciado. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Pois pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado».
 
 
Jesus e o sinal de Jonas (Mc 8,11s; Lc 11,16.29-32) – <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Responderam-lhe, então, alguns dos doutores da lei e dos fariseus, dizendo: «Mestre, queremos ver da tua parte um sinal». <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Mas Ele, respondendo, disse-lhes: «Geração má e adúltera que procura um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Pois, assim como ''Jonas esteve no ventre do monstro marinho três dias e três noites''<ref name="ftn142">Jn 2,1.</ref>, assim também estará o Filho do Homem no coração da terra três dias e três noites. <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Os homens de Nínive<ref name="ftn143">Nínive foi a capital dos assírios, um dos piores inimigos de Israel. A sua destruição histórica (em 612 a.C.), segundo o relato bíblico, terá sido profetizada em Na 2,6, e os seus habitantes mostraram arrependimento em virtude da pregação do profeta Jonas (Jn 3,5-10).</ref> levantar-se-ão, no dia do juízo<ref name="ftn144">Lit.: ''no juízo'' (tal como no v. 42).</ref>, com esta geração e hão de condená-la, porque se converteram perante a pregação de Jonas; e eis aqui quem é maior que Jonas. <span style="color:red"><sup>42</sup></span>A rainha do Sul<ref name="ftn145">''Rainha do Sul'' evoca a visita ao rei Salomão da rainha de Sabá (1Rs 10,1-13; 2Cr 9,1-12), proveniente das regiões da Etiópia e do Iémen.</ref> erguer-se-á, no dia do juízo, com esta geração e há de condená-la, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui quem é maior que Salomão».
 
 
O espírito impuro pode voltar para o homem (Lc 11,24-26) – <span style="color:red"><sup>43</sup></span>«Quando o espírito impuro sai do homem, anda por lugares áridos em busca de repouso e não o encontra. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Então diz: "À minha casa voltarei, de onde saí". Ao chegar, encontra-a vazia, varrida e em ordem. <span style="color:red"><sup>45</sup></span>Então vai, toma consigo sete outros espíritos piores que ele e, entrando, estabelecem ali morada. A situação final desse homem torna-se pior que a primeira. Assim acontecerá a esta geração má».
 
 
A verdadeira família de Jesus (Mc 3,31-35; Lc 8,19-21) – <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Ainda Ele falava às multidões, eis que a sua mãe e os seus irmãos estavam fora, procurando falar com Ele. <span style="color:red"><sup>47</sup></span>Disse-lhe então alguém: «Eis que a tua mãe e os teus irmãos estão lá fora a procurar falar contigo». <span style="color:red"><sup>48</sup></span>Ele, porém, em resposta, disse a quem lhe falava: «Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?». <span style="color:red"><sup>49</sup></span>E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: «Eis a minha mãe e os meus irmãos! <span style="color:red"><sup>50</sup></span>Pois aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe».
 
<center>O discurso dAs parábolas </center>
 
<center>do reino (13,1-52)</center>
 
 
13 Parábola do semeador (Mc 4,1-9; Lc 8,4-8)<ref name="ftn146">Nesta famosa parábola do semeador, Jesus usa uma imagem do quotidiano: a da terra pedregosa da Palestina, onde é difícil encontrar terreno com terra boa, em que as raízes possam em profundidade alimentar-se e ganhar estabilidade. Assim, os leitores e os ouvintes ficam a saber que, para consolidar a relação pessoal com o Senhor Jesus, é preciso tempo, profundidade, é preciso refletir, pensar na palavra de Deus para que ela vá ganhando raízes.</ref> – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naquele dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se junto ao mar. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>E reuniram-se junto dele tão numerosas multidões que Ele teve de entrar num barco e sentar-se. Toda a multidão estava de pé na praia. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Falou-lhes, então, de muitas coisas em parábolas, dizendo:
 
«Eis que saiu o semeador a semear. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>E, ao semear, uma parte caiu junto ao caminho: vieram as aves e devoraram-na. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra, e imediatamente germinou, por não ter profundidade de terra. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Ao despontar o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Outra parte caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e abafaram-na. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Outra parte, porém, caiu em terra boa e deu fruto: ora cem, ora sessenta, ora trinta. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Quem tem ouvidos, ouça».
 
Porque fala Jesus em parábolas (Mc 4,10-12; Lc 8,9s; 10,23s) – <span style="color:red"><sup>10</sup></span>E, aproximando-se, os discípulos disseram-lhe: «Por que razão lhes falas em parábolas?». <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ele, respondendo, disse-lhes: «Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus<ref name="ftn147">A expressão ''mistérios do reino'' aparece apenas aqui nos evangelhos.</ref>, mas a eles não foi dado. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Pois àquele que tem, ser-lhe-á dado e acrescentado; mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Por isso lhes falo em parábolas: porque vendo, não veem, e ouvindo, não ouvem nem entendem. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Assim, neles se cumpre plenamente a profecia de Isaías, que diz:
 
''Com o ouvido haveis de ouvir, mas nunca entendereis,''
 
''olhando, olhareis, mas nunca ''
 
''vereis.''
 
<span style="color:red"><sup>15</sup></span>''Porque se endureceu o coração deste povo,''
 
''e com dureza os seus ouvidos ouviram''
 
''e fecharam os seus olhos.''
 
''Não aconteça que vejam com os olhos,''
 
''e com os ouvidos ouçam,''
 
''e com o coração entendam,''
 
''e voltem atrás e eu os cure''<ref name="ftn148">Is 6,9s.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>16</sup></span>Felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Amen vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram».
 
 
Explicação da parábola (Mc 4,13‑20; Lc 8,11-15) – <span style="color:red"><sup>18</sup></span>«Vós, portanto, ouvi a parábola do semeador. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Todo aquele que ouve a palavra do reino e não entende, vem o Maligno e apodera-se do que foi semeado no seu coração: este é aquele que foi semeado junto ao caminho. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>O que foi semeado em terreno pedregoso é o que ouve a palavra e imediatamente a recebe com alegria, <span style="color:red"><sup>21</sup></span>mas, como não tem raiz em si mesmo, dura pouco<ref name="ftn149">Lit.: é para'' tempo oportuno, ''i.e., ''efémero''.</ref><nowiki>; ao surgir uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, imediatamente cai por motivo de escândalo. </nowiki><span style="color:red"><sup>22</sup></span>O que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, e não produz fruto. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>O que foi semeado em terra boa, este é o que ouve a palavra e a entende, e este dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta».
 
 
Parábola do trigo e do joio – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Apresentou-lhes outra parábola, dizendo: «O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Mas, enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Quando a planta começou a germinar e a dar fruto, apareceu também o joio. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Então os servos, indo ter com o senhor da casa, disseram-lhe: "Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde vem então o joio?". <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Ele disse-lhes: "Foi um inimigo<ref name="ftn150">Lit.: ''homem inimigo''.</ref> que fez isso". Os servos disseram-lhe: "Queres que o vamos apanhar?". <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ele, porém, disse: "Não, não aconteça que, ao apanhardes o joio, arranqueis também o trigo. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Deixai-os''' '''crescer juntos até à ceifa, e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: 'apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro'"».
 
 
Parábola do grão de mostarda (Mc 4,30-32; Lc 13,18s) – <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Apresentou-lhes outra parábola, dizendo: «O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>É a mais pequena de todas as sementes, mas quando cresce é maior que as plantas da horta, e torna-se árvore, de tal modo que as aves do céu vêm habitar nos seus ramos».
 
 
Parábola do fermento (Lc 13,20) – <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Disse-lhes outra parábola: «O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas<ref name="ftn151">Lit.: ''…três sata ''– plural do grego ''sáton'', uma medida que levava c. 10 litros.</ref> de farinha, até que tudo fermentasse».
 
 
A razão das parábolas (Mc 4,33) – <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Jesus disse todas estas coisas às multidões em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, <span style="color:red"><sup>35</sup></span>para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta que diz:
 
''Abrirei em parábolas a minha boca,''
 
''proclamarei coisas escondidas ''desde a fundação do mundo<ref name="ftn152">Sl 78,2.</ref>''.''
 
 
Explicação da parábola do trigo e do joio –'' ''<span style="color:red"><sup>36</sup></span>Então, despedindo as multidões, foi para casa. Os seus discípulos foram ter com Ele, dizendo: «Explica-nos a parábola do joio do campo». <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Ele, em resposta, disse: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; <span style="color:red"><sup>38</sup></span>o campo é o mundo; a boa semente, esses são os filhos do reino; o joio são os filhos do Maligno; <span style="color:red"><sup>39</sup></span>o inimigo que o semeia é o Diabo; a ceifa é o fim dos tempos; os ceifeiros são os anjos. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Assim como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim dos tempos: <span style="color:red"><sup>41</sup></span>o Filho do Homem enviará os seus anjos que hão de recolher do seu reino todos os que são motivo de escândalo<ref name="ftn153">Lit.: ''escândalos''.</ref> e os que praticam a iniquidade, <span style="color:red"><sup>42</sup></span>e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. <span style="color:red"><sup>43</sup></span>Então os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça»<ref name="ftn154">Nos vv. 36-43, Jesus transforma a parábola em alegoria com expressões apocalípticas. </ref>.
 
Parábola do tesouro escondido e da pérola –'' ''<span style="color:red"><sup>44</sup></span>«O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem ao encontrar escondeu, e na sua alegria vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo.
 
<span style="color:red"><sup>45</sup></span>O reino dos céus também é semelhante a um comerciante<ref name="ftn155">Lit.: ''homem comerciante''.</ref> que procura belas pérolas. <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Ao encontrar uma pérola de muito valor, foi vender tudo quanto tinha e comprou-a».
 
 
Parábola da rede lançada ao mar – <span style="color:red"><sup>47</sup></span>«O reino dos céus é também semelhante a uma rede que, lançada ao mar, juntou todo o género de peixe<ref name="ftn156">''Peixe ''é acrescento da tradução.</ref>. <span style="color:red"><sup>48</sup></span>Quando se encheu, puxaram-na para a praia e, sentados, recolheram o que é bom nos cestos e atiraram fora o que não prestava. <span style="color:red"><sup>49</sup></span>Assim será no fim dos tempos: sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, <span style="color:red"><sup>50</sup></span>lançando-os na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes».
 
Conclusão do discurso sobre o reino –''' '''<span style="color:red"><sup>51</sup></span>«Entendestes tudo isto?». Disseram-lhe: «Sim». <span style="color:red"><sup>52</sup></span>Então Ele disse-lhes: «Por isso, todo o doutor da lei que se torna discípulo do reino dos céus é semelhante a um senhor da casa, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas».
 
 
<center>Outros ensinamentos </center>
 
<center>sobre o reino </center>
 
<center>(13,53-17,27)</center>
 
 
Jesus desprezado em Nazaré (Mc 6,1-6a; Lc 4,16-30) – <span style="color:red"><sup>53</sup></span>E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer estas parábolas, saiu dali<ref name="ftn157">Este v. destaca o início de um novo bloco (7,28s; 11,1; 19,1; 26,1s), que começa com as dificuldades da missão na própria terra de Jesus, Nazaré.</ref>. <span style="color:red"><sup>54</sup></span>Tendo ido para a sua terra natal, ensinava-os nas suas sinagogas, de tal modo que eles ficavam perplexos e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e estes poderes? <span style="color:red"><sup>55</sup></span>Não é este o filho do carpinteiro<ref name="ftn158">No talmud de Jerusalém, os carpinteiros (''naggārā''') são elogiados pelo seu conhecimento da Torá (cf. ''yYebam'' 8,9b; ''yQidd'' 4,66b).</ref>? Não se chama a sua mãe Maria, e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? <span style="color:red"><sup>56</sup></span>E as suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem então tudo isto?». <span style="color:red"><sup>57</sup></span>E escandalizavam-se com Ele. Jesus, porém, disse-lhes: «Um profeta não é desprezado senão na terra natal e na sua casa»<ref name="ftn159">Lc 4,16-30 coloca a rejeição de Jesus na sua terra, no início da narração da vida pública.</ref>. <span style="color:red"><sup>58</sup></span>E não fez ali muitas ações poderosas<ref name="ftn160">Lit.: ''não fez ali muitos poderes''.</ref>, por causa da falta de fé deles.
 
 
14 Martírio de João Batista (Mc 6,14-29; Lc 3,19s; 9,7-9) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naquele tempo, o tetrarca Herodes<ref name="ftn161">Herodes Ântipas, filho de Herodes, o Grande, que herdou as províncias da Galileia e da Pereia, um estado que era uma quarta parte do reino do pai (cf. Lc 3,1s.19; 9,7; At 13,1). Daí o título ''tetrarca'', atribuído ao líder de cada um dos quatro estados, todos eles sob o domínio romano''.''</ref> ouviu falar da fama de Jesus <span style="color:red"><sup>2</sup></span>e disse aos seus servos: «Este é João Batista! Ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, os poderes atuam nele». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>De facto, Herodes, tendo preso João, acorrentou-o e pô-lo na prisão por causa de Herodíade<ref name="ftn162">Herodíade, filha de Aristobulo e Berenice, mulher de Herodes Filipe, desposou ilegalmente Herodes Ântipas, seu tio (cf. Lc 3,19). Herodes Ântipas tinha repudiado a primeira mulher, filha do rei nabateu Aretas (cf. Flávio Josefo, ''Bell.Jud'' I,8.9; I,28.4; II,11.6; ''Ant.Jud'' XVII,7.3; XVIII,5.4).</ref>, a mulher do seu irmão Filipe, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>pois João dizia-lhe: «Não te é permitido tê-la por mulher». <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Herodes quis matá-lo, mas temia a multidão, porque o tinham como profeta.
 
<span style="color:red"><sup>6</sup></span>No aniversário de Herodes, a filha de Herodíade dançou no meio de todos<ref name="ftn163">Lit.: ''dançou do meio''.</ref> e agradou a Herodes, <span style="color:red"><sup>7</sup></span>de tal modo que lhe prometeu sob juramento dar-lhe o que ela pedisse. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Ela, instigada pela sua mãe, afirmou: «Dá-me aqui, numa bandeja, a cabeça de João Batista». <span style="color:red"><sup>9</sup></span>O rei ficou triste, mas, por causa dos juramentos e dos que estavam reclinados à mesa com ele, ordenou que lha dessem <span style="color:red"><sup>10</sup></span>e mandou decapitar João na prisão. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Trouxeram a sua cabeça numa bandeja e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Os discípulos de João vieram buscar o cadáver, sepultaram-no e foram anunciá-lo a Jesus.
 
