Difference between revisions of "Mt 3"

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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3 João, o Batista (Mc 1,2-8; Lc 3,3-6.15-17) – 1Naqueles dias, veio João Batista pregar no deserto da Judeia, 2dizendo: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus<ref name="ftn300">A expressão ''reino dos céus'' substitui ''reino de Deus'', porque Mt evita usar o santo Nome de Deus, à boa maneira da tradição judaica. Além disso, ''reino dos céus ''era uma locução sinagogal que já encontramos em Yohanan ben-Zakkai (''mQidd'' 1,59d).</ref>».  
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3 João, o Batista (Mc 1,2-8; Lc 3,3-6.15-17) – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Naqueles dias, veio João Batista pregar no deserto da Judeia, <span style="color:red"><sup>2</sup></span>dizendo: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus<ref name="ftn26">A expressão ''reino dos céus'' substitui ''reino de Deus'', porque Mt evita usar o santo Nome de Deus, à boa maneira da tradição judaica. Além disso, ''reino dos céus ''era uma locução sinagogal que já encontramos em Yohanan ben-Zakkai (''mQidd'' 1,59d).</ref>».  
  
3De facto, sobre ele foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
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<span style="color:red"><sup>3</sup></span>De facto, sobre ele foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:
  
 
''Uma voz clama no deserto:''
 
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''endireitai as suas veredas”''<ref name="ftn299">Is 40,3.</ref>''.''
 
 
 
4Ele, João, tinha a sua roupa feita a partir de pelos de camelo e uma correia de couro à volta dos rins; o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre<ref name="ftn298">João vestia-se à maneira de alguns profetas, como Elias (cf. 17,10-13; Ex 9,17; 2Rs 1,8; Zc 13,4). A forma como se alimenta sublinha o seu ascetismo.</ref>. 5Então acorriam a ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região do Jordão, 6e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
 
 
 
7Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus<ref name="ftn297">Este é considerado por vários autores como o começo do hipotético documento Q (do alemão ''Quelle'', a ''fonte'' dos ditos de Jesus comuns a Mt e Lc, e não presentes em Mc). Os fariseus (''perûchim, os separados'') eram um grupo de zelosos observantes da Torá (a Lei), surgido no séc. II a.C., que por isso se consideravam separados para a salvação face aos demais (cf. Flávio Josefo,'' Bell. Jud.'' II,8.2). Os saduceus (grupo aristocrata da classe sacerdotal) tinham assento no sinédrio, tal como os fariseus, mas, ao contrário destes, não acreditavam na ressurreição (por não ser referida no Pentateuco), nem nos anjos, nem na tradição oral, nem na providência divina.</ref> vinham ao batismo dele, disse-lhes: «Geração de víboras, quem vos mostrou como fugir da ira que está prestes a chegar? 8Produzi um fruto digno da conversão; 9e não penseis dizer entre vós: “Temos por pai Abraão”, pois digo-vos que Deus é capaz de fazer erguer destas pedras filhos de Abraão. 10O machado já está à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. 11Eu batizo-vos na água para a conversão; porém, aquele que vem atrás de mim é mais forte<ref name="ftn296">''Forte'' é um dos adjetivos usados no AT para qualificar Deus (cf. Jr 32,18; Dn 9,4). Na tradição rabínica o discípulo era suposto calçar o seu mestre (cf. ''bKet'' 96).</ref> do que eu, e eu não sou digno de levar-lhe as sandálias; Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. 12Tem a pá na sua mão, limpará a sua eira e recolherá o seu trigo no celeiro; mas queimará a palha num fogo que não se apaga».
 
 
 
 
 
Batismo de Jesus (Mc 1,9-11; Lc 3,21s) – 13Veio então Jesus da Galileia para o Jordão ter com João para ser batizado por ele. 14Mas João opunha-se, dizendo-lhe: «Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por ti, e és Tu que vens ter comigo?».15Respondendo, Jesus disse-lhe: «Deixa por agora. É conveniente que assim cumpramos toda a justiça<ref name="ftn295">A justiça aqui é vista por Mt, tal como na literatura de Qumran (conjunto dos escritos – 200 a.C./68 d.C – da comunidade dos essénios encontrados em Qumran, nas margens do Mar Morto) e dos Tanaîm (sábios judeus compiladores da ''Torah che be-‘alpê'', a tradição oral), como uma imposição humana ético-religiosa ou uma exigência jurídica que é preciso cumprir. Pode considerar-se aqui uma ''justiça inferior'', equivalente à ''tsédeq'' hebraica (justiça forense). Mas em Mt 5,20 e 6,2 tratar-se-á de uma ''justiça superior'' (mais perto da ''tsedāqāh'', a justiça em si), a qual sintomaticamente Mt traduzirá por ''compaixão'' / ''misericórdia'' (''eleēmosýnē''), mais próximo do correspondente aramaico de ''tsidqā’'' (cf. ''mAvot'' 1,13).</ref>». Então João deixou que assim fosse. 16Tendo Jesus sido batizado, imediatamente saiu da água, e eis que os céus se abriram para Ele, e viu o Espírito de Deus a descer como uma pomba e vir sobre Ele. 17E eis que veio uma voz dos céus, dizendo: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo».
 
