Difference between revisions of "Jo 13"
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− | 13 O lava-pés – <span style="color:red"><sup>1</sup></span>Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até à consumação<ref name="ftn181">A consumação (''télos'': ''fim/consumação'') realizar-se-á na cruz (''tetélestai'': ''está consumado'' – 19,28.30). De notar a insistência no ''saber'' de Jesus (vv. 1.3): a consciência de que regressa ao Pai (cf. 3,13), levando à consumação o seu amor salvífico (cf. 3,14-16), depois da recíproca entrega da Mãe e do Discípulo Amado. Então poderá declarar: ''Está consumado'' (cf. 19,27 nota).</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Durante a ceia, quando o Diabo já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar, <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Jesus, sabendo que o Pai tudo lhe colocara nas mãos e que de Deus saíra e para Deus voltava, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, atou-a à cintura. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha atado à cintura<ref name="ftn182">Lavar os pés a outros era próprio de escravos não judeus. Daí a repulsa de Pedro. Trata-se de um gesto simbólico, que antecipa a morte de Jesus e representa toda a sua vida: despojou-se da sua dignidade (significada nas vestes) para manifestar o seu amor; o próprio Jesus interpreta o gesto e apresenta-o como um exemplo que os discípulos devem assumir (vv. 12-15).</ref>. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Chegou, então, a Simão Pedro, que lhe disse: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Respondeu Jesus e disse-lhe: «O que Eu estou a fazer, tu não o compreendes agora; entenderás depois». <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Disse-lhe Pedro: «Jamais me lavarás os pés!»<ref name="ftn183">Lit.: ''Jamais me lavarás os pés para sempre''.</ref>. Respondeu-lhe Jesus: «Se não te lavar, não terás parte comigo»<ref name="ftn184">A expressão ''ter parte com'' é um semitismo que significa participação; aqui, no amor salvífico de Jesus. Para que tal aconteça, é preciso Pedro mudar de mentalidade e de critérios.</ref>. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, então não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça».<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Quem tomou banho não tem necessidade de lavar senão os pés, pois está inteiramente puro<ref name="ftn185">O grego ''katharós'' tem um duplo sentido, ambos presentes na declaração de Jesus: ''limpo'' e ''puro''.</ref>. E vós estais puros, mas não todos». <span style="color:red"><sup>11</sup></span>De facto, Ele sabia quem o haveria de entregar; por isso, disse: «Nem todos estais puros». | + | <center><span style="color:red">Segunda Parte</span></center> |
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+ | <center><span style="color:red">LIVRO DA HORA DA PEREGRINAÇÃO GLORIOSA</span></center> | ||
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+ | <center><span style="color:red">PARA O PAI (13,1-20,29)</span></center> | ||
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+ | <center><span style="color:red">Jesus e os discípulos:</span></center> | ||
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+ | <center><span style="color:red">a última ceia (13-14; 15-17)</span><ref name="ftn180">Os temas apresentados nos caps. 13-14 são relidos nos caps. 15-16, que expressam uma fase posterior da comunidade, quando esta vive o drama das perseguições; o cap. 17 relê a oração de Jesus à luz da necessidade de a comunidade se manter unida. O que Jesus promete ou pede nesta secção (13-17) encontra a sua realização no encontro do Ressuscitado com os discípulos (20,19-29). </ref></center> | ||