 
Primeira multiplicação dos pães (Mc 6,31-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Ao ouvir isto, Jesus retirou-se dali num barco e foi a sós para um lugar deserto. Quando as multidões ouviram isto, seguiram-no a pé a partir das cidades. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Ao sair, Ele viu uma numerosa multidão, compadeceu-se profundamente deles e curou os seus enfermos. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ao cair da tarde, foram ter com Ele os discípulos, dizendo: «O lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora as multidões para irem às povoações comprar alimentos para si». <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Mas Jesus disse-lhes: «Não têm necessidade de se ir embora. Dai-lhes vós de comer». <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Eles disseram-lhe: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes». <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Ele disse: «Trazei-mos cá». <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Depois de ordenar às multidões que se reclinassem sobre a erva, tomando os cinco pães e os dois peixes, e levantando os olhos ao céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Todos comeram e ficaram saciados, e recolheram o que sobrou dos pedaços: doze cestas cheias<ref name="ftn164">Esta primeira multiplicação dos pães evoca o alimento do maná dado por Deus a Israel no deserto (cf. Ex 16,4s.15-36; Sl 78,24-30; Sb 16,20-21) e a recolha nos cestos evoca um outro episódio do AT passado com Eliseu e o seu servo (2Rs 4,42-44). São ainda claras, neste relato e nos outros cinco dos evangelhos, as afinidades com os da última Ceia de Jesus e a celebração da Eucaristia desde os primórdios da Igreja.</ref>. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
 
Jesus caminha sobre as águas (Mc 6,45-52; Jo 6,15-21) – <span style="color:red"><sup>22</sup></span>E imediatamente obrigou os discípulos a entrar no barco e a ir à sua frente para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Depois de despedir as multidões, subiu ao monte a sós para rezar. Ao cair da tarde, Ele estava ali sozinho. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Entretanto, o barco já estava a muitos estádios da terra, atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Pela quarta vigília da noite<ref name="ftn165">A quarta vigília da noite corresponde ao último período de três horas antes da madrugada, i.e., ao período entre as três e as seis da manhã, antes de o sol se levantar, quando no horizonte já se começa a entrever o tom rosa da aurora. Esta referência é significativa, porque indica que Jesus, a nova luz, vem ao encontro dos discípulos com o seu poder divino, já que só Deus podia assim dominar as forças do mar e do mal.</ref> foi ter com eles, caminhando sobre o mar. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>26</sup></span>Mas os discípulos, ao vê-lo caminhar sobre o mar, ficaram muito perturbados, dizendo que era um fantasma, e, com medo, começaram a gritar. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Imediatamente lhes falou Jesus, dizendo: «Tende coragem, sou Eu; não tenhais medo!».
 
<span style="color:red"><sup>28</sup></span>Pedro<ref name="ftn166">Os vv. 28-31 sobre a pessoa de Pedro são exclusivos de Mt. Entre Jesus e Pedro há uma relação profunda (cf. também 16,17-19 e 17,24-27).</ref>, respondendo-lhe, disse: «Senhor, se és Tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas». <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ele disse: «Vem». E, descendo do barco, Pedro começou a caminhar sobre as águas e foi ter com Jesus. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Mas, ao ver o vento forte, teve medo, começou a afundar-se e gritou, dizendo: «Senhor, salva-me». <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Imediatamente Jesus lhe estendeu a mão, agarrou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?». <span style="color:red"><sup>32</sup></span>E, depois de eles subirem para o barco, o vento amainou. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>E os que estavam no barco ajoelharam-se diante dele, dizendo: «És verdadeiramente Filho de Deus!».
 
 
Curas em Genesaré (Mc 6,53-56) – <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Feita a travessia, chegaram a terra em Genesaré. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Ao reconhecê-lo, os homens daquele lugar espalharam a notícia<ref name="ftn167">Lit.: ''enviaram'' (subentende-se ''notícia''). </ref> por toda aquela região. Trouxeram-lhe, então, todos os que tinham algum mal <span style="color:red"><sup>36</sup></span>e suplicavam-lhe que os deixasse tocar ao menos na franja da sua capa. E todos quantos tocaram foram salvos.
 
15 Jesus e as tradições farisaicas (Mc 7,1-13) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Então, de Jerusalém, vieram ter com Jesus uns fariseus e doutores da lei, dizendo: <span style="color:red"><sup>2</sup></span>«Por que razão violam os teus discípulos a tradição dos antigos? É que não lavam as suas mãos quando comem pão»<ref name="ftn168">Em 15,1-20 fica claro que a Igreja judeo-cristã de Mt vivia tempos de tensão com as tradições dos judeus em defesa da sua identidade e ortodoxia.</ref>. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Ele, respondendo, disse-lhes: «E por que razão violais vós o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Pois Deus disse: ''Honra o pai e a mãe'' e ''Quem maldisser o pai ou a mãe seja punido com a morte''<ref name="ftn169">Lit: ''que com morte pereça''.</ref><nowiki>; </nowiki><span style="color:red"><sup>5</sup></span>mas vós dizeis: "Aquele que disser ao pai ou à mãe: 'Aquilo com que poderias ser ajudado por mim foi uma oferta a Deus'<ref name="ftn170">Lit: ''é oferta o que de mim te aproveitaria''. Os bens que os filhos ofereciam no templo tornavam-se sagrados (Nm 30,2-4), o que impedia os pais de os reclamarem. Esta prática evoluiu para uma estratégia legal, usada pelos filhos para se ilibarem da responsabilidade de sustentar os progenitores.</ref>, <span style="color:red"><sup>6</sup></span>esse já não terá de honrar o seu pai". Tornastes inválida a palavra de Deus por causa da vossa tradição. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vós, dizendo:
 
<span style="color:red"><sup>8</sup></span>''Este povo honra-me com os lábios,''
 
''mas o coração deles está longe de mim;''
 
<span style="color:red"><sup>9</sup></span>''em vão me prestam culto,''
 
''ensinando doutrinas que são mandamentos de homens''»<ref name="ftn171">Is 29,13.</ref>''.''
 
 
Ensinamento sobre o puro e o impuro (Mc 15,10-20) – <span style="color:red"><sup>10</sup></span>E, chamando a si a multidão, disse-lhes: «Ouvi e entendei: <span style="color:red"><sup>11</sup></span>não é o que entra pela boca que torna o homem impuro; pelo contrário, o que sai da boca é o que torna o homem impuro<ref name="ftn172">As preocupações com as prescrições para preservar as regras de pureza eram bastante grandes no judaísmo palestinense do tempo de Jesus (cf. Gn 7,2; Lv 11,1; Os 9,4; Am 7,17; Mc 7,3.14-23), ao ponto de se tornarem um tratado autónomo sobre as leis de impureza (''tehōrôt'') na ''Michná''.</ref>».
 
<span style="color:red"><sup>12</sup></span>Então, aproximando-se, os discípulos disseram-lhe: «Sabes que os fariseus se escandalizaram ao ouvir estas palavras<ref name="ftn173">Lit.: ''a palavra''.</ref>?». <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Mas Ele, respondendo, disse: «Toda a planta que o meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Deixai-os: são cegos, guias de cegos. E, se um cego guiar outro cego, ambos cairão numa cova».
 
<span style="color:red"><sup>15</sup></span>Em resposta, Pedro disse-lhe: «Explica-nos esta parábola». <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Ele disse: «Será que também vós estais privados de inteligência? <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Não aceitais que tudo o que entra pela boca passa para o ventre e é expelido para uma fossa? <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Mas o que provém da boca sai do coração e é isso que torna o homem impuro. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Pois é do coração que saem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, promiscuidades, roubos, difamações, blasfémias<ref name="ftn174">O termo ''blasphēmía ''também pode significar ''calúnia, boato''.</ref>. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>São estas coisas que tornam o homem impuro; comer sem lavar as mãos não torna o homem impuro».
 
 
A fé da mulher cananeia e cura da sua filha (Mc 7,24-30) – <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Saindo dali, Jesus retirou-se para as regiões de Tiro e Sídon<ref name="ftn175">As regiões de Tiro e de Sídon eram consideradas pagãs.</ref>. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>E eis que uma mulher cananeia, vinda daquelas regiões, gritava, dizendo: «Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de David! A minha filha está terrivelmente endemoniada». <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Mas Ele nem uma palavra lhe respondeu. Vieram então ter com Ele os seus discípulos e pediam-lhe, dizendo: «Manda-a embora, porque vem a gritar atrás de nós». <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Ele, porém, em resposta, disse: «Fui enviado apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel». <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Mas ela veio ajoelhar-se diante dele, dizendo: «Senhor, ajuda-me!». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Ele, em resposta, disse: «Não está bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos». <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Mas ela disse: «Sim, Senhor; mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos». <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Então, em resposta, Jesus disse-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como queres». E a sua filha ficou curada a partir daquela hora.
 
 
Muitos outros são curados ''– ''<span style="color:red"><sup>29</sup></span>Partindo dali, Jesus foi para o mar da Galileia e, subindo ao monte, aí se sentou. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Vieram ter com Ele numerosas multidões, que tinham consigo coxos, cegos, estropiados, mudos e muitos outros; lançavam-nos aos seus pés e Ele curava-os, <span style="color:red"><sup>31</sup></span>de tal modo que a multidão se admirava ao ver os mudos falar, os estropiados ficarem sãos, os coxos andar e os cegos ver, e glorificavam o Deus de Israel.
 
 
Segunda multiplicação dos pães (Mc 8,1-10) – <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Jesus, chamando a si os seus discípulos, disse: «Estou profundamente compadecido da multidão, porque há já três dias que permanecem junto de mim e não têm o que comer. E não quero despedi-los em jejum, não vão eles desfalecer no caminho». <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Disseram-lhe os discípulos: «De onde nos viriam, num deserto, pães suficientes para saciar tamanha multidão?». <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Disse-lhes Jesus: «Quantos pães tendes?». Eles disseram: «Sete e alguns peixes pequenos». <span style="color:red"><sup>35</sup></span>E, ordenando à multidão que se reclinasse sobre a terra, <span style="color:red"><sup>36</sup></span>tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os e deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram sete cestos cheios. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Os que comeram eram quatro mil homens<ref name="ftn176">Este número parece indicar que os destinatários são não judeus, pois a plenitude evocada no número mil espalha-se aos quatro cantos da terra, ou seja, de uma maneira universal.</ref>, sem contar mulheres e crianças. <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Despedindo as multidões, subiu para o barco e foi para a região de Magadan<ref name="ftn177">Região desconhecida. É possível que se trate de uma corruptela de ''Magdala''.</ref>.
 
 
16 Jesus e o sinal de Jonas (Mc 8,11-13) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Vieram ter com Ele os fariseus e saduceus para o tentar e pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal do céu. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Ele, em resposta, disse-lhes: «Ao cair da tarde dizeis: "Vai estar bom tempo, porque o céu está avermelhado". <span style="color:red"><sup>3</sup></span>E de manhã cedo: "Hoje vai haver temporal, porque o céu está vermelho escuro". Sabeis distinguir o aspeto do céu, mas não sois capazes de distinguir os sinais dos tempos? <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Geração má e adúltera que procura um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas»<ref name="ftn178">O exemplo de Jonas, nas suas duas dimensões figurativas (pregação aos pagãos, e entrada e saída do seio da baleia), serve de paradigma para o ''sinal'' presente e futuro da vida de Jesus.</ref>. Ele, deixando-os, foi-se embora.
 
 
Fermento dos fariseus e saduceus. Incompreensão dos discípulos (Mc 8,14-21) – <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Quando os discípulos foram para a outra margem, esqueceram-se de levar pão. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Jesus disse-lhes: «Vede bem e tende cuidado com o fermento<ref name="ftn179">Mt é o único a comparar o legalismo e a hipocrisia dos fariseus a um fermento que pode contaminar os discípulos, um perigo presente em cenas que se seguem.</ref> dos fariseus e saduceus!». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Mas eles discutiam entre si, dizendo: "Não trouxemos pão!". <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Sabendo-o, Jesus disse: "Porque discutis entre vós, homens de pouca fé, por não terdes pão? <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Ainda não compreendeis? Não vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil e de quantas cestas recolhestes? <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Nem dos sete pães para os quatro mil e de quantos cestos recolhestes? <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Como não compreendeis que não era de pães que vos falava? Tende cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus!" <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Entenderam, então, que não lhes dizia para terem cuidado com o fermento do pão, mas com o ensinamento dos fariseus e saduceus.
 
 
Confissão messiânica de Pedro (Mc 8,27-30; Lc 9,18-21) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Ao ir Jesus para a região de Cesareia de Filipe<ref name="ftn180">Cesareia de Filipe era uma povoação construída perto da nascente do Jordão por Herodes Filipe, em honra de César Augusto, no ano 2 a.C.. Hoje chama-se Bânias (cf. Mc 8,27) e situa-se na zona mais a norte da terra de Canaã. Os filhos de Herodes, tal como o pai, para agradar a Roma, deram o nome do César a cidades que construíram.</ref>, perguntava aos seus discípulos, dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Eles disseram: «Uns, João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas». <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Disse-lhes: «Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?». <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Respondendo, Simão Pedro disse: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo»<ref name="ftn181">Diferente dos paralelos de Mc (8,29) e Lc (9,20), que apenas afirmam a messianidade de Jesus, Mt afirma também a fé na filiação divina (já conhecida dos leitores desde 1,18-25; 3,17; 11,27 e 14,23), razão da resposta de Jesus a Pedro.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Então, em resposta, Jesus disse-lhe: «És feliz, Simão, filho de Jonas<ref name="ftn182">Lit.: ''Bariōnâ'', assim transliterado para grego e que significa ''filho de Jonas ''(nome do pai).</ref>, porque não foi nem a carne nem o sangue<ref name="ftn183">O binómio ''carne e sangue'' é um semitismo para indicar a natureza humana. A pessoa de Pedro, sem a revelação, nunca poderia confessar a filiação divina de Jesus.</ref> que te o revelou, mas o meu Pai que está nos céus. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>E também Eu te digo: tu és Pedro<ref name="ftn184">Mudar o nome da pessoa indica, a partir da filologia, a nova missão dessa pessoa. Simão é, agora, ''Kēypha''' (''pedra'' em aramaico), traduzido em grego por ''Pétros'' (''pedra ''/ Pedro: cf. Is 28,14-22; 51,1s; ''1QH'' 3,13-18; 6,25-27). Apenas Jo 1,42 estabelece explicitamente esta ligação. Todavia, ela está subjacente nas referências que Paulo faz de Pedro quando sintomaticamente o apresenta como Cefas no encontro em Jerusalém em Gl 1,18, no incidente de Antioquia em Gl 2,11-14, e no querigma (pregação na Igreja primitiva) de 1Cor 15,5.</ref>, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja<ref name="ftn185">Só em Mt Jesus usa a palavra ''Igreja'', e'' ''por duas vezes, aqui e em 18,17.</ref>, e as portas do inferno<ref name="ftn186">Lit.: ''Hades'', o inferno da mitologia grega.</ref> não prevalecerão contra ela. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus<ref name="ftn187">''Ligar'' e ''desligar'' significava, na linguagem rabínica, ''proibir'' e ''permitir'' em relação à interpretação e aplicação da Lei, nos campos doutrinal e disciplinar. Este poder é transmitido por Jesus a Pedro (e aos outros discípulos em 18,19) no que toca à interpretação e ensino da vontade de Deus por Ele revelada.</ref>». <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Admoestou então os discípulos para que não dissessem a ninguém que Ele era o Cristo.
 
 
Primeiro anúncio da paixão e ressurreição, e reação de Pedro (Mc 8,31-33; Lc 9,22) –'' ''<span style="color:red"><sup>21</sup></span>Desde então Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que era necessário Ele partir para Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da lei, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar<ref name="ftn188">Trata-se de um passivo teológico (uma ação de Deus).</ref>. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Então Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo severamente, dizendo: «Longe de ti tal coisa, Senhor! Isso nunca te acontecerá!». <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Mas Ele, voltando-se, disse a Pedro: «Vai para trás de mim, Satanás! És para mim motivo de escândalo, porque não tens em mente as coisas de Deus, mas as dos homens».
 
 
Condições para seguir Jesus (Mc 8,34-9,1; Lc 9,23-27) – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Jesus disse, então, aos seus discípulos: «Se alguém quer vir atrás de mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Pois aquele que quiser salvar a sua vida há de perdê-la, mas aquele que perder a sua vida por causa de mim há de encontrá-la. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Pois que aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro, mas arruinar a sua vida? Ou o que dará um homem em troca da sua vida? <span style="color:red"><sup>27</sup></span>De facto, o Filho do Homem está prestes a vir na glória do seu Pai com os seus anjos, e então recompensará cada um segundo as suas ações. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Amen vos digo: alguns dos que aqui estão não provarão a morte, até que vejam chegar o Filho do Homem no seu reino.
 