 
 
 
 
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''endireitai as suas veredas"''<ref name="ftn27">Is 40,3.</ref>''.''
  
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<span style="color:red"><sup>4</sup></span>Ele, João, tinha a sua roupa feita a partir de pelos de camelo e uma correia de couro à volta dos rins; o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre<ref name="ftn28">João vestia-se à maneira de alguns profetas, como Elias (cf. 17,10-13; Ex 9,17; 2Rs 1,8; Zc 13,4). A forma como se alimenta sublinha o seu ascetismo.</ref>. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Então acorriam a ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região do Jordão, <span style="color:red"><sup>6</sup></span>e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
  
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<span style="color:red"><sup>7</sup></span>Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus<ref name="ftn29">Este é considerado por vários autores como o começo do hipotético documento Q (do alemão ''Quelle'', a ''fonte'' dos ditos de Jesus comuns a Mt e Lc, e não presentes em Mc). Os fariseus (''perûchim, os separados'') eram um grupo de zelosos observantes da Torá (a Lei), surgido no séc. II a.C., que por isso se consideravam separados para a salvação face aos demais (cf. Flávio Josefo,'' Bell. Jud.'' II,8.2). Os saduceus (grupo aristocrata da classe sacerdotal) tinham assento no sinédrio, tal como os fariseus, mas, ao contrário destes, não acreditavam na ressurreição (por não ser referida no Pentateuco), nem nos anjos, nem na tradição oral, nem na providência divina.</ref> vinham ao batismo dele, disse-lhes: «Geração de víboras, quem vos mostrou como fugir da ira que está prestes a chegar? <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Produzi um fruto digno da conversão; <span style="color:red"><sup>9</sup></span>e não penseis dizer entre vós: "Temos por pai Abraão", pois digo-vos que Deus é capaz de fazer erguer destas pedras filhos de Abraão. <span style="color:red"><sup>10</sup></span>O machado já está à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. <span style="color:red"><sup>11</sup></span>Eu batizo-vos na água para a conversão; porém, aquele que vem atrás de mim é mais forte<ref name="ftn30">''Forte'' é um dos adjetivos usados no AT para qualificar Deus (cf. Jr 32,18; Dn 9,4). Na tradição rabínica o discípulo era suposto calçar o seu mestre (cf. ''bKet'' 96).</ref> do que eu, e eu não sou digno de levar-lhe as sandálias; Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Tem a pá na sua mão, limpará a sua eira e recolherá o seu trigo no celeiro; mas queimará a palha num fogo que não se apaga».
  
  
== Capítulos ==
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Batismo de Jesus (Mc 1,9-11; Lc 3,21s) – <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Veio então Jesus da Galileia para o Jordão ter com João para ser batizado por ele. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Mas João opunha-se, dizendo-lhe: «Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por ti, e és Tu que vens ter comigo?».<span style="color:red"><sup>15</sup></span>Respondendo, Jesus disse-lhe: «Deixa por agora. É conveniente que assim cumpramos toda a justiça<ref name="ftn31">A justiça aqui é vista por Mt, tal como na literatura de Qumran (conjunto dos escritos – 200 a.C./68 d.C – da comunidade dos essénios encontrados em Qumran, nas margens do Mar Morto) e dos Tanaîm (sábios judeus compiladores da ''Torah che be-'alpê'', a tradição oral), como uma imposição humana ético-religiosa ou uma exigência jurídica que é preciso cumprir. Pode considerar-se aqui uma ''justiça inferior'', equivalente à ''tsédeq'' hebraica (justiça forense). Mas em Mt 5,20 e 6,2 tratar-se-á de uma ''justiça superior'' (mais perto da ''tsedāqāh'', a justiça em si), a qual sintomaticamente Mt traduzirá por ''compaixão'' / ''misericórdia'' (''eleēmosýnē''), mais próximo do correspondente aramaico de ''tsidqā''' (cf. ''mAvot'' 1,13).</ref>». Então João deixou que assim fosse. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Tendo Jesus sido batizado, imediatamente saiu da água, e eis que os céus se abriram para Ele, e viu o Espírito de Deus a descer como uma pomba e vir sobre Ele. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>E eis que veio uma voz dos céus, dizendo: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo».
[[Mt_1|Mt 1]] [[Mt_2|Mt 2]] [[Mt_3|Mt 3]] [[Mt_4|Mt 4]] [[Mt_5|Mt 5]] [[Mt_6|Mt 6]] [[Mt_7|Mt 7]] [[Mt_8|Mt 8]] [[Mt_9|Mt 9]] [[Mt_10|Mt 10]] [[Mt_11|Mt 11]] [[Mt_12|Mt 12]] [[Mt_13|Mt 13]] [[Mt_14|Mt 14]] [[Mt_15|Mt 15]] [[Mt_16|Mt 16]] [[Mt_17|Mt 17]] [[Mt_18|Mt 18]] [[Mt_19|Mt 19]] [[Mt_20|Mt 20]] [[Mt_21|Mt 21]] [[Mt_22|Mt 22]] [[Mt_23|Mt 23]] [[Mt_24|Mt 24]] [[Mt_25|Mt 25]] [[Mt_26|Mt 26]] [[Mt_27|Mt 27]] [[Mt_28|Mt 28]]
 

