Mt 1

From Biblia: Os Quatro Evangelhos e os Salmos
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2 Visita dos magos – 1Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia[1], nos dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos[2] do oriente a Jerusalém, 2dizendo: «Onde está o rei dos judeus que nasceu? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo». 3Ao ouvir isto, o rei Herodes perturbou-se, e toda a Jerusalém com ele. 4Reunindo, então, todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei do povo[3], procurava saber junto deles onde nasceria o Cristo. 5E eles disseram-lhe: «Em Belém da Judeia, pois assim está escrito por meio do profeta:

6E tu, Belém, terra de Judá,

de modo algum és a mais

pequena entre as chefias de Judá;

porque de ti sairá um chefe,

aquele que apascentará o meu povo, Israel»[4].

7Então Herodes, depois de secretamente chamar os magos, inquiriu-os cuidadosamente acerca do tempo em que a estrela tinha aparecido 8e, ao enviá-los a Belém, disse: «Ide e indagai cuidadosamente acerca do menino. Assim que o encontrardes, anunciai-me, para que também eu o vá adorar».

9Tendo ouvido o rei, eles foram, e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, avançava à sua frente, até que ao chegar parou sobre onde estava o menino. 10Ao ver a estrela, sentiram uma alegria imensa[5]. 11Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, caindo por terra[6], adoraram-no. Ao abrirem, então, os seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra[7]. 12E, tendo sido avisados num sonho para não retornarem a Herodes, retiraram-se por outro caminho para a sua terra.


Fuga para o Egito – 13Depois de eles se retirarem, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José, dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe, foge para o Egito[8] e fica por lá até que eu te diga, pois Herodes está prestes a procurar o menino para o matar».

14Então ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe durante a noite e retirou-se para o Egito. 15Ali permaneceu até à morte de Herodes, para que assim se cumprisse[9] o que foi dito pelo Senhor por meio do profeta que diz:

Do Egito chamei o meu filho[10].


Martírio dos meninos em Belém – 16Herodes, ao ver que tinha sido escarnecido pelos magos, ficou muito irado e mandou executar, em Belém e em todas as suas regiões, todos os meninos que tivessem dois anos ou menos[11], de acordo com o tempo que tinha inquirido cuidadosamente junto dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz:

18Uma voz em Ramá foi ouvida,

um choro e grande lamento;

era Raquel chorando os seus filhos

e não queria ser consolada,

porque já não existiam[12].


Regresso do Egito – 19Quando morreu Herodes, eis que um anjo do Senhor apareceu num sonho a José no Egito, 20dizendo: «Levanta-te, toma o menino e a sua mãe e vai para a terra de Israel, pois morreram os que procuravam tirar a vida do menino[13]». 21Ele, levantando-se, tomou o menino e a sua mãe, e foi para a terra de Israel. 22Ao ouvir, porém, que Arquelau[14] reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Avisado num sonho, retirou-se para a região da Galileia 23e veio morar numa cidade chamada Nazaré. Assim se cumpriu o que foi dito por meio dos profetas: «Será chamado nazareno[15]».


II
MANIFESTAÇÃO PÚBLICA DE JESUS (3,1-4,25)


3 João, o Batista (Mc 1,2-8; Lc 3,3-6.15-17) – 1Naqueles dias, veio João Batista pregar no deserto da Judeia, 2dizendo: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus[16]».

3De facto, sobre ele foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:

Uma voz clama no deserto:

“Preparai o caminho do Senhor,

endireitai as suas veredas”[17].

4Ele, João, tinha a sua roupa feita a partir de pelos de camelo e uma correia de couro à volta dos rins; o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre[18]. 5Então acorriam a ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a região do Jordão, 6e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.

7Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e saduceus[19] vinham ao batismo dele, disse-lhes: «Geração de víboras, quem vos mostrou como fugir da ira que está prestes a chegar? 8Produzi um fruto digno da conversão; 9e não penseis dizer entre vós: “Temos por pai Abraão”, pois digo-vos que Deus é capaz de fazer erguer destas pedras filhos de Abraão. 10O machado já está à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo. 11Eu batizo-vos na água para a conversão; porém, aquele que vem atrás de mim é mais forte[20] do que eu, e eu não sou digno de levar-lhe as sandálias; Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. 12Tem a pá na sua mão, limpará a sua eira e recolherá o seu trigo no celeiro; mas queimará a palha num fogo que não se apaga».


Batismo de Jesus (Mc 1,9-11; Lc 3,21s) – 13Veio então Jesus da Galileia para o Jordão ter com João para ser batizado por ele. 14Mas João opunha-se, dizendo-lhe: «Eu é que tenho a necessidade de ser batizado por ti, e és Tu que vens ter comigo?».15Respondendo, Jesus disse-lhe: «Deixa por agora. É conveniente que assim cumpramos toda a justiça[21]». Então João deixou que assim fosse. 16Tendo Jesus sido batizado, imediatamente saiu da água, e eis que os céus se abriram para Ele, e viu o Espírito de Deus a descer como uma pomba e vir sobre Ele. 17E eis que veio uma voz dos céus, dizendo: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo».


4 Tentações de Jesus (Mc 1,12s; Lc 4,1-13) – 1Então, Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto, para ser tentado pelo Diabo. 2Tendo jejuado durante quarenta dias e quarenta noites[22], por fim sentiu fome. 3Aproximando-se o tentador, disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz que estas pedras se tornem pães». 4Ele, em resposta, disse-lhe: «Está escrito:

Nem só de pão viverá o homem,

mas de toda a palavra que sai da boca de Deus»[23].

5Então o Diabo levou-o consigo à cidade santa e colocou-o no pináculo do templo. 6E disse-lhe: «Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito:

Aos seus anjos dará ordens a teu respeito

e nas mãos te levarão,

não aconteça que tropece numa pedra o teu pé»[24].

7Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus»[25].

8De novo o Diabo o levou consigo a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória. 9E disse-lhe: «Tudo isto te darei se, caindo por terra[26], me adorares». 10Então disse-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito:

O Senhor, teu Deus, adorarás

e a Ele prestarás culto»[27].

11Então o Diabo deixou-o; e eis que os anjos vieram ter com Ele e serviam-no.


Jesus começa a ensinar (Mc 1,14s; Lc 4,14s) – 12Quando Jesus ouviu que João fora preso, retirou-se para a Galileia. 13Deixando Nazaré, foi morar para Cafarnaum, à beira-mar, nos territórios de Zabulão e Neftali, 14para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:

15Terra de Zabulão e terra de

Neftali,

caminho do mar, além Jordão,

Galileia dos pagãos[28]:

16o povo que habitava nas trevas

viu uma grande luz,

e aos que habitavam na terra e na sombra da morte

para eles uma luz nasceu[29].

17Desde então Jesus começou a proclamar e a dizer: «Convertei-vos, pois está próximo o reino dos céus».


Chamamento dos primeiros discípulos (Mc 1,16-20; Lc 5,1-11; Jo 1,35-51) – 18Ao caminhar junto ao mar da Galileia viu dois irmãos, Simão, o chamado Pedro, e André, seu irmão, lançando uma rede ao mar, pois eram pescadores. 19E disse-lhes: «Vinde atrás de mim, e farei de vós pescadores de homens». 20E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram-no. 21Avançando[30], viu dois outros irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco com Zebedeu, seu pai, a consertar as suas redes, e chamou-os. 22E eles, deixando imediatamente o barco e o pai, seguiram-no.


As multidões acorrem (Mc 3,7-12; Lc 6,17-19) – 23Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, proclamando o evangelho do reino[31] e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. 24Assim se espalhou a sua fama por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que tinham algum mal, oprimidos por várias doenças e tormentos, endemoniados, dementes[32] e paralíticos, e curava-os. 25E seguiam-no numerosas multidões vindas da Galileia, da Decápole[33], de Jerusalém, da Judeia e de além Jordão.

III
O ANÚNCIO DO REINO
(5,1-25,46)


Discurso da montanha:
5,1-7,29[34]


5 As bem-aventuranças (Lc 6,20-26) – 1Ao ver as multidões, subiu ao monte e, tendo-se sentado, vieram ter com Ele os seus discípulos[35]; 2e, tomando a palavra[36], ensinava-os, dizendo:

3«Felizes os pobres[37] no espírito, porque deles é o reino dos céus.

4Felizes os que se lamentam[38], porque eles serão consolados.

5Felizes os mansos, porque eles herdarão a terra.

6Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados.

7Felizes os misericordiosos, porque para eles haverá misericórdia[39].

8Felizes os puros de coração, porque eles verão Deus.

9Felizes os que fazem a paz, porque eles serão chamados filhos de Deus.

10Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

11Felizes sois quando vos insultarem, vos perseguirem e mentindo disserem todo o mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque a vossa recompensa é grande nos céus, pois do mesmo modo perseguiram os profetas antes de vós».


O sal da terra e a luz do mundo (Mc 9,50; Lc 14,34s) – 13«Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se tornar insípido, com que se salgará? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.

14Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no cimo de um monte; 15nem se acende uma candeia e se a coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, pois assim brilha para todos os que estão na casa. 16Deste modo brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus».


Jesus e a Lei – 17«Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas. Não vim abolir, mas cumprir[40]. 18Amen vos digo: até que passe o céu e a terra, não passará uma só letra[41] ou um só traço da Lei, até que tudo aconteça. 19Aquele, pois, que quebrar um destes mandamentos, por mais pequeno que seja, e assim ensinar os homens, será chamado o mais pequeno no reino dos céus; mas aquele que os praticar e os ensinar será chamado grande no reino dos céus[42].

20Digo-vos pois: se a vossa justiça não superar a dos doutores da lei e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus».


Não matarás. Juízo e reconciliação (Lc 12,58s) – 21«Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás, e aquele que matar será réu no juízo[43]. 22Mas Eu digo-vos: todo aquele que se irar contra o seu irmão será réu no juízo; e aquele que disser a seu irmão “Imbecil!” será réu no sinédrio[44]; e aquele que lhe disser “Louco!” será sujeito[45] à Geena do fogo[46]. 23Portanto, se, ao apresentares a tua oferta sobre o altar, aí te lembrares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24deixa aí a tua oferta diante do altar e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão, e então virás apresentar a tua oferta. 25Sê benévolo com o teu adversário, sem demora, enquanto estás com ele no caminho, não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas lançado na prisão. 26Amen te digo: não sairás de lá até que restituas o último cêntimo».

Sobre o adultério – 27«Ouvistes que foi dito: Não cometerás adultério. 28Mas Eu digo-vos: todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar já cometeu adultério com ela no seu coração[47]. 29Se o teu olho direito é para ti motivo de escândalo, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois é melhor para ti que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado na Geena[48]. 30Se a tua mão direita é para ti motivo de escândalo, corta-a e atira-a para longe de ti, pois é melhor para ti que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo vá para a Geena».


Sobre o divórcio (Lc 16,18) – 31«Também foi dito: Quem repudiar a sua mulher, dê-lhe um documento de divórcio[49]. 32Mas Eu digo-vos: todo aquele que repudia a sua mulher – a não ser em caso de promiscuidade – faz com que ela incorra em adultério, e aquele que se casar com uma repudiada, comete adultério»[50].


Sobre o juramento – 33«Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás em falso, mas cumprirás com os teus juramentos ao Senhor. 34Mas Eu digo-vos: não jureis de todo, nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35nem pela terra, porque é o estrado dos seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. 36Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar branco ou preto um só dos teus cabelos. 37Mas seja a vossa palavra: “Sim, sim”, “Não, não”; o que for além disto vem do Maligno».


Sobre a retribuição (Lc 6,29s) – 38«Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente[51]. 39Mas Eu digo-vos: não resistais ao que vos fizer mal[52]; pelo contrário, àquele que te bate na face direita apresenta-lhe[53] também a outra[54]. 40E àquele que te quer levar a tribunal para te tirar a túnica, deixa-lhe também a capa. 41E aquele que te forçar a caminhar uma milha, vai com ele duas. 42Dá a quem te pede, e a quem te quiser pedir emprestado, não voltes as costas».


Amor aos inimigos (Lc 6,27s.32-36) – 43«Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo[55]. 44Mas Eu digo-vos: amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem, 45para vos tornardes filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz despontar o seu sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos. 46Pois, se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? 47E se saudardes apenas os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Não fazem os pagãos também o mesmo[56]? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito».


6 Sobre a esmola – 1«Tende cuidado em não praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles! De contrário, não tereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2Quando, pois, deres esmola, não faças soar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas[57], para serem glorificados pelos homens. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. 3Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, 4para que a tua esmola fique no segredo, e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará».


A oração (Lc 11,2-4; Mc 11,25s) – 5«Quando rezardes, não sejais como os hipócritas: gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos homens. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. 6Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto e, fechando a tua porta, reza ao teu Pai, que está no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.

7Quando rezardes, não useis vãs repetições, como fazem os pagãos[58], pois pensam que, pelo seu muito falar, serão escutados. 8Portanto, não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de vós lho pedirdes.


Pai Nosso – 9Vós, pois, rezai assim:

Pai nosso, que estás nos céus,

santificado seja o teu nome,

10venha o teu reino,

seja feita a tua vontade,

como no céu, assim também na terra.

11O pão nosso de cada dia dá-nos hoje[59].

12Perdoa-nos as nossas ofensas,

como também nós perdoamos a quem nos tem ofendido,

13e não nos leves até à provação,

mas livra-nos do Maligno[60].

14Pois, se perdoardes aos homens as suas transgressões, também o vosso Pai celeste vos perdoará; 15mas se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas transgressões».


Sobre o jejum – 16«Quando jejuardes[61], não façais um ar pesaroso como os hipócritas que desfiguram os seus rostos para mostrarem aos homens que jejuam. Amen vos digo: já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto, 18para não mostrares aos homens que jejuas, mas apenas ao teu Pai, que está no escondido; e o teu Pai, que vê no escondido, te recompensará».


O tesouro do céu (Lc 12,33s) – 19«Não acumuleis[62] para vós tesouros na terra, onde a traça e a corrosão os fazem desaparecer e onde os ladrões os pilham e roubam. 20Mas acumulai para vós tesouros no céu, onde não há traça nem corrosão para os fazer desaparecer e onde os ladrões não os pilham nem roubam. 21Pois onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração».


A vista, candeia do corpo (Lc 11,34-36) – 22«A candeia do corpo é o olho. Por isso, se o teu olho for límpido, todo o teu corpo será luminoso[63]; 23mas se o teu olho for mau, todo o teu corpo será trevas. Portanto, se a luz que há em ti é trevas, quão grandes serão essas trevas!».


Servir a Deus ou ao dinheiro (Lc 16,13) – 24«Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou odiará um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas[64]».


Desprendimento e confiança em Deus (Lc 12,22-31) – 25«Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer ou que haveis de beber, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa? 26Fixai o olhar nas aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros, e o vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós mais do que elas? 27Quem de vós, por se preocupar, é capaz de acrescentar um cúbito ao tempo da sua vida? 28E porque vos preocupais com a roupa? Observai como crescem os lírios do campo; não se afadigam nem fiam. 29Digo-vos que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós, gente de pouca fé[65]? 31Por isso não vos preocupeis, dizendo: “o que havemos de comer?”, ou “o que havemos de beber?”, ou “o que havemos de vestir?”, 32pois os pagãos é que procuram tudo isso. O vosso Pai celeste sabe que precisais de tudo isso. 33Procurai, primeiro, o reino de Deus e a sua justiça; e tudo isso vos será dado por acréscimo. 34Portanto, não vos preocupeis com o amanhã, porque o amanhã preocupar-se-á consigo próprio. A cada dia bastam os seus males».


7 Não julgueis (Mc 4,24s; Lc 6,37s.41s) – 1«Não julgueis, para não serdes julgados. 2Pois com o juízo com que julgardes sereis julgados e com a medida com que medirdes sereis medidos[66]. 3Porque vês o cisco que está no olho do teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho? 4Ou como dirás ao teu irmão: “Deixa que tire o cisco do teu olho”, se tens uma trave no teu olho? 5Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão».


Pérolas a porcos – 6«Não deis o que é santo aos cães[67], nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, não aconteça que eles as espezinhem com as suas patas e, voltando-se, vos destrocem».


Confiança na oração (Lc 11,9-13) – 7«Pedi e ser-vos-á dado, procurai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á; 8pois todo o que pede recebe, o que procura encontra, e ao que bate abrir-se-á. 9Ou haverá um homem entre vós a quem o seu filho peça um pão, e lhe dê uma pedra? 10Ou que lhe peça um peixe, e lhe dê uma serpente? 11Ora se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas àqueles que lhe pedem!».


A regra de ouro (Lc 6,31) – 12«Portanto, tudo quanto quiserdes que os homens vos façam, assim fazei também vós a eles; pois esta é a Lei e os Profetas»[68].


A porta estreita (Lc 13,24) – 13«Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela[69]. 14Como é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que a encontram!».


A árvore boa (Lc 6,43s.46.13,25-27) – 15«Tende cuidado com os falsos profetas[70], que vêm ter convosco com pele de ovelha[71], mas, por dentro, são lobos vorazes! 16Pelos seus frutos os reconhecereis. Porventura apanham-se uvas dos espinhos ou figos dos cardos? 17Assim, toda a árvore boa dá bons frutos, enquanto a árvore que não presta dá frutos maus. 18Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore que não presta dar bons frutos. 19Toda a árvore que não der bons frutos corta-se e deita-se ao fogo. 20Portanto, pelos seus frutos os reconhecereis. 21Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. 22Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos? Não foi em teu nome que expulsámos demónios? Não foi em teu nome que fizemos numerosas ações poderosas?”. 23Confessar-lhes-ei então: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade!”».


A casa sobre a rocha (Lc 6,46-49) – 24«Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será semelhante a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. 25Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e abateram-se sobre aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. 26Mas todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, será semelhante a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos e lançaram-se contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua queda».

Reação ao discurso de Jesus – 28Aconteceu então que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras[72], as multidões estavam perplexas com o seu ensinamento, 29pois ensinava-os como quem tem autoridade e não como os seus doutores da lei.


Os primeiros sinais do reino (8,1-9,38)


8 Purificação e cura de um leproso (Mc 1,40-45; Lc 5,12-16) – 1Quando Ele desceu do monte, seguiram-no numerosas multidões[73]. 2E eis que um leproso[74], aproximando-se, ajoelhou-se diante dele, dizendo: «Senhor, se quiseres, podes purificar-me». 3Estendendo a mão, Ele tocou-lhe, dizendo: «Quero: fica purificado!». E imediatamente ficou purificado da sua lepra. 4Disse-lhe então Jesus: «Toma atenção, não digas a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés prescreveu, como testemunho para eles».


Cura do servo do centurião (Lc 7,1-10; 13,28s; Jo 4,46b-53) – 5Quando entrou em Cafarnaum, foi ter com Ele um centurião[75] que lhe suplicou, 6dizendo: «Senhor, o meu servo está em casa deitado e paralítico, terrivelmente atormentado». 7Ele disse-lhe: «Eu vou curá-lo». 8Em resposta, o centurião afirmou: «Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu teto; diz apenas uma palavra, e o meu servo será curado. 9É que também eu sou um homem sujeito à autoridade, tendo soldados às minhas ordens[76]; e digo a um: “Vai”, e ele vai; e a outro: “Vem”, e ele vem; e ao meu servo: “Faz isto”, e ele faz».

10Ao ouvi-lo, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: «Amen vos digo: não encontrei em Israel ninguém com tamanha fé.11Digo-vos que muitos virão do oriente e do ocidente e reclinar-se-ão à mesa com Abraão, Isaac e Jacob no reino dos céus, 12enquanto os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes». 13E disse Jesus ao centurião: «Vai, seja feito como acreditaste». E o servo dele ficou curado naquela hora.


Cura da sogra de Pedro (Mc 1,29-31; Lc 4,38s) – 14Tendo ido Jesus para a casa de Pedro, viu a sogra dele prostrada com febre. 15Tocou-lhe na mão, e a febre deixou-a; ela levantou-se e começou a servi-lo.


Curas e exorcismos (Mc 1,32-34; Lc 4,40s) – 16Ao cair da tarde, levaram-lhe muitos endemoniados; expulsou os espíritos pela palavra e curou todos os que tinham algum mal, 17para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:

Ele tomou as nossas fraquezas

e carregou as nossas doenças[77].


Seguir Jesus (Lc 9,57-60) – 18Ao ver uma multidão à sua volta, Jesus ordenou que partissem para a outra margem. 19Aproximou-se então um doutor da lei que lhe disse: «Mestre, seguir-te-ei para onde quer que vás». 20Disse-lhe Jesus: «As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem[78] não tem onde reclinar a cabeça».

21Outro dos seus discípulos disse-lhe: «Senhor, permite-me que vá primeiro sepultar o meu pai». 22Jesus disse-lhe: «Segue-me e deixa que os mortos sepultem os seus mortos»[79].