17 Transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10; Lc 9,28-36) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e o seu irmão João, e fê-los subir, a sós, a um alto monte<ref name="ftn189">Depois de anunciar pela primeira vez o seu fim em Jerusalém, Jesus antecipa aos discípulos a ressurreição, pois a morte não é a última palavra. Esta antecipação dá-se num monte, o lugar onde o novo Moisés, que Ele é em Mt, recebe de Deus a revelação definitiva que consuma a do AT. Não admira que as suas vestes refuljam como as de Moisés em Ex 34,29, que a nuvem de Deus venha outra vez como em Ex 40,35, que converse com os grandes representantes da Lei (Moisés) e dos profetas (Elias) como em Dt 18,15. Esta experiência para os discípulos foi traumática, de medo, ao ponto de Jesus ter de intervir. Isto significa que esta experiência de encontro, para os discípulos de bibliagogia (um percurso pela Sagrada Escritura), prolonga-se no tempo, como é próprio da catequese.</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Transfigurou-se então diante deles: o seu rosto ficou brilhante como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>E eis que lhes apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Em resposta, Pedro disse a Jesus: «Senhor, que bom é nós estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias». <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Estando Ele ainda a falar, eis que uma nuvem<ref name="ftn190">A nuvem é sinal de teofania: no Sinai (cf. Ex 19,16-18; 1Rs 8,10), na Tenda da reunião (cf. Ex 27,21; 40,34-35; Nm 1,1-54), no templo (1Rs 8,10-12).</ref> luminosa os cobriu de sombra, e eis que da nuvem uma voz disse: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo: escutai-o!».
 
<span style="color:red"><sup>6</sup></span>Ao ouvir isto, os discípulos caíram de rosto por terra e ficaram cheios de medo. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Mas Jesus aproximou-se e, tocando-lhes, disse: «Erguei-vos e não tenhais medo!». <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Ao levantarem os olhos<ref name="ftn191">Lit.: ''os olhos deles''.</ref>, não viram ninguém, apenas Jesus sozinho. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>E, enquanto eles desciam do monte, Jesus ordenou-lhes, dizendo: «Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos».
 
 
O regresso de Elias (Mc 9,11-13) – <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Interrogaram-no os discípulos, dizendo: «Porque dizem, então, os doutores da lei que é necessário que Elias venha primeiro?».<span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ele, respondendo, disse: «Elias, de facto, vem e há de restaurar todas as coisas. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Digo-vos, porém, que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem está prestes a sofrer às suas mãos». <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Então os discípulos entenderam que lhes tinha falado de João Batista.
 
 
Cura de um jovem endemoniado (Mc 9,14-29; Lc 9,37-42) – <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Ao irem ter com a multidão, veio ter com Ele um homem que caiu de joelhos diante dele, <span style="color:red"><sup>15</sup></span>dizendo: «Senhor, tem misericórdia do meu filho, porque é demente<ref name="ftn192">Lit.: ''lunático''. Denominação de um epilético, por se pensar que a doença era influenciada pela lua.</ref> e sofre de um modo terrível. Pois muitas vezes cai no fogo e muitas vezes na água. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Trouxe-o aos teus discípulos, mas não conseguiram curá-lo». <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Em resposta, Jesus disse: «Ó geração descrente e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos hei de suportar? Trazei-mo aqui». <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Jesus repreendeu-o severamente; o demónio saiu dele, e o menino ficou curado a partir daquela hora. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Então os discípulos, indo ter com Jesus, disseram-lhe a sós: «Por que razão não conseguimos nós expulsá-lo?». <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Ele disse-lhes: «Por causa da vossa pouca fé. Amen vos digo: se tiverdes fé do tamanho dum grão de mostarda<ref name="ftn193">Lit. ''como um grão de mostarda''.</ref>, direis a este monte: "Vai daqui para ali", e ele irá. Nada vos será impossível». (<span style="color:red"><sup>21</sup></span>)<ref name="ftn194">Este v. está ausente nos principais mss.; alguns leem: ''esta raça não se vai embora senão pela oração e pelo jejum'', uma clara influência de Mc 9,29.</ref>
 
 
Segundo anúncio da paixão e ressurreição (Mc 9,30-32; Lc 9,43b-45) – <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>22</sup></span>Encontrando-se eles reunidos na Galileia, disse-lhes Jesus: «O Filho do Homem está prestes a ser entregue nas mãos dos homens; <span style="color:red"><sup>23</sup></span>matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará». E eles ficaram profundamente entristecidos.
 
 
O imposto do templo – <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Quando eles chegaram a Cafarnaum, os que recebiam os impostos<ref name="ftn195">Lit.: ''as didracmas'' (unidade monetária do mundo antigo). Estas duas dracmas (c. meio ciclo, c. 6 a 7 gramas de prata) constituíam um imposto ou contributo para o culto do templo. Deveriam ser pagas por todos os judeus a partir dos vinte anos, habitassem ou não a terra de Canaã. Assim se compreende a presença de cambistas e de mercadores no templo (cf. 21,12; Jo 2,15).</ref> do templo foram ter com Pedro e disseram: «O vosso Mestre não paga o imposto do templo?». <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ele disse: «Sim». Ao chegar a casa, Jesus antecipou-se-lhe, dizendo: «Que te parece, Simão? De quem é que os reis da terra recebem impostos ou contribuições<ref name="ftn196">Lit. ''censo'' (latinismo).</ref>? Dos seus filhos ou dos estrangeiros?». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Tendo ele dito: «Dos estrangeiros», disse-lhe Jesus: «Portanto, os filhos estão isentos. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Mas, para que não sejamos para eles motivo de escândalo, vai ao mar, lança o anzol e apanha o primeiro peixe que vier; ao abrir-lhe a boca, encontrarás uma moeda<ref name="ftn197">Lit.: ''estáter'', moeda grega usada em diversas regiões da Grécia, ou o seu equivalente na moeda local.</ref>. Toma-a e dá-lhes por mim e por ti».
 
 
<center>O discurso eclesial </center>
 
<center>(18,1-35)</center>
 
 
18 Discussão entre os discípulos: quem é o maior (Mc 9,33b-37; Lc 9,46-48) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naquela hora, os discípulos foram ter com Jesus, dizendo: «Quem é, então, o maior no reino dos céus?»<ref name="ftn198">Neste quarto grande discurso, Jesus apresenta alguns ensinamentos sobre a própria comunidade eclesial no seu todo, sobre aquele(a)s que não fazem parte dela, sobre os membros da comunidade e sobre os seus líderes.</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Ele, chamando a si uma criança, colocou-a no meio deles <span style="color:red"><sup>3</sup></span>e disse: «Amen vos digo: se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, jamais entrareis no reino dos céus. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Por isso, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>E aquele que acolher uma criança como esta em meu nome é a mim que acolhe».
 
 
A gravidade dos escândalos (Mc 9,42-47; Lc 17,1s) – <span style="color:red"><sup>6</sup></span>«Mas aquele que for motivo de escândalo para um destes pequeninos que acreditam em mim, seria preferível para ele que se lhe prendesse uma mó de moinho<ref name="ftn199">Lit.: ''uma mó de jumento''.</ref> à volta do pescoço e fosse atirado ao fundo do mar. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Ai do mundo por causa dos escândalos! De facto, é inevitável que venham os escândalos; contudo, ai do homem por meio do qual o escândalo vem!
 
<span style="color:red"><sup>8</sup></span>Se, porém, a tua mão ou o teu pé são para ti motivo de escândalo, corta-os e lança-os para longe de ti; é melhor para ti entrar na vida estropiado ou coxo do que, tendo duas mãos e dois pés, ser lançado no fogo. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>E se o teu olho é para ti motivo de escândalo, tira-o e lança-o para longe de ti; é melhor para ti com um só olho entrar na vida do que, tendo dois olhos, ser lançado na Geena do fogo.
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Vede bem: não desprezeis nenhum destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, nos céus, veem para sempre o rosto do meu Pai que está nos céus». (<span style="color:red"><sup>11</sup></span>)<ref name="ftn200">''Pois o Filho do Homem veio para salvar o que estava perdido'': este v. não aparece nos principais mss.; parece provir de Lc 19,10.</ref>
 
 
Parábola da ovelha perdida (Lc 15,4-7) – <span style="color:red"><sup>12</sup></span>«Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove nos montes e irá procurar a que se tresmalhou? <span style="color:red"><sup>13</sup></span>E se acontecer encontrá-la, amen vos digo: alegra-se mais por ela do que pelas noventa e nove que não se tresmalharam. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Do mesmo modo, não é da vontade do vosso Pai que está nos céus que se perca nem um destes pequeninos».
 
 
O perdão na comunidade – <span style="color:red"><sup>15</sup></span>«Se o teu irmão pecar contra ti, vai ter com ele e repreende-o, e que o assunto seja só entre ti e ele<ref name="ftn201">Lit.: ''entre ti e ele só''.</ref>. Se te ouvir, ganhaste o teu irmão. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Mas, se não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que ''toda a questão seja confirmada pela boca de duas ou três testemunhas''<ref name="ftn202">Dt 19,15.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Mas, se não os quiser escutar, di-lo à Igreja. Mas, se também não escutar a Igreja, que ele seja para ti como um pagão ou um publicano. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Amen vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu<ref name="ftn203">A imagem sobre o poder de ''ligar e desligar'' apareceu em 16,19 aplicada apenas ao apóstolo Pedro.</ref>. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>De novo, amen vos digo: se dois de vós, na terra, se puserem de acordo para pedir seja o que for, isso lhes será feito pelo meu Pai que está nos céus. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>De facto, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles».
 
 
Parábola sobre o perdão sem limites –'' ''<span style="color:red"><sup>21</sup></span>Então, aproximando-se, Pedro disse-lhe: «Senhor, até quantas vezes pecará o meu irmão contra mim, e lhe perdoarei? Até sete vezes?». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Por isso, o reino dos céus é semelhante a um certo rei que queria acertar contas com os seus servos. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Ao começar a acertá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos<ref name="ftn204">Um denário correspondia ao salário de um dia de trabalho, ou o equivalente a c. 6 gramas de prata no sistema grego. Um talento (ou ''kikkar'') corresponderia a c. 36 quilogramas de massa, o equivalente a c. 70 libras, ou o necessário para encher uma ânfora de água. Assim, um talento corresponderia a c. 6000 denários.</ref>. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Como ele não tinha com que pagar, o senhor ordenou que fossem vendidos ele, a mulher, os filhos e tudo quanto tinha, e que lhe fosse paga a dívida<ref name="ftn205">Lit.: ''fosse pago''.</ref>. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Então, o servo, caindo por terra<ref name="ftn206">Lit.: ''caindo''.</ref>, ajoelhou-se diante dele, dizendo: "Tem paciência comigo, e tudo te pagarei". <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Profundamente compadecido, o senhor daquele servo deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Mas, ao sair, aquele servo encontrou um dos seus companheiros de servidão que lhe devia cem denários, agarrou-o e sufocava-o, dizendo: "Paga o que deves". <span style="color:red"><sup>29</sup></span>O companheiro de servidão, caindo por terra<ref name="ftn207">Lit.: ''caindo''.</ref>, suplicava-lhe, dizendo: "Tem paciência comigo, e pagar-te-ei". <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Mas ele não queria; pelo contrário, foi lançá-lo na prisão, até que pagasse o que devia.
 
<span style="color:red"><sup>31</sup></span>Ora os seus companheiros de servidão, ao verem o que aconteceu, ficaram profundamente tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que acontecera. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Então o senhor, chamando-o a si, disse-lhe: "Servo mau, perdoei-te toda aquela dívida, uma vez que me suplicaste. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Não era necessário também tu teres misericórdia do teu companheiro de servidão, como também eu tive misericórdia de ti?". <span style="color:red"><sup>34</sup></span>E, irado, o senhor entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que devia. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Assim também vos fará o meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão<ref name="ftn208">Lit.: ''se não perdoardes, cada um ao seu irmão, a partir dos vossos corações''.</ref>».
 
 
<center>Subida e ministério </center>
 
<center>em Jerusalém (19,1-25,46)</center>
 
 
<center>''A caminho de Jerusalém ''</center>
 
<center>(19,1-20,34)</center>
 
 
19 Ida para a Judeia (Mc 10,1; Lc 9,51) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras<ref name="ftn209">Com esta fórmula semelhante às de 7,28s; 11,1; 13,53 e 26,1s, Mt indica que começa uma nova secção no evangelho.</ref>, partiu da Galileia e foi para a região da Judeia, na outra margem do Jordão<ref name="ftn210">O quinto bloco não foge ao tema difícil do juízo escatológico, sobretudo nos caps. 24-25. Tal como nos discursos anteriores, Jesus vai ensinando a propósito de questões muito concretas, neste caso quando começa aqui a sua subida para Jerusalém.</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Seguiram-no numerosas multidões e ali as curou.
 
 
Matrimónio, divórcio e celibato (Mc 10,2-12; Lc 16,18) – <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Vieram ter com Ele uns fariseus para o pôr à prova, dizendo: «É permitido a um homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Ele, respondendo, disse: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, ''os fez macho e fêmea''? <span style="color:red"><sup>5</sup></span>E disse: ''Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher''<ref name="ftn211">Jesus não entra numa resposta simplista, mas distingue desde o início aquilo que não convinha aos fariseus: há uma diferença entre o começo e a origem. Jesus remete para a origem citando Gn 1,27 e 2,24. Os fariseus não gostam de ouvir isto, porque, legalistas como são, querem que Dt 24,1-4 (um texto da tradição oral) valha tanto quanto o sexto mandamento (texto da ''Torah che biktav'', a tradição escrita). Jesus recorda-lhes que Moisés ''começou'' a tolerar a prática do divórcio, contra a qual Jesus se posiciona, remetendo para o Decálogo e para o mandamento divino das origens relatado no livro do Génesis.</ref>'', e serão os dois uma só carne'', <span style="color:red"><sup>6</sup></span>de modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não separe o homem». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Disseram-lhe: «Então porque ordenou Moisés ''dar uma declaração de divórcio e repudiá-la''?»<ref name="ftn212">Dt 24,1.</ref>. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Disse-lhes: «Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres, mas não foi assim desde o princípio. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Mas digo-vos: aquele que repudiar a sua mulher – a não ser em caso de promiscuidade – e casar com outra, comete adultério»<ref name="ftn213">Mt apresenta o mesmo princípio de 1Co 7,14-15 (o chamado privilégio paulino) e aqui repete os ensinamentos de Jesus, que coloca a esposa numa situação paritária face ao esposo, o que é uma enorme novidade para o judaísmo palestinense do primeiro séc.. As exigências, os direitos e os deveres matrimoniais são os mesmos para eles e para elas. Além disso, mesmo sendo objetivamente contra o divórcio, Jesus assume uma postura pastoral, pois concede que existem situações, exceções em que não se trata de adultério.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Disseram-lhe os seus discípulos: «Se é assim a condição do homem em relação à mulher<ref name="ftn214">Lit.: ''se assim é a causa do homem com a mulher''.</ref>, não convém casar-se». <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ele disse-lhes: «Nem todos aceitam esta palavra, mas apenas aqueles a quem foi concedido. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Pois há eunucos que assim nasceram do ventre da sua mãe, há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. O que puder aceitar, que aceite».
 