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+ | <span style="color:red">O lava-pés – </span><span style="color:red"><sup>1</sup></span>Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até à consumação<ref name="ftn181">A consumação (''télos'': ''fim/consumação'') realizar-se-á na cruz (''tetélestai'': ''está consumado'' – 19,28.30). De notar a insistência no ''saber'' de Jesus (vv. 1.3): a consciência de que regressa ao Pai (cf. 3,13), levando à consumação o seu amor salvífico (cf. 3,14-16), depois da recíproca entrega da Mãe e do Discípulo Amado. Então poderá declarar: ''Está consumado'' (cf. 19,27 nota).</ref>. <span style="color:red"><sup>2</sup></span>Durante a ceia, quando o Diabo já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar, <span style="color:red"><sup>3</sup></span>Jesus, sabendo que o Pai tudo lhe colocara nas mãos e que de Deus saíra e para Deus voltava, <span style="color:red"><sup>4</sup></span>levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, atou-a à cintura. <span style="color:red"><sup>5</sup></span>Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha atado à cintura<ref name="ftn182">Lavar os pés a outros era próprio de escravos não judeus. Daí a repulsa de Pedro. Trata-se de um gesto simbólico, que antecipa a morte de Jesus e representa toda a sua vida: despojou-se da sua dignidade (significada nas vestes) para manifestar o seu amor; o próprio Jesus interpreta o gesto e apresenta-o como um exemplo que os discípulos devem assumir (vv. 12-15).</ref>. <span style="color:red"><sup>6</sup></span>Chegou, então, a Simão Pedro, que lhe disse: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». <span style="color:red"><sup>7</sup></span>Respondeu Jesus e disse-lhe: «O que Eu estou a fazer, tu não o compreendes agora; entenderás depois». <span style="color:red"><sup>8</sup></span>Disse-lhe Pedro: «Jamais me lavarás os pés!»<ref name="ftn183">Lit.: ''Jamais me lavarás os pés para sempre''.</ref>. Respondeu-lhe Jesus: «Se não te lavar, não terás parte comigo»<ref name="ftn184">A expressão ''ter parte com'' é um semitismo que significa participação; aqui, no amor salvífico de Jesus. Para que tal aconteça, é preciso Pedro mudar de mentalidade e de critérios.</ref>. <span style="color:red"><sup>9</sup></span>Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, então não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça».<span style="color:red"><sup>10</sup></span>Disse-lhe Jesus: «Quem tomou banho não tem necessidade de lavar senão os pés, pois está inteiramente puro<ref name="ftn185">O grego ''katharós'' tem um duplo sentido, ambos presentes na declaração de Jesus: ''limpo'' e ''puro''.</ref>. E vós estais puros, mas não todos». <span style="color:red"><sup>11</sup></span>De facto, Ele sabia quem o haveria de entregar; por isso, disse: «Nem todos estais puros». | ||
<span style="color:red"><sup>12</sup></span>Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as suas vestes, reclinou-se de novo à mesa, e disse-lhes: «Entendeis o que vos fiz? <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Vós chamais-me "o Mestre" e "o Senhor" e dizeis bem, porque sou. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Ora, se Eu, "o Senhor" e "o Mestre", vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Amen, amen vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior do que aquele que o enviou. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Se compreendeis isto, felizes sereis se o fizerdes. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Não falo de todos vós; Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é para que se cumpra a Escritura: ''O que come o meu pão, ''levantou'' contra mim o ''seu'' calcanhar''<ref name="ftn186">Sl 41,10.</ref>. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Desde já vo-lo digo, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis que ''Eu Sou''<ref name="ftn187">Evocação do nome divino revelado a Moisés; cf. 8,24.28.58; 18,5 (e provavelmente 4,26).</ref>. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Amen, amen vos digo: quem recebe aquele que Eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou». | <span style="color:red"><sup>12</sup></span>Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as suas vestes, reclinou-se de novo à mesa, e disse-lhes: «Entendeis o que vos fiz? <span style="color:red"><sup>13</sup></span>Vós chamais-me "o Mestre" e "o Senhor" e dizeis bem, porque sou. <span style="color:red"><sup>14</sup></span>Ora, se Eu, "o Senhor" e "o Mestre", vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. <span style="color:red"><sup>15</sup></span>Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. <span style="color:red"><sup>16</sup></span>Amen, amen vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior do que aquele que o enviou. <span style="color:red"><sup>17</sup></span>Se compreendeis isto, felizes sereis se o fizerdes. <span style="color:red"><sup>18</sup></span>Não falo de todos vós; Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é para que se cumpra a Escritura: ''O que come o meu pão, ''levantou'' contra mim o ''seu'' calcanhar''<ref name="ftn186">Sl 41,10.