A tempestade acalmada (Mc 4,35-41; Lc 8,22-25) – 23Ao subir para o barco, os seus discípulos seguiram-no. 24E eis que surgiu uma grande agitação no mar, de tal modo que as ondas encobriam o barco[80]. Ele, porém, dormia. 25E, aproximando-se, acordaram-no dizendo: «Senhor, salva-nos, estamos a morrer!». 26Disse-lhes: «Porque estais assustados, homens de pouca fé?». Erguendo-se, então, repreendeu severamente os ventos e o mar[81], e fez-se grande bonança. 27Os homens admiraram-se, dizendo: «Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?».


Cura dos endemoniados de Gádara (Mc 5,1-17; Lc 8,26-37) – 28Quando Ele foi para a outra margem, para a região dos gadarenos[82], vieram ao seu encontro, saindo dos sepulcros, dois endemoniados. Eram tão perigosos que ninguém era capaz de passar por aquele caminho. 29E eis que se puseram a gritar, dizendo: «Que há entre nós e ti[83], Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?».

30Ora, longe deles, estava uma vara de muitos porcos a pastar. 31E os endemoniados suplicaram-lhe, dizendo: «Se nos expulsas, envia-nos para a vara dos porcos». 32Ele disse-lhes: «Ide!». Então eles, ao saírem, foram para os porcos, e eis que toda a vara se lançou pelo precipício para o mar e morreram nas águas. 33Os que apascentavam fugiram e foram para a cidade anunciar tudo isto, incluindo o que acontecera aos endemoniados[84]. 34Eis então que toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, ao vê-lo, suplicaram-lhe que partisse do seu território.


9 Perdão e cura de um paralítico (Mc 2,1-12; Lc 5,17-26) – 1Subindo para um barco, Ele atravessou para a outra margem e veio para a sua própria cidade[85]. 2E eis que lhe trouxeram um paralítico, deitado num catre. Jesus, ao ver a fé deles, disse ao paralítico: «Tem coragem, filho! Os teus pecados estão perdoados». 3E eis que alguns dos doutores da lei disseram entre si: «Este está a blasfemar!». 4Jesus, ao ver os seus pensamentos, disse: «Porque tendes tão maus pensamentos nos vossos corações? 5O que é pois mais fácil, dizer: “Os teus pecados estão perdoados”, ou dizer: “Levanta-te e anda”? 6Mas para que saibais que o Filho do Homem tem, sobre a terra, autoridade para perdoar pecados:» – disse, então, ao paralítico – «Levanta-te, toma o teu catre e vai para a tua casa». 7E ele, levantando-se, foi para a sua casa. 8Ao verem isto, as multidões ficaram com medo e glorificaram Deus que dá aos homens uma tal autoridade.

Chamamento de Mateus. Os publicanos e pecadores (Mc 2,13-17; Lc 5,27-32) – 9Ao prosseguir dali, Jesus viu um homem, chamado Mateus[86], sentado no posto de cobrança de impostos, e disse-lhe: «Segue-me». E ele, levantando-se, seguiu-o[87].

10E aconteceu que, estando Ele reclinado à mesa, em casa, muitos publicanos e pecadores foram reclinar-se à mesa com Jesus e com os seus discípulos. 11Ao verem isto, os fariseus diziam aos discípulos dele: «Por que razão come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?». 12Mas Ele, ouvindo, disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que têm algum mal. 13Ide aprender o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício[88]; pois não vim chamar os justos, mas os pecadores».


O jejum (Mc 2,18-20; Lc 5,33-35) – 14Vieram, então, ter com Ele os discípulos de João, dizendo: «Por que razão nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?». 15Disse-lhes Jesus: «Poderão os convidados da boda[89] lamentar-se, enquanto o noivo está com eles? Mas dias virão em que o noivo lhes será tirado, e então hão de jejuar.


O velho e o novo (Mc 2,21s; Lc 5,36-38) – 16«Ninguém põe um remendo de tecido cru em veste velha, pois o acrescento novo repuxa a veste e o rasgão torna-se pior. 17Nem se deita vinho novo em odres velhos, senão os odres rompem-se, o vinho derrama-se no chão e os odres perdem-se; pelo contrário, põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam».


Cura da mulher que sofria de hemorragias e ressurreição de uma menina (Mc 5,21-43; Lc 8,40-56) – 18Enquanto Ele lhes falava, eis que um chefe[90] veio ajoelhar-se diante dele, dizendo: «A minha filha acaba de morrer, mas vem impor sobre ela a tua mão, e viverá». 19Jesus, levantando-se, seguiu-o, bem como os seus discípulos.

20Entretanto, eis que uma mulher, que há doze anos sofria de hemorragias, se aproximou por trás e tocou na franja da sua veste[91], 21pois dizia para consigo: «Se ao menos tocar a sua veste, ficarei salva». 22Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: «Tem coragem, filha, a tua fé te salvou». E a mulher ficou salva a partir daquela hora.

23Jesus, tendo chegado à casa do chefe, ao ver os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, 24dizia: «Retirai-vos, pois a menina não morreu, mas está a dormir». E riam-se dele. 25Depois de a multidão ter sido expulsa, Ele entrou, agarrou-lhe a mão, e a menina ergueu-se. 26E por toda aquela terra se divulgou esta notícia.

Cura de dois cegos – 27Ao prosseguir Jesus dali, seguiram-no dois cegos, que gritavam e diziam: «Tem misericórdia de nós, filho de David!»[92]. 28Ao chegar a casa, os cegos foram ter com Ele; e disse-lhes Jesus: «Acreditais que o posso fazer?». Disseram-lhe: «Sim, Senhor!». 29Tocou-lhes, então, nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé». 30E os olhos abriram-se-lhes. Jesus, porém, ordenou-lhes severamente, dizendo: «Vede bem: que ninguém o saiba!». 31Mas eles, ao sair, espalharam a fama de Jesus por toda aquela terra.


Cura de um endemoniado (Lc 11,14s) – 32Estavam eles a sair, e eis que lhe trouxeram um homem mudo endemoniado. 33E, expulso o demónio, o mudo falou. As multidões admiravam-se, dizendo: «Nunca se viu em Israel uma coisa assim!». 34Mas os fariseus diziam: «É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios!».

Os trabalhadores da seara (Mc 6,6.34; Lc 8,1; 10,2) – 35Jesus percorria todas as cidades e povoações, ensinando nas suas sinagogas, proclamando o evangelho do reino e curando toda a doença e toda a enfermidade[93]. 36Ao ver as multidões, compadeceu-se profundamente delas, porque estavam cansadas e abatidas como ovelhas que não têm pastor. 37Então disse aos seus discípulos: «A seara[94] é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38Pedi, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara».


Discurso missionário
(10,1-42)


10 Eleição dos Doze (Mc 3,13-19; 6,7; Lc 6,12-16; 9,1) – 1Chamando, então, a si os seus doze[95] discípulos, deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros, para que os expulsassem e curassem toda a doença e toda a enfermidade[96].

2São estes os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, o chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; 3Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes[97], que o entregou[98].


Missão dos Doze (Mc 6,8-11; Lc 9,2-5) – 5Foram estes os Doze que Jesus enviou, depois de lhes ordenar, dizendo: «Não tomeis o caminho dos pagãos[99], nem entreis em cidade de samaritanos[100]; 6ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. 7Ao ir, proclamai, dizendo que está próximo o reino dos céus. 8Curai os que estão doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes como dom, dai como dom. 9Não procureis ouro, prata ou cobre para guardar nos vossos cintos[101], 10nem bolsa para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bastão; pois o trabalhador é digno do seu sustento.

11Na cidade ou povoação em que entrardes, indagai se há nela alguém digno, e permanecei lá até sairdes. 12Ao entrardes numa casa, saudai-a[102]. 13Se a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz, mas se não for digna, volte para vós a vossa paz. 14E se alguém não vos acolher nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. 15Amen vos digo: no dia do juízo, haverá mais tolerância para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para essa cidade».


Perseguições futuras (Mt 24,9-14; Mc 13,9-13; Lc 10,3; 12,11s; 21,12-19) – 16«Eis que Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas[103]. 17Tende cuidado com os homens, porque vos hão de entregar aos sinédrios e nas suas sinagogas vos hão de chicotear! 18À presença de governadores e reis sereis levados por causa de mim, para lhes dar testemunho, a eles e aos pagãos[104]. 19Quando vos entregarem, não vos preocupeis como ou com o que dizer: ser-vos-á dado, naquela hora, o que dizer, 20pois não sereis vós a falar, mas o Espírito do vosso Pai a falar em vós.

21O irmão entregará o irmão à morte, e o pai o filho; os filhos hão de levantar-se contra os pais e causar-lhes a morte. 22Sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas o que perseverar até ao fim, esse será salvo. 23Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Pois amen vos digo: não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do Homem».

Confiança e recompensa dos apóstolos (Mc 9,41; Lc 12,2-9.51-53; 14,26s) – 24«Um discípulo não está acima do mestre, nem um servo acima do seu senhor. 25Basta ao discípulo ser como o seu mestre e ao servo como o seu senhor. Se ao senhor da casa chamaram Belzebu[105], quanto mais aos da sua casa!

26Portanto, não tenhais medo deles, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem escondido que não venha a conhecer-se. 27O que eu vos digo às escuras, dizei-o às claras, e o que ouvis com os ouvidos, proclamai-o sobre os telhados. 28Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tende, antes, medo de quem pode destruir a alma e o corpo na Geena. 29Não se vendem dois pardais por uma moeda[106]? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai[107]. 30Ora, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. 31Por isso, não tenhais medo: vós valeis mais do que muitos pardais. 32Todo aquele que me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. 33Porém, aquele que me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

34Não penseis que vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada[108]. 35Vim, de facto, separar:

um homem do seu pai,

uma filha da sua mãe,

uma nora da sua sogra;

36os inimigos do homem serão os da sua casa[109].

37Quem gosta[110] do pai ou da mãe, mais do que de mim, não é digno de mim, e quem gosta do filho ou da filha, mais do que de mim, não é digno de mim. 38E aquele que não toma a sua cruz e segue atrás de mim, não é digno de mim.

39Quem encontra a sua vida há de perdê-la, e quem perde a sua vida por causa de mim há de encontrá-la. 40Quem vos acolhe, a mim acolhe, e quem me acolhe, acolhe aquele que me enviou[111]. 41Quem acolhe um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta, e quem acolhe um justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. 42Aquele que der a beber a um destes pequenos, nem que seja um copo de água fresca, por ser discípulo, amen vos digo: jamais perderá a sua recompensa».


Ensinamentos sobre o reino (11,1-12,50)


111E aconteceu que, quando Jesus acabou de dar estas ordens aos seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e pregar nas suas cidades[112].

Embaixada de João Batista a Jesus (Lc 7,18-23) – 2João, ao ouvir falar no cárcere das obras de Cristo, mandou, por intermédio dos seus discípulos, 3dizer-lhe: «És tu o que está para vir[113] ou havemos de esperar outro?». 4Jesus, respondendo, disse-lhes: «Ide anunciar a João o que ouvis e vedes: 5os cegos voltam a ver e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a boa nova. 6E feliz é aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo».


Juízo de Jesus sobre João Batista (Lc 7,24-28) – 7Quando eles partiram, Jesus começou a falar às multidões acerca de João: «Que fostes observar no deserto? Uma cana agitada pelo vento? 8Mas que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Eis que aqueles que trajam roupas finas estão nas casas dos reis. 9Mas que fostes ver? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais que profeta. 10É acerca dele que está escrito:

Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente,

que há de preparar o teu caminho diante de ti[114].

11Amen vos digo: não se ergueu, entre os nascidos de mulher, ninguém maior que João Batista; mas o mais pequeno no reino dos céus é maior que ele. 12Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre de violência, e os violentos apoderam-se dele[115]. 13Todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. 14E, se quereis aceitar, ele é o Elias que está prestes a vir. 15Quem tem ouvidos, ouça.

16A quem hei de comparar esta geração? É semelhante às crianças sentadas nas praças públicas que, interpelando as outras, 17dizem:

“Tocámos flauta para vós e não dançastes,

entoámos lamentações e não batestes no peito”.

18Veio João, que não come nem bebe, e dizem: “Tem um demónio!”. 19Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: “Eis um homem comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores”. Mas a sabedoria foi justificada pelas suas obras».


Imprecações contra as cidades incrédulas (Lc 10,12-15) – 20Começou, então, a censurar as cidades em que tinha realizado a maior parte das suas ações poderosas, porque não se tinham convertido: 21«Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sídon se tivessem realizado as ações poderosas que entre vós se realizaram, há muito se teriam convertido, cobrindo-se de pano rude e de cinza[116]. 22Por isso vos digo: haverá mais tolerância para Tiro e Sídon, no dia do juízo, do que para vós. 23E tu, Cafarnaum, serás elevada até ao céu? Até ao inferno[117] descerás[118]! Porque, se em Sodoma se tivessem realizado as ações poderosas que se realizaram em ti, teria durado até aos dias de hoje. 24Por isso vos digo: haverá mais tolerância para Sodoma, no dia do juízo, do que para ti».


Revelação aos humildes (Lc 10,21s) – 25Naquele tempo, em resposta[119], Jesus disse: «Louvo-te, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27Tudo me foi entregue por meu Pai; ninguém reconhece o Filho senão o Pai, e ninguém reconhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

O suave jugo de Jesus – 28Vinde a mim, todos os que estais fatigados e oprimidos, e eu vos darei descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas vidas, 30pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».


12 Espigas arrancadas ao sábado (Mc 2,23-28; Lc 6,1-5) – 1Naquele tempo, caminhava Jesus num sábado pelas searas. Os seus discípulos sentiram fome e começaram a arrancar espigas e a comê-las[120]. 2Os fariseus, ao ver isto, disseram a Jesus: «Eis que os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer ao sábado». 3Ele disse-lhes: «Não lestes o que fez David, quando ele e os que estavam com ele sentiram fome[121]? 4Como entrou na casa de Deus e comeram os pães da oferenda[122], que nem a ele nem aos que estavam com ele era permitido comer, senão aos sacerdotes? 5Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam isentos de culpa? 6Digo-vos: está aqui algo maior que o templo. 7Se tivésseis compreendido o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício[123], não teríeis condenado os isentos de culpa[124]. 8Pois o Filho do Homem é senhor do sábado».


Cura ao sábado. Decisão de matar Jesus (Mc 3,1-6; Lc 6,6-11) – 9Partindo dali, entrou na sinagoga deles. 10Eis que estava lá um homem que tinha uma mão paralisada[125]. E, para poderem acusá-lo, interrogaram Jesus, dizendo: «É permitido curar ao sábado?».11Ele disse-lhes: «Qual será o homem entre vós que terá uma ovelha, e se ela cair numa cova, num sábado, não a irá agarrar e levantar daí? 12Pois bem: um homem vale muito mais do que uma ovelha! Logo, é permitido fazer o bem ao sábado». 13Disse, então, ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e ela ficou recuperada, tão saudável como a outra. 14Os fariseus, ao sair dali, reuniram-se em conselho contra Ele, a fim de o matar.


Jesus, o servo do Senhor (Mc 3,7-12; Lc 6,17-19) – 15Jesus, ao saber disso, retirou-se dali. Seguiram-no numerosas multidões, e curou-os a todos; 16mas repreendeu-os severamente para que não o dessem a conhecer[126], 17para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta Isaías, que diz:

18Eis o meu servo, o que escolhi,

o meu amado em quem se

compraz a minha alma.

Porei sobre ele o meu Espírito,

e anunciará a justiça aos povos.

19Não criará conflitos

nem gritará,

ninguém ouvirá nas praças

a sua voz.

20Não quebrará a cana rachada[127],

nem apagará a mecha

que fumega,

até que leve a justiça à vitória.

21E no seu nome os povos terão

esperança[128].


Exorcismos e sinais do reino (Mc 3,22-27; Lc 6,43-45;11,14-23; 12,10) – 22Trouxeram-lhe, então, um endemoniado cego e mudo, e Ele curou-o, de modo que o mudo começou a falar e a ver. 23E todas as multidões se espantavam e diziam: «Não será este o filho de David?». 24Mas os fariseus, ao ouvir, disseram: «É somente por Belzebu, o chefe dos demónios, que este expulsa os demónios!».

25Ele, conhecendo os pensamentos deles, disse-lhes: «Todo o reino dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda a cidade ou casa dividida contra si mesma não há de subsistir. 26Se Satanás[129] expulsa Satanás, divide-se contra si mesmo; como há de subsistir o seu reino? 27Ora, se Eu expulso os demónios por Belzebu, os vossos filhos por quem os expulsam? Por isso, eles serão os vossos juízes. 28Mas, se Eu expulso os demónios pelo Espírito de Deus, então chegou a vós o reino de Deus. 29Ou como pode alguém entrar na casa daquele que é forte[130] e roubar-lhe os seus bens, se primeiro não amarrar aquele que é forte? Então roubar-lhe-á a casa. 30Quem não está comigo está contra mim, e quem não recolhe comigo dispersa.

31Por isso vos digo: todo o pecado e blasfémia serão perdoados aos homens, mas a blasfémia contra o Espírito não será perdoada. 32E aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoado, mas aquele que falar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado, nem neste tempo nem no que está prestes a vir.

33Ou considerais[131] a árvore boa, e o seu fruto bom, ou considerais que a árvore não presta e o seu fruto não presta. É pelo fruto que se conhece a árvore. 34Geração de víboras, como podeis dizer coisas boas, sendo maus? É da abundância do coração que a boca fala. 35O homem bom do bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 36Mas digo-vos: no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda a palavra inútil que tiverem pronunciado. 37Pois pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado».


Jesus e o sinal de Jonas (Mc 8,11s; Lc 11,16.29-32) – 38Responderam-lhe, então, alguns dos doutores da lei e dos fariseus, dizendo: «Mestre, queremos ver da tua parte um sinal». 39Mas Ele, respondendo, disse-lhes: «Geração má e adúltera que procura um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40Pois, assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho três dias e três noites[132], assim também estará o Filho do Homem no coração da terra três dias e três noites. 41Os homens de Nínive[133] levantar-se-ão, no dia do juízo[134], com esta geração e hão de condená-la, porque se converteram perante a pregação de Jonas; e eis aqui quem é maior que Jonas. 42A rainha do Sul[135] erguer-se-á, no dia do juízo, com esta geração e há de condená-la, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis aqui quem é maior que Salomão».


O espírito impuro pode voltar para o homem (Lc 11,24-26) – 43«Quando o espírito impuro sai do homem, anda por lugares áridos em busca de repouso e não o encontra. 44Então diz: “À minha casa voltarei, de onde saí”. Ao chegar, encontra-a vazia, varrida e em ordem. 45Então vai, toma consigo sete outros espíritos piores que ele e, entrando, estabelecem ali morada. A situação final desse homem torna-se pior que a primeira. Assim acontecerá a esta geração má».


A verdadeira família de Jesus (Mc 3,31-35; Lc 8,19-21) – 46Ainda Ele falava às multidões, eis que a sua mãe e os seus irmãos estavam fora, procurando falar com Ele. 47Disse-lhe então alguém: «Eis que a tua mãe e os teus irmãos estão lá fora a procurar falar contigo». 48Ele, porém, em resposta, disse a quem lhe falava: «Quem é a minha mãe e quem são os meus irmãos?». 49E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: «Eis a minha mãe e os meus irmãos! 50Pois aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe».

O discurso dAs parábolas
do reino (13,1-52)


13 Parábola do semeador (Mc 4,1-9; Lc 8,4-8)[136] – 1Naquele dia, tendo Jesus saído de casa, sentou-se junto ao mar. 2E reuniram-se junto dele tão numerosas multidões que Ele teve de entrar num barco e sentar-se. Toda a multidão estava de pé na praia. 3Falou-lhes, então, de muitas coisas em parábolas, dizendo:

«Eis que saiu o semeador a semear. 4E, ao semear, uma parte caiu junto ao caminho: vieram as aves e devoraram-na. 5Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra, e imediatamente germinou, por não ter profundidade de terra. 6Ao despontar o sol, queimou-se e, por não ter raiz, secou. 7Outra parte caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e abafaram-na. 8Outra parte, porém, caiu em terra boa e deu fruto: ora cem, ora sessenta, ora trinta. 9Quem tem ouvidos, ouça».

Porque fala Jesus em parábolas (Mc 4,10-12; Lc 8,9s; 10,23s) – 10E, aproximando-se, os discípulos disseram-lhe: «Por que razão lhes falas em parábolas?». 11Ele, respondendo, disse-lhes: «Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus[137], mas a eles não foi dado. 12Pois àquele que tem, ser-lhe-á dado e acrescentado; mas àquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. 13Por isso lhes falo em parábolas: porque vendo, não veem, e ouvindo, não ouvem nem entendem. 14Assim, neles se cumpre plenamente a profecia de Isaías, que diz:

Com o ouvido haveis de ouvir, mas nunca entendereis,

olhando, olhareis, mas nunca

vereis.

15Porque se endureceu o coração deste povo,

e com dureza os seus ouvidos ouviram

e fecharam os seus olhos.

Não aconteça que vejam com os olhos,

e com os ouvidos ouçam,

e com o coração entendam,

e voltem atrás e eu os cure[138].