 
Jesus e as crianças (Mc 10,13-16; Lc 18,15-17) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Trouxeram-lhe, então, algumas crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nas severamente. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Jesus, porém, disse: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim; pois dos que são como elas é o reino dos céus». <span style="color:red"><sup>15</sup></span>E, depois de lhes impor as mãos, partiu dali.
 
 
O homem rico (Mc 10,17-22; Lc 18,18-23) – <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Eis então que um homem, indo ter com Ele, disse: «Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?». <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Ele disse-lhe: «Porque me perguntas sobre o que é bom? Bom é um só. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos». <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Disse-lhe ele: «Quais?». Jesus disse: «''Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, ''<span style="color:red"><sup>19</sup></span>''honra o pai e a mãe ''e'' amarás o teu próximo como a ti mesmo''»<ref name="ftn215">Ex 20,12-16; Dt 5,16-20. Mt não cita os mandamentos na ordem em que surgem no Sinai. Além disso, não são citados os mandamentos sobre o exclusivo e total amor a Deus.</ref>. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Disse-lhe o jovem: «Tudo isso tenho observado. O que me falta ainda?». <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus. Então vem e segue-me». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Ao ouvir estas palavras, o jovem foi-se embora triste, porque tinha muitas posses.
 
 
Os ricos e o reino de Deus (Mc 10,23-27; Lc 18,24-27) – <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Então Jesus disse aos seus discípulos: «Amen vos digo: dificilmente um rico entrará no reino dos céus. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Digo-vos de novo: é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ao ouvir isto, os discípulos ficaram muito perplexos e disseram: «Quem pode então ser salvo?». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Fixando o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível».
 
 
Recompensa pelo desprendimento (Mc 10,28-31; Lc 18,28-30) – <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Então, em resposta, Pedro disse-lhe: «Eis que nós deixámos tudo e seguimos-te. Que recompensa teremos?». <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Jesus disse-lhes: «Amen vos digo: no tempo da renovação, quando o Filho do Homem se sentar no trono da sua glória, vós, que me seguistes, sentar-vos-eis também em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>E todo aquele que tenha deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Porém, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos primeiros».
 
 
20 A parábola dos trabalhadores da vinha – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>«De facto, o reino dos céus é semelhante a um homem, senhor da casa, que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Depois de ter acordado com os trabalhadores um denário por dia, enviou-os para a sua vinha. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Ao sair por volta da hora terceira, viu outros parados na praça pública sem fazer nada <span style="color:red"><sup>4</sup></span>e disse-lhes: "Ide também vós para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo". <span style="color:red"><sup>5</sup></span>E eles foram. Ao sair de novo por volta da hora sexta e por volta da hora nona, fez o mesmo. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Ao sair ainda por volta da hora décima primeira, encontrou outros, parados, e disse-lhes: "Porque estais aqui parados o dia inteiro sem fazer nada?". <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Disseram-lhe: "Porque ninguém nos contratou". Disse-lhes: "Ide também vós para a vinha".
 
<span style="color:red"><sup>8</sup></span>Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu capataz: "Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros". <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Vieram os da hora décima primeira e receberam um denário cada um, <span style="color:red"><sup>10</sup></span>e quando vieram os primeiros pensaram que receberiam mais, mas receberam também eles um denário cada um. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Ao recebê-lo, puseram-se a murmurar contra o senhor da casa, <span style="color:red"><sup>12</sup></span>dizendo: "Estes últimos fizeram apenas uma hora e fizeste-lhes como a nós, que suportámos o peso do dia e o calor ardente". <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Mas ele, respondendo a um deles, disse: "Amigo, não estou a ser injusto contigo. Não acordaste comigo um denário? <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Leva o que é teu e vai-te embora. Quero dar a este último o mesmo que a ti. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ou não me é permitido fazer o que quero com aquilo que é meu? Ou o teu olho é mau, porque eu sou bom?". <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros últimos».
 
Terceiro anúncio da paixão e ressurreição (Mc 10,32-34; Lc 18,31-33) – <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Enquanto Jesus subia para Jerusalém, tomou consigo os doze discípulos a sós e, no caminho, disse-lhes: <span style="color:red"><sup>18</sup></span>«Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da lei; hão de condená-lo à morte <span style="color:red"><sup>19</sup></span>e entregá-lo aos pagãos para o escarnecerem, chicotearem e crucificarem, e ao terceiro dia ressuscitará».
 
 
Pedido da mãe dos filhos de Zebedeu (Mc 10,35-40) – <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Então foi ter com Ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos e, ajoelhando-se, fez-lhe um pedido. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Ele disse-lhe: «Que queres?». Ela disse-lhe: «Diz que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e outro à tua esquerda no teu reino». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Mas, respondendo, Jesus disse: «Não sabeis o que estais a pedir! Podeis beber o cálice que Eu estou prestes a beber?». Disseram-lhe: «Podemos». <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Disse-lhes: «Ireis, de facto, beber o meu cálice<ref name="ftn216">Jesus profetiza aqui o martírio de Tiago em Jerusalém por volta do ano 44 (cf. At 12,2).</ref>, mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim concedê-lo; é para aqueles para quem foi preparado pelo meu Pai». <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Ao ouvir isto, os outros<ref name="ftn217">''Outros'' é acrescento da tradução.</ref> dez indignaram-se contra os dois irmãos.


<references/>


Os chefes devem servir (Mc 10,41-45; Lc 22,24-27) – <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Jesus, porém, chamando-os a si, disse: «Sabeis que os chefes dos pagãos têm domínio sobre eles e os grandes exercem sobre eles o poder. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Não será assim entre vós. Pelo contrário, aquele que quiser entre vós tornar-se grande, será vosso servidor, <span style="color:red"><sup>27</sup></span>e aquele que quiser entre vós ser o primeiro, será vosso servo. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Assim é com o Filho do Homem: não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos».




Cura dos cegos de Jericó (Mc 10,46-52; Lc 18,35-43) – <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ao saírem eles de Jericó, seguiu-o uma numerosa multidão. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>E eis que dois cegos, sentados junto ao caminho, ao ouvir dizer que Jesus estava a passar perto, começaram a gritar, dizendo: «Tem misericórdia de nós, Senhor, Filho de David!». <span style="color:red"><sup>31</sup></span>A multidão repreendeu-os severamente para que se calassem, mas eles gritaram mais, dizendo: «Tem misericórdia de nós, Senhor, Filho de David!». <span style="color:red"><sup>32</sup></span>E, parando, Jesus chamou-os e disse: «Que quereis que vos faça?». <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Disseram-lhe: «Senhor, que se abram os nossos olhos!». <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Profundamente compadecido, Jesus tocou-lhes nos olhos, e imediatamente voltaram a ver e seguiram-no.




<center>''Ministério em Jerusalém ''</center>
== Capítulos ==
 
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<center>(21,1-23,39)</center>
 
 
21Entrada messiânica em Jerusalém (Mc 11,1-10; Lc 19,28-38; Jo 12,12-19) –<span style="color:red"><sup>1</sup></span>Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé<ref name="ftn218">Betfagé (''Casa dos figos''), povoação situada na vertente oriental do Monte das Oliveiras, hoje Kefret-Tûr, está distante de Jerusalém ''um dia de sábado'', i.e., c. 2000 côvados, a distância máxima permitida a um judeu percorrer num ''chabbāt''.</ref>, no Monte das Oliveiras, Jesus enviou então dois discípulos, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo-lhes: «Ide à povoação que está na vossa frente, e encontrareis imediatamente uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Depois de os soltar, trazei-os a mim. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>E se alguém vos disser alguma coisa, direis: "o Senhor tem necessidade deles, mas imediatamente os enviará de volta». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta que diz:
 
<span style="color:red"><sup>5</sup></span>''Dizei à filha de Sião:''
 
''"Eis que o teu rei vem ao teu ''
 
''encontro,''
 
''manso e montado numa jumenta''
 
''e num jumentinho, filho de um animal de carga"''<ref name="ftn219">Is 62,11; Zc 9,9.</ref>''.''
 
<span style="color:red"><sup>6</sup></span>Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram sobre eles as suas capas, e Jesus sentou-se sobre eles. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>A numerosa multidão estendia as suas próprias capas pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores e estendiam-nos pelo caminho. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>E tanto as multidões que iam à sua frente como as que o seguiam gritavam, dizendo: «''Hossana''<ref name="ftn220">Lit. significa ''salva-nos''<nowiki>; cf. 2Rs 19,19; Sl 118,25.26. Sobre a expressão hebraica, cf. Mc 11,9 nota.</nowiki></ref>'' ''ao Filho de David! ''Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana ''nas alturas!»<ref name="ftn221">Sl 118,25s.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Quando Ele entrou em Jerusalém, toda a cidade se agitou, dizendo: «Quem é este?». <span style="color:red"><sup>11</sup></span>As multidões diziam: «Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia».
 
 
Expulsão dos vendedores do templo (Mc 11,15-19; Lc 19,45-48; Jo 2,13-16) – <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Jesus entrou, então, no templo e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo; derrubou as mesas dos cambistas e os assentos dos que vendiam as pombas<ref name="ftn222">Pombas para os sacrifícios no templo.</ref>. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>E disse-lhes: «Está escrito: ''A minha casa será chamada casa de oração, ''mas vós fazeis''' '''dela ''um antro de salteadores''»<ref name="ftn223">Is 56,7 e Jr 7,11.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>14</sup></span>Então foram ter com Ele, no templo, cegos e coxos, e Ele curou-os. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei, ao verem as maravilhas que Jesus fazia e as crianças que gritavam no templo, dizendo: «Hossana ao Filho de David!», indignaram-se <span style="color:red"><sup>16</sup></span>e disseram-lhe: «Ouves o que eles dizem?». Jesus disse-lhes: «Sim. Nunca lestes: ''Da boca dos pequeninos e dos meninos de peito preparaste um louvor''?»<ref name="ftn224">Sl 8,3.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>E, deixando-os, saiu<ref name="ftn225">Lit.: ''saiu fora''.</ref> da cidade para Betânia<ref name="ftn226">Betânia (possivelmente de ''Bet-ananyiah'', ''Casa de Ananias''), povoação na encosta oriental do Monte das Oliveiras, no caminho de Jerusalém para Jericó (26,6), atual El-'Eizarije (cf. Mc 11,11; Lc 19,29-30). Este nome árabe liga-a a Lázaro (cf. Jo 11), pois daí era natural com as suas irmãs Marta e Maria.</ref> e aí passou a noite.
 
 
A figueira seca e o poder da oração (Mc 11,12-14.20-25) – <span style="color:red"><sup>18</sup></span>De manhã cedo, ao voltar para a cidade, sentiu fome. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Ao ver uma figueira<ref name="ftn227">A figueira é figura de Israel que, tal como esta, secou às portas de sexta-feira santa.</ref> pelo caminho, foi até ela, mas nela nada encontrou senão folhas. Então, disse-lhe: «Nunca mais e para sempre nasça de ti fruto algum!». E subitamente a figueira secou. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Ao verem isto, os discípulos admiraram-se, dizendo: «Como é que subitamente secou a figueira?». <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhes: «Amen vos digo: se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis isto à figueira, como também, se disserdes a este monte: "Levanta-te e lança-te ao mar", assim acontecerá. <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Tudo quanto pedirdes na oração, acreditando, recebereis».
 
 
Controvérsia sobre a autoridade de Jesus (Mc 11,27-33; Lc 20,1-8) – <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Tendo Ele chegado ao templo, foram ter com Ele, enquanto ensinava, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: «Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu tal autoridade?». <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhes: «Vou perguntar-vos também Eu uma coisa; se ma disserdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>O batismo de João, de onde era? Do céu ou dos homens?». Eles, porém, discutiam entre si, dizendo: «Se dissermos "do céu", dir-nos-á: "Então, por que razão não acreditastes nele?"; <span style="color:red"><sup>26</sup></span>se dissermos "dos homens", temos medo da multidão, pois todos consideram João um profeta». <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>27</sup></span>E, respondendo a Jesus, disseram: «Não sabemos». Também Ele lhes disse: «Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas».
 
 
Parábola dos dois filhos – <span style="color:red"><sup>28</sup></span>«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos; indo ter com o primeiro, disse-lhe: "Filho, vai hoje trabalhar na vinha". <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ele, em resposta, disse: "Não quero"; mas depois arrependeu-se e foi. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Indo ter com o outro, disse o mesmo. Ele, em resposta, disse: "Eu vou, senhor"; mas não foi. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Qual dos dois fez a vontade do pai?». Disseram: «O primeiro». Disse-lhes Jesus: «Amen vos digo: os publicanos e as prostitutas irão para o reino de Deus à vossa frente, <span style="color:red"><sup>32</sup></span>pois João veio ter convosco no caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as prostitutas acreditaram nele. E vós, vendo isto, nem depois vos arrependestes de modo a nele acreditar».
 
 
Parábola dos vinhateiros homicidas (Mc 12,1-12; Lc 20,9-19) – <span style="color:red"><sup>33</sup></span>«Ouvi outra parábola. Havia um homem, o senhor da casa, que ''plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre''<ref name="ftn228">Cf. cântico da vinha de Is 5,1-7, usado aqui como parábola da história da salvação.</ref>, arrendou-a a uns agricultores e partiu de viagem. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Quando se aproximou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos agricultores para receber os seus frutos. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Mas os agricultores agarraram nos servos dele, espancaram um, mataram outro e apedrejaram outro. <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Por fim, enviou-lhes o seu filho, dizendo: "Hão de respeitar o meu filho". <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Mas os agricultores, ao verem o filho, disseram entre si: "Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e fiquemos com a sua herança". <span style="color:red"><sup>39</sup></span>E, apoderando-se dele, lançaram-no para fora da vinha e mataram-no. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>40</sup></span>Ora, quando vier o senhor da vinha, que fará àqueles agricultores?». <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Disseram-lhe: «Destruirá de forma terrível esses malvados<ref name="ftn229">Lit.: ''aos maus de forma má os destruirá''.</ref> e arrendará a vinha a outros agricultores que lhe hão de entregar os frutos no seu tempo oportuno». <span style="color:red"><sup>42</sup></span>Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes nas Escrituras:
 
''A pedra que rejeitaram os ''
 
''construtores''
 
''tornou-se pedra angular;''
 
''ela veio do Senhor''
 
''e é admirável aos nossos olhos''<ref name="ftn230">Sl 118,22, frequentemente aplicado no NT à morte e ressurreição de Jesus.</ref>''?''
 
<span style="color:red"><sup>43</sup></span>Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o reino de Deus e será dado a um povo que produza os seus frutos. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Quem cair sobre esta pedra ficará despedaçado, e ela esmagará aquele sobre o qual cair»<ref name="ftn231">Este v., ausente de vários mss., inspira-se em Dn 2,34.44b e alude possivelmente à destruição de Jerusalém em 70 d.C..</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>45</sup></span>Ao ouvirem as suas parábolas, os chefes dos sacerdotes e os fariseus perceberam que falava deles <span style="color:red"><sup>46</sup></span>e, ao procurarem prendê-lo, tiveram medo das multidões, uma vez que o consideravam profeta<ref name="ftn232">A doutrinação em parábolas: a dos dois filhos (21,28-32), a dos vinhateiros (21,33-46) e a do banquete da boda (22,1-14) visam o Israel infiel do tempo de Jesus. Não admira que a reação dos responsáveis judeus fosse a favor da prisão e da morte de Jesus.</ref>.
 