</ref>. <span style="color:red"><sup>19</sup></span>Desde já vo-lo digo, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis que ''Eu Sou''<ref name="ftn187">Evocação do nome divino revelado a Moisés; cf. 8,24.28.58; 18,5 (e provavelmente 4,26).</ref>. <span style="color:red"><sup>20</sup></span>Amen, amen vos digo: quem recebe aquele que Eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou». | ||
− | Anúncio da traição de Judas (Mt 26,20-25; Mc 14,18-21; Lc 22,21-23) – <span style="color:red"><sup>21</sup></span>Tendo dito isto, Jesus sentiu-se profundamente perturbado, deu testemunho e disse: «Amen, amen vos digo: um de vós me há de entregar!». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Os discípulos olhavam uns para os outros, sem perceber de quem falava. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ora, estava reclinado no seio de Jesus<ref name="ftn188">Gesto necessário para poder olhar e falar com Jesus, tendo em conta a maneira greco-romana de comer (reclinando-se à mesa sobre um dos braços). Mas é também uma indicação simbólica: a presença da mesma expressão de 1,18, usada para falar da relação de intimidade de Jesus com o Pai (''no seio/peito''), indica que tal como, por essa razão, Jesus é o revelador do Pai, assim também o Discípulo Amado é o revelador de Jesus (cf. nota seguinte).</ref> um dos seus discípulos, aquele que Jesus amava<ref name="ftn189">É a primeira referência explícita ao Discípulo Amado, o autor do Evangelho (21,20.24), no sentido de ser a origem da tradição. Reaparece explicitamente em 19,25-27; 20,1-10; 21,7; 21,20-23, e de forma implícita em 18,15-16; 19,35 e provavelmente 1,40. O seu anonimato é um desafio ao leitor: tornar-se Discípulo Amado de Jesus (pela fidelidade e testemunho).</ref>. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Fez-lhe, então, sinal Simão Pedro para que procurasse saber quem seria aquele acerca de quem falava. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ele, assim reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: «Senhor, quem é?». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Respondeu Jesus: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão que vou molhar». E, molhando o bocado de pão, tomou-o e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>E, depois do bocado de pão, entrou nele Satanás<ref name="ftn190">Ao receber o pão (gesto que implica comunhão e intimidade), Judas entrega-se à mentira: o seu coração não está com Jesus, mas contra Ele. Por isso, ''entrou nele Satanás'', o pai da mentira (cf. 8,44).</ref>. Disse-lhe, então, Jesus: «O que estás a fazer, faz depressa». <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Mas nenhum dos que estavam reclinados à mesa compreendeu porque lhe dissera isto; <span style="color:red"><sup>29</sup></span>alguns pensavam que, uma vez que Judas tinha a bolsa do dinheiro, Jesus lhe tinha dito: «Compra aquilo de que temos necessidade para a festa», ou para dar alguma coisa aos pobres. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Então, depois de tomar o bocado de pão, saiu imediatamente. Era noite<ref name="ftn191">''Noite'' física e existencial: Judas está dominado pelas trevas.</ref>. | + | <span style="color:red">Anúncio da traição de Judas (Mt 26,20-25; Mc 14,18-21; Lc 22,21-23) – </span><span style="color:red"><sup>21</sup></span>Tendo dito isto, Jesus sentiu-se profundamente perturbado, deu testemunho e disse: «Amen, amen vos digo: um de vós me há de entregar!». <span style="color:red"><sup>22</sup></span>Os discípulos olhavam uns para os outros, sem perceber de quem falava. <span style="color:red"><sup>23</sup></span>Ora, estava reclinado no seio de Jesus<ref name="ftn188">Gesto necessário para poder olhar e falar com Jesus, tendo em conta a maneira greco-romana de comer (reclinando-se à mesa sobre um dos braços). Mas é também uma indicação simbólica: a presença da mesma expressão de 1,18, usada para falar da relação de intimidade de Jesus com o Pai (''no seio/peito''), indica que tal como, por essa razão, Jesus é o revelador do Pai, assim também o Discípulo Amado é o revelador de Jesus (cf. nota seguinte).