Jo 13

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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Segunda Parte
LIVRO DA HORA DA PEREGRINAÇÃO GLORIOSA
PARA O PAI (13,1-20,29)


JESUS E OS DISCÍPULOS:
A ÚLTIMA CEIA (13-14; 15-17)[1]


O lava-pés – 1Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até à consumação[2]. 2Durante a ceia, quando o Diabo já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar, 3Jesus, sabendo que o Pai tudo lhe colocara nas mãos e que de Deus saíra e para Deus voltava, 4levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, atou-a à cintura. 5Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha atado à cintura[3]. 6Chegou, então, a Simão Pedro, que lhe disse: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». 7Respondeu Jesus e disse-lhe: «O que Eu estou a fazer, tu não o compreendes agora; entenderás depois». 8Disse-lhe Pedro: «Jamais me lavarás os pés!»[4]. Respondeu-lhe Jesus: «Se não te lavar, não terás parte comigo»[5]. 9Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, então não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça».10Disse-lhe Jesus: «Quem tomou banho não tem necessidade de lavar senão os pés, pois está inteiramente puro[6]. E vós estais puros, mas não todos». 11De facto, Ele sabia quem o haveria de entregar; por isso, disse: «Nem todos estais puros».

12Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as suas vestes, reclinou-se de novo à mesa, e disse-lhes: «Entendeis o que vos fiz? 13Vós chamais-me "o Mestre" e "o Senhor" e dizeis bem, porque sou. 14Ora, se Eu, "o Senhor" e "o Mestre", vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. 16Amen, amen vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior do que aquele que o enviou. 17Se compreendeis isto, felizes sereis se o fizerdes. 18Não falo de todos vós; Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é para que se cumpra a Escritura: O que come o meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar[7]. 19Desde já vo-lo digo, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou[8]. 20Amen, amen vos digo: quem recebe aquele que Eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou».


Anúncio da traição de Judas (Mt 26,20-25; Mc 14,18-21; Lc 22,21-23) – 21Tendo dito isto, Jesus sentiu-se profundamente perturbado, deu testemunho e disse: «Amen, amen vos digo: um de vós me há de entregar!». 22Os discípulos olhavam uns para os outros, sem perceber de quem falava. 23Ora, estava reclinado no seio de Jesus[9] um dos seus discípulos, aquele que Jesus amava[10]. 24Fez-lhe, então, sinal Simão Pedro para que procurasse saber quem seria aquele acerca de quem falava. 25Ele, assim reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: «Senhor, quem é?». 26Respondeu Jesus: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão que vou molhar». E, molhando o bocado de pão, tomou-o e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27E, depois do bocado de pão, entrou nele Satanás[11]. Disse-lhe, então, Jesus: «O que estás a fazer, faz depressa». 28Mas nenhum dos que estavam reclinados à mesa compreendeu porque lhe dissera isto; 29alguns pensavam que, uma vez que Judas tinha a bolsa do dinheiro, Jesus lhe tinha dito: «Compra aquilo de que temos necessidade para a festa», ou para dar alguma coisa aos pobres. 30Então, depois de tomar o bocado de pão, saiu imediatamente. Era noite[12].

31Quando ele saiu, disse Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e glorificá-lo-á imediatamente».


O mandamento novo – 33«Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; haveis de procurar-me e, tal como disse aos judeus: "para onde Eu vou, vós não podeis ir", também vo-lo digo agora[13]. 34Dou-vos um mandamento novo[14]: que vos ameis uns aos outros; como vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. 35Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros».


Anúncio da negação de Pedro (Mt 26,30-35; Mc 14,26-31; Lc 22,31-34) – 36Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?». Respondeu-lhe Jesus: «Para onde vou não podes agora seguir-me; seguir-me-ás depois». 37Disse-lhe Pedro: «Senhor, por que razão não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti!». 38Respondeu-lhe Jesus: «Darás a tua vida por mim? Amen, amen te digo: não cantará o galo, sem que me tenhas negado três vezes».



  1. Os temas apresentados nos caps. 13-14 são relidos nos caps. 15-16, que expressam uma fase posterior da comunidade, quando esta vive o drama das perseguições; o cap. 17 relê a oração de Jesus à luz da necessidade de a comunidade se manter unida. O que Jesus promete ou pede nesta secção (13-17) encontra a sua realização no encontro do Ressuscitado com os discípulos (20,19-29).
  2. A consumação (télos: fim/consumação) realizar-se-á na cruz (tetélestai: está consumado – 19,28.30). De notar a insistência no saber de Jesus (vv. 1.3): a consciência de que regressa ao Pai (cf. 3,13), levando à consumação o seu amor salvífico (cf. 3,14-16), depois da recíproca entrega da Mãe e do Discípulo Amado. Então poderá declarar: Está consumado (cf. 19,27 nota).
  3. Lavar os pés a outros era próprio de escravos não judeus. Daí a repulsa de Pedro. Trata-se de um gesto simbólico, que antecipa a morte de Jesus e representa toda a sua vida: despojou-se da sua dignidade (significada nas vestes) para manifestar o seu amor; o próprio Jesus interpreta o gesto e apresenta-o como um exemplo que os discípulos devem assumir (vv. 12-15).
  4. Lit.: Jamais me lavarás os pés para sempre.
  5. A expressão ter parte com é um semitismo que significa participação; aqui, no amor salvífico de Jesus. Para que tal aconteça, é preciso Pedro mudar de mentalidade e de critérios.
  6. O grego katharós tem um duplo sentido, ambos presentes na declaração de Jesus: limpo e puro.
  7. Sl 41,10.
  8. Evocação do nome divino revelado a Moisés; cf. 8,24.28.58; 18,5 (e provavelmente 4,26).
  9. Gesto necessário para poder olhar e falar com Jesus, tendo em conta a maneira greco-romana de comer (reclinando-se à mesa sobre um dos braços). Mas é também uma indicação simbólica: a presença da mesma expressão de 1,18, usada para falar da relação de intimidade de Jesus com o Pai (no seio/peito), indica que tal como, por essa razão, Jesus é o revelador do Pai, assim também o Discípulo Amado é o revelador de Jesus (cf. nota seguinte).
  10. É a primeira referência explícita ao Discípulo Amado, o autor do Evangelho (21,20.24), no sentido de ser a origem da tradição. Reaparece explicitamente em 19,25-27; 20,1-10; 21,7; 21,20-23, e de forma implícita em 18,15-16; 19,35 e provavelmente 1,40. O seu anonimato é um desafio ao leitor: tornar-se Discípulo Amado de Jesus (pela fidelidade e testemunho).
  11. Ao receber o pão (gesto que implica comunhão e intimidade), Judas entrega-se à mentira: o seu coração não está com Jesus, mas contra Ele. Por isso, entrou nele Satanás, o pai da mentira (cf. 8,44).
  12. Noite física e existencial: Judas está dominado pelas trevas.
  13. 8,22s.
  14. Cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-31; Lc 10,25-28. É novo no fundamento cristológico: Cristo é, com a total oferta da vida, simultaneamente fonte e modelo do amor cristão.




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