Sl 89

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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89(88) Aliança messiânica

 

1 Poema. De Etan, o ezraíta[1].


2 Cantarei para sempre as misericórdias do Senhor[2];

de geração em geração anunciarei
a tua fidelidade por minha boca.

3 Por isso, proclamo que a tua misericórdia

está edificada para sempre,
e a tua fidelidade está firme como os céus[3].


4 «Fiz uma aliança com o meu escolhido[4],

fiz um juramento em favor de David, meu servo:

5 Estabelecerei a tua descendência para sempre

e firmarei o teu trono de geração em geração».


6 Os céus louvarão as tuas maravilhas, ó Senhor;

e a assembleia dos santos, a tua fidelidade[5].

7 Quem nas alturas se pode igualar ao Senhor?

Quem se assemelha ao Senhor entre os deuses[6]?

8 Deus é respeitado no conselho dos santos,

superior e temível para todos os que o rodeiam.

9 Quem é como Tu, Senhor, Deus dos Exércitos?

És poderoso, Senhor,
e a tua fidelidade é a corte à tua volta.


10 Tu governas a fúria dos mares[7]

e acalmas o fragor das suas ondas.

11 Tu despedaçaste o cadáver de Raab[8],

dispersaste os teus inimigos com a força do teu braço.

12 O céu é teu e a terra é tua também;

formaste o mundo e tudo aquilo que o preenche.

13 O norte e o sul, Tu os criaste;

o Tabor e o Hermon rejubilam com o teu nome[9].

14 O teu braço é poderoso,

a tua mão é robusta, e excelsa, a tua direita.


15 Justiça e retidão são o fundamento do teu trono[10];

verdade e misericórdia caminham à tua frente.

16 Feliz o povo dos que te sabem aclamar, Senhor:

caminharão à luz do teu rosto.

17 Em teu nome se regozijam todo o dia

e se orgulham com a tua justiça.

18 Pois Tu és a nossa honra e força;

e com o teu desígnio nos fazes erguer a cabeça.

19 Na verdade, o nosso escudo é o Senhor,

e o nosso rei é o Santo de Israel.


20 Outrora declaraste em visão[11]

e disseste aos teus fiéis[12]:

«Eu prestei ajuda a um herói[13],

promovi um jovem do meio do povo.

21 Encontrei David, meu servo,

e ungi-o com o meu óleo santo.

22 Pois a minha mão estará firmemente com ele,

e o meu braço há de torná-lo forte.

23 O inimigo não se levantará contra ele[14],

nem o homem perverso há de humilhá-lo.

24 Derrubarei diante dele os seus adversários

e destruirei aqueles que o odeiam.

25 A minha fidelidade e misericórdia estarão com ele,

e pelo meu nome crescerá o seu poder.

26 Estenderei o poder da sua mão esquerda sobre o mar

e o da sua direita sobre os rios[15].

27 Ele me invocará, dizendo: “Tu és meu pai,

és o meu Deus e o rochedo da minha salvação!”

28 E Eu farei dele o primogénito,

o mais excelso entre os reis da terra.

29 Hei de assegurar-lhe para sempre a minha misericórdia,

e a minha aliança manter-se-á fiel com ele.

30 Estabelecerei para sempre a sua descendência,

e o seu trono permanecerá como os céus.


31 Se os seus filhos abandonarem a minha lei

e não caminharem segundo os meus preceitos;

32 se transgredirem as minhas ordens

e não guardarem os meus mandamentos,

33 então hei de castigar o seu crime com uma vara

e a sua maldade com um chicote.

34 Porém, não lhes retirarei a minha misericórdia,

nem faltarei à minha promessa.

35 Não profanarei a minha aliança,

nem mudarei a palavra da minha boca.

36 Jurei uma vez pela minha santidade

que não enganaria David.

37 A sua descendência permanecerá para sempre

e o seu trono será como o Sol, diante de mim.

38 Estará firme para sempre como a Lua,

testemunha fiel no firmamento».


39 Tu, porém, rejeitaste e abandonaste o teu ungido[16]

e te irritaste contra ele.

40 Renegaste a aliança com o teu servo

e profanaste por terra a sua coroa.

41 Derrubaste todos os seus muros,

reduziste a escombros as suas fortalezas.

42 Todos os transeuntes o saquearam;

tornou-se motivo de escárnio para os seus vizinhos.


43 Ergueste a mão dos seus inimigos,

encheste de alegria todos os seus adversários.

44 Mas a ele, desgastaste-lhe o fio da espada

e não lhe deste vitória na batalha.

45 Fizeste cessar o seu esplendor,

deitaste por terra o seu trono.