16Felizes os vossos olhos porque veem, e os vossos ouvidos porque ouvem. 17Amen vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, e ouvir o que ouvis e não ouviram».


Explicação da parábola (Mc 4,13‑20; Lc 8,11-15) – 18«Vós, portanto, ouvi a parábola do semeador. 19Todo aquele que ouve a palavra do reino e não entende, vem o Maligno e apodera-se do que foi semeado no seu coração: este é aquele que foi semeado junto ao caminho. 20O que foi semeado em terreno pedregoso é o que ouve a palavra e imediatamente a recebe com alegria, 21mas, como não tem raiz em si mesmo, dura pouco[139]; ao surgir uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra, imediatamente cai por motivo de escândalo. 22O que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, e não produz fruto. 23O que foi semeado em terra boa, este é o que ouve a palavra e a entende, e este dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta».


Parábola do trigo e do joio – 24Apresentou-lhes outra parábola, dizendo: «O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Mas, enquanto os homens dormiam, veio o seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. 26Quando a planta começou a germinar e a dar fruto, apareceu também o joio. 27Então os servos, indo ter com o senhor da casa, disseram-lhe: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? De onde vem então o joio?”. 28Ele disse-lhes: “Foi um inimigo[140] que fez isso”. Os servos disseram-lhe: “Queres que o vamos apanhar?”. 29Ele, porém, disse: “Não, não aconteça que, ao apanhardes o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai-os crescer juntos até à ceifa, e no tempo da ceifa direi aos ceifeiros: ‘apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; quanto ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’”».


Parábola do grão de mostarda (Mc 4,30-32; Lc 13,18s) – 31Apresentou-lhes outra parábola, dizendo: «O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32É a mais pequena de todas as sementes, mas quando cresce é maior que as plantas da horta, e torna-se árvore, de tal modo que as aves do céu vêm habitar nos seus ramos».


Parábola do fermento (Lc 13,20) – 33Disse-lhes outra parábola: «O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas[141] de farinha, até que tudo fermentasse».


A razão das parábolas (Mc 4,33) – 34Jesus disse todas estas coisas às multidões em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, 35para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta que diz:

Abrirei em parábolas a minha boca,

proclamarei coisas escondidas desde a fundação do mundo[142].


Explicação da parábola do trigo e do joio – 36Então, despedindo as multidões, foi para casa. Os seus discípulos foram ter com Ele, dizendo: «Explica-nos a parábola do joio do campo». 37Ele, em resposta, disse: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; 38o campo é o mundo; a boa semente, esses são os filhos do reino; o joio são os filhos do Maligno; 39o inimigo que o semeia é o Diabo; a ceifa é o fim dos tempos; os ceifeiros são os anjos. 40Assim como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará os seus anjos que hão de recolher do seu reino todos os que são motivo de escândalo[143] e os que praticam a iniquidade, 42e hão de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça»[144].

Parábola do tesouro escondido e da pérola – 44«O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido no campo, que um homem ao encontrar escondeu, e na sua alegria vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo.

45O reino dos céus também é semelhante a um comerciante[145] que procura belas pérolas. 46Ao encontrar uma pérola de muito valor, foi vender tudo quanto tinha e comprou-a».


Parábola da rede lançada ao mar – 47«O reino dos céus é também semelhante a uma rede que, lançada ao mar, juntou todo o género de peixe[146]. 48Quando se encheu, puxaram-na para a praia e, sentados, recolheram o que é bom nos cestos e atiraram fora o que não prestava. 49Assim será no fim dos tempos: sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos, 50lançando-os na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes».

Conclusão do discurso sobre o reino – 51«Entendestes tudo isto?». Disseram-lhe: «Sim». 52Então Ele disse-lhes: «Por isso, todo o doutor da lei que se torna discípulo do reino dos céus é semelhante a um senhor da casa, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas».


Outros ensinamentos
sobre o reino
(13,53-17,27)


Jesus desprezado em Nazaré (Mc 6,1-6a; Lc 4,16-30) – 53E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer estas parábolas, saiu dali[147]. 54Tendo ido para a sua terra natal, ensinava-os nas suas sinagogas, de tal modo que eles ficavam perplexos e diziam: «De onde lhe vem esta sabedoria e estes poderes? 55Não é este o filho do carpinteiro[148]? Não se chama a sua mãe Maria, e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56E as suas irmãs não estão todas entre nós? De onde lhe vem então tudo isto?». 57E escandalizavam-se com Ele. Jesus, porém, disse-lhes: «Um profeta não é desprezado senão na terra natal e na sua casa»[149]. 58E não fez ali muitas ações poderosas[150], por causa da falta de fé deles.


14 Martírio de João Batista (Mc 6,14-29; Lc 3,19s; 9,7-9) – 1Naquele tempo, o tetrarca Herodes[151] ouviu falar da fama de Jesus 2e disse aos seus servos: «Este é João Batista! Ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, os poderes atuam nele». 3De facto, Herodes, tendo preso João, acorrentou-o e pô-lo na prisão por causa de Herodíade[152], a mulher do seu irmão Filipe, 4pois João dizia-lhe: «Não te é permitido tê-la por mulher». 5Herodes quis matá-lo, mas temia a multidão, porque o tinham como profeta.

6No aniversário de Herodes, a filha de Herodíade dançou no meio de todos[153] e agradou a Herodes, 7de tal modo que lhe prometeu sob juramento dar-lhe o que ela pedisse. 8Ela, instigada pela sua mãe, afirmou: «Dá-me aqui, numa bandeja, a cabeça de João Batista». 9O rei ficou triste, mas, por causa dos juramentos e dos que estavam reclinados à mesa com ele, ordenou que lha dessem 10e mandou decapitar João na prisão. 11Trouxeram a sua cabeça numa bandeja e deram-na à jovem, que a levou à sua mãe. 12Os discípulos de João vieram buscar o cadáver, sepultaram-no e foram anunciá-lo a Jesus.


Primeira multiplicação dos pães (Mc 6,31-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13) – 13Ao ouvir isto, Jesus retirou-se dali num barco e foi a sós para um lugar deserto. Quando as multidões ouviram isto, seguiram-no a pé a partir das cidades. 14Ao sair, Ele viu uma numerosa multidão, compadeceu-se profundamente deles e curou os seus enfermos. 15Ao cair da tarde, foram ter com Ele os discípulos, dizendo: «O lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda embora as multidões para irem às povoações comprar alimentos para si». 16Mas Jesus disse-lhes: «Não têm necessidade de se ir embora. Dai-lhes vós de comer». 17Eles disseram-lhe: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes». 18Ele disse: «Trazei-mos cá». 19Depois de ordenar às multidões que se reclinassem sobre a erva, tomando os cinco pães e os dois peixes, e levantando os olhos ao céu, pronunciou a bênção e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. 20Todos comeram e ficaram saciados, e recolheram o que sobrou dos pedaços: doze cestas cheias[154]. 21Os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

Jesus caminha sobre as águas (Mc 6,45-52; Jo 6,15-21) – 22E imediatamente obrigou os discípulos a entrar no barco e a ir à sua frente para a outra margem, enquanto Ele despedia as multidões. 23Depois de despedir as multidões, subiu ao monte a sós para rezar. Ao cair da tarde, Ele estava ali sozinho. 24Entretanto, o barco já estava a muitos estádios da terra, atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25Pela quarta vigília da noite[155] foi ter com eles, caminhando sobre o mar. 26Mas os discípulos, ao vê-lo caminhar sobre o mar, ficaram muito perturbados, dizendo que era um fantasma, e, com medo, começaram a gritar. 27Imediatamente lhes falou Jesus, dizendo: «Tende coragem, sou Eu; não tenhais medo!».

28Pedro[156], respondendo-lhe, disse: «Senhor, se és Tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas». 29Ele disse: «Vem». E, descendo do barco, Pedro começou a caminhar sobre as águas e foi ter com Jesus. 30Mas, ao ver o vento forte, teve medo, começou a afundar-se e gritou, dizendo: «Senhor, salva-me». 31Imediatamente Jesus lhe estendeu a mão, agarrou-o e disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?». 32E, depois de eles subirem para o barco, o vento amainou. 33E os que estavam no barco ajoelharam-se diante dele, dizendo: «És verdadeiramente Filho de Deus!».


Curas em Genesaré (Mc 6,53-56) – 34Feita a travessia, chegaram a terra em Genesaré. 35Ao reconhecê-lo, os homens daquele lugar espalharam a notícia[157] por toda aquela região. Trouxeram-lhe, então, todos os que tinham algum mal 36e suplicavam-lhe que os deixasse tocar ao menos na franja da sua capa. E todos quantos tocaram foram salvos.

15 Jesus e as tradições farisaicas (Mc 7,1-13) – 1Então, de Jerusalém, vieram ter com Jesus uns fariseus e doutores da lei, dizendo: 2«Por que razão violam os teus discípulos a tradição dos antigos? É que não lavam as suas mãos quando comem pão»[158]. 3Ele, respondendo, disse-lhes: «E por que razão violais vós o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? 4Pois Deus disse: Honra o pai e a mãe e Quem maldisser o pai ou a mãe seja punido com a morte[159]; 5mas vós dizeis: “Aquele que disser ao pai ou à mãe: ‘Aquilo com que poderias ser ajudado por mim foi uma oferta a Deus’[160], 6esse já não terá de honrar o seu pai”. Tornastes inválida a palavra de Deus por causa da vossa tradição. 7Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vós, dizendo:

8Este povo honra-me com os lábios,

mas o coração deles está longe de mim;

9em vão me prestam culto,

ensinando doutrinas que são mandamentos de homens»[161].


Ensinamento sobre o puro e o impuro (Mc 15,10-20) – 10E, chamando a si a multidão, disse-lhes: «Ouvi e entendei: 11não é o que entra pela boca que torna o homem impuro; pelo contrário, o que sai da boca é o que torna o homem impuro[162]».

12Então, aproximando-se, os discípulos disseram-lhe: «Sabes que os fariseus se escandalizaram ao ouvir estas palavras[163]?». 13Mas Ele, respondendo, disse: «Toda a planta que o meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz. 14Deixai-os: são cegos, guias de cegos. E, se um cego guiar outro cego, ambos cairão numa cova».

15Em resposta, Pedro disse-lhe: «Explica-nos esta parábola». 16Ele disse: «Será que também vós estais privados de inteligência? 17Não aceitais que tudo o que entra pela boca passa para o ventre e é expelido para uma fossa? 18Mas o que provém da boca sai do coração e é isso que torna o homem impuro. 19Pois é do coração que saem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, promiscuidades, roubos, difamações, blasfémias[164]. 20São estas coisas que tornam o homem impuro; comer sem lavar as mãos não torna o homem impuro».


A fé da mulher cananeia e cura da sua filha (Mc 7,24-30) – 21Saindo dali, Jesus retirou-se para as regiões de Tiro e Sídon[165]. 22E eis que uma mulher cananeia, vinda daquelas regiões, gritava, dizendo: «Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de David! A minha filha está terrivelmente endemoniada». 23Mas Ele nem uma palavra lhe respondeu. Vieram então ter com Ele os seus discípulos e pediam-lhe, dizendo: «Manda-a embora, porque vem a gritar atrás de nós». 24Ele, porém, em resposta, disse: «Fui enviado apenas às ovelhas perdidas da casa de Israel». 25Mas ela veio ajoelhar-se diante dele, dizendo: «Senhor, ajuda-me!». 26Ele, em resposta, disse: «Não está bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos». 27Mas ela disse: «Sim, Senhor; mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos». 28Então, em resposta, Jesus disse-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como queres». E a sua filha ficou curada a partir daquela hora.


Muitos outros são curados 29Partindo dali, Jesus foi para o mar da Galileia e, subindo ao monte, aí se sentou. 30Vieram ter com Ele numerosas multidões, que tinham consigo coxos, cegos, estropiados, mudos e muitos outros; lançavam-nos aos seus pés e Ele curava-os, 31de tal modo que a multidão se admirava ao ver os mudos falar, os estropiados ficarem sãos, os coxos andar e os cegos ver, e glorificavam o Deus de Israel.


Segunda multiplicação dos pães (Mc 8,1-10) – 32Jesus, chamando a si os seus discípulos, disse: «Estou profundamente compadecido da multidão, porque há já três dias que permanecem junto de mim e não têm o que comer. E não quero despedi-los em jejum, não vão eles desfalecer no caminho». 33Disseram-lhe os discípulos: «De onde nos viriam, num deserto, pães suficientes para saciar tamanha multidão?». 34Disse-lhes Jesus: «Quantos pães tendes?». Eles disseram: «Sete e alguns peixes pequenos». 35E, ordenando à multidão que se reclinasse sobre a terra, 36tomou os sete pães e os peixes e, dando graças, partiu-os e deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões. 37Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram sete cestos cheios. 38Os que comeram eram quatro mil homens[166], sem contar mulheres e crianças. 39Despedindo as multidões, subiu para o barco e foi para a região de Magadan[167].


16 Jesus e o sinal de Jonas (Mc 8,11-13) – 1Vieram ter com Ele os fariseus e saduceus para o tentar e pediram-lhe que lhes mostrasse um sinal do céu. 2Ele, em resposta, disse-lhes: «Ao cair da tarde dizeis: “Vai estar bom tempo, porque o céu está avermelhado”. 3E de manhã cedo: “Hoje vai haver temporal, porque o céu está vermelho escuro”. Sabeis distinguir o aspeto do céu, mas não sois capazes de distinguir os sinais dos tempos? 4Geração má e adúltera que procura um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas»[168]. Ele, deixando-os, foi-se embora.


Fermento dos fariseus e saduceus. Incompreensão dos discípulos (Mc 8,14-21) – 5Quando os discípulos foram para a outra margem, esqueceram-se de levar pão. 6Jesus disse-lhes: «Vede bem e tende cuidado com o fermento[169] dos fariseus e saduceus!». 7Mas eles discutiam entre si, dizendo: “Não trouxemos pão!”. 8Sabendo-o, Jesus disse: “Porque discutis entre vós, homens de pouca fé, por não terdes pão? 9Ainda não compreendeis? Não vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil e de quantas cestas recolhestes? 10Nem dos sete pães para os quatro mil e de quantos cestos recolhestes? 11Como não compreendeis que não era de pães que vos falava? Tende cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus!” 12Entenderam, então, que não lhes dizia para terem cuidado com o fermento do pão, mas com o ensinamento dos fariseus e saduceus.


Confissão messiânica de Pedro (Mc 8,27-30; Lc 9,18-21) – 13Ao ir Jesus para a região de Cesareia de Filipe[170], perguntava aos seus discípulos, dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». 14Eles disseram: «Uns, João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas». 15Disse-lhes: «Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?». 16Respondendo, Simão Pedro disse: «Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo»[171]. 17Então, em resposta, Jesus disse-lhe: «És feliz, Simão, filho de Jonas[172], porque não foi nem a carne nem o sangue[173] que te o revelou, mas o meu Pai que está nos céus. 18E também Eu te digo: tu és Pedro[174], e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja[175], e as portas do inferno[176] não prevalecerão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus[177]». 20Admoestou então os discípulos para que não dissessem a ninguém que Ele era o Cristo.


Primeiro anúncio da paixão e ressurreição, e reação de Pedro (Mc 8,31-33; Lc 9,22) – 21Desde então Jesus começou a mostrar aos seus discípulos que era necessário Ele partir para Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos doutores da lei, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar[178]. 22Então Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo severamente, dizendo: «Longe de ti tal coisa, Senhor! Isso nunca te acontecerá!». 23Mas Ele, voltando-se, disse a Pedro: «Vai para trás de mim, Satanás! És para mim motivo de escândalo, porque não tens em mente as coisas de Deus, mas as dos homens».


Condições para seguir Jesus (Mc 8,34-9,1; Lc 9,23-27) – 24Jesus disse, então, aos seus discípulos: «Se alguém quer vir atrás de mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 25Pois aquele que quiser salvar a sua vida há de perdê-la, mas aquele que perder a sua vida por causa de mim há de encontrá-la. 26Pois que aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro, mas arruinar a sua vida? Ou o que dará um homem em troca da sua vida? 27De facto, o Filho do Homem está prestes a vir na glória do seu Pai com os seus anjos, e então recompensará cada um segundo as suas ações. 28Amen vos digo: alguns dos que aqui estão não provarão a morte, até que vejam chegar o Filho do Homem no seu reino.

17 Transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10; Lc 9,28-36) – 1Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e o seu irmão João, e fê-los subir, a sós, a um alto monte[179]. 2Transfigurou-se então diante deles: o seu rosto ficou brilhante como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. 3E eis que lhes apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele. 4Em resposta, Pedro disse a Jesus: «Senhor, que bom é nós estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias». 5Estando Ele ainda a falar, eis que uma nuvem[180] luminosa os cobriu de sombra, e eis que da nuvem uma voz disse: «Este é o meu Filho amado, no qual me comprazo: escutai-o!».

6Ao ouvir isto, os discípulos caíram de rosto por terra e ficaram cheios de medo. 7Mas Jesus aproximou-se e, tocando-lhes, disse: «Erguei-vos e não tenhais medo!». 8Ao levantarem os olhos[181], não viram ninguém, apenas Jesus sozinho. 9E, enquanto eles desciam do monte, Jesus ordenou-lhes, dizendo: «Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos».


O regresso de Elias (Mc 9,11-13) – 10Interrogaram-no os discípulos, dizendo: «Porque dizem, então, os doutores da lei que é necessário que Elias venha primeiro?».11Ele, respondendo, disse: «Elias, de facto, vem e há de restaurar todas as coisas. 12Digo-vos, porém, que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem está prestes a sofrer às suas mãos». 13Então os discípulos entenderam que lhes tinha falado de João Batista.


Cura de um jovem endemoniado (Mc 9,14-29; Lc 9,37-42) – 14Ao irem ter com a multidão, veio ter com Ele um homem que caiu de joelhos diante dele, 15dizendo: «Senhor, tem misericórdia do meu filho, porque é demente[182] e sofre de um modo terrível. Pois muitas vezes cai no fogo e muitas vezes na água. 16Trouxe-o aos teus discípulos, mas não conseguiram curá-lo». 17Em resposta, Jesus disse: «Ó geração descrente e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos hei de suportar? Trazei-mo aqui». 18Jesus repreendeu-o severamente; o demónio saiu dele, e o menino ficou curado a partir daquela hora. 19Então os discípulos, indo ter com Jesus, disseram-lhe a sós: «Por que razão não conseguimos nós expulsá-lo?». 20Ele disse-lhes: «Por causa da vossa pouca fé. Amen vos digo: se tiverdes fé do tamanho dum grão de mostarda[183], direis a este monte: “Vai daqui para ali”, e ele irá. Nada vos será impossível». (21)[184]


Segundo anúncio da paixão e ressurreição (Mc 9,30-32; Lc 9,43b-45) – 22Encontrando-se eles reunidos na Galileia, disse-lhes Jesus: «O Filho do Homem está prestes a ser entregue nas mãos dos homens; 23matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará». E eles ficaram profundamente entristecidos.


O imposto do templo – 24Quando eles chegaram a Cafarnaum, os que recebiam os impostos[185] do templo foram ter com Pedro e disseram: «O vosso Mestre não paga o imposto do templo?». 25Ele disse: «Sim». Ao chegar a casa, Jesus antecipou-se-lhe, dizendo: «Que te parece, Simão? De quem é que os reis da terra recebem impostos ou contribuições[186]? Dos seus filhos ou dos estrangeiros?». 26Tendo ele dito: «Dos estrangeiros», disse-lhe Jesus: «Portanto, os filhos estão isentos. 27Mas, para que não sejamos para eles motivo de escândalo, vai ao mar, lança o anzol e apanha o primeiro peixe que vier; ao abrir-lhe a boca, encontrarás uma moeda[187]. Toma-a e dá-lhes por mim e por ti».


O discurso eclesial
(18,1-35)


18 Discussão entre os discípulos: quem é o maior (Mc 9,33b-37; Lc 9,46-48) – 1Naquela hora, os discípulos foram ter com Jesus, dizendo: «Quem é, então, o maior no reino dos céus?»[188]. 2Ele, chamando a si uma criança, colocou-a no meio deles 3e disse: «Amen vos digo: se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, jamais entrareis no reino dos céus. 4Por isso, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. 5E aquele que acolher uma criança como esta em meu nome é a mim que acolhe».


A gravidade dos escândalos (Mc 9,42-47; Lc 17,1s) – 6«Mas aquele que for motivo de escândalo para um destes pequeninos que acreditam em mim, seria preferível para ele que se lhe prendesse uma mó de moinho[189] à volta do pescoço e fosse atirado ao fundo do mar. 7Ai do mundo por causa dos escândalos! De facto, é inevitável que venham os escândalos; contudo, ai do homem por meio do qual o escândalo vem!