</ref> um dos seus discípulos, aquele que Jesus amava<ref name="ftn189">É a primeira referência explícita ao Discípulo Amado, o autor do Evangelho (21,20.24), no sentido de ser a origem da tradição. Reaparece explicitamente em 19,25-27; 20,1-10; 21,7; 21,20-23, e de forma implícita em 18,15-16; 19,35 e provavelmente 1,40. O seu anonimato é um desafio ao leitor: tornar-se Discípulo Amado de Jesus (pela fidelidade e testemunho).</ref>. <span style="color:red"><sup>24</sup></span>Fez-lhe, então, sinal Simão Pedro para que procurasse saber quem seria aquele acerca de quem falava. <span style="color:red"><sup>25</sup></span>Ele, assim reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: «Senhor, quem é?». <span style="color:red"><sup>26</sup></span>Respondeu Jesus: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão que vou molhar». E, molhando o bocado de pão, tomou-o e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. <span style="color:red"><sup>27</sup></span>E, depois do bocado de pão, entrou nele Satanás<ref name="ftn190">Ao receber o pão (gesto que implica comunhão e intimidade), Judas entrega-se à mentira: o seu coração não está com Jesus, mas contra Ele. Por isso, ''entrou nele Satanás'', o pai da mentira (cf. 8,44).</ref>. Disse-lhe, então, Jesus: «O que estás a fazer, faz depressa». <span style="color:red"><sup>28</sup></span>Mas nenhum dos que estavam reclinados à mesa compreendeu porque lhe dissera isto; <span style="color:red"><sup>29</sup></span>alguns pensavam que, uma vez que Judas tinha a bolsa do dinheiro, Jesus lhe tinha dito: «Compra aquilo de que temos necessidade para a festa», ou para dar alguma coisa aos pobres. <span style="color:red"><sup>30</sup></span>Então, depois de tomar o bocado de pão, saiu imediatamente. Era noite<ref name="ftn191">''Noite'' física e existencial: Judas está dominado pelas trevas.</ref>. |
<span style="color:red"><sup>31</sup></span>Quando ele saiu, disse Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e glorificá-lo-á imediatamente». | <span style="color:red"><sup>31</sup></span>Quando ele saiu, disse Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. <span style="color:red"><sup>32</sup></span>Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e glorificá-lo-á imediatamente». | ||
− | O mandamento novo – <span style="color:red"><sup>33</sup></span>«Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; haveis de procurar-me e, tal como disse aos judeus: "para onde Eu vou, vós não podeis ir", também vo-lo digo agora<ref name="ftn192">8,22s.</ref>. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Dou-vos um mandamento novo<ref name="ftn193">Cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-31; Lc 10,25-28. É ''novo'' no fundamento cristológico: Cristo é, com a total oferta da vida, simultaneamente fonte e modelo do amor cristão.</ref>: que vos ameis uns aos outros; como vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros». | + | <span style="color:red">O mandamento novo – </span><span style="color:red"><sup>33</sup></span>«Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; haveis de procurar-me e, tal como disse aos judeus: "para onde Eu vou, vós não podeis ir", também vo-lo digo agora<ref name="ftn192">8,22s.</ref>. <span style="color:red"><sup>34</sup></span>Dou-vos um mandamento novo<ref name="ftn193">Cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-31; Lc 10,25-28. É ''novo'' no fundamento cristológico: Cristo é, com a total oferta da vida, simultaneamente fonte e modelo do amor cristão.</ref>: que vos ameis uns aos outros; como vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. <span style="color:red"><sup>35</sup></span>Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros». |
