Sl 16
16(15) Deus, refúgio e vida
1 Elegia. De David.
Guarda-me, ó Deus[1], que em ti me refugio[2].
2 Pois eu disse ao Senhor: «Tu és o meu Senhor.
- Não tenho outro bem acima de ti!».
3 Quanto aos deuses[3] que existem no país,
- os poderosos, a quem dedicam todo o seu apreço[4],
4 multipliquem as suas dores os que a eles acorrem.
- Que eu não lhes apresentarei libações de sangue
- nem erguerei os seus nomes nos meus lábios.
5 És Tu, Senhor, a porção que me toca e o meu cálice;
- Tu manténs segura a minha sorte.
6 Recebi a minha parte de herança[5] num lugar delicioso.
- Sim, é bela a herança que me coube!
7 Quero bendizer o Senhor que me aconselha;
- mesmo de noite as minhas entranhas me advertem[6].
8 Tenho sempre o Senhor diante de mim;
- com Ele à minha direita jamais vacilarei.
9 Por isso, o meu coração se alegra e o meu ser[7] exulta
- e o meu corpo repousa em segurança.
10 Pois Tu não me abandonarás no mundo dos mortos,
- não deixarás que o teu fiel experimente a corrupção.
11 Hás de ensinar-me o caminho da vida,
- saciando-me de alegrias na tua presença
- e delícias eternas, à tua direita[8].
- ↑ Este salmo designa Deus pelo termo genérico El, que era muito conhecido na região, pois era com ele que em toda aquela região se designava a divindade que se encontrava acima de todo o panteão. Este título, que a Bíblia aplica naturalmente a Deus, volta a encontrar-se nos salmos 10,11-12; 17,6. No saltério é, portanto, bem menos frequente que outros nomes ou títulos para designar Deus, como sejam ’elohim, Javé ou Adonai. Com efeito, este salmo está concentrado numa confissão entusiasta da fé em Javé, em contraste com práticas de alguns seus contemporâneos hebreus que se apressavam a correr atrás de outras divindades (vv. 3-4).
- ↑ Este salmo individual de confiança é uma profissão de fé em Deus como supremo bem, contrariamente a outras divindades conhecidas no país e procuradas por muitos seus contemporâneos. A sua confiança não cobre apenas os problemas desta vida, mas prolonga-se igualmente sobre os enigmas de depois da morte.
- ↑ Lit.: santos.
- ↑ No seu conjunto, o texto hebraico dos vv. 3-4 é de difícil interpretação. Sobre essas dificuldades de tradução dão testemunho tanto as versões antigas como as mais recentes. As alternativas de leitura são ou referência às divindades pagãs então conhecidas ou aos santos, i.e., os fiéis a Deus que existiam em Israel. Os termos usados e o contexto de todo o salmo e particularmente do v. seguinte favorecem a primeira interpretação, apresentada em texto. O sentido da segunda via de interpretação pode ver-se na alternativa proposta pela NVg para o v. 3: In sanctos qui sunt in terra, inclitos viros, omnis voluntas mea in eos (Para os santos que existem no país, pessoas insignes, toda a minha boa vontade vai para eles).
- ↑ Lit.: as cordas destinaram-me sorte. Tirar à sorte usando umas cordas como método de escolha era um modo de proceder à partilha e distribuição de bens (Js 17,5).
- ↑ Lit.: os meus rins. Rins e coração são, segundo o modo de pensar semita, a sede dos sentimentos, dos pensamentos e das decisões (Sl 7,10; 26,2; Jr 11,20, etc.).
- ↑ Lit.: o meu fígado. Segundo a antropologia dos hebreus, o fígado é uma das referências que servem para representar a pessoa por inteiro, como acontece com a alma.
- ↑ Os dois últimos vv. exprimem de forma clara os dois caminhos que se apresentam para este mundo e para a vida depois dele: de um lado o Cheol, o mundo dos mortos, e do outro a vida eterna junto de Deus (Sl 17,15; Pr 2,18-19; 15,24).
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