8Se, porém, a tua mão ou o teu pé são para ti motivo de escândalo, corta-os e lança-os para longe de ti; é melhor para ti entrar na vida estropiado ou coxo do que, tendo duas mãos e dois pés, ser lançado no fogo. 9E se o teu olho é para ti motivo de escândalo, tira-o e lança-o para longe de ti; é melhor para ti com um só olho entrar na vida do que, tendo dois olhos, ser lançado na Geena do fogo.

10Vede bem: não desprezeis nenhum destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, nos céus, veem para sempre o rosto do meu Pai que está nos céus». (11)[190]


Parábola da ovelha perdida (Lc 15,4-7) – 12«Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se tresmalhar, não deixará as noventa e nove nos montes e irá procurar a que se tresmalhou? 13E se acontecer encontrá-la, amen vos digo: alegra-se mais por ela do que pelas noventa e nove que não se tresmalharam. 14Do mesmo modo, não é da vontade do vosso Pai que está nos céus que se perca nem um destes pequeninos».


O perdão na comunidade – 15«Se o teu irmão pecar contra ti, vai ter com ele e repreende-o, e que o assunto seja só entre ti e ele[191]. Se te ouvir, ganhaste o teu irmão. 16Mas, se não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja confirmada pela boca de duas ou três testemunhas[192]. 17Mas, se não os quiser escutar, di-lo à Igreja. Mas, se também não escutar a Igreja, que ele seja para ti como um pagão ou um publicano. 18Amen vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu[193]. 19De novo, amen vos digo: se dois de vós, na terra, se puserem de acordo para pedir seja o que for, isso lhes será feito pelo meu Pai que está nos céus. 20De facto, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles».


Parábola sobre o perdão sem limites – 21Então, aproximando-se, Pedro disse-lhe: «Senhor, até quantas vezes pecará o meu irmão contra mim, e lhe perdoarei? Até sete vezes?». 22Disse-lhe Jesus: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o reino dos céus é semelhante a um certo rei que queria acertar contas com os seus servos. 24Ao começar a acertá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos[194]. 25Como ele não tinha com que pagar, o senhor ordenou que fossem vendidos ele, a mulher, os filhos e tudo quanto tinha, e que lhe fosse paga a dívida[195]. 26Então, o servo, caindo por terra[196], ajoelhou-se diante dele, dizendo: “Tem paciência comigo, e tudo te pagarei”. 27Profundamente compadecido, o senhor daquele servo deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. 28Mas, ao sair, aquele servo encontrou um dos seus companheiros de servidão que lhe devia cem denários, agarrou-o e sufocava-o, dizendo: “Paga o que deves”. 29O companheiro de servidão, caindo por terra[197], suplicava-lhe, dizendo: “Tem paciência comigo, e pagar-te-ei”. 30Mas ele não queria; pelo contrário, foi lançá-lo na prisão, até que pagasse o que devia.

31Ora os seus companheiros de servidão, ao verem o que aconteceu, ficaram profundamente tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que acontecera. 32Então o senhor, chamando-o a si, disse-lhe: “Servo mau, perdoei-te toda aquela dívida, uma vez que me suplicaste. 33Não era necessário também tu teres misericórdia do teu companheiro de servidão, como também eu tive misericórdia de ti?”. 34E, irado, o senhor entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que devia. 35Assim também vos fará o meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar, de coração, ao seu irmão[198]».


Subida e ministério
em Jerusalém (19,1-25,46)


A caminho de Jerusalém
(19,1-20,34)


19 Ida para a Judeia (Mc 10,1; Lc 9,51) – 1E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras[199], partiu da Galileia e foi para a região da Judeia, na outra margem do Jordão[200]. 2Seguiram-no numerosas multidões e ali as curou.


Matrimónio, divórcio e celibato (Mc 10,2-12; Lc 16,18) – 3Vieram ter com Ele uns fariseus para o pôr à prova, dizendo: «É permitido a um homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo?». 4Ele, respondendo, disse: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez macho e fêmea? 5E disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher[201], e serão os dois uma só carne, 6de modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, não separe o homem». 7Disseram-lhe: «Então porque ordenou Moisés dar uma declaração de divórcio e repudiá-la[202]. 8Disse-lhes: «Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar as vossas mulheres, mas não foi assim desde o princípio. 9Mas digo-vos: aquele que repudiar a sua mulher – a não ser em caso de promiscuidade – e casar com outra, comete adultério»[203].

10Disseram-lhe os seus discípulos: «Se é assim a condição do homem em relação à mulher[204], não convém casar-se». 11Ele disse-lhes: «Nem todos aceitam esta palavra, mas apenas aqueles a quem foi concedido. 12Pois há eunucos que assim nasceram do ventre da sua mãe, há eunucos que foram feitos eunucos pelos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. O que puder aceitar, que aceite».


Jesus e as crianças (Mc 10,13-16; Lc 18,15-17) – 13Trouxeram-lhe, então, algumas crianças para que lhes impusesse as mãos e rezasse por elas, mas os discípulos repreenderam-nas severamente. 14Jesus, porém, disse: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim; pois dos que são como elas é o reino dos céus». 15E, depois de lhes impor as mãos, partiu dali.


O homem rico (Mc 10,17-22; Lc 18,18-23) – 16Eis então que um homem, indo ter com Ele, disse: «Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?». 17Ele disse-lhe: «Porque me perguntas sobre o que é bom? Bom é um só. Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos». 18Disse-lhe ele: «Quais?». Jesus disse: «Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, 19honra o pai e a mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo»[205]. 20Disse-lhe o jovem: «Tudo isso tenho observado. O que me falta ainda?». 21Disse-lhe Jesus: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus. Então vem e segue-me». 22Ao ouvir estas palavras, o jovem foi-se embora triste, porque tinha muitas posses.


Os ricos e o reino de Deus (Mc 10,23-27; Lc 18,24-27) – 23Então Jesus disse aos seus discípulos: «Amen vos digo: dificilmente um rico entrará no reino dos céus. 24Digo-vos de novo: é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». 25Ao ouvir isto, os discípulos ficaram muito perplexos e disseram: «Quem pode então ser salvo?». 26Fixando o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível».


Recompensa pelo desprendimento (Mc 10,28-31; Lc 18,28-30) – 27Então, em resposta, Pedro disse-lhe: «Eis que nós deixámos tudo e seguimos-te. Que recompensa teremos?». 28Jesus disse-lhes: «Amen vos digo: no tempo da renovação, quando o Filho do Homem se sentar no trono da sua glória, vós, que me seguistes, sentar-vos-eis também em doze tronos a julgar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que tenha deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna. 30Porém, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos primeiros».


20 A parábola dos trabalhadores da vinha – 1«De facto, o reino dos céus é semelhante a um homem, senhor da casa, que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Depois de ter acordado com os trabalhadores um denário por dia, enviou-os para a sua vinha. 3Ao sair por volta da hora terceira, viu outros parados na praça pública sem fazer nada 4e disse-lhes: “Ide também vós para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo”. 5E eles foram. Ao sair de novo por volta da hora sexta e por volta da hora nona, fez o mesmo. 6Ao sair ainda por volta da hora décima primeira, encontrou outros, parados, e disse-lhes: “Porque estais aqui parados o dia inteiro sem fazer nada?”. 7Disseram-lhe: “Porque ninguém nos contratou”. Disse-lhes: “Ide também vós para a vinha”.

8Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu capataz: “Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até aos primeiros”. 9Vieram os da hora décima primeira e receberam um denário cada um, 10e quando vieram os primeiros pensaram que receberiam mais, mas receberam também eles um denário cada um. 11Ao recebê-lo, puseram-se a murmurar contra o senhor da casa, 12dizendo: “Estes últimos fizeram apenas uma hora e fizeste-lhes como a nós, que suportámos o peso do dia e o calor ardente”. 13Mas ele, respondendo a um deles, disse: “Amigo, não estou a ser injusto contigo. Não acordaste comigo um denário? 14Leva o que é teu e vai-te embora. Quero dar a este último o mesmo que a ti. 15Ou não me é permitido fazer o que quero com aquilo que é meu? Ou o teu olho é mau, porque eu sou bom?”. 16Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros últimos».

Terceiro anúncio da paixão e ressurreição (Mc 10,32-34; Lc 18,31-33) – 17Enquanto Jesus subia para Jerusalém, tomou consigo os doze discípulos a sós e, no caminho, disse-lhes: 18«Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da lei; hão de condená-lo à morte 19e entregá-lo aos pagãos para o escarnecerem, chicotearem e crucificarem, e ao terceiro dia ressuscitará».


Pedido da mãe dos filhos de Zebedeu (Mc 10,35-40) – 20Então foi ter com Ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos e, ajoelhando-se, fez-lhe um pedido. 21Ele disse-lhe: «Que queres?». Ela disse-lhe: «Diz que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e outro à tua esquerda no teu reino». 22Mas, respondendo, Jesus disse: «Não sabeis o que estais a pedir! Podeis beber o cálice que Eu estou prestes a beber?». Disseram-lhe: «Podemos». 23Disse-lhes: «Ireis, de facto, beber o meu cálice[206], mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim concedê-lo; é para aqueles para quem foi preparado pelo meu Pai». 24Ao ouvir isto, os outros[207] dez indignaram-se contra os dois irmãos.


Os chefes devem servir (Mc 10,41-45; Lc 22,24-27) – 25Jesus, porém, chamando-os a si, disse: «Sabeis que os chefes dos pagãos têm domínio sobre eles e os grandes exercem sobre eles o poder. 26Não será assim entre vós. Pelo contrário, aquele que quiser entre vós tornar-se grande, será vosso servidor, 27e aquele que quiser entre vós ser o primeiro, será vosso servo. 28Assim é com o Filho do Homem: não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos».


Cura dos cegos de Jericó (Mc 10,46-52; Lc 18,35-43) – 29Ao saírem eles de Jericó, seguiu-o uma numerosa multidão. 30E eis que dois cegos, sentados junto ao caminho, ao ouvir dizer que Jesus estava a passar perto, começaram a gritar, dizendo: «Tem misericórdia de nós, Senhor, Filho de David!». 31A multidão repreendeu-os severamente para que se calassem, mas eles gritaram mais, dizendo: «Tem misericórdia de nós, Senhor, Filho de David!». 32E, parando, Jesus chamou-os e disse: «Que quereis que vos faça?». 33Disseram-lhe: «Senhor, que se abram os nossos olhos!». 34Profundamente compadecido, Jesus tocou-lhes nos olhos, e imediatamente voltaram a ver e seguiram-no.


Ministério em Jerusalém
(21,1-23,39)


21Entrada messiânica em Jerusalém (Mc 11,1-10; Lc 19,28-38; Jo 12,12-19) –1Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé[208], no Monte das Oliveiras, Jesus enviou então dois discípulos, 2dizendo-lhes: «Ide à povoação que está na vossa frente, e encontrareis imediatamente uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Depois de os soltar, trazei-os a mim. 3E se alguém vos disser alguma coisa, direis: “o Senhor tem necessidade deles, mas imediatamente os enviará de volta». 4Isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito por meio do profeta que diz:

5Dizei à filha de Sião:

“Eis que o teu rei vem ao teu

encontro,

manso e montado numa jumenta

e num jumentinho, filho de um animal de carga”[209].

6Os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes ordenara. 7Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram sobre eles as suas capas, e Jesus sentou-se sobre eles. 8A numerosa multidão estendia as suas próprias capas pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores e estendiam-nos pelo caminho. 9E tanto as multidões que iam à sua frente como as que o seguiam gritavam, dizendo: «Hossana[210] ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!»[211].

10Quando Ele entrou em Jerusalém, toda a cidade se agitou, dizendo: «Quem é este?». 11As multidões diziam: «Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia».


Expulsão dos vendedores do templo (Mc 11,15-19; Lc 19,45-48; Jo 2,13-16) – 12Jesus entrou, então, no templo e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo; derrubou as mesas dos cambistas e os assentos dos que vendiam as pombas[212]. 13E disse-lhes: «Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração, mas vós fazeis dela um antro de salteadores»[213].

14Então foram ter com Ele, no templo, cegos e coxos, e Ele curou-os. 15Os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei, ao verem as maravilhas que Jesus fazia e as crianças que gritavam no templo, dizendo: «Hossana ao Filho de David!», indignaram-se 16e disseram-lhe: «Ouves o que eles dizem?». Jesus disse-lhes: «Sim. Nunca lestes: Da boca dos pequeninos e dos meninos de peito preparaste um louvor[214]. 17E, deixando-os, saiu[215] da cidade para Betânia[216] e aí passou a noite.


A figueira seca e o poder da oração (Mc 11,12-14.20-25) – 18De manhã cedo, ao voltar para a cidade, sentiu fome. 19Ao ver uma figueira[217] pelo caminho, foi até ela, mas nela nada encontrou senão folhas. Então, disse-lhe: «Nunca mais e para sempre nasça de ti fruto algum!». E subitamente a figueira secou. 20Ao verem isto, os discípulos admiraram-se, dizendo: «Como é que subitamente secou a figueira?». 21Respondendo, Jesus disse-lhes: «Amen vos digo: se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis isto à figueira, como também, se disserdes a este monte: “Levanta-te e lança-te ao mar”, assim acontecerá. 22Tudo quanto pedirdes na oração, acreditando, recebereis».


Controvérsia sobre a autoridade de Jesus (Mc 11,27-33; Lc 20,1-8) – 23Tendo Ele chegado ao templo, foram ter com Ele, enquanto ensinava, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: «Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu tal autoridade?». 24Respondendo, Jesus disse-lhes: «Vou perguntar-vos também Eu uma coisa; se ma disserdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. 25O batismo de João, de onde era? Do céu ou dos homens?». Eles, porém, discutiam entre si, dizendo: «Se dissermos “do céu”, dir-nos-á: “Então, por que razão não acreditastes nele?”; 26se dissermos “dos homens”, temos medo da multidão, pois todos consideram João um profeta». 27E, respondendo a Jesus, disseram: «Não sabemos». Também Ele lhes disse: «Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas».


Parábola dos dois filhos – 28«Que vos parece? Um homem tinha dois filhos; indo ter com o primeiro, disse-lhe: “Filho, vai hoje trabalhar na vinha”. 29Ele, em resposta, disse: “Não quero”; mas depois arrependeu-se e foi. 30Indo ter com o outro, disse o mesmo. Ele, em resposta, disse: “Eu vou, senhor”; mas não foi. 31Qual dos dois fez a vontade do pai?». Disseram: «O primeiro». Disse-lhes Jesus: «Amen vos digo: os publicanos e as prostitutas irão para o reino de Deus à vossa frente, 32pois João veio ter convosco no caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as prostitutas acreditaram nele. E vós, vendo isto, nem depois vos arrependestes de modo a nele acreditar».


Parábola dos vinhateiros homicidas (Mc 12,1-12; Lc 20,9-19) – 33«Ouvi outra parábola. Havia um homem, o senhor da casa, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre[218], arrendou-a a uns agricultores e partiu de viagem. 34Quando se aproximou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos agricultores para receber os seus frutos. 35Mas os agricultores agarraram nos servos dele, espancaram um, mataram outro e apedrejaram outro. 36Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo. 37Por fim, enviou-lhes o seu filho, dizendo: “Hão de respeitar o meu filho”. 38Mas os agricultores, ao verem o filho, disseram entre si: “Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo, e fiquemos com a sua herança”. 39E, apoderando-se dele, lançaram-no para fora da vinha e mataram-no. 40Ora, quando vier o senhor da vinha, que fará àqueles agricultores?». 41Disseram-lhe: «Destruirá de forma terrível esses malvados[219] e arrendará a vinha a outros agricultores que lhe hão de entregar os frutos no seu tempo oportuno». 42Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes nas Escrituras:

A pedra que rejeitaram os

construtores

tornou-se pedra angular;

ela veio do Senhor

e é admirável aos nossos olhos[220]?

43Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o reino de Deus e será dado a um povo que produza os seus frutos. 44Quem cair sobre esta pedra ficará despedaçado, e ela esmagará aquele sobre o qual cair»[221].

45Ao ouvirem as suas parábolas, os chefes dos sacerdotes e os fariseus perceberam que falava deles 46e, ao procurarem prendê-lo, tiveram medo das multidões, uma vez que o consideravam profeta[222].


22 Parábola do banquete da boda (Lc 14,15-24) – 1Em resposta, Jesus falou-lhes de novo em parábolas, dizendo: 2«O reino dos céus é semelhante a um certo rei, que fez as bodas para o seu filho. 3Enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. 4De novo enviou outros servos, dizendo: “Dizei aos convidados: ‘Eis que preparei o meu banquete, os meus bois e as reses gordas foram abatidas; tudo está preparado. Vinde às bodas!’”. 5Mas eles, não se importando, foram-se embora, um para o seu campo e outro para o seu negócio; 6e os restantes, agarrando nos servos dele, injuriaram-nos e mataram-nos.

7O rei ficou irado e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles assassinos e queimou a sua cidade[223]. 8Então disse aos seus servos: “A boda está preparada, mas os convidados não eram dignos. 9Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e, quantos encontrardes, chamai para as bodas”. 10E aqueles servos, ao saírem para os caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, e a boda ficou cheia de convivas. 11Mas, quando o rei entrou para observar os convivas, viu aí um homem que não estava vestido com roupa nupcial. 12E disse-lhe: “Amigo, como entraste aqui sem teres roupa nupcial?”, mas ele ficou calado. 13Então o rei disse aos servidores: “Atai-lhe os pés e as mãos e lançai-o para as trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes”. 14Muitos, pois, são chamados, mas poucos escolhidos».


O imposto a César (Mc 12,13-17; Lc 20,20-26) – 15Então os fariseus foram reunir-se em conselho para ver como o apanhariam em falso em alguma palavra. 16E enviaram-lhe os discípulos seus juntamente com os herodianos[224], dizendo: «Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus com verdade, e que não tens preferência por ninguém, pois não olhas para a aparência dos homens[225]. 17Diz-nos, pois, o que te parece: é permitido ou não pagar imposto a César?». 18Mas Jesus, percebendo a maldade deles, disse: «Porque me pondes à prova, hipócritas? 19Mostrai-me a moeda do imposto». Eles apresentaram-lhe um denário. 20Ele disse-lhes: «De quem é esta imagem e a inscrição?». 21Disseram-lhe: «De César». Então, Ele disse-lhes: «Devolvei, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus». 22Ao ouvirem isto, ficaram admirados e, deixando-o, foram-se embora.


Os saduceus e a ressurreição (Mc 12,18-27; Lc 20,27-38) – 23Naquele dia, foram ter com Ele uns saduceus – que dizem não haver ressurreição – e interrogaram-no, 24dizendo: «Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer sem ter filhos, o seu irmão casará com a mulher dele e assim dará descendência ao seu irmão[226]. 25Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro casou e morreu e, por não ter descendência, deixou a sua mulher ao seu irmão. 26E o mesmo aconteceu ao segundo, ao terceiro, e o mesmo até ao sétimo. 27Por último, depois de todos, morreu a mulher. 28Na ressurreição, de qual dos sete será ela mulher? É que todos a tiveram». 29Respondendo, Jesus disse-lhes: «Andais enganados, por não conhecerdes as Escrituras nem o poder de Deus. 30Pois na ressurreição nem se casam nem se dão em casamento; pelo contrário, são como anjos no céu. 31E, quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que vos foi dito por Deus, que diz: 32Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob[227]? Não é Deus de mortos, mas de vivos». 33Ao ouvirem isto, as multidões ficaram perplexas com o seu ensinamento.

O primeiro mandamento (Mc 12,28-31; Lc 10,25-28) – 34Quando os fariseus ouviram dizer que Ele tinha calado os saduceus, reuniram-se com um propósito comum[228], 35e um deles, que era entendido na Lei, interrogou-o para o pôr à prova: 36«Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?». 37Ele disse-lhe: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento[229]. 38Este é o grande e primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo[230]. 40Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas».


O Messias, Senhor de David (Mc 12,35-37; Lc 20,41-44) – 41Enquanto os fariseus estavam reunidos, Jesus interrogou-os, 42dizendo: «O que pensais vós acerca do Cristo? De quem é filho?». Eles disseram-lhe: «De David». 43Disse-lhes: «Então como é que David, no Espírito[231], lhe chamou “Senhor”, ao dizer:

44Disse o Senhor ao meu Senhor: “Senta-te à minha direita,

até que ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”?[232]

45Portanto, se David lhe chama “Senhor”, como pode ser seu filho?». 46E ninguém conseguia responder-lhe uma palavra e, a partir daquele dia, ninguém mais ousava interrogá-lo.


23 Crítica aos doutores da lei e fariseus (Mc 12,38-40; Lc 11,39-52; 13,34s; 20,45-47) – 1Jesus falou, então, às multidões e aos seus discípulos, 2dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os doutores da lei e os fariseus. 3Fazei e guardai, pois, tudo quanto vos disserem, mas não façais de acordo com as suas obras, pois dizem e não fazem. 4Atam fardos pesados, difíceis de suportar, e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com um dedo seu os querem mover. 5Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens: alargam os seus filactérios e aumentam as franjas do manto[233]; 6gostam dos primeiros lugares nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, 7das saudações nas praças públicas e de serem chamados “rabi”[234] pelos homens. 8Vós, porém, não deixeis que vos chamem “rabi”, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. 9E a ninguém sobre a terra chameis “vosso pai”, pois um só é o vosso Pai celeste. 10Nem deixeis que vos chamem “preceptores”, porque o vosso preceptor é um só[235], o Cristo. 11O maior de vós será vosso servidor. 12Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.