 
22 Parábola do banquete da boda (Lc 14,15-24) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Em resposta, Jesus falou-lhes de novo em parábolas, dizendo: <span style="color:red"><sup>2</sup></span>«O reino dos céus é semelhante a um certo rei, que fez as bodas para o seu filho. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>De novo enviou outros servos, dizendo: "Dizei aos convidados: 'Eis que preparei o meu banquete, os meus bois e as reses gordas foram abatidas; tudo está preparado. Vinde às bodas!'". <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Mas eles, não se importando, foram-se embora, um para o seu campo e outro para o seu negócio; <span style="color:red"><sup>6</sup></span>e os restantes, agarrando nos servos dele, injuriaram-nos e mataram-nos.
 
<span style="color:red"><sup>7</sup></span>O rei ficou irado e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles assassinos e queimou a sua cidade<ref name="ftn233">O texto evoca provavelmente a destruição da cidade de Jerusalém no ano 70 d.C..</ref>. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Então disse aos seus servos: "A boda está preparada, mas os convidados não eram dignos. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e, quantos encontrardes, chamai para as bodas". <span style="color:red"><sup>10</sup></span>E aqueles servos, ao saírem para os caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, e a boda ficou cheia de convivas. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Mas, quando o rei entrou para observar os convivas, viu aí um homem que não estava vestido com roupa nupcial. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>E disse-lhe: "Amigo, como entraste aqui sem teres roupa nupcial?", mas ele ficou calado. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Então o rei disse aos servidores: "Atai-lhe os pés e as mãos e lançai-o para as trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes". <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Muitos, pois, são chamados, mas poucos escolhidos».
 
 
O imposto a César (Mc 12,13-17; Lc 20,20-26) – <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Então os fariseus foram reunir-se em conselho para ver como o apanhariam em falso em alguma palavra. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>E enviaram-lhe os discípulos seus juntamente com os herodianos<ref name="ftn234">Ou seja, os partidários de Herodes que, ao contrário dos fariseus, aceitavam o domínio romano.</ref>, dizendo: «Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus com verdade, e que não tens preferência por ninguém, pois não olhas para a aparência dos homens<ref name="ftn235">Lit.: ''e não te importas acerca de ninguém, pois não olhas para o rosto dos homens''.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Diz-nos, pois, o que te parece: é permitido ou não pagar imposto a César?». <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Mas Jesus, percebendo a maldade deles, disse: «Porque me pondes à prova, hipócritas? <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Mostrai-me a moeda do imposto». Eles apresentaram-lhe um denário. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Ele disse-lhes: «De quem é esta imagem e a inscrição?». <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Disseram-lhe: «De César». Então, Ele disse-lhes: «Devolvei, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Ao ouvirem isto, ficaram admirados e, deixando-o, foram-se embora.
 
 
Os saduceus e a ressurreição (Mc 12,18-27; Lc 20,27-38) – <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Naquele dia, foram ter com Ele uns saduceus – que dizem não haver ressurreição – e interrogaram-no, <span style="color:red"><sup>24</sup></span>dizendo: «Mestre, Moisés disse: ''Se alguém morrer sem ter filhos, o seu irmão casará com a mulher dele e assim dará descendência ao seu irmão''<ref name="ftn236">Dt 25,5s; Gn 38,8. A prática do levirato foi instituída para permitir que a família tivesse descendência, quando a mulher ficava viúva e sem filhos. O cunhado (''levir'') desposava a cunhada viúva e dava continuidade à descendência.</ref>. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro casou e morreu e, por não ter descendência, deixou a sua mulher ao seu irmão. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>E o mesmo aconteceu ao segundo, ao terceiro, e o mesmo até ao sétimo. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Por último, depois de todos, morreu a mulher. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher? É que todos a tiveram». <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhes: «Andais enganados, por não conhecerdes as Escrituras nem o poder de Deus. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Pois na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento; pelo contrário, são como anjos no céu. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que vos foi dito por Deus, que diz: <span style="color:red"><sup>32</sup></span>''Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob''<ref name="ftn237">Ex 3,6.</ref>? Não é Deus de mortos, mas de vivos». <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Ao ouvirem isto, as multidões ficaram perplexas com o seu ensinamento.
 
O primeiro mandamento (Mc 12,28-31; Lc 10,25-28) – <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Quando os fariseus ouviram dizer que Ele tinha calado os saduceus, reuniram-se com um propósito comum<ref name="ftn238">''Epí tò autó, ''expressão de difícil interpretação (lit.: ''sobre o mesmo''); poderá ser também traduzida por ''no mesmo lugar''.</ref>, <span style="color:red"><sup>35</sup></span>e um deles, que era entendido na Lei, interrogou-o para o pôr à prova: <span style="color:red"><sup>36</sup></span>«Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?». <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Ele disse-lhe: «''Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma'' e com todo o teu entendimento<ref name="ftn239">Jesus cita aqui a parte inicial do ''Chemá' ''(Dt 6,4s).</ref>. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Este é o grande e primeiro mandamento. <span style="color:red"><sup>39</sup></span>O segundo é semelhante a este: ''amarás o teu próximo como a ti mesmo''<ref name="ftn240">Lv 19,18.</ref>. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas».
 
 
O Messias, Senhor de David (Mc 12,35-37; Lc 20,41-44) – <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Enquanto os fariseus estavam reunidos, Jesus interrogou-os, <span style="color:red"><sup>42</sup></span>dizendo: «O que pensais vós acerca do Cristo? De quem é filho?». Eles disseram-lhe: «De David». <span style="color:red"><sup>43</sup></span>Disse-lhes: «Então como é que David, no Espírito<ref name="ftn241">Lit.: ''em Espírito'', no sentido de ''inspirado pelo Espírito Santo'' (cf. Mc 12,36).</ref>, lhe chamou "Senhor", ao dizer:
 
<span style="color:red"><sup>44</sup></span>''Disse o Senhor ao meu Senhor: "Senta-te à minha direita,''
 
''até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés"?''<ref name="ftn242">Sl 110,1.</ref>
 
<span style="color:red"><sup>45</sup></span>Portanto, se David lhe chama "Senhor", como pode ser seu filho?». <span style="color:red"><sup>46</sup></span>E ninguém conseguia responder-lhe uma palavra e, a partir daquele dia, ninguém mais ousava interrogá-lo.
 
 
23 Crítica aos doutores da lei e fariseus (Mc 12,38-40; Lc 11,39-52; 13,34s; 20,45-47) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Jesus falou, então, às multidões e aos seus discípulos, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os doutores da lei e os fariseus. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Fazei e guardai, pois, tudo quanto vos disserem, mas não façais de acordo com as suas obras, pois dizem e não fazem. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Atam fardos pesados, difíceis de suportar, e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com um dedo seu os querem mover. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens: alargam os seus filactérios e aumentam as franjas do manto<ref name="ftn243">Lit.: ''franjas''. Os filactérios são pequenos estojos ou caixas que contêm palavras essenciais da Lei, colocados pelos judeus no braço esquerdo ou sobre a fronte para os momentos de oração (cf. Ex 13,9; Dt 6,8s; 11,18-20), querendo com isto significar que estão sob a presença e orientação da palavra de Deus. Semelhante é a função das orlas ou franjas, colocadas nas quatro extremidades do manto (''tallît'') que o judeu piedoso coloca aos ombros para a oração (cf. Nm 15,37-41).</ref><nowiki>; </nowiki><span style="color:red"><sup>6</sup></span>gostam dos primeiros lugares nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, <span style="color:red"><sup>7</sup></span>das saudações nas praças públicas e de serem chamados "rabi"<ref name="ftn244">O título ''rabi'' significa ''meu mestre'' e representa no judaísmo palestinense aquele que é seguido por um grupo de discípulos e assim tratado.</ref>'' ''pelos homens''.'' <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Vós, porém, não deixeis que vos chamem "rabi"'','' pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>E a ninguém sobre a terra chameis "vosso pai", pois um só é o vosso Pai celeste. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Nem deixeis que vos chamem "preceptores", porque o vosso preceptor é um só<ref name="ftn245">Em grego ''kathēgētḗs'', do verbo ''kathēgéomai'', ''guiar, indicar o caminho, ensinar, ser o preceptor de''. Neste v. estão as duas únicas ocorrências deste termo no NT.</ref>, o Cristo. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>O maior de vós será vosso servidor. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.
 
<span style="color:red"><sup>13</sup></span>Ai de vós<ref name="ftn246">Começa aqui um conjunto de invetivas contra os fariseus com o estilo muito incisivo e condenatório dos «ais» usados pelos profetas em Israel.</ref>, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens: vós não entrais nem deixais entrar os que estão a entrar.
 
(<span style="color:red"><sup>14</sup></span>)<ref name="ftn247">Este v. está ausente nos principais mss.; alguns leem: ''Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque devorais as casas das viúvas, usando longas orações como pretexto. Por causa disto, recebereis uma condenação mais severa'' (Lc 20,47); provém provavelmente de Mc 12,40.</ref>
 
<span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque atravessais o mar e a terra para fazer um prosélito<ref name="ftn248">Ou seja, ''para converter alguém''.</ref>, mas, quando tal acontece, fazeis dele um filho da Geena duas vezes mais do que vós.
 
<span style="color:red"><sup>16</sup></span>Ai de vós, guias cegos, que dizeis: "Aquele que jurar pelo templo, isso nada significa<ref name="ftn249">Lit.: ''nada é''.</ref><nowiki>; mas aquele que jurar pelo ouro do templo, fica em dívida". </nowiki><span style="color:red"><sup>17</sup></span>Insensatos e cegos, o que é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Dizeis ainda: "Aquele que jurar pelo altar, isso nada significa, mas aquele que jurar pela oferta que sobre ele está, fica em dívida". <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Cegos, o que é mais importante: a oferta ou o altar que santifica a oferta? <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Assim, quem jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele; <span style="color:red"><sup>21</sup></span>e quem jura pelo templo, jura por ele e por quem nele habita, <span style="color:red"><sup>22</sup></span>e quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que sobre ele está sentado.
 
<span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã<ref name="ftn250">A Lei exigia que se consagrasse ao templo um décimo dos produtos especificados em Dt 14,23, como o vinho ou azeite. Aqui, critica-se os fariseus por, num excesso de zelo religioso (interpretando literalmente Lv 27,30), consagrarem o dízimo até de produtos como a hortelã, o endro e o cominho.</ref>, do endro e do cominho, e deixais o mais importante da Lei: o juízo<ref name="ftn251">''Juízo'' traduz ''krísis'', que diz respeito ao exercício da justiça (julgamento), sendo diferente da expressão ''dikaiosýnē ''(''justiça'').</ref>, a misericórdia e a fé<ref name="ftn252">Em grego ''pístis'', também traduzível por ''fidelidade''.</ref><nowiki>; era necessário fazer estas coisas e não deixar as outras. </nowiki><span style="color:red"><sup>24</sup></span>Guias cegos, que filtrais o mosquito, mas engolis o camelo!
 
<span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque purificais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estais cheios de rapina e intemperança. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Fariseu cego, purifica primeiro o interior do copo, para que também o exterior fique purificado.
 
<span style="color:red"><sup>27</sup></span>Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a túmulos caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a impureza. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais repletos de hipocrisia e iniquidade.
 
<span style="color:red"><sup>29</sup></span>Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque edificais os túmulos dos profetas e ornamentais os sepulcros dos justos, <span style="color:red"><sup>30</sup></span>e dizeis: "Se tivéssemos vivido nos dias dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas"! <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Assim dais testemunho contra vós próprios de que sois filhos dos que mataram os profetas. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Completai vós a medida dos vossos pais<ref name="ftn253">No sentido de ''terminar o que os pais começaram''.</ref>! <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Serpentes, geração de víboras, como fugireis ao juízo da Geena? <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Por isso, eis que Eu vos envio profetas, sábios e doutores da lei<ref name="ftn254">Figuras de três épocas – profetas e justos do AT, o próprio Jesus e os apóstolos – com o mesmo destino: a rejeição por Israel, através de seus responsáveis. Daí o castigo, que inclui a destruição de Jerusalém em 70 d.C.. Mas no fim triunfa a salvação: na última vinda de Cristo, o tema que se segue.</ref>. A alguns deles haveis de matar e crucificar, a outros de chicotear nas vossas sinagogas e perseguir de cidade em cidade, <span style="color:red"><sup>35</sup></span>para que venha sobre vós todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o templo e o altar<ref name="ftn255">Ou seja, no espaço entre o altar e o Santo dos Santos.</ref>. <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Amen vos digo: todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.
 
<span style="color:red"><sup>37</sup></span>Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te têm sido enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos, como uma galinha reúne os seus pintainhos debaixo das asas, e vós não quisestes! <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Eis que ''a vossa casa vos é deixada deserta''<ref name="ftn256">Jr 12,7; 22,5, Sl 69,26.</ref>. <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Digo-vos que, a partir de agora, jamais me vereis, até que digais: ''Bendito o que vem em nome do Senhor!''»<ref name="ftn257">Sl 118,26.</ref>.
 
<center>Discurso escatológico </center>
 
<center>(24,1-25,46)</center>
 
 
24 Destruição do templo (Mc 13,1s; Lc 21,5s) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Quando Jesus saiu do templo e se ia embora, vieram ter com Ele os seus discípulos para lhe mostrarem os edifícios do templo. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Mas Ele, em resposta, disse-lhes: «Não vedes tudo isto? Amen vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra que não venha a ser derrubada!».
 
 
Sinais antecedentes do fim: falsos messias, guerras e perseguições (Mc 13,3-13; Lc 21,7-19) – <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Quando Ele estava sentado no Monte das Oliveiras, vieram ter com Ele os discípulos a sós, dizendo: «Diz-nos: quando será isso e qual o sinal da tua vinda<ref name="ftn258">Dizer ''vinda'' é dizer ''parusia'', i.e., afirmar a vinda final, escatológica, de Jesus. O NT refere continuamente esta ''vinda'' ou este ''fim'', mas sempre sem determinar o tempo. </ref> e da consumação dos tempos?». <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhes «Tomai cuidado para que ninguém vos''' '''engane! <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Pois muitos virão em meu nome, dizendo "Eu sou o Cristo", e a muitos hão de enganar. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Estais prestes a ouvir falar de guerras e de rumores de guerras. Vede bem, não vos assusteis; é necessário que isto aconteça, mas ainda não é o fim. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Pois há de levantar-se povo contra povo e reino contra reino; haverá fome e tremores de terra por todo o lado<ref name="ftn259">Estes são sinais tradicionais da apocalíptica judaica (cf. 2Cr 15,6; Is 19,2-6; Ez 38,1). Lá como aqui, não estamos perante uma descrição histórica de acontecimentos nem do percurso até ao final dos tempos. O objetivo não é informar, mas fortalecer a fé e a esperança dos crentes, tantas vezes em situações difíceis.</ref>. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Todas estas coisas serão o princípio das dores de parto.
 
<span style="color:red"><sup>9</sup></span>Hão de entregar-vos, então, à tribulação e matar-vos; sereis odiados por todos os povos por causa do meu nome. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Então muitos se escandalizarão, hão de atraiçoar-se uns aos outros, e uns aos outros se hão de odiar. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Muitos falsos profetas se hão de erguer e enganar a muitos <span style="color:red"><sup>12</sup></span>e, por crescer a iniquidade, esfriará o amor de muitos. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Mas o que perseverar até ao fim, esse será salvo. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Este evangelho do reino será proclamado em todo o mundo habitado, como testemunho para todos os povos, e então virá o fim».
 