Revision as of 11:17, 14 December 2019

II
MANIFESTAÇÃO PÚBLICA DE JESUS (3,1-4,25)


3 João, o Batista (Mc 1,2-8; Lc 3,3-6.15-17) – 1Naqueles dias, veio João Batista pregar no deserto da Judeia, 2dizendo: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus[1]».

3De facto, sobre ele foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:

Uma voz clama no deserto:

"Preparai o caminho do Senhor,

endireitai as suas veredas"[2].

4Ele, João, tinha a sua roupa feita a partir de pelos de camelo e uma correia de couro à volta dos rins; o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre[3]. 5Então acorriam a ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região do Jordão, 6e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.

7Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus[4] vinham ao batismo dele, disse-lhes: «Geração de víboras, quem vos mostrou como fugir da ira que está prestes a chegar? 8Produzi um fruto digno da conversão; 9e não penseis dizer entre vós: "Temos por pai Abraão", pois digo-vos que Deus é capaz de fazer erguer destas pedras filhos de Abraão. 10O machado já está à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. 11Eu batizo-vos na água para a conversão; porém, aquele que vem atrás de mim é mais forte[5] do que eu, e eu não sou digno de levar-lhe as sandálias; Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. 12Tem a pá na sua mão, limpará a sua eira e recolherá o seu trigo no celeiro; mas queimará a palha num fogo que não se apaga».


Batismo de Jesus (Mc 1,9-11; Lc 3,21s) – 13Veio então Jesus da Galileia para o Jordão ter com João para ser batizado por ele. 14Mas João opunha-se, dizendo-lhe: «Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por ti, e és Tu que vens ter comigo?».15Respondendo, Jesus disse-lhe: «Deixa por agora. É conveniente que assim cumpramos toda a justiça[6]». Então João deixou que assim fosse. 16Tendo Jesus sido batizado, imediatamente saiu da água, e eis que os céus se abriram para Ele, e viu o Espírito de Deus a descer como uma pomba e vir sobre Ele. 17E eis que veio uma voz dos céus, dizendo: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo».

  1. A expressão reino dos céus substitui reino de Deus, porque Mt evita usar o santo Nome de Deus, à boa maneira da tradição judaica. Além disso, reino dos céus era uma locução sinagogal que já encontramos em Yohanan ben-Zakkai (mQidd 1,59d).
  2. Is 40,3.
  3. João vestia-se à maneira de alguns profetas, como Elias (cf. 17,10-13; Ex 9,17; 2Rs 1,8; Zc 13,4). A forma como se alimenta sublinha o seu ascetismo.
  4. Este é considerado por vários autores como o começo do hipotético documento Q (do alemão Quelle, a fonte dos ditos de Jesus comuns a Mt e Lc, e não presentes em Mc). Os fariseus (perûchim, os separados) eram um grupo de zelosos observantes da Torá (a Lei), surgido no séc. II a.C., que por isso se consideravam separados para a salvação face aos demais (cf. Flávio Josefo, Bell. Jud. II,8.2). Os saduceus (grupo aristocrata da classe sacerdotal) tinham assento no sinédrio, tal como os fariseus, mas, ao contrário destes, não acreditavam na ressurreição (por não ser referida no Pentateuco), nem nos anjos, nem na tradição oral, nem na providência divina.
  5. Forte é um dos adjetivos usados no AT para qualificar Deus (cf. Jr 32,18; Dn 9,4). Na tradição rabínica o discípulo era suposto calçar o seu mestre (cf. bKet 96).
  6. A justiça aqui é vista por Mt, tal como na literatura de Qumran (conjunto dos escritos – 200 a.C./68 d.C – da comunidade dos essénios encontrados em Qumran, nas margens do Mar Morto) e dos Tanaîm (sábios judeus compiladores da Torah che be-'alpê, a tradição oral), como uma imposição humana ético-religiosa ou uma exigência jurídica que é preciso cumprir. Pode considerar-se aqui uma justiça inferior, equivalente à tsédeq hebraica (justiça forense). Mas em Mt 5,20 e 6,2 tratar-se-á de uma justiça superior (mais perto da tsedāqāh, a justiça em si), a qual sintomaticamente Mt traduzirá por compaixão / misericórdia (eleēmosýnē), mais próximo do correspondente aramaico de tsidqā' (cf. mAvot 1,13).