13Ai de vós[236], doutores da lei e fariseus hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens: vós não entrais nem deixais entrar os que estão a entrar.

(14)[237]

15Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque atravessais o mar e a terra para fazer um prosélito[238], mas, quando tal acontece, fazeis dele um filho da Geena duas vezes mais do que vós.

16Ai de vós, guias cegos, que dizeis: “Aquele que jurar pelo templo, isso nada significa[239]; mas aquele que jurar pelo ouro do templo, fica em dívida”. 17Insensatos e cegos, o que é mais importante: o ouro ou o templo que santifica o ouro? 18Dizeis ainda: “Aquele que jurar pelo altar, isso nada significa, mas aquele que jurar pela oferta que sobre ele está, fica em dívida”. 19Cegos, o que é mais importante: a oferta ou o altar que santifica a oferta? 20Assim, quem jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele; 21e quem jura pelo templo, jura por ele e por quem nele habita, 22e quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que sobre ele está sentado.

23Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã[240], do endro e do cominho, e deixais o mais importante da Lei: o juízo[241], a misericórdia e a fé[242]; era necessário fazer estas coisas e não deixar as outras. 24Guias cegos, que filtrais o mosquito, mas engolis o camelo!

25Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque purificais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estais cheios de rapina e intemperança. 26Fariseu cego, purifica primeiro o interior do copo, para que também o exterior fique purificado.

27Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a túmulos caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a impureza. 28Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro estais repletos de hipocrisia e iniquidade.

29Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque edificais os túmulos dos profetas e ornamentais os sepulcros dos justos, 30e dizeis: “Se tivéssemos vivido nos dias dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas”! 31Assim dais testemunho contra vós próprios de que sois filhos dos que mataram os profetas. 32Completai vós a medida dos vossos pais[243]! 33Serpentes, geração de víboras, como fugireis ao juízo da Geena? 34Por isso, eis que Eu vos envio profetas, sábios e doutores da lei[244]. A alguns deles haveis de matar e crucificar, a outros de chicotear nas vossas sinagogas e perseguir de cidade em cidade, 35para que venha sobre vós todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que matastes entre o templo e o altar[245]. 36Amen vos digo: todas estas coisas hão de vir sobre esta geração.

37Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te têm sido enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos, como uma galinha reúne os seus pintainhos debaixo das asas, e vós não quisestes! 38Eis que a vossa casa vos é deixada deserta[246]. 39Digo-vos que, a partir de agora, jamais me vereis, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!»[247].

Discurso escatológico
(24,1-25,46)


24 Destruição do templo (Mc 13,1s; Lc 21,5s) – 1Quando Jesus saiu do templo e se ia embora, vieram ter com Ele os seus discípulos para lhe mostrarem os edifícios do templo. 2Mas Ele, em resposta, disse-lhes: «Não vedes tudo isto? Amen vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra que não venha a ser derrubada!».


Sinais antecedentes do fim: falsos messias, guerras e perseguições (Mc 13,3-13; Lc 21,7-19) – 3Quando Ele estava sentado no Monte das Oliveiras, vieram ter com Ele os discípulos a sós, dizendo: «Diz-nos: quando será isso e qual o sinal da tua vinda[248] e da consumação dos tempos?». 4Respondendo, Jesus disse-lhes «Tomai cuidado para que ninguém vos engane! 5Pois muitos virão em meu nome, dizendo “Eu sou o Cristo”, e a muitos hão de enganar. 6Estais prestes a ouvir falar de guerras e de rumores de guerras. Vede bem, não vos assusteis; é necessário que isto aconteça, mas ainda não é o fim. 7Pois há de levantar-se povo contra povo e reino contra reino; haverá fome e tremores de terra por todo o lado[249]. 8Todas estas coisas serão o princípio das dores de parto.

9Hão de entregar-vos, então, à tribulação e matar-vos; sereis odiados por todos os povos por causa do meu nome. 10Então muitos se escandalizarão, hão de atraiçoar-se uns aos outros, e uns aos outros se hão de odiar. 11Muitos falsos profetas se hão de erguer e enganar a muitos 12e, por crescer a iniquidade, esfriará o amor de muitos. 13Mas o que perseverar até ao fim, esse será salvo. 14Este evangelho do reino será proclamado em todo o mundo habitado, como testemunho para todos os povos, e então virá o fim».


Sinais antecedentes do fim: destruição de Jerusalém (Mc 13,14-20; Lc 21,20-24) – 15«Quando virdes a abominação da desolação, dita por meio do profeta Daniel posta no lugar santo[250] – quem lê que compreenda! –, 16então os que estiverem na Judeia fujam para os montes, 17quem estiver no terraço não desça para apanhar as coisas da sua casa 18e quem estiver no campo não volte atrás para apanhar a sua capa. 19Ai daquelas que tiverem um filho no ventre e das que amamentarem naqueles dias!

20Rezai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem ao sábado. 21É que haverá então uma grande tribulação, como não aconteceu desde o princípio do mundo até agora[251], nem jamais acontecerá. 22E, se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém[252] se salvaria. Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados.


Sinais antecedentes do fim: os falsos messias (Mc 13,21-23) – 23Então, se alguém vos disser: “Eis aqui o Cristo” ou “ali”, não acrediteis, 24pois hão de erguer-se falsos cristos e falsos profetas que oferecerão grandes sinais e prodígios, de modo a enganar, se possível, até os eleitos. 25Eis que já vo-lo tinha predito. 26Assim, se vos disserem: “Ei-lo, está no deserto”, não saiais; “Ei-lo no interior das casas”, não acrediteis. 27Pois assim como o relâmpago surge do oriente e é visível até ao ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. 28Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres».


Vinda gloriosa do Filho do Homem (Mc 13,24-27; Lc 21,25-28) – 29«Imediatamente, depois da tribulação daqueles dias, o sol ficará escuro, a lua não dará o seu brilho, as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados[253]. 30Aparecerá, então, o sinal do Filho do Homem no céu, e então baterão no peito todas as tribos da terra, ao verem o Filho do Homem a vir sobre as nuvens do céu com poder e grande glória[254]. 31E enviará os seus anjos, com uma grande trombeta, e eles reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma extremidade à outra dos céus».


Parábola da figueira (Mc 13,28-32; Lc 21,29-33) – 32«Aprendei com a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros, e brotam as folhas, sabeis que o verão está próximo; 33assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, mesmo à porta. 34Amen vos digo: não passará esta geração, até que todas estas coisas aconteçam. 35O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão.

36Quanto a esse dia e a essa hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, apenas e só o Pai».


Necessidade de estar vigilante (Mc 13,35; Lc 17,26-36) – 37«Pois assim como foram os dias de Noé, assim será a vinda do Filho do Homem. 38De facto, tal como naqueles dias antes do dilúvio comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, 39e não se aperceberam, até que veio o dilúvio e a todos levou, assim também será a vinda do Filho do Homem. 40Então, dois estarão no campo: um será levado e um deixado; 41duas estarão a moer no moinho: uma será levada e uma deixada.

42Portanto, estai vigilantes, porque não sabeis em que dia o vosso Senhor vem. 43Pensai nisto: se o senhor da casa soubesse em que vigília da noite viria o ladrão, teria estado vigilante e não teria permitido que a sua casa fosse arrombada. 44Por isso, estai também vós preparados, porque à hora em que menos pensais vem o Filho do Homem».


Parábola do servo fiel e do servo infiel (Lc 12,42-46) – 45«Quem é, portanto, o servo fiel e prudente que o senhor colocou à frente da sua casa para lhes dar o alimento no tempo oportuno? 46Feliz aquele servo que, quando vier o seu senhor, o encontrar a fazer assim. 47Amen vos digo: colocá-lo-á à frente de todos os seus bens. 48Mas, se aquele mau servo disser no seu coração: “O meu senhor tarda em vir”, 49e começar a bater nos seus companheiros de servidão, a comer e a beber com os bêbados, 50virá o senhor daquele servo no dia em que menos espera e na hora que não conhece, 51há de cortá-lo ao meio[255] e dar-lhe-á a sorte dos hipócritas[256]; aí haverá choro e ranger de dentes».


25 Parábola das dez virgens – 1«Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, levando as suas candeias, saíram ao encontro do noivo. 2Cinco delas eram insensatas[257] e cinco eram ponderadas. 3As insensatas, ao levarem as suas candeias, não levaram o azeite consigo. 4As ponderadas, porém, levaram azeite nas vasilhas juntamente com as suas candeias. 5Como o noivo tardava, ficaram todas com sono e adormeceram. 6A meio da noite surgiu um grito: “Eis o noivo! Saí ao seu encontro!”. 7Então, todas aquelas virgens levantaram-se e começaram a preparar as suas candeias. 8As insensatas disseram às ponderadas: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas candeias se estão a apagar”. 9Mas as prudentes responderam, dizendo: “Não aconteça que não chegue para nós e para vós, o melhor é irdes aos vendedores e comprá-lo para vós”. 10Enquanto elas o foram comprar, veio o noivo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas e a porta foi fechada. 11Mais tarde, vieram também as restantes virgens, dizendo: “Senhor, senhor, abre-nos a porta!”[258]. 12Mas ele, em resposta, disse: “Amen vos digo: não vos conheço”. 13Portanto, estai vigilantes, porque não sabeis nem o dia nem a hora».


Parábola dos talentos (Lc 19,11-27) – 14«É como um homem que, ao partir em viagem, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu em viagem. Imediatamente, 16o que recebera cinco talentos foi negociar com eles e ganhou outros cinco. 17Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. 18Mas o que recebera um, afastando-se, fez uma cova na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. 19Muito tempo depois, veio o senhor daqueles servos e pôs-se a ajustar as contas com eles. 20Aproximando-se o que recebera cinco talentos, apresentou outros cinco talentos, dizendo: “Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis outros cinco talentos que ganhei”. 21Disse-lhe o seu senhor: “Muito bem, servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, à frente de muito te hei de colocar; entra na alegria do teu senhor”. 22Aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: “Senhor, entregaste-me dois talentos; eis outros dois talentos que ganhei”. 23Disse-lhe o seu senhor: “Muito bem, servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, à frente de muito te hei de colocar; entra na alegria do teu senhor”. 24Aproximando-se também o que tinha recebido um talento, disse: “Senhor, sabendo que tu és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes de onde não espalhaste, 25tive medo e fui esconder o teu talento na terra. Eis aqui o que é teu[259]”. 26E, em resposta, o seu senhor disse-lhe: “Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho de onde não espalhei. 27Devias, portanto, ter dado[260] o meu dinheiro aos banqueiros e eu, ao voltar, recuperaria com juros o que é meu. 28Tirai-lhe o talento e dai-o ao que tem dez talentos. 29Pois a todo o que tem será dado e acrescentado, mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30E a esse servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes”».


O juízo final – 31«Quando vier o Filho do Homem na sua glória, e todos os anjos com Ele, então sentar-se-á no trono da sua glória. 32Reunir-se-ão diante dele todos os povos, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33Porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34Então o rei dirá aos da sua direita: “Vinde, benditos do meu Pai; herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. 35Pois tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me, 36estava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava na prisão e fostes ter comigo”. 37Então responder-lhe-ão os justos, dizendo: “Senhor, quando é que te vimos com fome e te alimentámos, ou com sede e te demos de beber? 38Quando é que te vimos estrangeiro e te acolhemos, ou nu e te vestimos? 39Quando é que te vimos doente ou na prisão e fomos ter contigo?” 40E, respondendo, o rei lhes dirá: “Amen vos digo: quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes”. 41Então dirá também aos do lado esquerdo: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e para os seus anjos, 42pois tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43era estrangeiro e não me acolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não me visitastes. 44Então também eles responderão, dizendo: “Senhor, quando é que te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou doente, ou na prisão e não te servimos?” 45Então responder-lhes-á, dizendo: “Amen vos digo: quantas vezes o não fizestes a um destes mais pequenos, também a mim o não fizestes”. 46Estes partirão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna».


IV
PAIXÃO, MORTE
E RESSURREIÇÃO DE JESUS
(26,1-28,20)


26 Determinação em matar Jesus (Mc 14,1s; Lc 22,1s; Jo 11,47-53) – 1E aconteceu que, quando Jesus acabou de dizer todas estas palavras[261], disse aos seus discípulos: 2«Vós sabeis que faltam dois dias para a Páscoa, e o Filho do Homem vai ser entregue para ser crucificado». 3Reuniram-se, então, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo no palácio do sumo-sacerdote, chamado Caifás[262], 4e concordaram em prender Jesus à traição e matá-lo. 5Mas diziam: «Não durante a festa, para não haver alvoroço entre o povo».


Unção em Betânia (Mc 14,3-9; Lc 7,36-50; Jo 12,1-8) – 6Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão[263], o leproso, 7veio ter com Ele uma mulher que tinha um frasco de alabastro com um bálsamo muito dispendioso e derramou-lho sobre a cabeça, enquanto Ele estava reclinado à mesa. 8Ao ver isto, os discípulos indignaram-se, dizendo: «Para quê este desperdício? 9Podia vender-se a um bom preço e dar-se aos pobres». 10Sabendo disto, Jesus disse-lhes: «Porque importunais a mulher? De facto, praticou uma boa ação para comigo. 11Pois pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre tendes. 12Ela, ao derramar este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo para a minha sepultura. 13Amen vos digo: onde quer que seja proclamado este evangelho em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória»[264].


Traição de Judas (Mc 14,10s; Lc 22,3-6) – 14Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os chefes dos sacerdotes, 15disse: «Quanto quereis dar-me se eu vo-lo entregar?». Eles estabeleceram com ele trinta moedas de prata[265]. 16E, desde então, procurava uma boa oportunidade para o entregar.

Preparação da ceia pascal (Mc 14,12-‑16; Lc 22,7-13) – 17No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus, dizendo: «Onde queres que te façamos os preparativos para comeres a Páscoa?»[266]. 18Ele disse: «Ide à cidade, a um certo homem, e dizei-lhe: “O Mestre diz: o meu tempo está próximo. Em tua casa farei a Páscoa com os meus discípulos”». 19Os discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa.


A ceia do Senhor (Mc 14,17-25; Lc 22,14-23; Jo 13,2.21-26; 1Cor 11,23-25) – 20Ao cair da tarde, reclinou-se à mesa com os Doze 21e, enquanto eles comiam, disse: «Amen vos digo: um de vós me há de entregar». 22Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-lhe: «Não sou eu, Senhor, pois não?». 23Ele, respondendo, disse: «O que pôs comigo a mão no prato[267], esse me entregará. 24De facto, o Filho do Homem parte, tal como está escrito acerca dele, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». 25Em resposta, Judas, que o ia entregar, disse: «Não sou eu, Rabi, pois não?». Ele disse-lhe: «Tu o disseste!».

26Enquanto eles comiam, Jesus tomou o pão e, pronunciando a bênção, partiu-o e, dando-o aos discípulos, disse: «Tomai, comei, este é o meu corpo». 27Tomando, então, um cálice[268] e dando graças, deu-lho dizendo: «Bebei todos dele, 28pois este é o meu sangue da aliança, derramado em favor de muitos[269] para o perdão dos pecados. 29Digo-vos: não mais beberei do fruto da videira, desde agora, até àquele dia em que convosco o hei de beber, novo, no reino do meu Pai».


Anúncio da negação de Pedro (Mc 14,26-31) – 30Depois de terem entoado os hinos[270], saíram para o Monte das Oliveiras. 31Disse-lhes, então, Jesus: «Esta noite todos vós caireis em escândalo por causa de mim, pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas do rebanho[271]. 32Mas, depois de Eu ter ressuscitado, irei à vossa frente para a Galileia». 33Pedro, em resposta, disse-lhe: «Ainda que todos caiam em escândalo por causa de ti, eu nunca cairei em escândalo». 34Disse-lhe Jesus: «Amen te digo: nesta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás». 35Disse-lhe Pedro: «Mesmo que seja necessário eu morrer contigo, jamais te negarei». E o mesmo disseram todos os discípulos.


Oração de Jesus no Getsémani (Mc 14,32-42; Lc 22,39-46) – 36Então Jesus foi com eles para uma propriedade chamada Getsémani[272] e disse aos discípulos: «Sentai-vos, enquanto vou ali rezar». 37Tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38Disse-lhes então: «Profundamente entristecida está a minha alma[273] até à morte; permanecei aqui e estai vigilantes comigo». 39E, indo um pouco adiante, caiu com o rosto por terra e rezava, dizendo: «Meu Pai, se é possível, que se aparte de mim este cálice; no entanto, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres». 40Veio, então, ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Nem uma hora fostes capazes de estar vigilantes comigo? 41Estai vigilantes e rezai para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca». 42Afastando-se, de novo, pela segunda vez, rezou dizendo: «Meu Pai, se não é possível apartar este cálice sem que o beba, faça-se a tua vontade». 43Ao vir de novo, encontrou-os a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. 44Deixando-os, de novo se afastou e rezou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. 45Então foi ter com os discípulos e disse-lhes: «Ireis dormir e descansar o resto da noite[274]? Eis que se aproxima a hora em que o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. 46Levantai-vos! Vamos! Eis que se aproxima o que me vai entregar».


Prisão de Jesus (Mc 14,43-50; Lc 22,47-53; Jo 18,3-12) – 47Ainda Ele falava, eis que chegou Judas, um dos Doze e, com ele, uma numerosa multidão com espadas e varapaus, da parte dos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo. 48O que o ia entregar dera-lhes um sinal, dizendo: «É aquele que eu beijar; prendei-o». 49E, indo imediatamente ter com Jesus, disse: «Salve, Rabi!», e beijou-o efusivamente[275]. 50Jesus disse-lhe: «Amigo, a que vieste?». Então, avançando, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. 51E eis que um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da sua espada e, atacando o servo do sumo-sacerdote, cortou-lhe a orelha. 52Disse-lhe, então, Jesus: «Volta a pôr a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam na espada, pela espada perecerão. 53Ou pensas que não posso suplicar a meu Pai e prontamente Ele poria à minha disposição mais de doze legiões de anjos? 54Como é que, então, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais é necessário que assim aconteça?». 55Naquela hora, disse Jesus às multidões: «Como se faz a um salteador, saístes com espadas e varapaus para vos apoderardes de mim. Dia após dia sentava-me no templo a ensinar, e não me prendestes! 56Porém, tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas». Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.


Jesus diante do sinédrio (Mc 14,53-65; Lc 22,54s.66-71; Jo 18,13-24) – 57Os que prenderam Jesus levaram-no a Caifás, o sumo-sacerdote, onde os doutores da lei e os anciãos se tinham reunido. 58Pedro seguia-o de longe[276], até ao pátio do sumo-sacerdote e, entrando, sentou-se com os guardas para ver o fim daquilo.

59Os chefes dos sacerdotes e todo o sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus para lhe dar a morte, 60mas nenhum encontraram, apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas. Finalmente, apresentaram-se duas 61que disseram: «Este afirmou: “Posso destruir o templo de Deus e em três dias edificá-lo”». 62Então o sumo-sacerdote, levantando-se, disse-lhe: «Nada respondes ao que estes testemunham contra ti?». 63Mas Jesus mantinha-se em silêncio. Então o sumo-sacerdote disse-lhe: «Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus». 64Disse-lhe Jesus: «Tu o disseste. Ainda mais vos digo: “a partir de agora, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso[277] a vir sobre as nuvens do céu»[278].

65Então o sumo-sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: «Blasfemou[279]! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Eis que agora ouvistes a blasfémia. 66Que vos parece?». Eles, respondendo, disseram: «É réu de morte!».

67Então cuspiram-lhe no rosto e deram-lhe murros, e outros esbofetearam-no, 68dizendo: «Profetiza para nós, ó Cristo! Quem é que te bateu?».


Pedro renega Jesus (Mc 14,66-72; Lc 22,55-62; Jo 18,15-18.25-27) – 69Pedro estava sentado do lado de fora, no pátio, e veio ter com ele uma jovem serva que disse: «Também tu estavas com Jesus da Galileia». 70Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes». 71Ao sair para o portão, uma outra viu-o e disse aos que ali estavam: «Este estava com Jesus, o Nazareno!». 72E novamente negou com juramento: «Não conheço o homem!». 73Pouco depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «É verdade que também tu és um deles, pois o teu modo de falar te denuncia[280]». 74Então ele começou a praguejar e a jurar: «Não conheço o homem!». E, imediatamente, um galo cantou. 75Pedro recordou-se, então, daquilo que Jesus dissera: «Antes que um galo cante, três vezes me negarás». E, saindo, chorou amargamente.


27 Jesus é entregue a Pilatos (Mc 15,1; Lc 23,1; Jo 18,28) – 1Ao romper da manhã, todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o entregar à morte. 2E, depois de o atarem, levaram-no e entregaram-no a Pilatos[281], o governador.