 
Sinais antecedentes do fim: destruição de Jerusalém (Mc 13,14-20; Lc 21,20-24) – <span style="color:red"><sup>15</sup></span>«Quando virdes ''a abominação da desolação'', dita por meio do profeta Daniel posta ''no lugar santo''<ref name="ftn260">Esta abominação é, no livro de Daniel (Dn 8,13; 9,27; 11,31; 12,11), a profanação do templo de Jerusalém por Antíoco IV Epifânio em 167 a.C. (cf. 1Mac 1,54), quando coloca lá uma estátua do deus dos céus – Zeus (''Baal Chamayim''). Poderá também evocar um gesto semelhante por parte do imperador Calígula (por volta do ano 40 d.C.).</ref>'' ''– quem lê que compreenda! –, <span style="color:red"><sup>16</sup></span>então os que estiverem na Judeia fujam para os montes, <span style="color:red"><sup>17</sup></span>quem estiver no terraço não desça para apanhar as coisas da sua casa <span style="color:red"><sup>18</sup></span>e quem estiver no campo não volte atrás para apanhar a sua capa. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Ai daquelas que tiverem um filho no ventre e das que amamentarem naqueles dias!
 
<span style="color:red"><sup>20</sup></span>Rezai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem ao sábado. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>É que haverá então ''uma grande tribulação'', ''como não aconteceu desde o princípio do mundo até agora''<ref name="ftn261">Dn 12,1; Jl 2,2.</ref>, nem jamais acontecerá. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>22</sup></span>E, se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém<ref name="ftn262">Lit.: ''nenhuma carne''.</ref> se salvaria. Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados.
 
 
Sinais antecedentes do fim: os falsos messias (Mc 13,21-23) – <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Então, se alguém vos disser: "Eis aqui o Cristo" ou "ali", não acrediteis, <span style="color:red"><sup>24</sup></span>pois hão de erguer-se falsos cristos e falsos profetas que oferecerão grandes sinais e prodígios, de modo a enganar, se possível, até os eleitos. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Eis que já vo-lo tinha predito. <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Assim, se vos disserem: "Ei-lo, está no deserto", não saiais; "Ei-lo no interior das casas", não acrediteis. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Pois assim como o relâmpago surge do oriente e é visível até ao ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres».
 
 
Vinda gloriosa do Filho do Homem (Mc 13,24-27; Lc 21,25-28) – <span style="color:red"><sup>29</sup></span>«Imediatamente, depois da tribulação daqueles dias, ''o sol ficará escuro, a lua não dará o seu brilho, as estrelas cairão ''do céu ''e os poderes dos céus ''serão abalados<ref name="ftn263">Is 13,9s; 34,4.</ref>. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Aparecerá, então, o sinal do Filho do Homem no céu, e então ''baterão no peito'' ''todas as tribos da terra, ''ao verem'' o Filho do Homem a vir sobre as nuvens do céu'' com poder e grande glória<ref name="ftn264">Dn 7,13s; Zc 12,10-14.</ref>. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>E enviará os seus anjos, com uma grande trombeta, e eles reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade à outra dos céus».
 
 
Parábola da figueira (Mc 13,28-32; Lc 21,29-33) – <span style="color:red"><sup>32</sup></span>«Aprendei com a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros, e brotam as folhas, sabeis que o verão está próximo; <span style="color:red"><sup>33</sup></span>assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, mesmo à porta. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Amen vos digo: não passará esta geração, até que todas estas coisas aconteçam. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão.
 
<span style="color:red"><sup>36</sup></span>Quanto a esse dia e a essa hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, apenas e só o Pai».
 
 
Necessidade de estar vigilante (Mc 13,35; Lc 17,26-36) – <span style="color:red"><sup>37</sup></span>«Pois assim como foram os dias de Noé, assim será a vinda do Filho do Homem. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>De facto, tal como naqueles dias antes do dilúvio comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, <span style="color:red"><sup>39</sup></span>e não se aperceberam, até que veio o dilúvio e a todos levou, assim também será a vinda do Filho do Homem. <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Então, dois estarão no campo: um será levado e um deixado; <span style="color:red"><sup>41</sup></span>duas estarão a moer no moinho: uma será levada e uma deixada.
 
<span style="color:red"><sup>42</sup></span>Portanto, estai vigilantes, porque não sabeis em que dia o vosso Senhor vem. <span style="color:red"><sup>43</sup></span>Pensai nisto: se o senhor da casa soubesse em que vigília da noite viria o ladrão, teria estado vigilante e não teria permitido que a sua casa fosse arrombada. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Por isso, estai também vós preparados, porque à hora em que menos pensais vem o Filho do Homem».
 
 
Parábola do servo fiel e do servo infiel (Lc 12,42-46) – <span style="color:red"><sup>45</sup></span>«Quem é, portanto, o servo fiel e prudente que o senhor colocou à frente da sua casa para lhes dar o alimento no tempo oportuno? <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Feliz aquele servo que, quando vier o seu senhor, o encontrar a fazer assim. <span style="color:red"><sup>47</sup></span>Amen vos digo: colocá-lo-á à frente de todos os seus bens. <span style="color:red"><sup>48</sup></span>Mas, se aquele mau servo disser no seu coração: "O meu senhor tarda em vir", <span style="color:red"><sup>49</sup></span>e começar a bater nos seus companheiros de servidão, a comer e a beber com os bêbados, <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>50</sup></span>virá o senhor daquele servo no dia em que menos espera e na hora que não conhece, <span style="color:red"><sup>51</sup></span>há de cortá-lo ao meio<ref name="ftn265">Lit.: ''parti-lo-á ao meio''. O verbo grego ''dikhotoméō'' quer dizer ''cortar em duas partes'', podendo-se referir ao castigo de cortar literalmente uma pessoa ao meio (1Sm 15:33) ou, como interpretam outros, a um castigo extremamente severo (a cruel pena de morte, aplicada na antiguidade, neste caso, a um escravo pelo seu proprietário); o servo partilhará assim a mesma sorte (''estabelecerá a sua parte'') dos hipócritas. </ref> e dar-lhe-á a sorte dos hipócritas<ref name="ftn266">Lit: ''e colocará a parte dele com a dos hipócritas''. </ref><nowiki>; aí haverá choro e ranger de dentes».</nowiki>
 
 
25 Parábola das dez virgens – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>«Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, levando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Cinco delas eram insensatas<ref name="ftn267">Em grego ''mōraí'': ''estúpidas, loucas, tolas, insensatas''.</ref> e cinco eram ponderadas. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>As insensatas, ao levarem as suas candeias, não levaram o azeite consigo. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>As ponderadas, porém, levaram azeite nas vasilhas juntamente com as suas candeias. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Como o noivo tardava, ficaram todas com sono e adormeceram. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>A meio da noite surgiu um grito: "Eis o noivo! Saí ao seu encontro!". <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Então, todas aquelas virgens levantaram-se e começaram a preparar as suas candeias. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>As insensatas disseram às ponderadas: "Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias se estão a apagar". <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Mas as prudentes responderam, dizendo: "Não aconteça que não chegue para nós e para vós, o melhor é irdes aos vendedores e comprá-lo para vós". <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Enquanto elas o foram comprar, veio o noivo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas e a porta foi fechada. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Mais tarde, vieram também as restantes virgens, dizendo: "Senhor, senhor, abre-nos a porta!"<ref name="ftn268">''A'' ''porta ''é acrescento da tradução.</ref>. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Mas ele, em resposta, disse: "Amen vos digo: não vos conheço". <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Portanto, estai vigilantes, porque não sabeis nem o dia nem a hora».
 
 
Parábola dos talentos (Lc 19,11-27) – <span style="color:red"><sup>14</sup></span>«É como um homem que, ao partir em viagem, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu em viagem. Imediatamente, <span style="color:red"><sup>16</sup></span>o que recebera cinco talentos foi negociar com eles e ganhou outros cinco. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Mas o que recebera um, afastando-se, fez uma cova na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Muito tempo depois, veio o senhor daqueles servos e pôs-se a ajustar as contas com eles. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Aproximando-se o que recebera cinco talentos, apresentou outros cinco talentos, dizendo: "Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis outros cinco talentos que ganhei". <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Disse-lhe o seu senhor: "Muito bem, servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, à frente de muito te hei de colocar; entra na alegria do teu senhor". <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: "Senhor, entregaste-me dois talentos; eis outros dois talentos que ganhei". <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Disse-lhe o seu senhor: "Muito bem, servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, à frente de muito te hei de colocar; entra na alegria do teu senhor". <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Aproximando-se também o que tinha recebido um talento, disse: "Senhor, sabendo que tu és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes de onde não espalhaste, <span style="color:red"><sup>25</sup></span>tive medo e fui esconder o teu talento na terra. Eis aqui o que é teu<ref name="ftn269">Lit.: ''<nowiki>eis [que] tens o teu</nowiki>''.</ref>". <span style="color:red"><sup>26</sup></span>E, em resposta, o seu senhor disse-lhe: "Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho de onde não espalhei. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Devias, portanto, ter dado<ref name="ftn270">Lit.: ''ter lançado''.</ref> o meu dinheiro aos banqueiros e eu, ao voltar, recuperaria com juros o que é meu. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem dez talentos. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Pois a todo o que tem será dado e acrescentado, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>E a esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes"».
 
 
O juízo final –'' ''<span style="color:red"><sup>31</sup></span>«Quando vier o Filho do Homem na sua glória, e todos os anjos com Ele, então sentar-se-á no trono da sua glória. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Reunir-se-ão diante dele todos os povos, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Então o rei dirá aos da sua direita: "Vinde, benditos do meu Pai; herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Pois tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me, <span style="color:red"><sup>36</sup></span>estava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava na prisão e fostes ter comigo". <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Então responder-lhe-ão os justos, dizendo: "Senhor, quando é que te vimos com fome e te alimentámos, ou com sede e te demos de beber? <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Quando é que te vimos estrangeiro e te acolhemos, ou nu e te vestimos? <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Quando é que te vimos doente ou na prisão e fomos ter contigo?" <span style="color:red"><sup>40</sup></span>E, respondendo, o rei lhes dirá: "Amen vos digo: quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes". <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Então dirá também aos do lado esquerdo: "Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e para os seus anjos, <span style="color:red"><sup>42</sup></span>pois tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, <span style="color:red"><sup>43</sup></span>era estrangeiro e não me acolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não me visitastes. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Então também eles responderão, dizendo: "Senhor, quando é que te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou doente, ou na prisão e não te servimos?" <span style="color:red"><sup>45</sup></span>Então responder-lhes-á, dizendo: "Amen vos digo: quantas vezes o não fizestes a um destes mais pequenos, também a mim o não fizestes". <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Estes partirão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna».
 
 
<center>IV</center>
 
<center>PAIXÃO, MORTE </center>
 
<center>E RESSURREIÇÃO DE JESUS </center>
 
<center>(26,1-28,20)</center>
 
 
26 Determinação em matar Jesus (Mc 14,1s; Lc 22,1s; Jo 11,47-53) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer todas estas palavras<ref name="ftn271">Com esta fórmula Mt inicia uma nova secção narrativa (cf. 7,28; 11,1; 13,53; 19,1), mas com a particularidade de ser a última. Por isso as palavras de que se fala são ''todas'', incluindo as dos outros discursos. É semelhante ao que é dito em Dt 31,1.24; 32,454s, na conclusão do discurso de Moisés, que ocupa quase todo o último livro do Pentateuco e muito dos outros quatro – como seu testamento. Também em Mt são cinco os discursos de Jesus, um legado de que Ele, na despedida final, encarrega os discípulos de divulgar, ''ensinando a observar tudo quanto vos ordenei'' (28,20).</ref>, disse aos seus discípulos: <span style="color:red"><sup>2</sup></span>«Vós sabeis que faltam dois dias para a Páscoa, e o Filho do Homem vai ser entregue para ser crucificado». <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Reuniram-se, então, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo no palácio do sumo-sacerdote, chamado Caifás<ref name="ftn272">Caifás, genro de Anás, foi o Sumo-sacerdote e presidente do sinédrio nos anos 18 a 26 d.C.. O seu palácio ficava junto à muralha ocidental de Jerusalém, não longe da porta de onde começava a estrada para Jafa.</ref>, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>e concordaram em prender Jesus à traição e matá-lo. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Mas diziam: «Não durante a festa, para não haver alvoroço entre o povo».
 
 
Unção em Betânia (Mc 14,3-9; Lc 7,36-50; Jo 12,1-8) – <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão<ref name="ftn273">Como Mc 14,3-9, Mt insere aqui a cena da unção em casa de Simão, que Jo coloca seis dias antes da Páscoa (Jo 12,1-8).</ref>, o leproso, <span style="color:red"><sup>7</sup></span>veio ter com Ele uma mulher que tinha um frasco de alabastro com um bálsamo muito dispendioso e derramou-lho sobre a cabeça, enquanto Ele estava reclinado à mesa. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Ao ver isto, os discípulos indignaram-se, dizendo: «Para quê este desperdício? <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Podia vender-se a um bom preço e dar-se aos pobres». <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Sabendo disto, Jesus disse-lhes: «Porque importunais a mulher? De facto, praticou uma boa ação para comigo. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Pois pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre tendes. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Ela, ao derramar este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo para a minha sepultura. '''<span style="color:red"><sup>13</sup></span>'''Amen vos digo: onde quer que seja proclamado este evangelho em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória»<ref name="ftn274">A mulher da narrativa não é nomeada, mas não se deve confundir com a mulher de Lc 7,36s, nem com a Marta ou Maria de Betânia de Jo 11,5ss. As tradições são diferentes.</ref>.
 
 
Traição de Judas (Mc 14,10s; Lc 22,3-6) – <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os chefes dos sacerdotes, <span style="color:red"><sup>15</sup></span>disse: «Quanto quereis dar-me se eu vo-lo entregar?». ''Eles estabeleceram ''com ele'' trinta moedas de prata''<ref name="ftn275">Zc 11,12. 30 moedas de prata correspondem ao preço de um escravo (cf. Ex 21,32; Zc 11,12-13; Mc 14,11).</ref>. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>E, desde então, procurava uma boa oportunidade para o entregar.
 
Preparação da ceia pascal (Mc 14,12-‑ 16; Lc 22,7-13) – <span style="color:red"><sup>17</sup></span>No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus, dizendo: «Onde queres que te façamos os preparativos para comeres a Páscoa?»<ref name="ftn276">A festa da Páscoa (''hag hapesah'') durava uma semana e era, na origem, uma festa de pastores que, na noite da lua cheia do primeiro mês do ano (pastoril), imolavam e comiam um cordeiro ou cabrito (cf. Ex 12,8.11.15.27; Lv 23,5-8; 2Cr 35,1-19). Foi associada, séculos depois da fixação na Palestina, à festa dos Ázimos (cf. 2Rs 23,22; Esd 6,19-22; Dt 16,1-8), os pães sem fermento (''hāmēts'') dos agricultores (cf. Ex 23,14-15), usados na celebração do ''séder'' judaico (ritual da celebração da ceia pascal). No tempo de Jesus começava, no início da tarde, com a imolação dos cordeiros pascais no templo de Jerusalém.</ref>. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Ele disse: «Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: "O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa farei a Páscoa com os meus discípulos"». <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.
 
 
A ceia do Senhor (Mc 14,17-25; Lc 22,14-23; Jo 13,2.21-26; 1Cor 11,23-25) – <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Ao cair da tarde, reclinou-se à mesa com os Doze <span style="color:red"><sup>21</sup></span>e, enquanto eles comiam, disse: «Amen vos digo: um de vós me há de entregar». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-lhe: «Não sou eu, Senhor, pois não?». <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ele, respondendo, disse: «O que pôs comigo a mão no prato<ref name="ftn277">Lit.: ''molha comigo no prato''. É bem conhecida a cultura da hospitalidade judaica. A mesa compartida em família e com os amigos significava o máximo da hospitalidade. Neste sentido, a traição de Judas significa o máximo da traição: Sl 41.</ref>, esse me entregará. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>De facto, o Filho do Homem parte, tal como está escrito acerca dele, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Em resposta, Judas, que o ia entregar, disse: «Não sou eu, Rabi, pois não?». Ele disse-lhe: «Tu o disseste!».
 