− | Anúncio da negação de Pedro (Mt 26,30-35; Mc 14,26-31; Lc 22,31-34) – <span style="color:red"><sup>36</sup></span>Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?». Respondeu-lhe Jesus: «Para onde vou não podes agora seguir-me; seguir-me-ás depois». <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Disse-lhe Pedro: «Senhor, por que razão não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti!». <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Respondeu-lhe Jesus: «Darás a tua vida por mim? Amen, amen te digo: não cantará o galo, sem que me tenhas negado três vezes». | + | <span style="color:red">Anúncio da negação de Pedro (Mt 26,30-35; Mc 14,26-31; Lc 22,31-34) – </span><span style="color:red"><sup>36</sup></span>Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?». Respondeu-lhe Jesus: «Para onde vou não podes agora seguir-me; seguir-me-ás depois». <span style="color:red"><sup>37</sup></span>Disse-lhe Pedro: «Senhor, por que razão não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti!». <span style="color:red"><sup>38</sup></span>Respondeu-lhe Jesus: «Darás a tua vida por mim? Amen, amen te digo: não cantará o galo, sem que me tenhas negado três vezes». |
Revision as of 12:27, 27 December 2019
O lava-pés – 1Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até à consumação[2]. 2Durante a ceia, quando o Diabo já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar, 3Jesus, sabendo que o Pai tudo lhe colocara nas mãos e que de Deus saíra e para Deus voltava, 4levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, atou-a à cintura. 5Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha atado à cintura[3]. 6Chegou, então, a Simão Pedro, que lhe disse: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». 7Respondeu Jesus e disse-lhe: «O que Eu estou a fazer, tu não o compreendes agora; entenderás depois». 8Disse-lhe Pedro: «Jamais me lavarás os pés!»[4]. Respondeu-lhe Jesus: «Se não te lavar, não terás parte comigo»[5]. 9Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, então não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça».10Disse-lhe Jesus: «Quem tomou banho não tem necessidade de lavar senão os pés, pois está inteiramente puro[6]. E vós estais puros, mas não todos». 11De facto, Ele sabia quem o haveria de entregar; por isso, disse: «Nem todos estais puros».
12Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as suas vestes, reclinou-se de novo à mesa, e disse-lhes: «Entendeis o que vos fiz? 13Vós chamais-me "o Mestre" e "o Senhor" e dizeis bem, porque sou. 14Ora, se Eu, "o Senhor" e "o Mestre", vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu vos fiz, vós façais também. 16Amen, amen vos digo: um servo não é maior do que o seu senhor, nem um apóstolo maior do que aquele que o enviou. 17Se compreendeis isto, felizes sereis se o fizerdes. 18Não falo de todos vós; Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é para que se cumpra a Escritura: O que come o meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar[7]. 19Desde já vo-lo digo, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis que Eu Sou[8]. 20Amen, amen vos digo: quem recebe aquele que Eu enviar, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou».
Anúncio da traição de Judas (Mt 26,20-25; Mc 14,18-21; Lc 22,21-23) – 21Tendo dito isto, Jesus sentiu-se profundamente perturbado, deu testemunho e disse: «Amen, amen vos digo: um de vós me há de entregar!». 22Os discípulos olhavam uns para os outros, sem perceber de quem falava. 23Ora, estava reclinado no seio de Jesus[9] um dos seus discípulos, aquele que Jesus amava[10]. 24Fez-lhe, então, sinal Simão Pedro para que procurasse saber quem seria aquele acerca de quem falava. 25Ele, assim reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: «Senhor, quem é?». 26Respondeu Jesus: «É aquele a quem Eu der o bocado de pão que vou molhar». E, molhando o bocado de pão, tomou-o e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. 27E, depois do bocado de pão, entrou nele Satanás[11]. Disse-lhe, então, Jesus: «O que estás a fazer, faz depressa». 28Mas nenhum dos que estavam reclinados à mesa compreendeu porque lhe dissera isto; 29alguns pensavam que, uma vez que Judas tinha a bolsa do dinheiro, Jesus lhe tinha dito: «Compra aquilo de que temos necessidade para a festa», ou para dar alguma coisa aos pobres. 30Então, depois de tomar o bocado de pão, saiu imediatamente. Era noite[12].
31Quando ele saiu, disse Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e glorificá-lo-á imediatamente».