Judas arrepende-se e enforca-se – 3Então Judas, o que o tinha entregado, ao ver que Ele tinha sido condenado, arrependendo-se, devolveu as trinta moedas de prata aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos, 4dizendo: «Pequei, ao entregar sangue inocente». Mas eles disseram: «Que temos nós com isso? É lá contigo[282]!». 5Então ele, depois de atirar as moedas para o templo[283], afastou-se e foi enforcar-se. 6Os chefes dos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é permitido lançá-las para o tesouro do templo, uma vez que são preço de sangue». 7E, depois de se terem reunido em conselho, compraram com elas o Campo do Oleiro, para sepultura dos estrangeiros. 8Por isso, aquele campo é chamado o “Campo de Sangue”, até hoje. 9Assim se cumpriu o que foi dito por meio do profeta Jeremias, que diz: E apanharam as trinta moedas de prata, o preço com que foi avaliado aquele que os filhos de Israel avaliaram[284]; 10e pagaram com elas o Campo do Oleiro, como me tinha ordenado o Senhor[285].


Jesus perante Pilatos (Mc 15,2-15; Lc 23,2-5.13-25; Jo 18,29-19,1) – 11Jesus foi levado à presença[286] do governador, e o governador interrogou-o, dizendo: «Tu és o rei dos judeus?». Jesus afirmou: «Tu o dizes». 12Mas, ao ser acusado pelos chefes dos sacerdotes e dos anciãos, nada respondia. 13Disse-lhe, então, Pilatos: «Não ouves quantas coisas testemunham contra ti?». 14E Ele não lhe respondeu nem uma palavra, de tal forma que o governador ficou muito admirado.

15Ora, pela festa era costume o governador libertar um preso à multidão, aquele que quisessem. 16Tinham então um preso famoso, chamado Jesus Barrabás[287]. 17Estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: «Quem quereis que vos liberte: Jesus Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?», 18pois sabia que o tinham entregado por inveja.

19Enquanto ele estava sentado no tribunal, a sua mulher mandou dizer-lhe: «Que nada exista entre ti e esse justo, pois hoje sofri muito num sonho por causa dele»[288]. 20Mas os chefes dos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões a pedirem Barrabás e a matarem Jesus. 21Em resposta, o governador disse-lhes: «Qual dos dois quereis que vos liberte?». Eles disseram: «Barrabás».22Disse-lhes Pilatos: «Então que hei de fazer de Jesus, chamado Cristo?». Disseram todos: «Seja crucificado!». 23Ele afirmou: «Mas que mal fez?». Eles, porém, gritavam ainda mais, dizendo: «Seja crucificado!».

24Pilatos, ao ver que nada conseguia e que, pelo contrário, o alvoroço se tornava maior, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue! É lá convosco[289]». 25E, em resposta, todo o povo disse: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!». 26Libertou-lhes, então, Barrabás e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado.


Os soldados ridicularizam Jesus (Mc 15,16-20; Jo 19,2s) – 27Então os soldados do governador, levando Jesus para o pretório[290], reuniram junto dele toda a coorte. 28Depois de o despirem, cobriram-no com um manto escarlate. 29E, entrelaçando uma coroa de espinhos, colocaram-na sobre a sua cabeça e uma cana na sua mão direita; ao ajoelhar-se diante dele, escarneciam-no, dizendo: «Salve, ó rei dos judeus!». 30E, cuspindo-lhe, pegaram na cana e batiam-lhe na cabeça. 31Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas vestes e levaram-no para ser crucificado.


Crucificação de Jesus (Mc 15,21-32; Lc 23,26.33-43; Jo 19,17-19) – 32Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, de seu nome Simão[291], e obrigaram-no a levar-lhe a cruz. 33E, chegando a um lugar chamado Gólgota – que significa “Lugar da Caveira” -, 34deram-lhe a beber vinho misturado com fel[292]; mas, ao provar, não quis beber. 35Depois de o crucificarem, dividiram as suas vestes lançando sortes[293], 36e sentados aí ficaram a guardá-lo. 37Por cima da sua cabeça puseram por escrito a causa da sua condenação: «Este é Jesus, o rei dos judeus».

38Foram, então, crucificados com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. 39Os que passavam blasfemavam contra Ele, abanando as suas cabeças[294] 40e dizendo: «Tu, que destróis o templo e em três dias o edificas, salva-te a ti mesmo! Se és filho de Deus, desce da cruz!». 41Da mesma forma, também os chefes dos sacerdotes, escarnecendo juntamente com os doutores da lei e os anciãos, diziam: 42«Salvou outros, mas a si mesmo não se pode salvar. É rei de Israel; que desça agora da cruz e acreditaremos nele. 43Confiou em Deus; que o livre agora, se lhe quer bem[295], pois disse: “Sou filho de Deus”». 44Do mesmo modo, também o insultavam os salteadores que tinham sido crucificados com Ele.


Morte de Jesus (Mc 15,33-41; Lc 23,44-49; Jo 19,25.28-30) – 45A partir da hora sexta[296] fez-se trevas sobre toda a terra, até à hora nona. 46Pela hora nona, Jesus bradou com voz forte, dizendo: «Elí, Elí, lemá sabakhtáni?», isto é: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»[297]. 47Alguns dos que ali estavam, ao ouvirem isto, diziam: «Este está a chamar por Elias». 48E, imediatamente, um deles foi a correr apanhar uma esponja e, depois de a embeber em vinagre, pondo-a numa cana, dava-lhe de beber[298]. 49Os restantes, porém, diziam: «Deixa! Vejamos se Elias o vem salvar». 50Mas Jesus, de novo gritando com voz forte, entregou o espírito[299].

51E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. 52Os sepulcros abriram-se e muitos corpos de santos que tinham adormecido ressuscitaram 53e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa e apareceram a muitos[300]. 54O centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram cheios de medo, dizendo: «Verdadeiramente este era Filho de Deus!».

55Estavam ali muitas mulheres a observar de longe, que tinham seguido Jesus desde a Galileia para o servirem. 56Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.


Sepultura de Jesus (Mc 15,42-47; Lc 23,50-56; Jo 19,38-42) – 57Ao cair da tarde, veio um homem rico, de Arimateia[301], de nome José, que se tinha tornado, também ele, discípulo de Jesus. 58Este, indo ter com Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos ordenou que lho restituíssem. 59Tomando o corpo, José envolveu-o num lençol puro 60e pô-lo no seu sepulcro novo, que tinha escavado na rocha. Depois de rolar uma grande pedra até à entrada do sepulcro, foi-se embora. 61Estavam ali Maria Madalena e a outra Maria, sentadas em frente do túmulo.


O sepulcro é guardado – 62No dia seguinte, isto é, depois da Preparação[302], reuniram-se os chefes dos sacerdotes e os fariseus e foram ter com Pilatos, 63dizendo: «Senhor, lembrámo-nos do que aquele impostor, ainda vivo, disse: “Depois de três dias ressuscitarei”. 64Ordena, portanto, que se proteja o túmulo até ao terceiro dia, não aconteça que venham os seus discípulos roubá-lo e digam ao povo: “Ressuscitou dos mortos”. Esta última impostura seria pior do que a primeira». 65Disse-lhes Pilatos: «Tendes a guarda. Ide embora e protegei-o como entenderdes». 66Eles foram e protegeram o túmulo, selando a pedra e montando a guarda.


28 Ressurreição de Jesus (Mc 16,1-8; Lc 24,1-12; Jo 20,1-18) – 1Depois do sábado, ao raiar do primeiro dia da semana[303], Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo. 2E eis que houve um grande tremor de terra, pois um anjo do Senhor, descendo do céu e aproximando-se, rolou a pedra e sentou-se em cima dela. 3O seu aspeto era como um relâmpago e a sua roupa branca como neve. 4Com medo dele, os guardas tremeram e ficaram como mortos. 5Mas, em resposta, o anjo disse às mulheres: «Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, o crucificado. 6Não está aqui, pois ressuscitou como disse. Vinde, vede o lugar onde jazia. 7E ide rapidamente dizer aos seus discípulos: “Ressuscitou dos mortos! E eis que vai à vossa frente para a Galileia. Lá o vereis”. Eis que vo-lo disse». 8E, ao afastar-se rapidamente do sepulcro, com medo e uma grande alegria, correram a anunciar aos seus discípulos.

9Mas eis que Jesus foi ao seu encontro, dizendo: “Salve!”. Aproximando-se, elas agarraram-se-lhe aos pés e ajoelharam-se diante dele. 10Disse-lhes, então, Jesus: «Não tenhais medo! Ide, anunciai aos meus irmãos que partam para a Galileia, e aí me verão».


Embuste dos sacerdotes – 11Enquanto elas iam a caminho, eis que alguns dos guardas foram à cidade anunciar aos chefes dos sacerdotes tudo o que acontecera. 12Reuniram-se, então, com os anciãos e concordaram, em conselho, em dar uma considerável soma de dinheiro aos soldados, 13dizendo: «Dizei que os seus discípulos vieram de noite roubá-lo, enquanto nós dormíamos. 14E, se isto chegar aos ouvidos do governador, nós o convenceremos e faremos com que vós fiqueis livres de preocupações[304]». 15Eles, ao receberem o dinheiro, fizeram como tinham sido instruídos. E esta versão espalhou-se entre os judeus, até ao dia de hoje.


Jesus aparece aos onze – 16Os onze discípulos foram para a Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. 17Quando o viram, ajoelharam-se, mas duvidaram. 18Jesus, ao aproximar-se, falou-lhes dizendo: «Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. 19Ide, fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que Eu estou convosco[305] todos os dias, até à consumação dos tempos».