<span style="color:red"><sup>26</sup></span>Enquanto eles comiam, Jesus tomou o pão e, pronunciando a bênção, partiu-o e, dando-o aos discípulos, disse: «Tomai, comei, este é o meu corpo». <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Tomando, então, um cálice<ref name="ftn278">Este cálice será provavelmente o terceiro, de um conjunto de quatro cálices (''mPes'' 10), correspondendo cada um a uma das quatro partes do ''séder haggadāh chēl pesah'' judaico. Este terceiro cálice é repartido antes de recitada a ''haggadāh'' (narrativa de carácter homilético e exortativo) e de se comerem os pães ázimos (''ázymoi'' em grego, ''matzôt'' em hebraico) com as ervas amargas embebidas no molho (''harōset''), a que se refere a expressão ''põe a mão no prato''. O verbo da ação de graças é ''eukharistéō'', raro na tradução dos LXX e sempre em literatura tardia (cf. 2Mac 1,11; 12,31; Sb 18,2; Jdt 8,25; ''3Mac'' 7,16; ''OdSal'' 14,8).</ref> e dando graças, deu-lho dizendo: «Bebei todos dele, <span style="color:red"><sup>28</sup></span>pois este é o meu sangue da aliança, derramado em favor de muitos<ref name="ftn279">Cf. Mc 14,25 nota.</ref> para o perdão dos pecados. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>Digo-vos: não mais beberei do fruto da videira, desde agora, até àquele dia em que convosco o hei de beber, novo, no reino do meu Pai».
 
 
Anúncio da negação de Pedro (Mc 14,26-31) – <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Depois de terem entoado os hinos<ref name="ftn280">A ceia pascal terminava com a recitação dos Salmos do ''Hallel'' (Sl 113-118). Segundo a tradição judaica do ''tgNeofEx'' 12,42, quatro grandes acontecimentos da história da salvação terão lugar na noite da Páscoa: a criação do mundo, o enfaixamento (''hā'aqedāh'') de Isaac de Gn 22, o êxodo do Egito e a vinda do Messias.</ref>, saíram para o Monte das Oliveiras. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Disse-lhes, então, Jesus: «Esta noite todos vós caireis em escândalo por causa de mim, pois está escrito: ''Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas do rebanho''<ref name="ftn281">Zc 13,7. </ref>''. ''<span style="color:red"><sup>32</sup></span>Mas, depois de Eu ter ressuscitado, irei à vossa frente para a Galileia». <span style="color:red"><sup>33</sup></span>Pedro, em resposta, disse-lhe: «Ainda que todos caiam em escândalo por causa de ti, eu nunca cairei em escândalo». <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Amen te digo: nesta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás». <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Disse-lhe Pedro: «Mesmo que seja necessário eu morrer contigo, jamais te negarei». E o mesmo disseram todos os discípulos.
 
 
Oração de Jesus no Getsémani (Mc 14,32-42; Lc 22,39-46) – <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Então Jesus foi com eles para uma propriedade chamada Getsémani<ref name="ftn282">Getsémani (em aramaico ''Gat-Chamen'': lagar / jardim do azeite) situa-se no chamado Jardim ou Monte das Oliveiras, sobranceiro ao vale do Cédron.</ref> e disse aos discípulos: «Sentai-vos, enquanto vou ali rezar». <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Disse-lhes então: «''Profundamente entristecida está a minha alma''<ref name="ftn283">Sl 42,5.12; 43,5; Jo 12,27.</ref> até à morte; permanecei aqui e estai vigilantes comigo». <span style="color:red"><sup>39</sup></span>E, indo um pouco adiante, caiu com o rosto por terra e rezava, dizendo: «Meu Pai, se é possível, que se aparte de mim este cálice; no entanto, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres». <span style="color:red"><sup>40</sup></span>Veio, então, ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem uma hora fostes capazes de estar vigilantes comigo? <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Estai vigilantes e rezai para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca». <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>42</sup></span>Afastando-se, de novo, pela segunda vez, rezou dizendo: «Meu Pai, se não é possível apartar este cálice sem que o beba, faça-se a tua vontade». <span style="color:red"><sup>43</sup></span>Ao vir de novo, encontrou-os a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Deixando-os, de novo se afastou e rezou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. <span style="color:red"><sup>45</sup></span>Então foi ter com os discípulos e disse-lhes: «Ireis dormir e descansar o resto da noite<ref name="ftn284">Lit.: ''dormis o resto e descansais?'' ou ''dormi o resto e descansai!.'' Cf. Mc 14,41 nota.</ref>? Eis que se aproxima a hora em que o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Levantai-vos! Vamos! Eis que se aproxima o que me vai entregar».
 
 
Prisão de Jesus (Mc 14,43-50; Lc 22,47-53; Jo 18,3-12) – <span style="color:red"><sup>47</sup></span>Ainda Ele falava, eis que chegou Judas, um dos Doze e, com ele, uma numerosa multidão com espadas e varapaus, da parte dos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo. <span style="color:red"><sup>48</sup></span>O que o ia entregar dera-lhes um sinal, dizendo: «É aquele que eu beijar; prendei-o». <span style="color:red"><sup>49</sup></span>E, indo imediatamente ter com Jesus, disse: «Salve, Rabi!», e beijou-o efusivamente<ref name="ftn285">O beijo, como tudo o que é humano, pode ser ambivalente. Este beijo recorda outros ósculos e outros «amigos» do AT (cf. Sl 55,12-14.20-21; 41,9; Pr 27,6; 2Rs 5,25; 2Sm 3,27; 20,8-10).</ref>. <span style="color:red"><sup>50</sup></span>Jesus disse-lhe: «Amigo, a que vieste?». Então, avançando, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. <span style="color:red"><sup>51</sup></span>E eis que um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da sua espada e, atacando o servo do sumo-sacerdote, cortou-lhe a orelha. <span style="color:red"><sup>52</sup></span>Disse-lhe, então, Jesus: «Volta a pôr a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam na espada, pela espada perecerão. <span style="color:red"><sup>53</sup></span>Ou pensas que não posso suplicar a meu Pai e prontamente Ele poria à minha disposição mais de doze legiões de anjos? <span style="color:red"><sup>54</sup></span>Como é que, então, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais é necessário que assim aconteça?». <span style="color:red"><sup>55</sup></span>Naquela hora, disse Jesus às multidões: «Como se faz a um salteador, saístes com espadas e varapaus para vos apoderardes de mim. Dia após dia sentava-me no templo a ensinar, e não me prendestes! <span style="color:red"><sup>56</sup></span>Porém, tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas». Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.
 
 
Jesus diante do sinédrio (Mc 14,53-65; Lc 22,54s.66-71; Jo 18,13-24) – <span style="color:red"><sup>57</sup></span>Os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o sumo-sacerdote, onde os doutores da lei e os anciãos se tinham reunido. <span style="color:red"><sup>58</sup></span>Pedro seguia-o de longe<ref name="ftn286">Estar longe no AT é sinal de afastamento do Deus de Israel, de não proximidade com Deus (cf. Ex 40,46; 42,13; 43,19,44,13; 45,4; Is 29,10-13; 57,19; Lv 10,3; Dt 4,7; 13,8; 1Rs 8,46 = 2Cr 6,36; Is 33,13; Est 9,20; Jr 2,5; 12,2; 23,33; Js 3,4; Ez 6,12; Os 12,7; Lm 3,57; Is 58,2; Sl 119,150-151.155; Sf 3,2; Jdt 8,27; Sl 148,14; Pr 15,29; cf. Ef 2,11-22; Mt 15,8).</ref>, até ao pátio do sumo-sacerdote e, entrando, sentou-se com os guardas para ver o fim daquilo.
 
<span style="color:red"><sup>59</sup></span>Os chefes dos sacerdotes e todo o sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus para lhe dar a morte, <span style="color:red"><sup>60</sup></span>mas nenhum encontraram, apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas. Finalmente, apresentaram-se duas <span style="color:red"><sup>61</sup></span>que disseram: «Este afirmou: "Posso destruir o templo de Deus e em três dias edificá-lo"». <span style="color:red"><sup>62</sup></span>Então o sumo-sacerdote, levantando-se, disse-lhe: «Nada respondes ao que estes testemunham contra ti?». <span style="color:red"><sup>63</sup></span>Mas Jesus mantinha-se em silêncio. Então o sumo-sacerdote disse-lhe: «Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus». <span style="color:red"><sup>64</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Tu o disseste. Ainda mais vos digo: "a partir de agora, vereis ''o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso''<ref name="ftn287">Lit: ''do poder''.</ref>'' a vir sobre as nuvens do céu''»<ref name="ftn288">Dn 7,13; Sl 110,1.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>65</sup></span>Então o sumo-sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: «Blasfemou<ref name="ftn289">A blasfémia era punível com a morte (cf. Lv 24,16).</ref>! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis que agora ouvistes a blasfémia. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>66</sup></span>Que vos parece?». Eles, respondendo, disseram: «É réu de morte!».
 
<span style="color:red"><sup>67</sup></span>Então cuspiram-lhe no rosto e deram-lhe murros, e outros esbofetearam-no, <span style="color:red"><sup>68</sup></span>dizendo: «Profetiza para nós, ó Cristo! Quem é que te bateu?».
 
 
Pedro renega Jesus (Mc 14,66-72; Lc 22,55-62; Jo 18,15-18.25-27) – <span style="color:red"><sup>69</sup></span>Pedro estava sentado do lado de fora, no pátio, e veio ter com ele uma jovem serva que disse: «Também tu estavas com Jesus da Galileia». <span style="color:red"><sup>70</sup></span>Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes». <span style="color:red"><sup>71</sup></span>Ao sair para o portão, uma outra viu-o e disse aos que ali estavam: «Este estava com Jesus, o Nazareno!». <span style="color:red"><sup>72</sup></span>E novamente negou com juramento: «Não conheço o homem!». <span style="color:red"><sup>73</sup></span>Pouco depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «É verdade que também tu és um deles, pois o teu modo de falar te denuncia<ref name="ftn290">Lit: ''te faz evidente''.</ref>». <span style="color:red"><sup>74</sup></span>Então ele começou a praguejar e a jurar: «Não conheço o homem!». E, imediatamente, um galo cantou. <span style="color:red"><sup>75</sup></span>Pedro recordou-se, então, daquilo que Jesus dissera: «Antes que um galo cante, três vezes me negarás». E, saindo, chorou amargamente.
 
 
27 Jesus é entregue a Pilatos (Mc 15,1; Lc 23,1; Jo 18,28) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Ao romper da manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o entregar à morte. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>E, depois de o atarem, levaram-no e entregaram-no a Pilatos<ref name="ftn291">Só Pilatos, como governador romano, dispunha do ''ius gladii, ''i.e., do poder de sentenciar à morte.</ref>, o governador.
 
Judas arrepende-se e enforca-se – <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Então Judas, o que o tinha entregado, ao ver que Ele tinha sido condenado, arrependendo-se, devolveu as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>dizendo: «Pequei, ao entregar sangue inocente». Mas eles disseram: «Que temos nós com isso? É lá contigo<ref name="ftn292">Lit: ''Tu verás!''</ref>!». <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Então ele, depois de atirar as moedas para o templo<ref name="ftn293">Judas atira as moedas de fora por não poder entrar no templo, visto não ser sacerdote.</ref>, afastou-se e foi enforcar-se. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Os chefes dos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é permitido lançá-las para o tesouro do templo, uma vez que são preço de sangue». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>E, depois de se terem reunido em conselho, compraram com elas o Campo do Oleiro, para sepultura dos estrangeiros. <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Por isso, aquele campo é chamado o "Campo de Sangue", até hoje. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Assim se cumpriu o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz: ''E apanharam as trinta moedas de prata, o preço com que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram''<ref name="ftn294">Zc 11,12s.</ref>''<nowiki>; </nowiki>''<span style="color:red"><sup>10</sup></span>''e pagaram com elas o Campo do Oleiro, como me tinha ordenado o Senhor''<ref name="ftn295">Jr 18,2s; 32,8s; Ex 9,12.</ref>.
 
 
Jesus perante Pilatos (Mc 15,2-15; Lc 23,2-5.13-25; Jo 18,29-19,1) – <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Jesus foi levado à presença<ref name="ftn296">Lit.: ''foi feito estar diante de''.</ref> do governador, e o governador interrogou-o, dizendo: «Tu és o rei dos judeus?». Jesus afirmou: «Tu o dizes». <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Mas, ao ser acusado pelos chefes dos sacerdotes e dos anciãos, nada respondia. <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Disse-lhe, então, Pilatos: «Não ouves quantas coisas testemunham contra ti?». <span style="color:red"><sup>14</sup></span>E Ele não lhe respondeu nem uma palavra, de tal forma que o governador ficou muito admirado.
 
<span style="color:red"><sup>15</sup></span>Ora, pela festa era costume o governador libertar um preso à multidão, aquele que quisessem. <nowiki><span </nowiki><nowiki>style="color:red"><sup>16</sup></span>Tinham então um preso famoso, chamado Jesus Barrabás<ref name="ftn297">Barrabás é a transliteração do aramaico ''bar-'abbas'' (filho do pai). Alguns mss. apresentam apenas ''Barrabás''.</ref>. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: «Quem quereis que vos liberte: Jesus Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?», <span style="color:red"><sup>18</sup></span>pois sabia que o tinham entregado por inveja.
 
<span style="color:red"><sup>19</sup></span>Enquanto ele estava sentado no tribunal, a sua mulher mandou dizer-lhe: «Que nada exista entre ti e esse justo, pois hoje sofri muito num sonho por causa dele»<ref name="ftn298">Só Mt apresenta o temor sagrado da mulher de Pilatos – uma pagã romana – em contraposição com a atitude dos chefes dos judeus.</ref>. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Mas os chefes dos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões a pedirem Barrabás e a matarem Jesus. <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Em resposta, o governador disse-lhes: «Qual dos dois quereis que vos liberte?». Eles disseram: «Barrabás».<span style="color:red"><sup>22</sup></span>Disse-lhes Pilatos: «Então que hei de fazer de Jesus, chamado Cristo?». Disseram todos: «Seja crucificado!». <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ele afirmou: «Mas que mal fez?». Eles, porém, gritavam ainda mais, dizendo: «Seja crucificado!».
 
<span style="color:red"><sup>24</sup></span>Pilatos, ao ver que nada conseguia e que, pelo contrário, o alvoroço se tornava maior, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue! É lá convosco<ref name="ftn299">Lit.: ''vós vereis''.</ref>». <span style="color:red"><sup>25</sup></span>E, em resposta, todo o povo disse: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Libertou-lhes, então, Barrabás e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado.
 
