Mc 15
Jesus perante Pilatos (Mt 27,1s.11-26; Lc 22,66; 23,1-4.17-25; Jo 18,29-19,1) – 1E imediatamente, de manhã cedo, os chefes dos sacerdotes, depois de se terem reunido em conselho com os anciãos, os doutores da lei e todo o sinédrio e de terem atado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos.
2Então, Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?». Ele, respondendo-lhe, disse: «Tu o dizes». 3Os chefes dos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas. 4Pilatos interrogou-o de novo, dizendo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas te acusam!». 5Mas Jesus nada mais respondeu, de tal forma que Pilatos ficou admirado[1].
6Ora, pela festa libertava-lhes sempre[2] um preso, aquele que pedissem. 7Havia um, chamado Barrabás[3], que estava preso com os revoltosos que tinham cometido um assassínio durante a revolta. 8Então a multidão, tendo subido[4], começou a pedir que lhes fizesse como sempre se fizera[5]. 9Pilatos respondeu-lhes, dizendo: «Quereis que vos liberte o rei dos judeus?», 10pois sabia que os chefes dos sacerdotes o tinham entregado por inveja.11Mas os chefes dos sacerdotes incitaram a multidão para que ele lhes libertasse antes Barrabás. 12De novo Pilatos, em resposta, dizia-lhes: «Então que quereis que faça daquele a quem chamais o rei dos judeus?»[6]. 13Eles gritaram de novo: «Crucifica-o!». 14Pilatos dizia-lhes: «Mas que mal fez?». Eles, porém, gritaram ainda mais: «Crucifica-o!».
15Então Pilatos, querendo contentar a multidão, libertou-lhes Barrabás e entregou Jesus, depois de o mandar flagelar, para ser crucificado.
Os soldados ridicularizam Jesus (Mt 27,27-31; Jo 19,2s) – 16Os soldados levaram-no para dentro do pátio, isto é, para o pretório[7], e convocaram toda a coorte. 17Revestiram-no de púrpura, puseram-lhe uma coroa de espinhos que tinham entrelaçado 18e começaram a saudá-lo: «Salve[8], ó rei dos judeus!». 19Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e, pondo-se de joelhos, prostravam-se diante dele. 20Depois de terem escarnecido dele, despiram-lhe a púrpura e vestiram-lhe as suas vestes. E levaram-no para fora, para o crucificarem.
Crucificação de Jesus (Mt 27,32-44; Lc 23,26.33-38; Jo 19,17-27) – 21Obrigaram, então, um homem que passava, um certo Simão de Cirene que vinha do campo, o pai de Alexandre e de Rufo, a levar-lhe a cruz. 22Levaram Jesus[9] ao lugar do Gólgota, que quer dizer «Lugar da Caveira», 23e davam-lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não o tomou.
24Crucificaram-no, então, e dividiram entre si as suas vestes, lançando sortes sobre elas[10], para verem o que levaria cada um. 25Era a hora tércia[11] quando o crucificaram. 26O letreiro da causa da sua condenação tinha escrito: «O rei dos judeus». 27E com Ele crucificaram dois salteadores, um à sua direita e outro à sua esquerda. [28][12].
29Os que passavam blasfemavam contra Ele, abanando as suas cabeças[13] e dizendo: «Eh! Tu, que destróis o templo e o edificas em três dias, 30salva-te a ti mesmo descendo da cruz!». 31Da mesma forma, também os chefes dos sacerdotes, escarnecendo entre si juntamente com os doutores da lei, diziam: «Salvou outros, mas a si mesmo não se pode salvar! 32O Cristo, o rei de Israel, que desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos!». Até os que estavam crucificados com Ele o insultavam.
Morte de Jesus (Mt 27,45-56; Lc 23,44-49; Jo 19,28-30) – 33À hora sexta fez-se trevas sobre toda a terra até à hora nona. 34E à hora nona, Jesus bradou com voz forte: «Eloí, Eloí, lemá sabakhtáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»[14]. 35Alguns dos que estavam perto, ao ouvirem isto, diziam: «Vede, está a chamar por Elias!». 36Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber dizendo: «Deixai! Vejamos se Elias o vem tirar dali».
37Então Jesus, soltando um forte grito, expirou. 38O véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. 39O centurião que estava diante dele, ao vê-lo expirar daquele modo, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!».
40Estavam também algumas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé[15], 41que o seguiam e o serviam, quando Ele estava na Galileia, e muitas outras que tinham subido com Ele para Jerusalém.
Sepultura de Jesus (Mt 27,57-61; Lc 23,50-55; Jo 19,38-42) – 42Já ao cair da tarde – visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado – 43José de Arimateia, proeminente membro do Conselho, que também esperava o reino de Deus, enchendo-se de coragem, foi ter com Pilatos e pediu o corpo de Jesus. 44Pilatos admirou-se de que já estivesse morto[16] e, chamando o centurião, interrogou-o sobre se tinha morrido há muito. 45Ao sabê-lo pelo centurião, concedeu o cadáver a José. 46Tendo comprado um lençol, José[17] desceu-o, envolveu-o no lençol, pô-lo num sepulcro, que tinha sido escavado na rocha, e rolou uma pedra contra a entrada do sepulcro. 47Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde tinha sido posto.
- ↑ Como o Servo anunciado por Isaías, Jesus não abre a boca diante daqueles que o maltratam (Is 53,7).
- ↑ Sempre é acrescento da tradução.
- ↑ Em aramaico bar-'abbas, que literalmente significa filho do pai.
- ↑ Possível referência ao facto de o pretório se localizar num lugar elevado.
- ↑ Lit.: que assim lhes fizesse.
- ↑ Outros mss. apresentam: Então que farei ao rei dos judeus?.
- ↑ Pretório designava a residência do governador (procurador) romano.
- ↑ Lit.: Alegra-te, que corresponde à saudação helénica.
- ↑ Jesus é acrescento da tradução.
- ↑ Sl 22,19, embora com diferenças textuais (LXX).
- ↑ A hora não aparece nos outros sinópticos e é de difícil conciliação com a hora sexta indicada por Jo 19,14 para a entrega de Jesus por Pilatos para ser crucificado. A diferença pode ter a sua origem na transmissão independente do texto. Alguns defendem que a hora tércia se refira a todo o período das nove horas (tércia) às doze (sexta).
- ↑ O v. 28 – E cumpriu-se a Escritura que diz: Foi contado entre os malfeitores – falta nos mss. mais importantes (talvez seja influência de Lc 22,37 citando Is 53,12).
- ↑ Sl 22,8.
- ↑ Cf. Sl 22,2; apresenta um texto muito próximo dos LXX (21,2).
- ↑ Tiago Menor para distinguir de Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João. Salomé é provavelmente a que Mt 27,56 identifica como mãe de Tiago e João.
- ↑ A morte na cruz era muito lenta, podendo levar dias.
- ↑ José é acrescento da tradução.
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