  1. A narrativa de Mt deseja transmitir o conflito entre as duas realezas, a de Herodes e a de Jesus. Os judeus, a começar pelo seu rei e pela capital, Jerusalém, deviam aceitar o seu Messias, mas foram os magos, em busca da verdade, que o aceitaram.
  2. O episódio dos magos é exclusivo de Mt. Este episódio acontece sob o reinado de Herodes, o Grande (um rei aliado, rex socius, de Roma), filho de Antípatro, que viveu entre 73 a.C – 4 a.C. O mágos era um membro da casta sacerdotal persa.
  3. Os arkhiereîs (que traduzimos sempre por os chefes dos sacerdotes) e os grammateîs (sempre traduzido por os doutores da lei, ou seja, os entendidos na Torá, a Lei judaica) faziam parte do sinédrio, a autoridade máxima para os judeus, com sede em Jerusalém. Era presidida por um sumo-sacerdote e constituída por mais setenta membros.
  4. Citação mista de 2Sm 5,2 (LXX) e 1Cr 11,2 com Mq 5,1-3. Belém está relacionada com David a partir da sua bisavó Rute (Rt 1,1-4; cf. 1Sm 16; 17,12). Cf. Jo 7,32.
  5. Lit.: alegraram-se com uma grande alegria.
  6. Por terra é acrescento da tradução.
  7. Nestes três presentes estão espelhados a realeza de Jesus (ouro), o seu sacerdócio e divindade (incenso), a sua capacidade profética e o seu sofrimento (mirra). Segundo a Escritura, estas seriam as dádivas dos povos ao Messias que haveria de vir a Israel (cf. Sl 72,10.11.15; Is 60,6.11.13).
  8. Para o Egito peregrinaram Abraão (Gn 12,10-20), Lot (Gn 19,15) e Jacob (Gn 46,2-4).
  9. O cumprimento de que fala Mt não corresponde ao pēcher judaico ou qumrânico (comentário versículo a versículo do texto hebraico), pois o primeiro parte de um acontecimento histórico lido como o culminar de vaticínios, enquanto o segundo tem como ponto de partida um texto bíblico e tenta compreendê-lo.
  10. Os 11,1. Mt segue o texto hebraico, porque os LXX, o targum e Teodocião apresentam tékna (crianças, filhinhos) em vez de huiós (filho). Ramá situa-se a norte de Jerusalém. Ao vir do Egito, Jesus aparece como um novo Moisés.
  11. Herodes repete a violência do faraó em Ex 1,16.
  12. Jr 31,15. Belém, segundo a tradição, é o lugar onde Raquel fora sepultada, e em Ramá reuniram-se os deportados levados para o exílio (Jr 40,1).
  13. Lit.: procuravam a vida do menino.
  14. Arquelau era filho de Herodes, o Grande, e era tão violento quanto o pai. Governou os territórios da Judeia, Idumeia e Samaria de 4 a.C. – 6 d.C. Foi destituído por Roma e substituído por um procurador romano.
  15. O nazareno evoca o nētser (o rebento de Is 11,1) e o nāzîr (o consagrado), na linha de Sansão e de Samuel (cf. Nm 6,1-21; Jz 13-16; 1Sm 1,22).
  16. A expressão reino dos céus substitui reino de Deus, porque Mt evita usar o santo Nome de Deus, à boa maneira da tradição judaica. Além disso, reino dos céus era uma locução sinagogal que já encontramos em Yohanan ben-Zakkai (mQidd 1,59d).
  17. Is 40,3.
  18. João vestia-se à maneira de alguns profetas, como Elias (cf. 17,10-13; Ex 9,17; 2Rs 1,8; Zc 13,4). A forma como se alimenta sublinha o seu ascetismo.
  19. Este é considerado por vários autores como o começo do hipotético documento Q (do alemão Quelle, a fonte dos ditos de Jesus comuns a Mt e Lc, e não presentes em Mc). Os fariseus (perûchim, os separados) eram um grupo de zelosos observantes da Torá (a Lei), surgido no séc. II a.C., que por isso se consideravam separados para a salvação face aos demais (cf. Flávio Josefo, Bell. Jud. II,8.2). Os saduceus (grupo aristocrata da classe sacerdotal) tinham assento no sinédrio, tal como os fariseus, mas, ao contrário destes, não acreditavam na ressurreição (por não ser referida no Pentateuco), nem nos anjos, nem na tradição oral, nem na providência divina.
  20. Forte é um dos adjetivos usados no AT para qualificar Deus (cf. Jr 32,18; Dn 9,4). Na tradição rabínica o discípulo era suposto calçar o seu mestre (cf. bKet 96).
  21. A justiça aqui é vista por Mt, tal como na literatura de Qumran (conjunto dos escritos – 200 a.C./68 d.C – da comunidade dos essénios encontrados em Qumran, nas margens do Mar Morto) e dos Tanaîm (sábios judeus compiladores da Torah che be-‘alpê, a tradição oral), como uma imposição humana ético-religiosa ou uma exigência jurídica que é preciso cumprir. Pode considerar-se aqui uma justiça inferior, equivalente à tsédeq hebraica (justiça forense). Mas em Mt 5,20 e 6,2 tratar-se-á de uma justiça superior (mais perto da tsedāqāh, a justiça em si), a qual sintomaticamente Mt traduzirá por compaixão / misericórdia (eleēmosýnē), mais próximo do correspondente aramaico de tsidqā’ (cf. mAvot 1,13).
  22. O número quarenta evoca os quarenta anos de Israel no deserto antes de chegar à terra prometida (Ex 16,35; Nm 14,33s; 32,13; Dt 1,3), mas também os dias e as noites que Moisés passou na montanha do Horeb antes de receber as tábuas da Lei (cf. Ex 19s; 24,18; 34,28; Nm 14,34; Dt 9,9), ou a caminhada de Elias até ao mesmo monte (cf. 1 Rs 19,8).
  23. Dt 8,3.
  24. Sl 91,11s.
  25. Dt 6,16.
  26. Por terra é acrescento da tradução.
  27. Dt 5,9; 6,13. As tentações de Jesus, de acordo com os textos citados do AT, condizem com as tentações do povo eleito do AT na sua caminhada de quarenta anos pelo deserto.
  28. A Galileia, depois da morte do rei Salomão, entrou em cisma político-religioso com a Judeia e era, por isso, apelidada Galileia dos pagãos, sobretudo a seguir à destruição da Samaria em 722 a.C., devido à forte presença de população pagã e à influência de idêntica cultura.
  29. Is 8,23; 9,1.
  30. Lit.: avançando desde ali.
  31. O evangelho do reino é uma expressão típica de Mt (9,35; 24,14).
  32. Lit.: lunáticos.
  33. A Decápole era um conjunto de dez cidades a leste e a nordeste da Galileia, sob a jurisdição de Filipe, o filho de Herodes. A lista não é rigorosa em Plínio (Nat. 5,16), mas parece que era composta por: Damasco, Filadélfia (Amman), Rafana, Sitópolis (Betchean), Gádara, Hipo-Susita, Dion, Péla, Gérasa e Canata.
  34. As bem-aventuranças são anúncio e proposta de felicidade, central em toda a Bíblia. O grego makários (feliz) aparece 50 vezes no NT, das quais 28 nos Sinópticos. Na origem aplicava-se às divindades. Jesus declara felizes os que participam no reino de Deus por Ele iniciado, por duas razões, correspondentes às duas partes em que se dividem: 1º, porque, na sua indigência, se confiam a Deus (vv. 3-6); 2º, porque, com a energia dele recebida, se entregam aos outros (vv. 7-9). É uma felicidade já presente (vv. 3 e 9: deles é o reino dos céus) e a consumar no futuro (vv. 4-8, com o tempo verbal futuro). Das nove de Mt (a 9ª concretiza a 8ª), quatro são, na temática, comuns a Lc e, por isso, provenientes da fonte (Quelle) comum.
  35. Inicia-se aqui o primeiro de cinco grandes discursos de Jesus. Este prolonga-se até ao fim do cap.7 e aborda as temáticas da justiça e do reino de Deus. Por se iniciar num monte, ficou conhecido como o sermão da montanha. É também chamado a magna carta do reino. Depois do exordium (introdução) que são as bem-aventuranças (5,1-12), seguem-se três partes: uma sobre a justiça (5,13-48), outra sobre as boas obras (6,1-18) e outra com várias advertências (cap.7).
  36. Lit.: abrindo a sua boca.
  37. Os pobres aqui são os ‘anāwîm, os pobres de Javé também referidos em 1QM 4,17; 1QH 14,3 e 2Hen 42,6-14, aqueles cujo espírito está livre e disponível para acolher o Senhor: cf. Pr 15,13; 16,19; 29,23; Hab 4,4.10; Sl 34,19; Is 29,24.
  38. Mt usa um verbo derivado de pénthos, que em grego designa uma pena muito intensa, uma aflição provocada por calamidades ou tragédias, um grande desgosto.
  39. Lit.: serão «misericordiados». Da misericórdia fazem parte as atitudes e obras referidas nos vv. 8-10.
  40. Começa aqui uma secção diatríbica contra os fariseus. Mt recorre aqui às diatribes rabínicas e respetivas fórmulas de confronto nos escritos judaicos sapienciais: TestLev 16,4; TestRub 1,7; TestBenj 9,1.
  41. Lit: um só iota.
  42. Mt segue aqui a sensibilidade judaica (mAvot 2,1; 3,18) e considera que os pormenores da Lei continuam importantes e válidos.
  43. Citação das leis apodíticas (máximas incontestáveis) de Ex 20,13 e Dt 5,17.
  44. Para o sinédrio, cf. 2,4 nota. O insulto raqa parece ser uma transliteração do aramaico reyqa’: cf. Sir 34,21.
  45. Lit.: será réu para a Geena do fogo.
  46. A expressão hebraica Gē-ben-hinnom (Vale do Filho de Hinom) ou o aramaico gey-hinnam darão origem à palavra Geena, um vale situado a oeste e sudoeste da colina de Jerusalém. Era o lugar onde uma fogueira ardia de modo permanente, a fim de queimar os lixos da cidade de Jerusalém. Era o oposto do lugar paradisíaco do jardim das delícias na literatura intertestamentária (cf. 4Esd 7,36; 1Hen 90,26).
  47. Ex 20,17. Esta radicalidade encontra eco no judaísmo palestinense e na própria literatura sapiencial: Sir 26,9.11; TestIss 7,2; SlSal 4,4; TestBenj 8,2; mKel 1; LevR 23,122; Jub 20,4; 1QS 1,6; bYoma 29; mas também existe uma exegese rigorista do sexto mandamento na literatura peritestamentária.
  48. Jesus usa aqui Dt 25,11-12 para alertar para as consequências do pecado. Esta forma hiperbólica de expressar uma ideia era uma técnica muito usada na antiguidade para a gravar na memória dos ouvintes.
  49. No tratado sobre o divórcio na Michná (recolha escrita da tradição oral judaica, no final do séc. II d.C.), estão atestadas as posições mais ou menos livres da tradição judaica representada nas escolas de Chamai e de Hillel (cf. mGitt 9,10), para as quais o mais pequeno motivo era razão suficiente para repudiar a mulher. Jesus não só se opõe radicalmente à banalização do get (o libelo de divórcio), como ao divórcio per se.
  50. Jesus coloca em causa aqui o princípio da Torá oral mais tarde incorporada no Pentateuco (Dt 24,1-4), de que os fariseus tantas vezes se serviam para justificar a sua prática da expulsão da mulher e sobrepor este texto a Lv 18,6-18.20. Este tema será retomado em 19,1-9.
  51. Jesus desafia a ir além da lei de talião, expressão de uma justiça meramente retributiva (cf. Gn 9,1-17; Ex 21,23-25; Lv 24,17-21; Dt 19,21; 2Sm 14,7; Sb 11,16-24; Ez 35,6s).
  52. Lit.: ao malfeitor/ao malvado.
  53. Lit.: volta-lhe também a outra.
  54. Dar a outra face era considerado desonroso e vergonhoso no judaísmo rabínico (cf.mBabQam 8,6).
  55. O tratamento dos inimigos é abordado favoravelmente, entre inúmeras passagens e contextos, em Ex 23,4s; Jb 31,29 e Pr 25,21s; odiarás os teus inimigos não se encontra em todo o AT, apesar de Lv 19,18 e Dt 23,3-6 se aproximarem bastante deste dito. Além disso, em Qumran, na 1QS 1,3-10 parece subsistir essa condenação de ódio para os filhos das trevas e de Belial – inimigos dos filhos da luz; por outro lado, a posterior tradição midráchica vai em sentido contrário (cf. mAvot I.6), e a tradição talmúdica relê este tipo de afirmação à maneira semita, na qual odiarás tem o sentido de menosprezar (cf. mYeb 23; AvotRN 23; mBer 4,7).
  56. No mundo oriental, uma saudação significa o desejo de bênção a alguém (cf. mAvot 4,15).
  57. Também os discípulos do rabi Chamai condenavam a prática de prometer esmolas em público (cf. tShab 16,22), mesmo sendo considerada uma das boas ações fundamentais para um judeu (cf. mAvot 1,2; 2,7; mPe’ah 1,1).
  58. Também os pagãos, os não judeus, julgavam poder pressionar a divindade (1Rs 18,27-28) apenas pela repetição de fórmulas oracionais. Disto também não se livrou o judaísmo (Sir 7,14; Is 1,15).
  59. A palavra grega epioúsion, traduzido por de cada dia, tem um sentido incerto. Foi traduzida de várias maneiras: necessário, de cada dia, para o dia seguinte, substancial. Nos primeiros tempos, os cristãos também o associavam ao pão eucarístico. Cf. Ex 16,14.31; Sb 16,20-21.
  60. Alguns mss. acrescentam uma fórmula litúrgica antiga: Porque teu é o reino, o poder e a glória para sempre.
  61. O jejum era uma prática comum no judaísmo na preparação das grandes festas (cf. Ex 34,28; At 13,2s; 27,9-44) e frequente entre os fariseus.
  62. Lit.: entesoureis.
  63. cf. TestBenj 4; mAvot 2,8-9
  64. Lit.: e a mamona. Era, na origem, a divindade fenícia e síria das riquezas; depois, a sua personificação.
  65. Gente de pouca fé constitui uma expressão cara a Mt (8,26; 14,31; 16,8; 17,20-21).
  66. cf. mSota 1,7-9.
  67. O que é santo é para estar próximo do Deus Santo: da mesma maneira as oferendas consagradas a Deus (cf. Ex 29,33s; Lv 2,3). A Escritura considera os cães animais repugnantes e impuros (cf. Sl 22,17.21; Pr 26,11).
  68. Esta é a chamada regra de ouro: cf. Dt 15,13; Tb 4,16; Sir 31,15; bShab 31. Nela se resume toda a interpretação bíblica (Lei e Profetas), iniciada por Jesus em Mt 5,21. É, de resto, semelhante ao mandamento do amor – Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18)visto por Ele também como parte da síntese da Lei (Mt 22,39par).
  69. A oferta dos dois caminhos, como desafio feito à liberdade, retoma Dt 28; 30,10-18; cf. Barn 18,1; 1QS 3,18-25.
  70. Os falsos profetas recordam os do AT (cf. Jr 14,1-15,4; Lm 2,14; Ez 13,2s; Zc 13,2.4-6). Dos critérios de discernimento entre verdadeiros e falsos profetas fala-se já em Dt 13,2-6; Jr 23,9-13; Mq 3,5.
  71. Lit.: com vestes de ovelhas.
  72. Esta é uma fórmula estereotipada com a qual Mt marca uma nova secção na sua narrativa evangélica, repetida em 11.1; 13,53; 19,1; 26,1.
  73. Começa aqui a segunda grande secção do núcleo central do evangelho, pontuada por vários encontros, depois de Jesus deixar o monte do discurso anterior. Mt retoma aqui a narrativa de Mc (cf. Mc 1,40-2,22), expondo dez intervenções miraculosas de Jesus (sobretudo curas).
  74. A lepra era vista como um castigo divino que tornava um judeu impuro. Um leproso era, por isso, colocado à margem da sociedade e ostracizado (cf. Dt 28,27.35), pois transportava uma doença considerada como um sinal de pecado que excluía da comunidade (cf. Ex 4,6s; Lv 13,1-59; Nm 5,2).
  75. Centurião, oficial comandante de c. cem homens.
  76. Lit.: tendo debaixo de mim próprio soldados.
  77. Is 53,4.
  78. A expressão Filho do Homem é o título com que Jesus normalmente se refere a si mesmo; evoca a simples figura humana e, de modo particular, a figura misteriosa de Dn 7,13 que, vindo do céu, tem a missão de julgar o mundo e de estabelecer um reino universal e eterno.
  79. Ao relativizar a importância dada aos mortos, Jesus colide com a tradição judaica de mBer 3,1.
  80. Estes elementos de agitação e de tremor integram os relatos apocalípticos e teofânicos (27,51-53; Ex 19,16-18; 1Sm 7,10; 1Rs 8,10; 2Cr 7,1; Jb 38,1; Sb 5,2-33; Is 6,4; Hab 3,3; Mc 1,10s; At 2,3).
  81. O mar era visto como o lugar das forças do mal (cf. Is 51,9s). Sobre esse lugar só Deus tem poder (cf. Jn 2,3-11), exercido agora por Jesus, o que manifesta a sua natureza divina.
  82. Gádara era uma cidade helenista da Decápole, na Transjordânia, a 10 quilómetros ao sul do lago de Genesaré.
  83. Que há entre nós e ti? é uma expressão típica e literalmente semita. Na tradição judaica perdurava a convicção de que os demónios infernizariam a vida e a história até ao fim dos tempos (cf. 1Hen 15-16; Jub 10,8-9; TestLev 18,12).
  84. Lit.: e também as coisas dos endemoniados.
  85. A sua cidade era Cafarnaum (Kēpher Nahûm), nas margens do Lago de Tiberíades.
  86. Mc e Lc chamam-lhe Levi, filho de Alfeu. O seu nome aparece nas listas dos apóstolos (10,3).
  87. Os publicanos eram funcionários do império romano para a cobrança dos impostos de mercadorias transportadas de uma província para outra. Na Palestina de então, havia dois postos fronteiriços: o de Cafarnaum, ao Norte, na passagem da Palestina para a Síria, e o de Jericó, ao Sul, na passagem para a Transjordânia. Os publicanos eram vistos pelos judeus ortodoxos como pecadores e gente impura pelo colaboracionismo com os romanos, por causa de alguns produtos transacionáveis e pelos abusos e injustiças nas cobranças dos impostos.
  88. Os 6,6.
  89. Lit.: os filhos do quarto nupcial ou os filhos da sala nupcial. Pode indicar quer os amigos do noivo, quer os convidados para as núpcias em sentido geral.
  90. Em Mt trata-se da cura da filha de um chefe. Em Mc 5,22, o pai da criança é apresentado como um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo (cf. Lc 8,41). Sobre a mulher com o fluxo de sangue, cf. Lv 15,19-31. Jesus elimina o sistema estrutural da impureza legal, sobretudo quando ligado ao sangue.
  91. O fluxo de sangue menstrual, segundo Lv 25, tornava a mulher impura e também os que a tocassem.
  92. É a primeira vez que este título do Messias é aplicado a Jesus (15,22; 20,30s; 21,9.15).
  93. Trata-se de um sumário de Mt (cf. 4,23-25), que faz a transição entre a missão de Jesus e a dos apóstolos (cap.10).
  94. O grego therismós diz respeito ao ato de colher no tempo próprio e, por extensão de sentido, à própria seara.
  95. O número doze simboliza as doze tribos de Israel (19,28), i.e., o novo Israel a partir de Jesus e dos seus discípulos.
  96. Neste segundo grande discurso, Jesus escolhe os Doze e envia-os, pedindo-lhes coragem e desprendimento.
  97. Iscariotes pode significar oriundo de Keriot (povoação da Palestina meridional: cf. Js 15,25; Am 2,2), mentiroso (raiz aramaica), ou sicário (transcrição semítica) que, no latim, é equivalente a zelote.
  98. Ou que o traiu (ho paradoús autón).
  99. Lit.: não partais para caminho de pagãos.
  100. Os samaritanos tinham templo próprio no monte Garizim e, desde a queda da Samaria em 721 a.C. e do exílio assírio, eram vistos como judeus renegados, não totalmente fiéis à Torá (cf. 2Rs 17,24-41; Esd 4,2), embora aceitassem os seus cinco livros. Estas divergências agudizaram-se no período pós-exílico da Babilónia, pois a partir daí a clivagem atingiu o nível canónico, quando o Pentateuco samaritano se revestiu de algumas diferenças. No séc.II a.C. os judeus destruíram-lhes o templo.
  101. Lit.: para as vossas cinturas.
  102. Alguns mss. acrescentam: Paz a esta casa (Lc 10,5).
  103. Trata-se, muito provavelmente, de um provérbio, pois também é partilhado no ChirR 2,14.
  104. Lit.: para testemunho a eles e aos pagãos.
  105. O nome Beelzebú, do hebraico Baal-Zebul, significa Senhor-príncipe, divindade síria que em 2Rs 1,1s é deformado em Baal-Zebub: Senhor das moscas. Popularmente era o príncipe dos espíritos maus (cf. 9,34; 12,24; 2Rs 1,2; Mc 3,22; Lc 11,15).
  106. Lit.: um asse, antiga moeda romana de cobre.
  107. Lit.: sem o vosso Pai.
  108. As afirmações de Jesus têm um sentido metafórico, a partir de decisões existenciais que podem conduzir a ruturas familiares.
  109. Mq 7,6.
  110. O verbo grego philéō é traduzido por gostar de ou ser amigo de, para o distinguir do verbo agapáō, amar. Este último é bastante mais frequente no NT e exprime um amor que se dá sem esperar nada em troca, de tal forma que o substantivo agápē é usado para exprimir a natureza de Deus (cf. 1Jo 4,8.16).
  111. Esta ideia faz parte da cultura judaica (cf. mBer 5,5: O enviado de um homem é como se fosse ele mesmo).
  112. Trata-se de uma fórmula de transição que indica o início de uma nova secção. Este v. explicita uma mudança face ao território literário anterior. Até 13,52 Jesus apresenta um conjunto de parábolas e de sinais para falar do reino. A perícope de 11,1-19 recolhe material da fonte Q (cf. Lc 7,18-35; 10,12-15).
  113. Lit.: és tu o que vem.
  114. Ex 23,20; Ml 3,1.
  115. Texto enigmático: de que violência se trata? Da violência dos zelotes contra os romanos? Das violências de grupos judaicos contra os cristãos? Da violência interior cristã para entrar no reino?
  116. Sákkos é um tipo de pano rude, normalmente feito de pele de animais, que se usava em cima do corpo como se fosse um saco (daí o seu nome) e era normalmente usado como sinal de luto, penitência ou súplica. Na cultura judaica, era também costume atirar cinza à cabeça como sinal de luto (Jb 1,21; 2,12; Jr 6,26). Corazim, Betsaida e Cafarnaum constituíam o chamado «triângulo evangélico» onde Jesus realizou muitos prodígios e sinais, aos quais estas cidades reagiram com incredulidade. Daí terem sido comparadas às grandes cidades pecadoras de Sodoma e de Gomorra, de Tiro e de Sídon (cf. Gn 19,28s; Is 1,9; Ez 27,1.4.30-32; Am 1,9; Mc 7,24; Lc 10,12-14), estas duas últimas alvo da crítica severa dos profetas (cf. Is 23,1; Ez 26-28).
  117. Lit.: Hades, o inferno da mitologia grega.
  118. Is 14,13.15.
  119. A expressão em resposta (apokritheís) assinala a contrastante transição entre aqueles que rejeitam Jesus (antes e depois desta oração) e os que o acolhem. A resposta consta de uma oração de louvor ao Pai (vv. 25s), da revelação da sua exclusiva relação filial com Ele (v. 26) e do reforçado convite aos que mais dele carecem (vv. 28-30). No centro está o reconhecimento de amor entre o Filho e o Pai: nele se insere o louvor e dele participam os simples e os fatigados e oprimidos, carentes de um amor, cujo jugo é suave.
  120. Mt regressa aqui à narrativa de Mc, a qual tinha abandonado em 9,18.
  121. cf. 1Sm 21,2-7, em contraste com a lei sabática de Lv 24,4-9. Jesus serve-se da hermenêutica rabínica que defende uma doutrina mais recente com uma passagem bíblica contraposta a outra. Para Jesus o que está em questão é a defesa da pessoa, mesmo contra a norma legal de Lv 24,4-9. Não destrói ou sequer desconsidera o mandamento de sábado, que vem de Deus (cf. Ex 20,8), mas apenas o relativiza em favor de bens maiores, como no episódio seguinte (12,9-13).
  122. São também chamados os pães da proposição, os doze pães doces de farinha que eram colocados no templo, como sinal de aliança perpétua com as doze tribos de Israel. Eram trocados durante o sacrifício do sábado (cf. Lv 24,5-9).
  123. Os 6,6.
  124. Jesus, como mestre da halakáh (conjunto de comentários da tradição moral e jurídica), dá o verdadeiro sentido ao mandamento do sábado, usando para isso a técnica rabínica do qal-wahômer (contrapondo um argumento débil face a um argumento forte) a partir de um caso concreto (cf. bShab 128b; bBabMes 32b).
  125. Lit.: ressequida.
  126. Lit.: para que não o fizessem visível.
  127. Segundo algumas interpretações, a cana rachada é uma metáfora do homem pecador, e, como tal, frágil (cf. Mt 11,7), tal como a mecha que fumega.
  128. Is 42,1-4. Trata-se do primeiro cântico do Servo de Javé. O Servo vem trazer a salvação messiânica com uma vida sem violência, aberta a judeus e não-judeus.
  129. Satanás é a transliteração do hebraico sātān (adversário), figura que aparece personalizada em Jb 1.
  130. Lit.: na casa do forte... amarrar o forte.
  131. Lit.: fazeis.
  132. Jn 2,1.
  133. Nínive foi a capital dos assírios, um dos piores inimigos de Israel. A sua destruição histórica (em 612 a.C.), segundo o relato bíblico, terá sido profetizada em Na 2,6, e os seus habitantes mostraram arrependimento em virtude da pregação do profeta Jonas (Jn 3,5-10).
  134. Lit.: no juízo (tal como no v. 42).
  135. Rainha do Sul evoca a visita ao rei Salomão da rainha de Sabá (1Rs 10,1-13; 2Cr 9,1-12), proveniente das regiões da Etiópia e do Iémen.