46 Abreviaste os dias da sua juventude

e cobriste-o de vergonha.


47 Até quando, Senhor, continuarás escondido?

Arderá para sempre a tua ira como fogo?

48 Lembra-te de mim. Que breve existência!

Para que ilusão criaste os seres humanos?

49 Quem é tão forte que possa viver sem ver a morte

e consiga livrar a sua alma das garras do abismo?

50 Onde está a tua misericórdia de outrora,

a qual juraste a David pela tua fidelidade?

51 Lembra-te, Senhor, das injúrias contra os teus servos,

pois trago no peito o ultraje de tantas nações poderosas[17]!

52 Como os teus inimigos proferem injúrias, Senhor!

Como injuriam os passos do teu ungido!


53 Bendito seja o Senhor para sempre! Amen! Amen[18]!



  1. Etan era um sábio (1Rs 5,11), cujo nome andava ligado aos domínios da música no templo de Jerusalém (cf. 1Cr 6,27-29; 15,17-19). O qualificativo ezraíta significa nativo, autóctone.
  2. Este salmo real começa por celebrar o próprio Deus como rei do universo e de Israel. Recorda-se em discurso direto (vv. 4-5) a aliança que Deus estabelecera com a casa de David (2Sm 7), prometendo que a tornaria firme para sempre. Daí a classificação de salmo messiânico que se lhe atribui. Este entusiasmo não anula o tom de lamentação e de súplica com que o salmo termina (vv. 39-53). Isto significa que a época em que o salmo foi composto estava marcada por acontecimentos trágicos, vividos no presente ou relembrados do passado. As imagens da destruição de Jerusalém parecem pairar no seu horizonte.
  3. Ou nos céus.
  4. Este discurso direto poderia originalmente ter como introdução: Tu disseste, que, no texto hebraico atual, aparece no início do v. 3 e que desde a antiguidade sempre deixou a impressão de que o contexto pediria uma segunda pessoa (Deus) e não uma primeira (salmista).
  5. Esta assembleia dos santos é uma expressão para designar o conjunto dos deuses, segundo a tradição religiosa de Canaã. Os hebreus acabaram por aproveitar a expressão para diversos usos metafóricos e, mais tarde, para designar a assembleia de Deus com os seus anjos (Jb 1,6; 5,1; 15,15; Dn 4,14; Zc 14,5).
  6. Lit.: filhos de Deus.
  7. Os vv. 10-14 tratam do poder que Deus exerce sobre o mundo e sobre as principais forças da natureza.
  8. Raab é um monstro mítico que personifica o caos (Sl 87,4; Jb 7,14; 9,13; Is 51,9). Tal como no Sl 87,4, aqui poderia referir-se ao Egito e, sendo assim, a referência histórica vai para o tema omnipresente da saída do Egito. Mas pode simplesmente tratar-se de uma referência geral à vitória de Deus sobre as forças do caos.
  9. Os montes Tabor e Hermon são montanhas famosas no norte de Israel que tinham grande simbolismo religioso (Sl 42,7; Os 5,1).
  10. Temos aqui a hierarquização dos atributos de Deus: a sua essência é justiça e retidão; a verdade e a misericórdia são critérios prioritários na aplicação da justiça.
  11. Os vv. 20-30 propõem uma explicação ampliada da promessa que os vv. 4-5 continham em forma essencial.
  12. Esta declaração parece ter sido feita ao profeta Natan e ao juiz Samuel, que tiveram papel significativo na ascensão de David ao trono (Sl 2,7; 18,31; 22,11; 1Sm 16,1; 2Sm 7,3-5.12-17.27).
  13. Se se tomar em consideração o paralelismo do v. 40, que parece fazer pendão com este v., poderíamos traduzir: Coloquei uma coroa na cabeça de um herói.
  14. Ou: O inimigo não o há de surpreender.
  15. Do mar Mediterrâneo ao rio Eufrates e afluentes é o espaço do Israel ideal, que aparece associado ao reino de David e provavelmente nunca passou de um ideal para os hebreus.
  16. Os vv. 39-52 tratam de uma situação completamente diferente. O destino do povo e do seu rei encontra-se numa fase de angústia. Preocupações semelhantes se encontram em Sl 39,5s; 79,5; 80,13-17.
  17. O salmista preocupa-se com o destino do povo como uma criança que ele traz ao colo, interiorizando uma expressão usada pelo próprio Moisés em diálogo com Deus: Nm 11,12.
  18. Este v. é uma doxologia com a qual termina o terceiro livro dos salmos (cf. Sl 41,14; 72,19).



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