 
Os soldados ridicularizam Jesus (Mc 15,16-20; Jo 19,2s) – <span style="color:red"><sup>27</sup></span>Então os soldados do governador, levando Jesus para o pretório<ref name="ftn300">O pretório era a residência do Pretor, e nele se instalava o Procurador romano, quando se deslocava de Cesareia marítima a Jerusalém, por altura das grandes festas, para vigiar e manter segura a cidade, devido ao afluxo de peregrinos. A coorte era a décima parte da legião e compreendia c. quinhentos homens. Era chamada a guarda pretoriana.</ref>, reuniram junto dele toda a coorte. <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Depois de o despirem, cobriram-no com um manto escarlate. <span style="color:red"><sup>29</sup></span>E, entrelaçando uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a sua cabeça e uma cana na sua mão direita; ao ajoelhar-se diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve, ó rei dos judeus!». <span style="color:red"><sup>30</sup></span>E, cuspindo-lhe, pegaram na cana e batiam-lhe na cabeça. <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas vestes e levaram-no para ser crucificado.
 
 
Crucificação de Jesus (Mc 15,21-32; Lc 23,26.33-43; Jo 19,17-19) – <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de seu nome Simão<ref name="ftn301">Cirene era uma cidade da Líbia, e Simão um judeu dessa colónia grega no norte de África.</ref>, e obrigaram-no a levar-lhe a cruz. <span style="color:red"><sup>33</sup></span>E, chegando a um lugar chamado Gólgota – que significa "Lugar da Caveira" -, <span style="color:red"><sup>34</sup></span>''deram-lhe a beber'' vinho misturado ''com fel''<ref name="ftn302">Sl 69,22. Trata-se de uma espécie de sedativo para aliviar os sofrimentos dos supliciados à morte.</ref><nowiki>; mas, ao provar, não quis beber. </nowiki><span style="color:red"><sup>35</sup></span>Depois de o crucificarem, ''dividiram as suas vestes'' ''lançando sortes''<ref name="ftn303">Sl 22,19.</ref>, <span style="color:red"><sup>36</sup></span>e sentados aí ficaram a guardá-lo. <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Por cima da sua cabeça puseram por escrito a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos judeus».
 
<span style="color:red"><sup>38</sup></span>Foram, então, crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. <span style="color:red"><sup>39</sup></span>Os que passavam blasfemavam contra Ele, ''abanando as suas cabeças''<ref name="ftn304">Sl 22,8.</ref> <span style="color:red"><sup>40</sup></span>e dizendo: «Tu, que destróis o templo e em três dias o edificas, salva-te a ti mesmo! Se és filho de Deus, desce da cruz!». <span style="color:red"><sup>41</sup></span>Da mesma forma, também os chefes dos sacerdotes, escarnecendo juntamente com os doutores da lei e os anciãos, diziam: <span style="color:red"><sup>42</sup></span>«Salvou outros, mas a si mesmo não se pode salvar. É rei de Israel; que desça agora da cruz e acreditaremos nele. <span style="color:red"><sup>43</sup></span>''Confiou em Deus; que o livre'' agora, ''se lhe quer bem''<ref name="ftn305">Sl 22,9.</ref>, pois disse: "Sou filho de Deus"». <span style="color:red"><sup>44</sup></span>Do mesmo modo, também o insultavam os salteadores que tinham sido crucificados com Ele.
 
 
Morte de Jesus (Mc 15,33-41; Lc 23,44-49; Jo 19,25.28-30) – <span style="color:red"><sup>45</sup></span>A partir da hora sexta<ref name="ftn306">A hora sexta corresponde aproximadamente às doze horas, e a hora nona às três da tarde.</ref> fez-se trevas sobre toda a terra, até à hora nona. <span style="color:red"><sup>46</sup></span>Pela hora nona, Jesus bradou com voz forte, dizendo: «''Elí, Elí, lemá sabakhtáni?''»'', ''isto é: «''Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?''»<ref name="ftn307">Sl 22,2.</ref>. <span style="color:red"><sup>47</sup></span>Alguns dos que ali estavam, ao ouvirem isto, diziam: «Este está a chamar por Elias». <span style="color:red"><sup>48</sup></span>E, imediatamente, um deles foi a correr apanhar uma esponja e, depois de a embeber em ''vinagre'', pondo-a numa cana, ''dava''-lhe de ''beber''<ref name="ftn308">Sl 69,22.</ref>. <span style="color:red"><sup>49</sup></span>Os restantes, porém, diziam: «Deixa! Vejamos se Elias o vem salvar». <span style="color:red"><sup>50</sup></span>Mas Jesus, de novo gritando com voz forte, entregou o espírito<ref name="ftn309">Lit.: ''deixou ir o espírito''.</ref>.
 
<span style="color:red"><sup>51</sup></span>E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. <span style="color:red"><sup>52</sup></span>Os sepulcros abriram-se e muitos corpos de santos que tinham adormecido ressuscitaram <span style="color:red"><sup>53</sup></span>e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa e apareceram a muitos<ref name="ftn310">Os vv. 51-53 apresentam uma sugestiva moldura imagética apocalíptica dos novos tempos: rasgão do véu do templo, tremor de terra, túmulos abertos e mortos ressuscitados a aparecerem aos vivos. Comparar com Ez 37,12 e Dn 12,13.</ref>. <span style="color:red"><sup>54</sup></span>O centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram cheios de medo, dizendo: «Verdadeiramente este era Filho de Deus!».
 
<span style="color:red"><sup>55</sup></span>Estavam ali muitas mulheres a observar de longe, que tinham seguido Jesus desde a Galileia para o servirem. <span style="color:red"><sup>56</sup></span>Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
 
 
Sepultura de Jesus (Mc 15,42-47; Lc 23,50-56; Jo 19,38-42) – <span style="color:red"><sup>57</sup></span>Ao cair da tarde, veio um homem rico, de Arimateia<ref name="ftn311">Arimateia, povoação de Judá, a nordeste de Lida (cf. Dt 21,22-23).</ref>, de nome José, que se tinha tornado, também ele, discípulo de Jesus. <span style="color:red"><sup>58</sup></span>Este, indo ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos ordenou que lho restituíssem. <span style="color:red"><sup>59</sup></span>Tomando o corpo, José envolveu-o num lençol puro <span style="color:red"><sup>60</sup></span>e pô-lo no seu sepulcro novo, que tinha escavado na rocha. Depois de rolar uma grande pedra até à entrada do sepulcro, foi-se embora. <span style="color:red"><sup>61</sup></span>Estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas em frente do túmulo.
 
 
O sepulcro é guardado – <span style="color:red"><sup>62</sup></span>No dia seguinte, isto é, depois da Preparação<ref name="ftn312">''Paraskeuḗ ''refere-se ao dia da preparação, i.e., o dia antes do sábado.</ref>, reuniram-se os chefes dos sacerdotes e os fariseus e foram ter com Pilatos, <span style="color:red"><sup>63</sup></span>dizendo: «Senhor, lembrámo-nos do que aquele impostor, ainda vivo, disse: "Depois de três dias ressuscitarei". <span style="color:red"><sup>64</sup></span>Ordena, portanto, que se proteja o túmulo até ao terceiro dia, não aconteça que venham os seus discípulos roubá-lo e digam ao povo: "Ressuscitou dos mortos". Esta última impostura seria pior do que a primeira». <span style="color:red"><sup>65</sup></span>Disse-lhes Pilatos: «Tendes a guarda. Ide embora e protegei-o como entenderdes». <span style="color:red"><sup>66</sup></span>Eles foram e protegeram o túmulo, selando a pedra e montando a guarda.
 
 
28 Ressurreição de Jesus (Mc 16,1-8; Lc 24,1-12; Jo 20,1-18) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Depois do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana<ref name="ftn313">Após o pôr-do-sol de sábado, recomeça a vida (e a semana) no judaísmo.</ref>, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>E eis que houve um grande tremor de terra, pois um anjo do Senhor, descendo do céu e aproximando-se, rolou a pedra e sentou-se em cima dela. <span style="color:red"><sup>3</sup></span>O seu aspeto era como um relâmpago e a sua roupa branca como neve. <span style="color:red"><sup>4</sup></span>Com medo dele, os guardas tremeram e ficaram como mortos. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Mas, em resposta, o anjo disse às mulheres: «Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, o crucificado. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Não está aqui, pois ressuscitou como disse. Vinde, vede o lugar onde jazia. <span style="color:red"><sup>7</sup></span>E ide rapidamente dizer aos seus discípulos: "Ressuscitou dos mortos! E eis que vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis". Eis que vo-lo disse». <span style="color:red"><sup>8</sup></span>E, ao afastar-se rapidamente do sepulcro, com medo e uma grande alegria, correram a anunciar aos seus discípulos.
 
<span style="color:red"><sup>9</sup></span>Mas eis que Jesus foi ao seu encontro, dizendo: "Salve!". Aproximando-se, elas agarraram-se-lhe aos pés e ajoelharam-se diante dele. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>Disse-lhes, então, Jesus: «Não tenhais medo! Ide, anunciai aos meus irmãos que partam para a Galileia, e aí me verão».
 
 
Embuste dos sacerdotes – <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Enquanto elas iam a caminho, eis que alguns dos guardas foram à cidade anunciar aos chefes dos sacerdotes tudo o que acontecera. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Reuniram-se, então, com os anciãos e concordaram, em conselho, em dar uma considerável soma de dinheiro aos soldados, <span style="color:red"><sup>13</sup></span>dizendo: «Dizei que os seus discípulos vieram de noite roubá-lo, enquanto nós dormíamos. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>E, se isto chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vós fiqueis livres de preocupações<ref name="ftn314">Lit: ''e far-vos-emos despreocupados''.</ref>». <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Eles, ao receberem o dinheiro, fizeram como tinham sido instruídos. E esta versão espalhou-se entre os judeus, até ao dia de hoje.
 
 
Jesus aparece aos onze – <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Quando o viram, ajoelharam-se, mas duvidaram. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Jesus, ao aproximar-se, falou-lhes dizendo: «Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Ide, fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, <span style="color:red"><sup>20</sup></span>ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que Eu estou convosco<ref name="ftn315">O evangelho termina com uma grande inclusão: a presença inicial de Deus em Jesus – como ''Emanuel: Deus connosco'' (Mt 1,23) – é retomada na promessa conclusiva – ''Eu estou convosco''.</ref> todos os dias, até à consumação dos tempos».
 
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Latest revision as of 15:08, 19 December 2019

Visita dos magos – 1Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia[1], nos dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos[2] do oriente a Jerusalém, 2dizendo: «Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo». 3Ao ouvir isto, o rei Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. 4Reunindo, então, todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei do povo[3], procurava saber junto deles onde nasceria o Cristo. 5E eles disseram-lhe: «Em Belém da Judeia, pois assim está escrito por meio do profeta:

6E tu, Belém, terra de Judá,

de modo algum és a mais

pequena entre as chefias de Judá;

porque de ti sairá um chefe,

aquele que apascentará o meu povo, Israel»[4].

7Então Herodes, depois de secretamente chamar os magos, inquiriu-os cuidadosamente acerca do tempo em que a estrela tinha aparecido 8e, ao enviá-los a Belém, disse: «Ide e indagai cuidadosamente acerca do menino. Assim que o encontrardes, anunciai-me, para que também eu o vá adorar».

9Tendo ouvido o rei, eles foram, e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, avançava à sua frente, até que ao chegar parou sobre onde estava o menino. 10Ao ver a estrela, sentiram uma alegria imensa[5]. 11Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, caindo por terra[6], adoraram-no. Ao abrirem, então, os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra[7]. 12E, tendo sido avisados num sonho para não retornarem a Herodes, retiraram-se por outro caminho para a sua terra.


Fuga para o Egito – 13Depois de eles se retirarem, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José, dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, foge para o Egito[8] e fica por lá até que eu te diga, pois Herodes está prestes a procurar o menino para o matar».

14Então ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe durante a noite e retirou-se para o Egito. 15Ali permaneceu até à morte de Herodes, para que assim se cumprisse[9] o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta que diz:

Do Egito chamei o meu filho[10].


Martírio dos meninos em Belém – 16Herodes, ao ver que tinha sido escarnecido pelos magos, ficou muito irado e mandou executar, em Belém e em todas as suas regiões, todos os meninos que tivessem dois anos ou menos[11], de acordo com o tempo que tinha inquirido cuidadosamente junto dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz:

18Uma voz em Ramá foi ouvida,

um choro e grande lamento;

era Raquel chorando os seus filhos

e não queria ser consolada,

porque já não existiam[12].


Regresso do Egito – 19Quando morreu Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egito, 20dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe e vai para a terra de Israel, pois morreram os que procuravam tirar a vida do menino[13]». 21Ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe, e foi para a terra de Israel. 22Ao ouvir, porém, que Arquelau[14] reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Avisado num sonho, retirou-se para a região da Galileia 23e veio morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que foi dito por meio dos profetas: «Será chamado nazareno[15]».



  1. A narrativa de Mt deseja transmitir o conflito entre as duas realezas, a de Herodes e a de Jesus. Os judeus, a começar pelo seu rei e pela capital, Jerusalém, deviam aceitar o seu Messias, mas foram os magos, em busca da verdade, que o aceitaram.
  2. O episódio dos magos é exclusivo de Mt. Este episódio acontece sob o reinado de Herodes, o Grande (um rei aliado, rex socius, de Roma), filho de Antípatro, que viveu entre 73 a.C – 4 a.C. O mágos era um membro da casta sacerdotal persa.
  3. Os arkhiereîs (que traduzimos sempre por os chefes dos sacerdotes) e os grammateîs (sempre traduzido por os doutores da lei, ou seja, os entendidos na Torá, a Lei judaica) faziam parte do sinédrio, a autoridade máxima para os judeus, com sede em Jerusalém. Era presidida por um sumo-sacerdote e constituída por mais setenta membros.
  4. Citação mista de 2Sm 5,2 (LXX) e 1Cr 11,2 com Mq 5,1-3. Belém está relacionada com David a partir da sua bisavó Rute (Rt 1,1-4; cf. 1Sm 16; 17,12). Cf. Jo 7,32.
  5. Lit.: alegraram-se com uma grande alegria.
  6. Por terra é acrescento da tradução.
  7. Nestes três presentes estão espelhados a realeza de Jesus (ouro), o seu sacerdócio e divindade (incenso), a sua capacidade profética e o seu sofrimento (mirra). Segundo a Escritura, estas seriam as dádivas dos povos ao Messias que haveria de vir a Israel (cf. Sl 72,10.11.15; Is 60,6.11.13).
  8. Para o Egito peregrinaram Abraão (Gn 12,10-20), Lot (Gn 19,15) e Jacob (Gn 46,2-4).
  9. O cumprimento de que fala Mt não corresponde ao pēcher judaico ou qumrânico (comentário versículo a versículo do texto hebraico), pois o primeiro parte de um acontecimento histórico lido como o culminar de vaticínios, enquanto o segundo tem como ponto de partida um texto bíblico e tenta compreendê-lo.
  10. Os 11,1. Mt segue o texto hebraico, porque os LXX, o targum e Teodocião apresentam tékna (crianças, filhinhos) em vez de huiós (filho). Ramá situa-se a norte de Jerusalém. Ao vir do Egito, Jesus aparece como um novo Moisés.
  11. Herodes repete a violência do faraó em Ex 1,16.
  12. Jr 31,15. Belém, segundo a tradição, é o lugar onde Raquel fora sepultada, e em Ramá reuniram-se os deportados levados para o exílio (Jr 40,1).
  13. Lit.: procuravam a vida do menino.
  14. Arquelau era filho de Herodes, o Grande, e era tão violento quanto o pai. Governou os territórios da Judeia, Idumeia e Samaria de 4 a.C. – 6 d.C. Foi destituído por Roma e substituído por um procurador romano.
  15. O nazareno evoca o nētser (o rebento de Is 11,1) e o nāzîr (o consagrado), na linha de Sansão e de Samuel (cf. Nm 6,1-21; Jz 13-16; 1Sm 1,22).



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