  136. Nesta famosa parábola do semeador, Jesus usa uma imagem do quotidiano: a da terra pedregosa da Palestina, onde é difícil encontrar terreno com terra boa, em que as raízes possam em profundidade alimentar-se e ganhar estabilidade. Assim, os leitores e os ouvintes ficam a saber que, para consolidar a relação pessoal com o Senhor Jesus, é preciso tempo, profundidade, é preciso refletir, pensar na palavra de Deus para que ela vá ganhando raízes.
  137. A expressão mistérios do reino aparece apenas aqui nos evangelhos.
  138. Is 6,9s.
  139. Lit.: é para tempo oportuno, i.e., efémero.
  140. Lit.: homem inimigo.
  141. Lit.: …três sata – plural do grego sáton, uma medida que levava c. 10 litros.
  142. Sl 78,2.
  143. Lit.: escândalos.
  144. Nos vv. 36-43, Jesus transforma a parábola em alegoria com expressões apocalípticas.
  145. Lit.: homem comerciante.
  146. Peixe é acrescento da tradução.
  147. Este v. destaca o início de um novo bloco (7,28s; 11,1; 19,1; 26,1s), que começa com as dificuldades da missão na própria terra de Jesus, Nazaré.
  148. No talmud de Jerusalém, os carpinteiros (naggārā’) são elogiados pelo seu conhecimento da Torá (cf. yYebam 8,9b; yQidd 4,66b).
  149. Lc 4,16-30 coloca a rejeição de Jesus na sua terra, no início da narração da vida pública.
  150. Lit.: não fez ali muitos poderes.
  151. Herodes Ântipas, filho de Herodes, o Grande, que herdou as províncias da Galileia e da Pereia, um estado que era uma quarta parte do reino do pai (cf. Lc 3,1s.19; 9,7; At 13,1). Daí o título tetrarca, atribuído ao líder de cada um dos quatro estados, todos eles sob o domínio romano.
  152. Herodíade, filha de Aristobulo e Berenice, mulher de Herodes Filipe, desposou ilegalmente Herodes Ântipas, seu tio (cf. Lc 3,19). Herodes Ântipas tinha repudiado a primeira mulher, filha do rei nabateu Aretas (cf. Flávio Josefo, Bell.Jud I,8.9; I,28.4; II,11.6; Ant.Jud XVII,7.3; XVIII,5.4).
  153. Lit.: dançou do meio.
  154. Esta primeira multiplicação dos pães evoca o alimento do maná dado por Deus a Israel no deserto (cf. Ex 16,4s.15-36; Sl 78,24-30; Sb 16,20-21) e a recolha nos cestos evoca um outro episódio do AT passado com Eliseu e o seu servo (2Rs 4,42-44). São ainda claras, neste relato e nos outros cinco dos evangelhos, as afinidades com os da última Ceia de Jesus e a celebração da Eucaristia desde os primórdios da Igreja.
  155. A quarta vigília da noite corresponde ao último período de três horas antes da madrugada, i.e., ao período entre as três e as seis da manhã, antes de o sol se levantar, quando no horizonte já se começa a entrever o tom rosa da aurora. Esta referência é significativa, porque indica que Jesus, a nova luz, vem ao encontro dos discípulos com o seu poder divino, já que só Deus podia assim dominar as forças do mar e do mal.
  156. Os vv. 28-31 sobre a pessoa de Pedro são exclusivos de Mt. Entre Jesus e Pedro há uma relação profunda (cf. também 16,17-19 e 17,24-27).
  157. Lit.: enviaram (subentende-se notícia).
  158. Em 15,1-20 fica claro que a Igreja judeo-cristã de Mt vivia tempos de tensão com as tradições dos judeus em defesa da sua identidade e ortodoxia.
  159. Lit: que com morte pereça.
  160. Lit: é oferta o que de mim te aproveitaria. Os bens que os filhos ofereciam no templo tornavam-se sagrados (Nm 30,2-4), o que impedia os pais de os reclamarem. Esta prática evoluiu para uma estratégia legal, usada pelos filhos para se ilibarem da responsabilidade de sustentar os progenitores.
  161. Is 29,13.
  162. As preocupações com as prescrições para preservar as regras de pureza eram bastante grandes no judaísmo palestinense do tempo de Jesus (cf. Gn 7,2; Lv 11,1; Os 9,4; Am 7,17; Mc 7,3.14-23), ao ponto de se tornarem um tratado autónomo sobre as leis de impureza (tehōrôt) na Michná.
  163. Lit.: a palavra.
  164. O termo blasphēmía também pode significar calúnia, boato.
  165. As regiões de Tiro e de Sídon eram consideradas pagãs.
  166. Este número parece indicar que os destinatários são não judeus, pois a plenitude evocada no número mil espalha-se aos quatro cantos da terra, ou seja, de uma maneira universal.
  167. Região desconhecida. É possível que se trate de uma corruptela de Magdala.
  168. O exemplo de Jonas, nas suas duas dimensões figurativas (pregação aos pagãos, e entrada e saída do seio da baleia), serve de paradigma para o sinal presente e futuro da vida de Jesus.
  169. Mt é o único a comparar o legalismo e a hipocrisia dos fariseus a um fermento que pode contaminar os discípulos, um perigo presente em cenas que se seguem.
  170. Cesareia de Filipe era uma povoação construída perto da nascente do Jordão por Herodes Filipe, em honra de César Augusto, no ano 2 a.C.. Hoje chama-se Bânias (cf. Mc 8,27) e situa-se na zona mais a norte da terra de Canaã. Os filhos de Herodes, tal como o pai, para agradar a Roma, deram o nome do César a cidades que construíram.
  171. Diferente dos paralelos de Mc (8,29) e Lc (9,20), que apenas afirmam a messianidade de Jesus, Mt afirma também a fé na filiação divina (já conhecida dos leitores desde 1,18-25; 3,17; 11,27 e 14,23), razão da resposta de Jesus a Pedro.
  172. Lit.: Bariōnâ, assim transliterado para grego e que significa filho de Jonas (nome do pai).
  173. O binómio carne e sangue é um semitismo para indicar a natureza humana. A pessoa de Pedro, sem a revelação, nunca poderia confessar a filiação divina de Jesus.
  174. Mudar o nome da pessoa indica, a partir da filologia, a nova missão dessa pessoa. Simão é, agora, Kēypha’ (pedra em aramaico), traduzido em grego por Pétros (pedra / Pedro: cf. Is 28,14-22; 51,1s; 1QH 3,13-18; 6,25-27). Apenas Jo 1,42 estabelece explicitamente esta ligação. Todavia, ela está subjacente nas referências que Paulo faz de Pedro quando sintomaticamente o apresenta como Cefas no encontro em Jerusalém em Gl 1,18, no incidente de Antioquia em Gl 2,11-14, e no querigma (pregação na Igreja primitiva) de 1Cor 15,5.
  175. Só em Mt Jesus usa a palavra Igreja, e por duas vezes, aqui e em 18,17.
  176. Lit.: Hades, o inferno da mitologia grega.
  177. Ligar e desligar significava, na linguagem rabínica, proibir e permitir em relação à interpretação e aplicação da Lei, nos campos doutrinal e disciplinar. Este poder é transmitido por Jesus a Pedro (e aos outros discípulos em 18,19) no que toca à interpretação e ensino da vontade de Deus por Ele revelada.
  178. Trata-se de um passivo teológico (uma ação de Deus).
  179. Depois de anunciar pela primeira vez o seu fim em Jerusalém, Jesus antecipa aos discípulos a ressurreição, pois a morte não é a última palavra. Esta antecipação dá-se num monte, o lugar onde o novo Moisés, que Ele é em Mt, recebe de Deus a revelação definitiva que consuma a do AT. Não admira que as suas vestes refuljam como as de Moisés em Ex 34,29, que a nuvem de Deus venha outra vez como em Ex 40,35, que converse com os grandes representantes da Lei (Moisés) e dos profetas (Elias) como em Dt 18,15. Esta experiência para os discípulos foi traumática, de medo, ao ponto de Jesus ter de intervir. Isto significa que esta experiência de encontro, para os discípulos de bibliagogia (um percurso pela Sagrada Escritura), prolonga-se no tempo, como é próprio da catequese.
  180. A nuvem é sinal de teofania: no Sinai (cf. Ex 19,16-18; 1Rs 8,10), na Tenda da reunião (cf. Ex 27,21; 40,34-35; Nm 1,1-54), no templo (1Rs 8,10-12).
  181. Lit.: os olhos deles.
  182. Lit.: lunático. Denominação de um epilético, por se pensar que a doença era influenciada pela lua.
  183. Lit. como um grão de mostarda.
  184. Este v. está ausente nos principais mss.; alguns leem: esta raça não se vai embora senão pela oração e pelo jejum, uma clara influência de Mc 9,29.
  185. Lit.: as didracmas (unidade monetária do mundo antigo). Estas duas dracmas (c. meio ciclo, c. 6 a 7 gramas de prata) constituíam um imposto ou contributo para o culto do templo. Deveriam ser pagas por todos os judeus a partir dos vinte anos, habitassem ou não a terra de Canaã. Assim se compreende a presença de cambistas e de mercadores no templo (cf. 21,12; Jo 2,15).
  186. Lit. censo (latinismo).
  187. Lit.: estáter, moeda grega usada em diversas regiões da Grécia, ou o seu equivalente na moeda local.
  188. Neste quarto grande discurso, Jesus apresenta alguns ensinamentos sobre a própria comunidade eclesial no seu todo, sobre aquele(a)s que não fazem parte dela, sobre os membros da comunidade e sobre os seus líderes.
  189. Lit.: uma mó de jumento.
  190. Pois o Filho do Homem veio para salvar o que estava perdido: este v. não aparece nos principais mss.; parece provir de Lc 19,10.
  191. Lit.: entre ti e ele só.
  192. Dt 19,15.
  193. A imagem sobre o poder de ligar e desligar apareceu em 16,19 aplicada apenas ao apóstolo Pedro.
  194. Um denário correspondia ao salário de um dia de trabalho, ou o equivalente a c. 6 gramas de prata no sistema grego. Um talento (ou kikkar) corresponderia a c. 36 quilogramas de massa, o equivalente a c. 70 libras, ou o necessário para encher uma ânfora de água. Assim, um talento corresponderia a c. 6000 denários.
  195. Lit.: fosse pago.
  196. Lit.: caindo.
  197. Lit.: caindo.
  198. Lit.: se não perdoardes, cada um ao seu irmão, a partir dos vossos corações.
  199. Com esta fórmula semelhante às de 7,28s; 11,1; 13,53 e 26,1s, Mt indica que começa uma nova secção no evangelho.
  200. O quinto bloco não foge ao tema difícil do juízo escatológico, sobretudo nos caps. 24-25. Tal como nos discursos anteriores, Jesus vai ensinando a propósito de questões muito concretas, neste caso quando começa aqui a sua subida para Jerusalém.
  201. Jesus não entra numa resposta simplista, mas distingue desde o início aquilo que não convinha aos fariseus: há uma diferença entre o começo e a origem. Jesus remete para a origem citando Gn 1,27 e 2,24. Os fariseus não gostam de ouvir isto, porque, legalistas como são, querem que Dt 24,1-4 (um texto da tradição oral) valha tanto quanto o sexto mandamento (texto da Torah che biktav, a tradição escrita). Jesus recorda-lhes que Moisés começou a tolerar a prática do divórcio, contra a qual Jesus se posiciona, remetendo para o Decálogo e para o mandamento divino das origens relatado no livro do Génesis.
  202. Dt 24,1.
  203. Mt apresenta o mesmo princípio de 1Co 7,14-15 (o chamado privilégio paulino) e aqui repete os ensinamentos de Jesus, que coloca a esposa numa situação paritária face ao esposo, o que é uma enorme novidade para o judaísmo palestinense do primeiro séc.. As exigências, os direitos e os deveres matrimoniais são os mesmos para eles e para elas. Além disso, mesmo sendo objetivamente contra o divórcio, Jesus assume uma postura pastoral, pois concede que existem situações, exceções em que não se trata de adultério.
  204. Lit.: se assim é a causa do homem com a mulher.
  205. Ex 20,12-16; Dt 5,16-20. Mt não cita os mandamentos na ordem em que surgem no Sinai. Além disso, não são citados os mandamentos sobre o exclusivo e total amor a Deus.
  206. Jesus profetiza aqui o martírio de Tiago em Jerusalém por volta do ano 44 (cf. At 12,2).
  207. Outros é acrescento da tradução.
  208. Betfagé (Casa dos figos), povoação situada na vertente oriental do Monte das Oliveiras, hoje Kefret-Tûr, está distante de Jerusalém um dia de sábado, i.e., c. 2000 côvados, a distância máxima permitida a um judeu percorrer num chabbāt.
  209. Is 62,11; Zc 9,9.
  210. Lit. significa salva-nos; cf. 2Rs 19,19; Sl 118,25.26. Sobre a expressão hebraica, cf. Mc 11,9 nota.
  211. Sl 118,25s.
  212. Pombas para os sacrifícios no templo.
  213. Is 56,7 e Jr 7,11.
  214. Sl 8,3.
  215. Lit.: saiu fora.
  216. Betânia (possivelmente de Bet-ananyiah, Casa de Ananias), povoação na encosta oriental do Monte das Oliveiras, no caminho de Jerusalém para Jericó (26,6), atual El-’Eizarije (cf. Mc 11,11; Lc 19,29-30). Este nome árabe liga-a a Lázaro (cf. Jo 11), pois daí era natural com as suas irmãs Marta e Maria.
  217. A figueira é figura de Israel que, tal como esta, secou às portas de sexta-feira santa.
  218. Cf. cântico da vinha de Is 5,1-7, usado aqui como parábola da história da salvação.
  219. Lit.: aos maus de forma má os destruirá.
  220. Sl 118,22, frequentemente aplicado no NT à morte e ressurreição de Jesus.
  221. Este v., ausente de vários mss., inspira-se em Dn 2,34.44b e alude possivelmente à destruição de Jerusalém em 70 d.C..
  222. A doutrinação em parábolas: a dos dois filhos (21,28-32), a dos vinhateiros (21,33-46) e a do banquete da boda (22,1-14) visam o Israel infiel do tempo de Jesus. Não admira que a reação dos responsáveis judeus fosse a favor da prisão e da morte de Jesus.
  223. O texto evoca provavelmente a destruição da cidade de Jerusalém no ano 70 d.C..
  224. Ou seja, os partidários de Herodes que, ao contrário dos fariseus, aceitavam o domínio romano.
  225. Lit.: e não te importas acerca de ninguém, pois não olhas para o rosto dos homens.
  226. Dt 25,5s; Gn 38,8. A prática do levirato foi instituída para permitir que a família tivesse descendência, quando a mulher ficava viúva e sem filhos. O cunhado (levir) desposava a cunhada viúva e dava continuidade à descendência.
  227. Ex 3,6.
  228. Epí tò autó, expressão de difícil interpretação (lit.: sobre o mesmo); poderá ser também traduzida por no mesmo lugar.
  229. Jesus cita aqui a parte inicial do Chemá‘ (Dt 6,4s).
  230. Lv 19,18.
  231. Lit.: em Espírito, no sentido de inspirado pelo Espírito Santo (cf. Mc 12,36).
  232. Sl 110,1.
  233. Lit.: franjas. Os filactérios são pequenos estojos ou caixas que contêm palavras essenciais da Lei, colocados pelos judeus no braço esquerdo ou sobre a fronte para os momentos de oração (cf. Ex 13,9; Dt 6,8s; 11,18-20), querendo com isto significar que estão sob a presença e orientação da palavra de Deus. Semelhante é a função das orlas ou franjas, colocadas nas quatro extremidades do manto (tallît) que o judeu piedoso coloca aos ombros para a oração (cf. Nm 15,37-41).
  234. O título rabi significa meu mestre e representa no judaísmo palestinense aquele que é seguido por um grupo de discípulos e assim tratado.
  235. Em grego kathēgētḗs, do verbo kathēgéomai, guiar, indicar o caminho, ensinar, ser o preceptor de. Neste v. estão as duas únicas ocorrências deste termo no NT.
  236. Começa aqui um conjunto de invetivas contra os fariseus com o estilo muito incisivo e condenatório dos «ais» usados pelos profetas em Israel.
  237. Este v. está ausente nos principais mss.; alguns leem: Ai de vós, doutores da lei e fariseus hipócritas, porque devorais as casas das viúvas, usando longas orações como pretexto. Por causa disto, recebereis uma condenação mais severa (Lc 20,47); provém provavelmente de Mc 12,40.
  238. Ou seja, para converter alguém.
  239. Lit.: nada é.
  240. A Lei exigia que se consagrasse ao templo um décimo dos produtos especificados em Dt 14,23, como o vinho ou azeite. Aqui, critica-se os fariseus por, num excesso de zelo religioso (interpretando literalmente Lv 27,30), consagrarem o dízimo até de produtos como a hortelã, o endro e o cominho.
  241. Juízo traduz krísis, que diz respeito ao exercício da justiça (julgamento), sendo diferente da expressão dikaiosýnē (justiça).
  242. Em grego pístis, também traduzível por fidelidade.
  243. No sentido de terminar o que os pais começaram.
  244. Figuras de três épocas – profetas e justos do AT, o próprio Jesus e os apóstolos – com o mesmo destino: a rejeição por Israel, através de seus responsáveis. Daí o castigo, que inclui a destruição de Jerusalém em 70 d.C.. Mas no fim triunfa a salvação: na última vinda de Cristo, o tema que se segue.
  245. Ou seja, no espaço entre o altar e o Santo dos Santos.
  246. Jr 12,7; 22,5, Sl 69,26.
  247. Sl 118,26.
  248. Dizer vinda é dizer parusia, i.e., afirmar a vinda final, escatológica, de Jesus. O NT refere continuamente esta vinda ou este fim, mas sempre sem determinar o tempo.
  249. Estes são sinais tradicionais da apocalíptica judaica (cf. 2Cr 15,6; Is 19,2-6; Ez 38,1). Lá como aqui, não estamos perante uma descrição histórica de acontecimentos nem do percurso até ao final dos tempos. O objetivo não é informar, mas fortalecer a fé e a esperança dos crentes, tantas vezes em situações difíceis.
  250. Esta abominação é, no livro de Daniel (Dn 8,13; 9,27; 11,31; 12,11), a profanação do templo de Jerusalém por Antíoco IV Epifânio em 167 a.C. (cf. 1Mac 1,54), quando coloca lá uma estátua do deus dos céus – Zeus (Baal Chamayim). Poderá também evocar um gesto semelhante por parte do imperador Calígula (por volta do ano 40 d.C.).
  251. Dn 12,1; Jl 2,2.
  252. Lit.: nenhuma carne.
  253. Is 13,9s; 34,4.
  254. Dn 7,13s; Zc 12,10-14.
  255. Lit.: parti-lo-á ao meio. O verbo grego dikhotoméō quer dizer cortar em duas partes, podendo-se referir ao castigo de cortar literalmente uma pessoa ao meio (1Sm 15:33) ou, como interpretam outros, a um castigo extremamente severo (a cruel pena de morte, aplicada na antiguidade, neste caso, a um escravo pelo seu proprietário); o servo partilhará assim a mesma sorte (estabelecerá a sua parte) dos hipócritas.
  256. Lit: e colocará a parte dele com a dos hipócritas.
  257. Em grego mōraí: estúpidas, loucas, tolas, insensatas.
  258. A porta é acrescento da tradução.
  259. Lit.: eis [que] tens o teu.
  260. Lit.: ter lançado.
  261. Com esta fórmula Mt inicia uma nova secção narrativa (cf. 7,28; 11,1; 13,53; 19,1), mas com a particularidade de ser a última. Por isso as palavras de que se fala são todas, incluindo as dos outros discursos. É semelhante ao que é dito em Dt 31,1.24; 32,454s, na conclusão do discurso de Moisés, que ocupa quase todo o último livro do Pentateuco e muito dos outros quatro – como seu testamento. Também em Mt são cinco os discursos de Jesus, um legado de que Ele, na despedida final, encarrega os discípulos de divulgar, ensinando a observar tudo quanto vos ordenei (28,20).
  262. Caifás, genro de Anás, foi o Sumo-sacerdote e presidente do sinédrio nos anos 18 a 26 d.C.. O seu palácio ficava junto à muralha ocidental de Jerusalém, não longe da porta de onde começava a estrada para Jafa.
  263. Como Mc 14,3-9, Mt insere aqui a cena da unção em casa de Simão, que Jo coloca seis dias antes da Páscoa (Jo 12,1-8).
  264. A mulher da narrativa não é nomeada, mas não se deve confundir com a mulher de Lc 7,36s, nem com a Marta ou Maria de Betânia de Jo 11,5ss. As tradições são diferentes.
  265. Zc 11,12. 30 moedas de prata correspondem ao preço de um escravo (cf. Ex 21,32; Zc 11,12-13; Mc 14,11).
  266. A festa da Páscoa (hag hapesah) durava uma semana e era, na origem, uma festa de pastores que, na noite da lua cheia do primeiro mês do ano (pastoril), imolavam e comiam um cordeiro ou cabrito (cf. Ex 12,8.11.15.27; Lv 23,5-8; 2Cr 35,1-19). Foi associada, séculos depois da fixação na Palestina, à festa dos Ázimos (cf. 2Rs 23,22; Esd 6,19-22; Dt 16,1-8), os pães sem fermento (hāmēts) dos agricultores (cf. Ex 23,14-15), usados na celebração do séder judaico (ritual da celebração da ceia pascal). No tempo de Jesus começava, no início da tarde, com a imolação dos cordeiros pascais no templo de Jerusalém.
  267. Lit.: molha comigo no prato. É bem conhecida a cultura da hospitalidade judaica. A mesa compartida em família e com os amigos significava o máximo da hospitalidade. Neste sentido, a traição de Judas significa o máximo da traição: Sl 41.
  268. Este cálice será provavelmente o terceiro, de um conjunto de quatro cálices (mPes 10), correspondendo cada um a uma das quatro partes do séder haggadāh chēl pesah judaico. Este terceiro cálice é repartido antes de recitada a haggadāh (narrativa de carácter homilético e exortativo) e de se comerem os pães ázimos (ázymoi em grego, matzôt em hebraico) com as ervas amargas embebidas no molho (harōset), a que se refere a expressão põe a mão no prato. O verbo da ação de graças é eukharistéō, raro na tradução dos LXX e sempre em literatura tardia (cf. 2Mac 1,11; 12,31; Sb 18,2; Jdt 8,25; 3Mac 7,16; OdSal 14,8).
  269. Cf. Mc 14,25 nota.
  270. A ceia pascal terminava com a recitação dos Salmos do Hallel (Sl 113-118). Segundo a tradição judaica do tgNeofEx 12,42, quatro grandes acontecimentos da história da salvação terão lugar na noite da Páscoa: a criação do mundo, o enfaixamento (hā’aqedāh) de Isaac de Gn 22, o êxodo do Egito e a vinda do Messias.
  271. Zc 13,7.
  272. Getsémani (em aramaico Gat-Chamen: lagar / jardim do azeite) situa-se no chamado Jardim ou Monte das Oliveiras, sobranceiro ao vale do Cédron.
  273. Sl 42,5.12; 43,5; Jo 12,27.
  274. Lit.: dormis o resto e descansais? ou dormi o resto e descansai!. Cf. Mc 14,41 nota.
  275. O beijo, como tudo o que é humano, pode ser ambivalente. Este beijo recorda outros ósculos e outros «amigos» do AT (cf. Sl 55,12-14.20-21; 41,9; Pr 27,6; 2Rs 5,25; 2Sm 3,27; 20,8-10).
  276. Estar longe no AT é sinal de afastamento do Deus de Israel, de não proximidade com Deus (cf. Ex 40,46; 42,13; 43,19,44,13; 45,4; Is 29,10-13; 57,19; Lv 10,3; Dt 4,7; 13,8; 1Rs 8,46 = 2Cr 6,36; Is 33,13; Est 9,20; Jr 2,5; 12,2; 23,33; Js 3,4; Ez 6,12; Os 12,7; Lm 3,57; Is 58,2; Sl 119,150-151.155; Sf 3,2; Jdt 8,27; Sl 148,14; Pr 15,29; cf. Ef 2,11-22; Mt 15,8).
  277. Lit: do poder.
  278. Dn 7,13; Sl 110,1.
  279. A blasfémia era punível com a morte (cf. Lv 24,16).
  280. Lit: te faz evidente.
  281. Só Pilatos, como governador romano, dispunha do ius gladii, i.e., do poder de sentenciar à morte.
  282. Lit: Tu verás!
  283. Judas atira as moedas de fora por não poder entrar no templo, visto não ser sacerdote.
  284. Zc 11,12s.
  285. Jr 18,2s; 32,8s; Ex 9,12.
  286. Lit.: foi feito estar diante de.
  287. Barrabás é a transliteração do aramaico bar-‘abbas (filho do pai). Alguns mss. apresentam apenas Barrabás.
  288. Só Mt apresenta o temor sagrado da mulher de Pilatos – uma pagã romana – em contraposição com a atitude dos chefes dos judeus.
  289. Lit.: vós vereis.
  290. O pretório era a residência do Pretor, e nele se instalava o Procurador romano, quando se deslocava de Cesareia marítima a Jerusalém, por altura das grandes festas, para vigiar e manter segura a cidade, devido ao afluxo de peregrinos. A coorte era a décima parte da legião e compreendia c. quinhentos homens. Era chamada a guarda pretoriana.
  291. Cirene era uma cidade da Líbia, e Simão um judeu dessa colónia grega no norte de África.
  292. Sl 69,22. Trata-se de uma espécie de sedativo para aliviar os sofrimentos dos supliciados à morte.
  293. Sl 22,19.
  294. Sl 22,8.
  295. Sl 22,9.
  296. A hora sexta corresponde aproximadamente às doze horas, e a hora nona às três da tarde.
  297. Sl 22,2.
  298. Sl 69,22.
  299. Lit.: deixou ir o espírito.
  300. Os vv. 51-53 apresentam uma sugestiva moldura imagética apocalíptica dos novos tempos: rasgão do véu do templo, tremor de terra, túmulos abertos e mortos ressuscitados a aparecerem aos vivos. Comparar com Ez 37,12 e Dn 12,13.
  301. Arimateia, povoação de Judá, a nordeste de Lida (cf. Dt 21,22-23).
  302. Paraskeuḗ refere-se ao dia da preparação, i.e., o dia antes do sábado.
  303. Após o pôr-do-sol de sábado, recomeça a vida (e a semana) no judaísmo.
  304. Lit: e far-vos-emos despreocupados.
  305. O evangelho termina com uma grande inclusão: a presença inicial de Deus em Jesus – como Emanuel: Deus connosco (Mt 1,23) – é retomada na promessa conclusiva – Eu estou convosco.