Mt 19

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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Subida e ministério
em Jerusalém (19,1-25,46)


A caminho de Jerusalém
(19,1-20,34)


Ida para a Judeia (Mc 10,1; Lc 9,51) – 1E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras[1], partiu da Galileia e foi para a região da Judeia, na outra margem do Jordão[2]. 2Seguiram-no numerosas multidões e ali as curou.


Matrimónio, divórcio e celibato (Mc 10,2-12; Lc 16,18) – 3Vieram ter com Ele uns fariseus para o pôr à prova, dizendo: «É permitido a um homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?». 4Ele, respondendo, disse: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez macho e fêmea? 5E disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher[3], e serão os dois uma só carne, 6de modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não separe o homem». 7Disseram-lhe: «Então porque ordenou Moisés dar uma declaração de divórcio e repudiá-la[4]. 8Disse-lhes: «Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres, mas não foi assim desde o princípio. 9Mas digo-vos: aquele que repudiar a sua mulher – a não ser em caso de promiscuidade – e casar com outra, comete adultério»[5].

10Disseram-lhe os seus discípulos: «Se é assim a condição do homem em relação à mulher[6], não convém casar-se». 11Ele disse-lhes: «Nem todos aceitam esta palavra, mas apenas aqueles a quem foi concedido. 12Pois há eunucos que assim nasceram do ventre da sua mãe, há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. O que puder aceitar, que aceite».


Jesus e as crianças (Mc 10,13-16; Lc 18,15-17) – 13Trouxeram-lhe, então, algumas crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nas severamente. 14Jesus, porém, disse: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim; pois dos que são como elas é o reino dos céus». 15E, depois de lhes impor as mãos, partiu dali.


O homem rico (Mc 10,17-22; Lc 18,18-23) – 16Eis então que um homem, indo ter com Ele, disse: «Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?». 17Ele disse-lhe: «Porque me perguntas sobre o que é bom? Bom é um só. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos». 18Disse-lhe ele: «Quais?». Jesus disse: «Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, 19honra o pai e a mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo»[7]. 20Disse-lhe o jovem: «Tudo isso tenho observado. O que me falta ainda?». 21Disse-lhe Jesus: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus. Então vem e segue-me». 22Ao ouvir estas palavras, o jovem foi-se embora triste, porque tinha muitas posses.


Os ricos e o reino de Deus (Mc 10,23-27; Lc 18,24-27) – 23Então Jesus disse aos seus discípulos: «Amen vos digo: dificilmente um rico entrará no reino dos céus. 24Digo-vos de novo: é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». 25Ao ouvir isto, os discípulos ficaram muito perplexos e disseram: «Quem pode então ser salvo?». 26Fixando o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível».


Recompensa pelo desprendimento (Mc 10,28-31; Lc 18,28-30) – 27Então, em resposta, Pedro disse-lhe: «Eis que nós deixámos tudo e seguimos-te. Que recompensa teremos?». 28Jesus disse-lhes: «Amen vos digo: no tempo da renovação, quando o Filho do Homem se sentar no trono da sua glória, vós, que me seguistes, sentar-vos-eis também em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que tenha deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna. 30Porém, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos primeiros».



  1. Com esta fórmula semelhante às de 7,28s; 11,1; 13,53 e 26,1s, Mt indica que começa uma nova secção no evangelho.
  2. O quinto bloco não foge ao tema difícil do juízo escatológico, sobretudo nos caps. 24-25. Tal como nos discursos anteriores, Jesus vai ensinando a propósito de questões muito concretas, neste caso quando começa aqui a sua subida para Jerusalém.
  3. Jesus não entra numa resposta simplista, mas distingue desde o início aquilo que não convinha aos fariseus: há uma diferença entre o começo e a origem. Jesus remete para a origem citando Gn 1,27 e 2,24. Os fariseus não gostam de ouvir isto, porque, legalistas como são, querem que Dt 24,1-4 (um texto da tradição oral) valha tanto quanto o sexto mandamento (texto da Torah che biktav, a tradição escrita). Jesus recorda-lhes que Moisés começou a tolerar a prática do divórcio, contra a qual Jesus se posiciona, remetendo para o Decálogo e para o mandamento divino das origens relatado no livro do Génesis.
  4. Dt 24,1.
  5. Mt apresenta o mesmo princípio de 1Co 7,14-15 (o chamado privilégio paulino) e aqui repete os ensinamentos de Jesus, que coloca a esposa numa situação paritária face ao esposo, o que é uma enorme novidade para o judaísmo palestinense do primeiro séc.. As exigências, os direitos e os deveres matrimoniais são os mesmos para eles e para elas. Além disso, mesmo sendo objetivamente contra o divórcio, Jesus assume uma postura pastoral, pois concede que existem situações, exceções em que não se trata de adultério.
  6. Lit.: se assim é a causa do homem com a mulher.
  7. Ex 20,12-16; Dt 5,16-20. Mt não cita os mandamentos na ordem em que surgem no Sinai. Além disso, não são citados os mandamentos sobre o exclusivo e total amor a Deus.



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