Jo 6

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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IV
A SEGUNDA PÁSCOA
A «NÃO PEREGRINAÇÃO»:
O PÃO DA VIDA
(6,1-71)


Multiplicação dos pães e dos peixes (Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; 8,1-9; Lc 9,10-17) – 1Depois disto, Jesus partiu para a outra margem do mar da Galileia, ou de Tiberíades[1]. 2Seguia-o uma numerosa multidão, porque viam os sinais que realizava nos doentes. 3Jesus subiu para o monte e ali se sentou com os seus discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus[2].

5Jesus, então, levantando os olhos e vendo que uma numerosa multidão vinha ter com Ele, disse a Filipe: «Onde compraremos pão para que eles comam?». 6Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele sabia o que estava prestes a fazer. 7Respondeu-lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não lhes chegam para que cada um receba um pouco». 8Disse-lhe um dos seus discípulos, André, o irmão de Simão Pedro: 9«Está aqui um rapazinho que tem cinco pães de cevada e dois pequenos peixes. Mas que é isso para tanta gente?». 10Disse Jesus: «Fazei-os reclinar-se[3]». Havia muita erva no lugar. Reclinaram-se, então. Os homens eram cerca de cinco mil. 11Jesus tomou os pães e, depois de dar graças, distribuiu-os aos que estavam reclinados, e fez o mesmo com os pequenos peixes, tanto quanto quisessem. 12E quando ficaram saciados, disse aos seus discípulos: «Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca». 13Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestas com os pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido.

14Eles[4], ao verem o sinal que tinha realizado, diziam: «Este é, verdadeiramente, o profeta que estava[5] para vir ao mundo». 15Então Jesus, sabendo que estavam prestes a vir apoderar-se dele para o fazer rei, retirou-se de novo sozinho para o monte[6].


Jesus caminha sobre as águas (Mt 14,22-33; Mc 6,45-52) – 16Ao cair da tarde, os seus discípulos desceram até ao mar 17e, subindo para um barco, dirigiram-se para a outra margem do mar, para Cafarnaum. Já havia trevas e Jesus ainda não tinha vindo ter com eles. 18O mar estava agitado, pois soprava um forte vento. 19Então, depois de terem remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios[7], viram Jesus a caminhar sobre o mar e a aproximar-se do barco, e tiveram medo. 20Mas Ele disse-lhes: «Sou Eu[8]; não tenhais medo!». 21Quiseram, então, recebê-lo no barco, e imediatamente o barco chegou à terra para onde iam.


Discurso sobre o pão da vida – 22No dia seguinte, a multidão, que permanecera na outra margem do mar, viu que estava ali apenas um pequeno barco e que Jesus não tinha entrado no barco com os seus discípulos, mas que os seus discípulos tinham partido sozinhos. 23No entanto, chegaram outros pequenos barcos de Tiberíades, de perto do lugar onde eles tinham comido o pão, depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão viu que nem Jesus estava ali, nem os seus discípulos, subiu para os pequenos barcos e foi[9] para Cafarnaum procurar Jesus.

25Ao encontrá-lo na outra margem do mar, disseram-lhe: «Rabi, quando chegaste aqui?». 26Respondeu-lhes Jesus e disse: «Amen, amen vos digo: procurais-me não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. 27Trabalhai não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará; pois foi a Ele que Deus, o Pai, marcou com o selo».

28Disseram-lhe, então: «Que havemos de fazer para realizar as obras de Deus?». 29Respondeu Jesus e disse-lhes: «Esta é a obra de Deus: que acrediteis naquele que Ele enviou». 30Disseram-lhe: «Que sinal fazes Tu, para que vejamos e acreditemos em ti? Que obra realizas? 31Os nossos pais comeram o maná no deserto[10], como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu[11]». 32Disse-lhes, então, Jesus: «Amen, amen vos digo: não foi Moisés que vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do céu. 33Pois o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo». 34Disseram-lhe, então: «Senhor, dá-nos sempre esse pão!». 35Disse-lhes Jesus: «Eu sou o pão da vida: quem vem a mim jamais terá fome; quem acredita em mim jamais terá sede. 36No entanto, disse-vos: vistes-me e não acreditais. 37Tudo o que o Pai me dá, virá a mim, e o que vem a mim jamais o expulsarei, 38porque desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. 39E a vontade daquele que me enviou é esta: que nada perca do que me deu, mas o ressuscite no último dia. 40Pois esta é a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e acredita nele tenha vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia».

41Então os judeus começaram a murmurar contra Ele, porque tinha dito: «Eu sou o pão que desceu do céu». 42E diziam: «Este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos nós o pai e a mãe? Como é que agora diz: "Eu desci do céu"?».

43Respondeu Jesus e disse-lhes: «Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrair; e Eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: Serão todos ensinados por Deus[12]. Todo aquele que ouviu do Pai e aprendeu vem a mim. 46Não porque alguém tenha visto o Pai, a não ser aquele que existe junto de Deus: este viu o Pai. 47Amen, amen vos digo: quem acredita tem a vida eterna.

48Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50Este é o pão que desce do céu, para que quem dele comer não morra. 51Eu sou o pão vivo que desceu do céu: se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que Eu darei é a minha carne pela vida do mundo».

52Altercavam, então, os judeus entre si, dizendo: «Como pode este dar-nos a sua carne a comer?». 53Disse-lhes, então, Jesus: «Amen, amen vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós. 54Quem come[13] a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque a minha carne é verdadeiro alimento, e o meu sangue é verdadeira bebida[14]. 56Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e Eu nele. 57Assim como o Pai que vive me enviou, e Eu vivo pelo Pai, também quem me come viverá por mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não é como o que os pais comeram: eles morreram; quem come este pão viverá para sempre»[15].

59Disse estas coisas na sinagoga, ao ensinar em Cafarnaum.


Crise entre os discípulos e profissão de fé de Pedro – 60Ora, muitos dos seus discípulos, depois de ouvirem isto, disseram: «É dura esta palavra! Quem pode ouvi-la?»[16]. 61Jesus, sabendo em si mesmo que os seus discípulos murmuravam por causa disto, disse-lhes: «Isto é para vós motivo de escândalo? 62E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63É o Espírito que faz viver, a carne de nada serve; as palavras que Eu vos disse são espírito e são vida. 64Mas há alguns entre vós que não acreditam». De facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não acreditavam e quem era o que o haveria de entregar. 65E dizia: «Por causa disto vos disse que ninguém pode vir a mim, se não lhe for dado pelo Pai».

66Desde então muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não caminhavam com Ele. 67Disse, então, Jesus aos Doze: «Também vós quereis ir embora?». 68Respondeu-lhe Simão Pedro: «Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna! 69E nós acreditámos e sabemos[17] que Tu és o Santo de Deus». 70Respondeu-lhes Jesus: «Não fui Eu que vos escolhi, aos Doze? E um de vós é um diabo!». 71Falava de Judas, filho de Simão Iscariotes; de facto, este estava prestes a entregá-lo. E era um dos Doze[18].



  1. Inesperadamente Jesus está de novo na Galileia, o que leva alguns autores a considerar o cap. 6 como um inciso.
  2. A única Páscoa, das três referidas por Jo, em que Jesus não sobe a Jerusalém. Mas nela os leitores são preparados para a terceira com um discurso de Jesus, cujo conteúdo será então vivido e manifestado: a sua realeza pela doação do seu corpo e sangue, para a vida do mundo.
  3. Posição em que na cultura greco-romana se tomava a refeição. O texto apresenta uma série de elementos e expressões eucarísticas: tomar os pães, dar graças e distribuir aos que estavam reclinados; também pedaços é a palavra com que a Didaqué (finais do séc. I) fala dos fragmentos eucarísticos, e recolher/reunir (synágō, vv. 12.13) é o verbo com que S. Clemente, S. Inácio de Antioquia e a Didaqué se referem à reunião dos cristãos.
  4. Lit.: Os homens.
  5. Lit.: o profeta que vem (particípio presente).
  6. Jesus recusa uma realeza segundo os critérios do mundo; na paixão e na cruz revelar-se-á o seu modo de reinar.
  7. C. 5 quilómetros (um estádio equivale a 192 metros).
  8. Lit.: Eu sou (cf. 4,26 nota).
  9. Lit.: eles subiram...e foram.
  10. Cf. Ex 16,4ss.
  11. Sl 78,24; cf. Ex 16,4.15.
  12. Is 54,13 (LXX). Cf. Jr 31,33s.
  13. O verbo trṓgō (o mesmo nos vv. 56.58d) sublinha um comer efetivo.
  14. O adjetivo verdadeiro, assim como o escândalo que suscita aos judeus, faz perceber que não se trata de uma forma simbólica de falar. O mesmo em 6,56.58.
  15. Uma vez mais a contraposição qualitativa entre Moisés e Jesus: aquele foi intermediário para um pão que alimentava apenas fisicamente; Jesus é o pão de Deus, que alimenta a vida divina recebida no batismo (1,12-13; 3,5ss) e que não acaba na morte física.
  16. O discurso de Jesus sobre a carne e o sangue que é preciso comer e beber cria a primeira grande crise no grupo dos seus discípulos; provavelmente o episódio reflete também dificuldades na comunidade primitiva em relação à eucaristia. A pragmática do texto é bem vincada: também o leitor é chamado a uma decisão, de permanecer (acreditar) ou de ir embora (v. 67).
  17. Dois verbos no perfeito grego, que indicam uma ação do passado cujos efeitos continuam no presente.
  18. Ao contrário dos outros que foram embora, Judas, em cisma interior com Jesus e, portanto, com a comunidade, continua hipocritamente presente. Mas Jesus, mesmo sabendo quem ele era e o que faria (v. 70), deu-lhe até ao fim a hipótese da conversão e do regresso à comunhão (13,1.16).




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