O mandamento novo – 33«Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco; haveis de procurar-me e, tal como disse aos judeus: "para onde Eu vou, vós não podeis ir", também vo-lo digo agora[13]. 34Dou-vos um mandamento novo[14]: que vos ameis uns aos outros; como vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. 35Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros».
Anúncio da negação de Pedro (Mt 26,30-35; Mc 14,26-31; Lc 22,31-34) – 36Disse-lhe Simão Pedro: «Senhor, para onde vais?». Respondeu-lhe Jesus: «Para onde vou não podes agora seguir-me; seguir-me-ás depois». 37Disse-lhe Pedro: «Senhor, por que razão não posso seguir-te agora? Darei a minha vida por ti!». 38Respondeu-lhe Jesus: «Darás a tua vida por mim? Amen, amen te digo: não cantará o galo, sem que me tenhas negado três vezes».
- ↑ Os temas apresentados nos caps. 13-14 são relidos nos caps. 15-16, que expressam uma fase posterior da comunidade, quando esta vive o drama das perseguições; o cap. 17 relê a oração de Jesus à luz da necessidade de a comunidade se manter unida. O que Jesus promete ou pede nesta secção (13-17) encontra a sua realização no encontro do Ressuscitado com os discípulos (20,19-29).
- ↑ A consumação (télos: fim/consumação) realizar-se-á na cruz (tetélestai: está consumado – 19,28.30). De notar a insistência no saber de Jesus (vv. 1.3): a consciência de que regressa ao Pai (cf. 3,13), levando à consumação o seu amor salvífico (cf. 3,14-16), depois da recíproca entrega da Mãe e do Discípulo Amado. Então poderá declarar: Está consumado (cf. 19,27 nota).
- ↑ Lavar os pés a outros era próprio de escravos não judeus. Daí a repulsa de Pedro. Trata-se de um gesto simbólico, que antecipa a morte de Jesus e representa toda a sua vida: despojou-se da sua dignidade (significada nas vestes) para manifestar o seu amor; o próprio Jesus interpreta o gesto e apresenta-o como um exemplo que os discípulos devem assumir (vv. 12-15).
- ↑ Lit.: Jamais me lavarás os pés para sempre.
- ↑ A expressão ter parte com é um semitismo que significa participação; aqui, no amor salvífico de Jesus. Para que tal aconteça, é preciso Pedro mudar de mentalidade e de critérios.
- ↑ O grego katharós tem um duplo sentido, ambos presentes na declaração de Jesus: limpo e puro.
- ↑ Sl 41,10.
- ↑ Evocação do nome divino revelado a Moisés; cf. 8,24.28.58; 18,5 (e provavelmente 4,26).
- ↑ Gesto necessário para poder olhar e falar com Jesus, tendo em conta a maneira greco-romana de comer (reclinando-se à mesa sobre um dos braços). Mas é também uma indicação simbólica: a presença da mesma expressão de 1,18, usada para falar da relação de intimidade de Jesus com o Pai (no seio/peito), indica que tal como, por essa razão, Jesus é o revelador do Pai, assim também o Discípulo Amado é o revelador de Jesus (cf. nota seguinte).
- ↑ É a primeira referência explícita ao Discípulo Amado, o autor do Evangelho (21,20.24), no sentido de ser a origem da tradição. Reaparece explicitamente em 19,25-27; 20,1-10; 21,7; 21,20-23, e de forma implícita em 18,15-16; 19,35 e provavelmente 1,40. O seu anonimato é um desafio ao leitor: tornar-se Discípulo Amado de Jesus (pela fidelidade e testemunho).
- ↑ Ao receber o pão (gesto que implica comunhão e intimidade), Judas entrega-se à mentira: o seu coração não está com Jesus, mas contra Ele. Por isso, entrou nele Satanás, o pai da mentira (cf. 8,44).
- ↑ Noite física e existencial: Judas está dominado pelas trevas.
- ↑ 8,22s.
- ↑ Cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-31; Lc 10,25-28. É novo no fundamento cristológico: Cristo é, com a total oferta da vida, simultaneamente fonte e modelo do amor cristão.
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